A opção de
Mariana
“Não julgueis a
fim de que não
sejais
julgados.”
(Jesus-Mateus,
cap. VII, V. 1.)
Mariana, na
época, contava
com apenas onze
anos de idade.
Olhar faceiro e
rosto jovial. Na
expressão
fisionômica, a
transparência de
carência
afetiva.
Vez por outra
abeirava a porta
da creche
erguida nas
imediações de
sua casa, para
solicitar algum
tipo de socorro,
ora para si
mesma, ora para
a mãe, pois
viviam em
extrema penúria
material, sob o
despotismo do
padrasto
desocupado e
afeito a
comportamentos
menos dignos.
Com o passar do
tempo foi
ganhando a
simpatia da
direção da
instituição
socorrista, que
viu a
possibilidade de
ampliar o leque
de ação em favor
daquela
adolescente,
apontando-lhe um
norte, um
caminho seguro
ou, pelo menos,
abrindo-lhe
novas
perspectivas.
Foi, então,
convidada a
ajudar no
cuidado com as
crianças que, em
regime de
semi-internato,
viviam nas
dependências
daquela entidade
assistencial,
enquanto os pais
trabalhavam.
Como condição,
foi exigido de
Mariana que
imediatamente
fizesse
matrícula na
escola próxima,
pois que havia
abandonado os
estudos.
E, nas horas que
estava livre das
obrigações
escolares,
permaneceria na
instituição,
ganhando para
isso o material
escolar,
uniforme, uma
cesta básica de
alimentos e
algum recurso
financeiro, além
da assistência
educativa e
reforço que
pudesse ter
necessidade
quando no
cumprimento de
seus deveres de
escola.
Dois anos
transcorreram
sem novidades e
a menina se
tornando moça,
cada vez mais
era envolvida
pelo carinho e
atenção da
direção da
creche. Querida
por todos, era
assistida com
sentimento
filial.
Num determinado
dia a jovem não
compareceu ao
trabalho e a
notícia explodiu
como uma bomba:
Mariana saiu de
casa e foi morar
com um homem!
Indagações e
indignações.
Mas como isso
aconteceu? Por
quê? Depois de
tudo que fizemos
a ela, assim ela
retribui? Teria
sido forçada a
tal decisão? Que
loucura! Por que
não conversou
conosco
colocando suas
dúvidas? Tão
criança e já
rumando por
veredas
incertas?
Ninguém queria
acreditar no que
acontecia.
Mas era a pura
realidade.
Mariana, agora
com treze anos,
num gesto
inesperado
abandonou tudo e
rumou com um
jovem, por
caminhos
indefinidos.
Pior ainda, uma
semana depois,
totalmente
desequilibrada
desentendeu-se
com o
companheiro e
passou a morar
com outro e as
coisas foram se
complicando.
Na creche, onde
ela trabalhava,
continuava a
indignação: Como
isso pode
acontecer depois
de tantos
conselhos,
orientações,
informações?
E os julgamentos
partiam, muitos
deles acusando a
jovem de
leviandade,
irresponsabilidade,
ingratidão...
Mas o que
levaria,
realmente, uma
jovem tão bem
assistida a agir
assim?
Dias depois,
Mariana,
humilhada e
cabisbaixa,
retornava à
porta da
instituição.
Indagada pela
direção sobre a
sua inesperada
decisão
limitou-se
apenas a dizer:
“- Eu tinha pela
minha frente
dois caminhos:
Ou eu me
entregava ao
padrasto que
vinha me
assediando
violentamente,
tendo por
inúmeras vezes
tentado me
estuprar, sem no
entanto
conseguir; ou eu
saía de casa.
Mas para onde ir
se ele me
ameaçava por
onde eu
tentasse,
impedindo, com
violência, que
minha mãe
tomasse qualquer
tentativa para
me proteger? E,
para abandonar o
lar, somente
seria possível
na companhia de
um homem que
pudesse
enfrentá-lo caso
ele me seguisse.
E entre ser
estuprada por
ele e a fuga do
lar, preferi
fugir de casa,
pois talvez
tivesse melhor
sorte”.
Bem que Jesus
disse para que
não julgássemos
a ninguém, pois,
atrás dos dramas
das pessoas,
quantas coisas
podem estar
acontecendo sem
que saibamos.