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Clássicos do Espiritismo
Ano 7 - N° 326 - 25 de Agosto de 2013
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

 

No Invisível

Léon Denis

(Parte 1)

Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do clássico "No Invisível", de Léon Denis, cujo título no original francês é Dans l'Invisible.

Questões preliminares 

A. Quem é o autor da frase “O Espiritismo será o que dele fizerem os homens”? 

Léon Denis é o autor dessa frase, que faz parte da Introdução da obra “No Invisível”, ora em estudo. Diz ele que ao contacto da Humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo. Por isso, era com desgosto que ele observava a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar a feição elevada do Espiritismo, a fonte dos puros ensinamentos e das altas inspirações, para se restringirem ao campo da experimentação terra-a-terra, à investigação exclusiva do fenômeno físico. (No Invisível, Introdução.) 

B. Que lei é determinante nas relações com o mundo invisível?  

É a lei das afinidades e atrações. Nesse domínio, quem procura baixos objetivos os encontra e com eles se rebaixa: aquele que aspira às remontadas culminâncias, cedo ou tarde as atinge e delas faz pedestal para novas ascensões. Se desejamos manifestações de ordem elevada, devemos fazer esforços por elevar-nos a nós mesmos. O bom êxito da experimentação, no que ela tem de belo e grandioso – a comunhão com o mundo superior –, não o obtém o mais sábio, mas o mais digno, o melhor, aquele que tem mais paciência e consciência e mais moralidade. (Obra citada, Introdução.) 

C. No tocante aos círculos acadêmicos, como o Espiritismo era visto na França?

A situação do Espiritismo na França, no início do século XX, não era idêntica à alcançada em certos países estrangeiros. Enquanto na Inglaterra e na Itália conquistou ele, nos círculos acadêmicos, adesões de singular notoriedade, a maioria dos sábios franceses adotou a seu respeito uma atitude desdenhosa e, mesmo, de aversão, no que revelaram eles bem escassa clarividência; porque, se a ideia espírita apresenta, às vezes, exageros, repousa, entretanto, em fatos incontestáveis e corresponde às imperiosas necessidades contemporâneas.(Obra citada, Prefácio da edição de 1911.)

Texto para leitura 

1. Introdução - Desde cinquenta anos se tem estabelecido uma íntima e frequente comunicação entre o nosso mundo e o dos Espíritos. Soergueram-se os véus da morte e, em lugar de uma face lúgubre, o que nos apareceu foi um risonho e benévolo semblante. Falaram as almas; sua palavra consolou muitas tristezas, acalmou bastantes dores, fortaleceu muita coragem vacilante. O destino foi revelado, não já cruel, implacável como o pretendiam antigas crenças, mas atraente, equitativo, para todos esclarecido pelas fulgurações da misericórdia divina.

2. O Espiritismo propagou-se, invadiu o mundo. Desprezado, repelido ao começo, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos quantos se não imobilizavam na esfera do preconceito e da rotina e o abordaram desassombradamente foram por ele conquistados. Agora penetra por toda parte, instala-se em todas as mesas, tem ingresso em todos os lares.

3. Que traz ele consigo? Será sempre, e por toda parte a verdade, a luz e a esperança? Ao lado das consolações que caem na alma como o orvalho sobre a flor, de par com o jorro de luz que dissipa as angústias do investigador e ilumina a rota, não haverá também uma parte de erros e decepções?

4. O Espiritismo será o que dele fizerem os homens. Similia similibus! Ao contacto da Humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo.

5. É com desgosto que observamos a tendência de certos adeptos no sentido de menosprezar a feição elevada do Espiritismo, a fonte dos puros ensinamentos e das altas inspirações, para se restringirem ao campo da experimentação terra-a-terra, à investigação exclusiva do fenômeno físico.

6. Pretender-se-ia acomodar o Espiritismo no acanhado leito da ciência oficial; mas esta, inteiramente impregnada das teorias materialistas, é refratária a essa aliança. O estudo da alma, já de si difícil e profundo, lhe tem permanecido impenetrável. Os seus métodos, por indigentes, não se prestam absolutamente ao estudo, muito mais vasto, do mundo dos Espíritos. A ciência do invisível há de sempre ultrapassar os métodos humanos. Há no Espiritismo uma zona – e não a menor – que escapa à análise, à verificação: é a ação do Espírito livre no Espaço; é a natureza das forças de que ele dispõe.

7. Com os estudos espíritas uma nova ciência se vai formando lentamente, mas é preciso aliar ao espírito de investigação científica a elevação de pensamento, o sentimento, os impulsos do coração, sem o que a comunhão com os seres superiores se torna irrealizável e nenhum auxílio de sua parte, nenhuma proteção eficaz se obterá. Ora, isso é tudo na experimentação. Não há possibilidade de êxito nem garantia de resultado sem a assistência e proteção do Alto, que se não obtém senão mediante a disciplina mental e uma vida pura e digna.

8. Deve todo adepto saber que a regra, por excelência, das relações com o invisível é a lei das afinidades e atrações. Nesse domínio, quem procura baixos objetivos os encontra e com eles se rebaixa: aquele que aspira às remontadas culminâncias, cedo ou tarde as atinge e delas faz pedestal para novas ascensões. Se desejais manifestações de ordem elevada, fazei esforços por elevar-vos a vós mesmos. O bom êxito da experimentação, no que ela tem de belo e grandioso – a comunhão com o mundo superior –, não o obtém o mais sábio, mas o mais digno, o melhor, aquele que tem mais paciência e consciência e mais moralidade.

9. Com o cercearem o Espiritismo, imprimindo-lhe caráter exclusivamente experimental, pensam alguns agradar ao espírito positivo do século, atrair os sábios ao que se denomina de Psiquismo. Desse modo, o que sobretudo se consegue é pôr-se em relação com os elementos inferiores do Além, com essa multidão de Espíritos atrasados, cuja nociva influência envolve, oprime os médiuns, os impele à fraude e espalha sobre os experimentadores eflúvios maléficos e, com eles, muitas vezes, o erro e a mistificação.

10. Numa ânsia de proselitismo, sem dúvida louvável quanto ao sentimento que a inspira, mas excessiva e perigosa em suas consequências, desejam-se os fatos a todo custo. Na agitação nervosa com que se busca o fenômeno, chega-se a proclamar verdadeiros os fatos duvidosos ou fictícios. Pela disposição de espírito mantida nas experiências, atraem-se os Espíritos levianos, que em torno de nós pululam. Multiplicam-se as manifestações de mau gosto e as obsessões das energias que supõem dominar. Muitíssimos espíritas e médiuns, em consequência da falta de método e de elevação moral, se tornam instrumentos das forças inconscientes ou dos maus Espíritos.

11. São numerosos os abusos, e neles acham os adversários do Espiritismo os elementos de uma crítica pérfida e de uma fácil difamação.

12. O interesse e a dignidade da causa impõem o dever de reagir contra essa experimentação banal, contra essa onda avassaladora de fenômenos vulgares que ameaçam submergir as culminâncias da ideia.

13. O Espiritismo representa uma fase nova da evolução humana. A lei que, através dos séculos, tem conduzido as diferentes frações da Humanidade, longo tempo separadas, a gradualmente aproximar-se, começa a fazer sentir no Além os seus efeitos. Os modos de correspondência que entretêm na Terra os homens vão-se estendendo pouco a pouco aos habitantes do mundo invisível, enquanto não atingem, mediante novos processos, as famílias humanas que povoam os mundos do espaço.

14. Contudo, nas sucessivas ampliações do seu campo de ação, a Humanidade tropeça em inúmeras dificuldades. As relações, multiplicando-se, nem sempre trazem favoráveis resultados; também oferecem perigos, sobretudo no que se refere ao mundo oculto, mais difícil que o nosso de penetrar e analisar. Lá, como aqui, o saber e a ignorância, a verdade e o erro, a virtude e o vício existem, com esta agravante: ao passo que fazem sentir sua influência, permanecem encobertos aos nossos olhos; donde a necessidade de abordar o terreno da experimentação com extrema prudência, de longos e pacientes estudos preliminares.

15. E necessário aliar os conhecimentos teóricos ao espírito de investigação e à elevação moral, para estar verdadeiramente apto a discernir no Espiritismo o bem do mal, o verdadeiro do falso, a realidade da ilusão. É preciso compenetrar-se do verdadeiro caráter da mediunidade, das responsabilidades que acarreta, dos fins para os quais nos é concedida.

16. O Espiritismo não é somente a demonstração, pelos fatos, da sobrevivência; é também o veículo pelo qual descem sobre a Humanidade as inspirações do mundo superior. A esse título é mais que uma ciência, é o ensino que o Céu transmite à Terra, reconstituição engrandecida e vulgarizada das tradições secretas do passado, o renascimento dessa escola profética que foi a mais célebre escola de médiuns do Oriente. Com o Espiritismo, as faculdades, que foram outrora o privilégio de alguns, se difundem por um grande número. A mediunidade se propaga; mas de par com as vantagens que proporciona, é necessário estar advertido a respeito de seus escolhos e perigos.

17. Há, na realidade, dois tipos de Espiritismo. Um nos põe em comunicação com os Espíritos superiores e também com as almas queridas que na Terra conhecemos e que foram a alegria da nossa existência. É por ele que se efetua a revelação permanente, a iniciação do homem nas leis supremas. É a fonte pujante da inspiração, a descida do Espírito ao envoltório humano, ao organismo do médium que, sob a sagrada influência, pode fazer ouvir palavras de luz e de vida, sobre cuja natureza é impossível o equívoco, porque penetram e reanimam a alma e esclarecem os obscuros problemas do destino.

18. A impressão de grandiosidade que se desprende dessas manifestações deixa sempre um vestígio profundo nos corações e nas inteligências. Aqueles que nunca o experimentaram, não podem compreender o que é o verdadeiro Espiritismo.

19. Há, contudo, um outro gênero de experimentação, frívolo, mundano, que nos põe em contacto com os elementos inferiores do mundo invisível e tende a amesquinhar o respeito devido ao Além. É uma espécie de profanação da religião da morte, da solene manifestação dos que deixaram o invólucro da carne. Mas, é preciso reconhecer que ainda esse Espiritismo de baixa esfera tem sua utilidade. Ele nos familiariza com um dos aspectos do mundo oculto.

20. Os fenômenos vulgares e as manifestações triviais fornecem às vezes magníficas provas de identidade; sinais característicos se evidenciam e forçam a convicção dos investigadores. Não nos devemos, porém, deter na observação de tais fenômenos senão na medida em que o seu estudo nos seja proveitoso e possamos exercer eficiente ação sobre os Espíritos atrasados que os produzem.

21. Sua influência é molesta e deprimente para os médiuns. É preciso elevar mais alto as aspirações, subir pelo pensamento a regiões mais puras, aos superiores domicílios do Espírito. Somente aí encontra o homem as verdadeiras consolações, os socorros, as forças espirituais.

22. Nunca será demasiado repeti-lo: nesse domínio jamais obteremos efeitos que não sejam proporcionais às nossas condições. Toda pessoa que, por seus desejos, por suas invocações, entra em relação com o mundo invisível, atrai fatalmente seres em afinidade com seu próprio estado moral e mental. O vasto império das almas está povoado de entidades benfazejas e maléficas; elas se desdobram por todos os graus da infinita escala, desde as mais baixas e grosseiras, vizinhas da animalidade, até os nobres e puros Espíritos, mensageiros de luz, que a todos os confins do tempo e do espaço vão levar as irradiações do pensamento divino.

23. Se não sabemos ou não queremos orientar nossas aspirações, nossas vibrações fluídicas, na direção dos seres superiores, e captar sua assistência, ficamos à mercê das influências más que nos rodeiam, as quais, em muitos casos, têm conduzido o experimentador imprudente às mais cruéis decepções.

24. Se, ao contrário, pelo poder da vontade, libertando-nos das sugestões inferiores, subtraindo-nos das preocupações pueris, materiais e egoísticas, procuramos no Espiritismo um meio de elevação e aperfeiçoamento moral, poderemos em tal caso entrar em comunhão com as grandes almas, portadoras de verdades; fluidos vivificantes e regeneradores nos penetrarão; alentos poderosos nos elevarão às regiões serenas donde o espírito contempla o espetáculo da vida universal, majestosa harmonia das leis e das esferas planetárias.

25. Prefácio da edição de 1911 - Nos dez anos que transcorreram do aparecimento desta obra até à presente edição, o Espiritismo prosseguiu a sua marcha ascensional e se opulentou com experiências e testemunhos de elevado valor, entre os quais particularmente os de Lodge, Myers, Lombroso lhe vieram realçar o prestígio e assegurar, com a autoridade científica que lhe faltava, uma espécie de consagração definitiva.

26. Por outro lado, os abusos e as fraudes, que precedentemente assinalamos, se multiplicam. Haverá nisso porventura uma lei histórica, em virtude da qual o que uma ideia ganha em extensão deverá perder em qualidade, em força, em intensidade?

27. No que respeita aos testemunhos coligidos e aos progressos realizados, a situação do Espiritismo na França não é idêntica à alcançada em certos países estrangeiros. Enquanto na Inglaterra e na Itália conquistou ele, nos círculos acadêmicos, adesões de singular notoriedade, a maioria dos sábios franceses adotou a seu respeito uma atitude desdenhosa e, mesmo, de aversão,  no que revelaram eles bem escassa clarividência; porque, se a ideia espírita apresenta, às vezes, exageros, repousa, entretanto, em fatos incontestáveis e corresponde às imperiosas necessidades contemporâneas.

28. Há de todo espírito imparcial reconhecer que nem a ciência oficial nem a Religião satisfazem às necessidades e às aspirações da maior parte da Humanidade. Não é de admirar, portanto, que tantos homens tenham procurado em domínios pouco explorados, posto que abundantíssimos em subsídios psicológicos, soluções e esclarecimentos que as velhas instituições não são capazes de lhes fornecer.

29. Pode esse gênero de estudos desagradar a uns tantos timoratos e provocar, de sua parte, condenações e críticas. Arrazoados vãos que o vento leva. Apesar das exigências, das objurgações e anátemas, as inteligências não cessarão de encaminhar-se ao que mais justo, melhor e mais claro lhes parece. As repulsas de uns e as desaprovações de outros nada conseguirão. Fazei mais e melhor – é a objeção que se oporá. Padres e sábios, que vos podeis consagrar aos lazeres do espírito, em lugar de escarnecer ou fulminar no vácuo, mostrai-vos capazes de consolar, de amparar os que vergam sob um trabalho material esmagador, de lhes explicar o motivo de seus sofrimentos e lhes fornecer as provas de compensações futuras. Será o único meio de conservardes a vossa supremacia.

30. Pode-se, além disso, perguntar qual será mais apto a julgar os fatos e discernir a verdade: se um cérebro atravancado de prevenções e de teorias preconcebidas ou se um espírito livre, emancipado de toda rotina científica e religiosa.

31. Por nós responde a História! É indubitável que os representantes da ciência oficial têm prestado valiosos serviços ao pensamento e muitos extravios lhe evitaram. Quantos obstáculos, porém, não opuseram eles, em numerosos casos, à ampliação do conhecimento, verdadeiro e integral! O professor Charles Richet, que é autoridade na matéria, pôs vigorosamente em relevo, em “Annales des Sciences Psychiques”, de janeiro de 1905, os erros e as debilidades da ciência oficial.

32. A rotina ainda hoje impera nos meios acadêmicos; todo sábio que se esquiva a seguir a trilha consagrada é reputado herético e excluído das prebendas vantajosas. Demonstração lamentável desse fato é o exemplo do Dr. Paul Gibier, obrigado a expatriar-se para obter uma colocação.

33. A esse respeito não se tem a Democracia mostrado menos absolutista nem menos tirânica que os regimes decaídos. Aspira ao nivelamento das inteligências e proscreve os que a procuram libertar das materialidades vulgares. A interiorização dos estudos depauperou o pensamento universitário, deprimiu os caracteres, paralisou as iniciativas. Inutilmente se procuraria entre os sábios, na França, um exemplo de intrepidez moral comparável aos que deram, na Inglaterra, William Crookes, Russel Wallace, Lodge etc., Lombroso e outros, na Itália. A única preocupação que parece terem os homens em evidência é modelar suas opiniões pelas dos “senhores do momento”, a fim de se beneficiarem dos proventos de que são estes os dispensadores.

34. Em matéria de psiquismo parece haver carência do vulgar bom-senso à maioria dos cientistas. O professor Flournoy o confessa: “Para a Humanidade das remotas eras, como atualmente ainda para a grande massa que a compõe, a hipótese espírita é a única verdadeiramente conforme ao mais elementar bom-senso; quanto a nós, cientistas, saturados de mecanismo materialista desde os bancos escolares, essa mesma hipótese nos revolta até às maiores profundezas do bom-senso, igualmente mais elementar”. 

35. Em apoio de suas asserções, cita ele os dois seguintes exemplos, relativos a um fato universalmente reconhecido verdadeiro: “O grande Helhholtz – relata o Senhor Barrett – certa vez disse que nem o testemunho de todos os membros da Sociedade Real, nem a evidência de seus próprios sentidos, o poderiam convencer sequer da transmissão de pensamento, impossível que era esse fenômeno”.

36. “Um ilustre biologista – refere também o Senhor W. James – teve ocasião de me dizer que, mesmo que fossem verdadeiras as provas da telepatia, os sábios se deveriam coligar para as suprimir ou conservar ocultas, pois que tais fatos destruiriam a uniformidade da Natureza e toda espécie de outras coisas de que eles, sábios, não podem abrir mão, para continuar suas pesquisas.” (Continua.)



 


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