Instantâneo
Hilário Silva
João Marques
pregava com
fervor. O tema
era a
tolerância.
A
assembleia,
enlevada,
bebia-lhe o
verbo, num
deslumbramento
de luz.
-
“Suportemos os
golpes do
destino!
Suportemos a
calúnia e a
ingratidão, a
dificuldade e a
lágrima!...”
O
auditório
vibrava...
Nisso, pequenina
bruxa dourada
voeja na sala e
toca de leve o
rosto do orador.
João Marques
vacila.
Interrompe-se.
Num átimo, toma
a minúscula
borboleta
noturna e,
visivelmente
irritado,
esmaga-a com o
pé. E prossegue
a preleção...
Mais tarde, o
círculo é
reduzido. Apenas
alguns
companheiros e o
médium Macedo.
Batista, o
presidente da
instituição,
agradece as
bênçãos da
noite. Era o
décimo
aniversário do
templo e o salão
estava cheio.
No clima de
júbilo geral,
comunica-se
Nuno, o
orientador
desencarnado.
Controlando o
médium, saúda os
amigos.
Complacente,
otimista,
explana,
fraterno, sobre
os méritos do
trabalho. Quando
está preste a
despedir-se,
João Marques
arrisca:
-
Meu amigo, julga
que me conduzi a
contento na
palestra?
-
Como não? –
replica,
sorridente, o
instrutor. –
Você estava
muito bem
inspirado,
feliz.
-
E não tem
apontamento a
dizer?
O
benfeitor
pareceu refletir
um minuto e
concluiu:
-
Marques, já que
você faz questão
do apontamento,
não posso
omiti-lo. Você
falou sobre a
tolerância,
brilhantemente.
Mas pensemos um
pouco. Se não
podemos suportar
pobre borboleta
a nos beijar
respeitosamente
a testa, como
suportaremos as
pancadas justas
da vida?
Do cap. 16 do
livro A Vida
Escreve, de
Hilário Silva,
obra
psicografada
pelos médiuns
Waldo Vieira e
Francisco
Cândido Xavier.