E a Vida Continua...
André Luiz
(Parte
13)
Continuamos nesta edição
o
estudo da obra
E a Vida Continua,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1968 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Túlio Mancini, antigo
namorado de Evelina,
acreditava-se vivo?
Sim. E essa impressão
aumentou ainda mais
quando viu Evelina.
“Agora que vi você,
reconheço que estou
vivo... Vivo!..." –
disse o rapaz, que foi,
de imediato, abrigado no
lar de Ambrósio, até que
se lhe providenciasse
hospitalização
conveniente. Túlio
recebeu passes
reconfortantes e foi
conduzido à casa dos
modestos amigos, que o
acolheram alegremente,
enquanto o grupo
socorrista retornava ao
campo doméstico.
(E a Vida Continua, cap.
14, pp. 106 e 107.)
B. Que reação teve
Evelina ao encontrar ali
o antigo namorado?
Evelina sentiu-se tomada
de surpresa e
inquietação, ao rever o
rapaz, porque aquele
Túlio Mancini era bem
diferente do que ela
conhecera na Crosta.
Seus olhos penetrantes,
quando pousados nela,
denunciavam sentimentos
estranhos e não passaram
despercebidos, nem a
ela, nem a Fantini, os
propósitos enfermiços
que lhe nasciam, ali
mesmo, à frente dos
dois.
(Obra citada, cap. 14,
pp. 107 a 109.)
C. É verdade que Túlio
Mancini não se
suicidara?
Sim. Pelo menos foi o
que ele informou a
Evelina. Segundo ele,
fora Caio quem o havia
acertado com um tiro de
revólver no peito. A
revelação chocou a
jovem, porque Túlio
fora, afinal de contas,
assassinado por aquele
a quem ela desposara no
mundo.
(Obra citada, cap. 14,
pp. 109 e 110.)
Texto para leitura
49. O encontro de
Túlio abate Evelina
- A senhora Serpa,
extática, não conseguiu
articular palavra.
"Evelina!... Evelina!",
gritava o moço como que
dementado de júbilo.
"Agora!... Agora que vi
você, reconheço que
estou vivo... Vivo!..."
Cláudio providenciou
para que o rapaz fosse
abrigado no lar de
Ambrósio, até que se lhe
providenciasse
hospitalização
conveniente. Túlio
Mancini recebeu passes
reconfortantes e foi
conduzido à casa dos
modestos amigos, que o
acolheram alegremente,
enquanto o grupo
socorrista retornava ao
campo doméstico. Muito
discreto, Cláudio
absteve-se de quaisquer
comentários de ordem
pessoal a respeito do
caso, lembrando apenas
aos amigos que, no dia
seguinte, poderiam rever
Túlio, se o desejassem.
Ernesto gostaria de
ouvir Evelina com
respeito ao suicida, mas
calou-se ao vê-la
francamente aparvalhada.
Na cabeça dele, porém,
pensamentos
contraditórios se
misturavam, sugerindo
inquirições sem
resposta. Não era Túlio
um suicida? Não sofriam
os suicidas duras
penalidades pelo
desacato à Lei de Deus?
Por que, então, ele
escapara às corrigendas,
pervagando à vontade na
província dos alienados
mentais, entre
indivíduos rebeldes e
vagabundos? Mais tarde,
a sós com Evelina, ele
sorriu e falou-lhe com
excelente humor:
"Excelentíssima senhora
Serpa, se alguma dúvida
nos restava sobre a
morte de nossos corpos
físicos que já devem ter
desaparecido no bojo da
terra, já não nos é
possível doravante
qualquer incerteza".
Evelina procurou sorrir,
mas em vão. Sentia-se
esmagada, abatida...
(Cap. 14, pp. 106 e 107)
50. Evelina visita
Túlio - Ernesto
procurou chamá-la ao
reequilíbrio e, depois
de uma série de
alegações construtivas,
rematou: "Acaso, não
temos nós solicitado
trabalho? Quem dirá não
tenhamos sido induzidos,
sem perceber, pelas
autoridades daqui ao
achado de hoje? Esse
Túlio que lhe foi, um
dia, companheiro de
sonhos, será talvez para
nós o começo de novos
rumos... Uma nova
ocupação, um caminho de
acesso à elevação
espiritual a que nos
cabe dar início... Você
concordará em que o
vemos, necessitado de
tudo... Aquela voz
atormentada, aqueles
olhos de doente não nos
enganariam. Estamos
diante de alguém que
solicita atenções
imediatas e, a rigor,
sendo pessoa de suas
relações, é nosso
parente próximo. Somos
agora os únicos
familiares que ele
possui". Em seguida,
porque Evelina se
referisse, de leve, à
dor misturada de
assombro que a
descoberta lhe causara,
Ernesto Fantini
acrescentou: "Que
esperaria de melhor a
senhora Serpa, a fim de
trabalhar? Quanto ao
mais, minha querida
amiga, lembro aqui a
declaração filosófica de
um velho companheiro:
`convivei e
purificai-vos'.
Estamos desencarnados e
precisamos, como nunca,
de burilamento moral. Se
a presença de Túlio nos
chama ao serviço que nos
testará a capacidade de
amor ao próximo, não
hesitemos abraçar as
novas obrigações".
Transcorridos alguns
dias, os dois amigos
conseguiram reavistar
Túlio, então bastante
melhorado, graças aos
cuidados recebidos.
Ernesto fitou-o,
curioso, no primeiro
encontro, mas Evelina
sentiu-se tomada de
surpresa e inquietação,
visto que aquele Túlio
Mancini era bem
diferente do que
conhecera na Crosta.
Seus olhos penetrantes,
quando pousados nela,
denunciavam sentimentos
estranhos e não passaram
despercebidos, nem a
ela, nem a Fantini, os
propósitos enfermiços
que lhe nasciam, ali
mesmo, à frente dos
dois. Sem qualquer
impulso intencional,
Ernesto e Evelina
permutavam impressões,
telepaticamente,
reconhecendo que lhes
era possível conversar
pelo idioma do
pensamento, de modo
espontâneo, diante do
rapaz que não lhes
comungava o mesmo nível
de ideias e emoções.
Naquele momento, tinham
a convicção de ler na
alma de Túlio, como num
livro aberto. (Cap. 14,
pp. 107 a 109)
51. Túlio explica
não ser um suicida
- Túlio acreditava-se
vivo (dizemos melhor:
encarnado), pelo fato de
haver reencontrado a
ex-noiva. Obviamente, os
dois amigos não lhe
desmancharam, de pronto,
a ilusão. Evelina
lembrou-lhe o ato do
suicídio, lamentando ter
ele atirado contra si
mesmo num momento de
loucura. Túlio se
admirou ante tal
acusação e explicou que
fora Caio quem o alvejou
no peito. "Caí no piso e
nada mais vi...",
informou o rapaz.
"Acordei, não sei
quando, num quarto de
hospital e, desde
então, vivo enfermo e
revoltado, buscando
reaver a saúde para
ensinar àquele biltre
quanto vale a minha
vingança." Túlio
rememorou então para
Evelina os fatos que
precederam a atitude de
Caio, que, estando
ambos sós, num dia de
feriado, no próprio
escritório de Túlio,
passou a acusá-lo
dizendo que sua
covardia, ao recorrer ao
veneno, havia abalado o
amor que existia entre
ele (Caio) e Evelina. Em
seguida, Caio sacou um
revólver e disparou,
acertando-o no peito. Um
raio que caísse ali não
teria arrasado o ânimo
de Evelina Serpa quanto
aquela revelação
terrível. Túlio não se
matara, mas fora
assassinado por aquele
a quem ela desposara no
mundo!... Percebendo o
que ocorria na mente de
ambos, Ernesto Fantini
rogou telepaticamente à
amiga não fizesse o
mínimo esforço por
trazer Mancini à
realidade e, sim,
tivesse paciência, até
que pudessem
estabelecer planos de
socorro ao rapaz.
Evelina entendeu a
sugestão e Ernesto
retirou-se. Contrafeita,
ela sentiu-se algo
desamparada ao ficar a
sós com o ex-noivo, como
se renteasse com perigos
ocultos. Túlio
convidou-a a pequeno
passeio pelo parque da
instituição onde estava
albergado e, em poucos
instantes, estavam os
dois, um ao lado do
outro, passeando entre
sebes floridas e árvores
protetoras, aspirando o
vento embalsamado de
nutrientes perfumes.
(Cap. 14, pp. 109 e 110)
52. Túlio diz não
saber onde se encontra
- "Evelina – indagou
Túlio, com evidente
sarcasmo –, quem é este
velho que você está
trazendo a tiracolo?" A
pergunta, pronunciada em
tom agressivo, não
agradou à jovem senhora,
mas, mesmo assim, ela
informou, gentil:
"Trata-se de amigo
distinto, a quem devo
inestimáveis favores".
Ele chasqueou:
"Compreenda que sofri
muito para achar você...
Agora, não cedo sua
companhia a homem
algum, mesmo que esse
homem fosse seu pai..."
E prosseguiu: "Evelina,
tenho um mundo de coisas
a saber, a perguntar e a
ouvir de você... Não
sei, realmente, se
tenho estado louco. Onde
estamos? que fazemos?"
Nesse ponto, havendo
chegado a um pequeno
caramanchão, totalmente
envolto em trepadeiras,
Túlio implorou fizessem
ali uma parada de
refazimento, porque
sentia dores quando se
movimentava em demasia,
desde o tiro recebido de
Caio. O rapaz estava
apaixonado e patenteava
no semblante tamanha
expressão de
sensualidade que Evelina
estremeceu. Ela, porém,
parecia inebriar-se com
as considerações que
passou a ouvir do
ex-namorado e relembrou
as noites de ternura que
tivera com ele, antes de
comprometer-se com Caio.
Instintivamente,
rememorou as
infidelidades do
marido, o escárnio
revestido de belas
palavras que recebera
dele tantas vezes em sua
casa e, por um momento,
balançou-se-lhe outra
vez o coração, entre os
dois, como ocorrera nos
tempos do noivado...
Algo, no entanto, lhe
impunha medo e certa
repugnância ao
entreter-se com Túlio
Mancini. Ele não era
mais o cavalheiro de
outra época. Mostrava-se
imponderado, desabrido.
Além disso, entendia não
lhe ser possível ceder a
quaisquer sugestões
incompatíveis com sua
dignidade feminina.
Casara-se. Devia ao
esposo lealdade e
acatamento. Tais ideias
lhe controlaram a
sensibilidade e Evelina
manteve-se serena,
enquanto Mancini lhe
pedia deixá-lo
recostar-se em seu colo,
nem que fosse um momento
só. "Evelina – disse o
rapaz –, quero sentir o
calor de seu coração...
Tenho necessidade de
você, qual o sedento
quando se aproxima da
fonte! Compadeça-se de
mim!..." (Cap. 14, pp.
110 a 112)
(Continua na próxima
semana.)