Jesus falou sobre a
reencarnação?
A resposta a essa
questão dependerá
daquilo em que a pessoa
acredita, pois se ela é
favorável à reencarnação
dirá que sim, caso
contrário, o não
será a resposta que se
ouvirá.
Mas aí surgirá um outro
ponto: o que acreditavam
na época não vale nada?
Será que a nossa maneira
de hoje ver as coisas é
que vai ditar o que
responderemos a esse
quesito? Bom, os
registros históricos não
podem ser preteridos à
conveniência de ninguém,
muito menos serem
subjugados ao dogmatismo
dos interessados em
manter esse estado de
coisas.
Então, primeiramente, o
que devemos buscar são
esses registros. E para
isso iremos recorrer ao
historiador hebreu
Flávio Josefo, que viveu
de 37 a 103, ou seja,
bem próximo aos
acontecimentos
relacionados à vida de
Jesus. Disse ele, em
Antiguidades Judaicas,
que os fariseus
acreditavam que alguém
poderia voltar a viver
num outro corpo. Por
outro lado, os
entendidos afirmam que
também na Cabala, que
contém a doutrina
esotérica do judaísmo,
poder-se-á encontrar a
crença na reencarnação.
Uma coisa é fato, e não
há como negar: a palavra
reencarnação não
se encontra na Bíblia,
até mesmo porque ela só
vem a aparecer num
dicionário do ano de
1859; portanto, ela não
existia em nenhuma das
línguas usadas nos
livros sagrados dos
judeus e nem nos dos
cristãos.
Mas, se não havia a
palavra reencarnação, a
ideia de que alguém
poderia voltar num novo
corpo será facilmente
encontrada, desde que,
obviamente, a pessoa não
seja um fundamentalista
apegado aos dogmas
teológicos do passado,
os quais sabemos que
foram impostos a ferro e
fogo, visando a
interesses escusos das
lideranças religiosas de
antanho.
Embora essa ideia sobre
reencarnar não fosse
muito precisa, daí a
enorme confusão que
causava, ela pode ser
vista em algumas
passagens do Antigo
Testamento como, por
exemplo: “Somos de
ontem e nada sabemos”
(Jó 8,9), que nos leva a
relacioná-la com a
reencarnação, pois o
esquecimento do passado
é um princípio ligado a
seu conceito.
Entretanto, há uma outra
passagem que, vista
pelas narrativas
posteriores, virá
evidenciar essa crença.
O profeta Malaquias faz
uma profecia a respeito
da volta de Elias (Ml,
3,1.23-24). É certo que
algumas pessoas buscam
fugir dessa evidência
dizendo que Elias não
morreu, porquanto teria
sido arrebatado ao céu.
Tudo bem, quem quiser
pode continuar com essa
crença, mas isso
invalidará as seguintes
passagens?: “a carne
e o sangue não podem
herdar o reino dos céus”
(1Cor, 15,50),
“ninguém subiu ao céu a
não ser aquele que
desceu do céu: o Filho
do Homem” (Jo, 3,13)
e “O espírito é que
dá a vida, a carne não
serve para nada”
(Jo, 6,63).
Jesus reconhece que João
Batista é quem estaria
cumprindo a mencionada
profecia de Malaquias
(Mt, 10,11), quando
estabelece uma relação
direta de Elias já ter
vindo na pessoa de João
Batista. É tão claro que
fica difícil acreditar
que hoje há pessoas que
não veem isso.
Numa certa oportunidade,
Jesus perguntou aos
discípulos quem o povo
dizia que Ele era. Eles
responderam que as
pessoas pensavam que Ele
poderia ser alguns
desses personagens: João
Batista, Elias, Jeremias
ou algum dos antigos
profetas (Mt, 16,13-14).
Vejamos um detalhe na
narrativa de Lucas:
“Certo dia, Jesus estava
rezando num lugar
retirado, e os
discípulos estavam com
ele. Então Jesus
perguntou: 'Quem dizem
as multidões que eu
sou?' Eles responderam:
'Alguns dizem que tu és
João Batista; outros,
que és Elias; mas outros
acham que tu és algum
dos antigos profetas que
ressuscitou'”. (Lc.
9,18-19). Atenção
especial ao final da
narrativa onde é usado o
verbo ressuscitar, que,
no caso, tem o sentido
de reencarnar, pois,
certamente, que, se não
acreditassem que alguém
poderia voltar novamente
em outro corpo, não
haveria sentido algum o
que pensava o povo sobre
quem poderia ser Jesus.
Entretanto, como não
entendiam bem dessas
coisas, incluíram João
Batista, mas, a bem da
verdade, por terem sido
contemporâneos, Jesus
não poderia ser esse
personagem reencarnado.
Há um passo onde
poderemos ver também
essa questão: “Desde
os dias de João Batista
até agora, o Reino do
Céu sofre violência, e
são os violentos que
procuram tomá-lo. De
fato, todos os Profetas
e a Lei profetizaram até
João. E se vocês o
quiserem aceitar, João é
Elias que devia vir.
Quem tem ouvidos, ouça".
(Mt. 11,12-15). Veja
bem, caro leitor, se
Jesus e João Batista
viveram numa mesma
época, não há sentido
algum em se dizer
“desde os dias de João
até agora”, a não
ser admitindo-se que ele
já vivera antes, fato
que, na sequência, Jesus
confirma ao assegurar
que João era Elias, o
que significa dizer que,
pela ordem, o primeiro
foi a reencarnação do
segundo.
As coisas ainda não lhes
eram muito claras, por
isso, subsistia a
dúvida, conforme
poderemos ver no
episódio em que os
Espíritos Moisés e Elias
aparecem a Jesus, no
monte Tabor (Mt,
17,1-9). Os discípulos,
que o acompanhavam, ao
verem Elias, ficaram,
como se diz, “com a
pulga atrás da orelha”,
pois os doutores da Lei
diziam, certamente
apoiados nas Escrituras,
que Elias devia voltar
e, como o viram ali,
pensaram: será que isso
não acontecerá?
Questionamento que
levaram a Jesus. O
Mestre, prontamente,
lhes responde: “Elias
vem para colocar tudo em
ordem. Mas eu digo a
vocês: Elias já veio, e
eles não o reconheceram.
Fizeram com ele tudo o
que quiseram..."
(Mt, 17,11-12). Resposta
pela qual os discípulos
“compreenderam que
Jesus falava de João
Batista” (Mt,
17,13). Por conseguinte,
a reencarnação de Elias
como João Batista é
confirmada mais uma vez,
porquanto, se assim não
fosse, Jesus teria
negado tal fato, pois,
em várias ocasiões,
demonstrou conhecer o
pensamento íntimo das
pessoas. Mas não podemos
desconsiderar que Ele já
havia dito isso de forma
clara (Mt, 11,14).
E por falar em doutores
da lei, um deles,
chamado Nicodemos, foi
ter com Jesus, do qual
queria saber o que fazer
para conquistar o reino
dos céus (Jo, 3,1-9),
cuja resposta foi: “É
necessário nascer de
novo”. Só que para
fugirem de tão evidente
afirmação sobre a
reencarnação, os
contrários apelam para
um outro significado da
palavra grega anóthen,
que é “do alto”, levando
isso à conta do batismo.
Além dos judeus não
praticarem esse ritual,
a pergunta subsequente
de Nicodemos não deixa
dúvida de que o
significado era mesmo
“nascer de novo”:
“Como pode um homem
nascer, sendo já velho?
Poderá entrar segunda
vez no seio de sua mãe e
nascer?”. Na
sequência, Jesus, com
outras palavras,
reafirma o que dissera
antes.
E uma última passagem
podemos ainda analisar.
Certa feita os
discípulos, vendo um
cego de nascença,
perguntam a Jesus:
“Quem foi que pecou para
ele nascer cego, foi ele
ou seus pais?” (Jo,
9,2). Nessa passagem as
pessoas se concentram
muito na resposta,
esquecem-se da pergunta,
que é o ponto principal
do diálogo; isso porque
não há como um cego de
nascença pecar, a não
ser em uma outra vida, o
que demonstra que os
discípulos acreditavam
numa vida anterior e na
lei do carma, o que,
fatalmente, nos liga à
reencarnação.
A resposta de Jesus
“Não foi ele que pecou,
nem seus pais, mas ele é
cego para que nele se
manifestem as obras de
Deus” (Jo, 9,3) não
nega a reencarnação,
apenas afirma que, nesse
caso específico, não
houve pecado, uma vez
que esse cego foi um
missionário que veio
para que as obras de
Deus se manifestassem
nele, ou seja,
reencarnou com a missão
de ajudar a Jesus a
“abrir os olhos” dos que
não eram cegos.
Certamente que também
não conseguiremos “abrir
os olhos” dos cegos que
não querem ver na
reencarnação a
manifestação do amor e
da justiça de Deus. São
os que preferem ver o
Criador como sendo um
carrasco insensível, que
manda os infratores da
lei para o “quintos dos
infernos”, ao invés de,
numa atitude paternal,
buscar reeducá-los ao
bem, situação que O
coloca em desvantagem
com os próprios homens,
suas criaturas, que
fazem de tudo para
recuperar os criminosos,
visando reintegrá-los à
sociedade.