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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 334 - 20 de Outubro de 2013

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 
 



A ponta de “iceberg”
chamada  humanidade
 

O homem que desperta para a grandeza da Criação identifica-se como grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais

 “Vendo a magnitude do Universo, a grandeza da  Vida  e  o  esplendor  da Eternidade, não  há  como negar  a  nossa infinita pequenez.” -
François C. Liran

A evolução é um processo cuja gênese se perde na noite dos tempos e igual distância – incomensurável – existe ainda a percorrer até à meta de perfeição a que nos conclamou Jesus.   

Em nosso apoucamento mental, na obtusa perspectiva em que nos encontramos, não podemos compreender todo esse fantástico, perfeito e grandioso mecanismo divino...

Proveniente de um vaidoso antropomorfismo, a Humanidade acorda, agora, com o avanço do progresso, para uma nova realidade, na qual ela situa o seu verdadeiro papel no contexto do Universo. Como escreveu Eduardo Prado Coelho: “Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do Universo; com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal; com Marx, o homem deixou de ser o centro da História, e com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo”.  Aliás, o combate ao personalismo já vem desde João Batista e Paulo de Tarso, que disseram respectivamente: “É preciso que eu diminua para que Jesus cresça”; “Já não sou eu quem vive, é Cristo que vive em mim”.  Tudo isso tem o condão de abrir inquestionáveis feridas narcíseas provocando o esboroamento da vitalidade do personalismo soez, realçando nossa condição de pigmeus ante a grandiosidade do Universo.

Sávio Laterce, mestrando em Filosofia pelo IFCS/UFRJ, escreveu um artigo publicado pelo Jornal do Brasil do dia 03.02.2001 com o título: “Uma Biografia de 4,5 Bilhões de Anos”, no qual podemos observar de perto o estudo do geólogo inglês Richard Fortey, compreendido na faixa de tempo que vai desde o surgimento do primeiro ser vivo até à invenção da escrita. Afirma Laterce que a partir do momento em que começamos a perguntar há quanto tempo existe vida na Terra, a ideia do ser humano e da sua primazia em a Natureza per­de completamente o sentido. A Humanidade é a ponta de um grande “iceberg”, as linhas finais de um grande livro que vai continuar sendo escrito... Precisamos acreditar que, se nunca tivéssemos existido, a Natureza continuaria a se diversificar no seu ritmo criativo. 

Apesar de um antropomorfismo cultivado durante séculos e séculos, temos que re­conhecer que não somos o único objetivo final do mundo natural. As primeiras manifestações vivas do plane­ta datam de 4,5 bilhões de anos, segundo a ciência, enquanto se calcula que a mais antiga forma do homem surgiu há “apenas” 4,5 milhões de anos, ou seja, uma proporção de mil para um. O homem não é a medida de todas as coisas, co­mo diria o sofista Protágoras, afirmando o Humanismo na Grécia do século V a.C. O que há é uma falsa medida do homem, como aponta o paleontólogo Stephen Jay Gould. Essas escalas temporais são tão inumanas que delas surgem confusões: difundiu-se, até mesmo em filmes, que os primeiros hominídeos foram contemporâneos dos dinossauros, mas a distância entre ambos é de 65 milhões de anos.

Contar a história da vida na Terra nesses últimos bilhões de anos, reservando algumas páginas no final do livro a nós, é o plano do geólogo inglês Richard Fortey, na obra “Vida: Uma Biografia não-Autorizada”.  A abrangência está demarcada de início: cobre o intervalo entre o primeiro ser vivo e a invenção da escrita.  A civilização não interessa ao autor. Surge, então, a primeira questão crucial: como foi o começo da vi­da?  A pergunta é de uma importância que dá até medo. Esta­mos no terreno de gelo fino da especulação e do pensamento, onde as áreas de saber estão indefinidas e onde a ciência esbarra na filosofia. O “Fiat Lux” divino caminhou dentro de parâmetros científicos e factíveis como muito bem o demonstra Richard Fortey, que avança com cuidado, mas lança sua tese, apoiada na síntese única e nunca mais repetida de moléculas carbônicas e energia como ponto gerador de toda a exuberância e diversidade posterior da vida. O carbono tem suas particularidades: diferentemente de outros ele­mentos químicos presentes na Terra jovem, sua estrutura é estável e autorrepetidora. Isso quer dizer que já havia desde aí uma autossuficiência reprodutiva, uma auto poiesis (autofabricação), como dirigiam os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela para resumir em que consiste a singularidade da vida.   Poderíamos chamar esse estágio de pré-vida? Querer definições precisas ou verdades acabadas nessa fronteira, buscando onde acaba a química e onde se inicia a vida, é tocar o insondável, algo que ainda não tem resposta agora...

Só que o carbono não existia por aqui: Ele veio do Espaço. (Isso é confirmado por Emmanuel quando fala do Protoplasma, no livro: A Caminho da Luz). Não era difícil para os meteoros chamados condritos carbonáceos atingirem o solo do nosso planeta naqueles recuados tempos primitivos, onde nem mesmo atmosfera ainda existia como barreira protetora. Os meteoros caíam, então, com toda a força cinética no solo planetário ocasionando mudanças ecológicas extraordinárias, provocando grandes extinções de espécies animais e vegetais.

(...) Mas, para Fortey, a ideia de árvore da vida, que espalha seus galhos indefinidamente sem contenções, está ultrapassada. Houve vários obstáculos: eras glaciais, alterações repentinas na composição dos gases, queda de corpos celestes e recomposições terrestres das placas tectônicas. Didática e toscamente podemos comparar os movimentos da vida com um gigantesco dominó: se uma peça é alterada, tudo que vem depois dela é diferente.

Há 220 milhões de anos, todas as faixas de terra se uniram, formando um supercontinente, que passou a ser denominado de Pangeia.  Os animais puderam, a partir daí, percorrer todas as áreas do globo. Assim, não é mera coincidência encontrarmos fósseis dos mesmos dinossauros em sítios arqueológicos da Austrália, da Inglaterra, da França e em Natal, no Brasil. O clima tropical em quase todos os lugares e a grande oxigenação eram uma ambientação favorável ao gigantismo dessa fase.

A extinção dos dinossauros é uma polêmica que se sustentou durante muito tempo.  A ideia mais bem aceita hoje no meio científico é a do choque de um meteoro colossal de nove quilômetros de extensão contra o solo terrestre, alterando radicalmente as condições de vida. Seria impossível a Humanidade chegar ao estágio evolutivo em que chegou se os dinossauros ainda desfilassem pela Terra quando ela iniciou sua trajetória com os australopitecos há alguns milhões de anos. Tal­vez a própria linhagem dos mamíferos não pudesse se desenvolver até o homem.

Falando do homem propriamente, Darwin nunca disse que te­mos uma descendência direta dos macacos, afirmou, sim, que mantemos com eles um antepassado comum.  A separação teria ocorri­do há cinco milhões de anos e to­da busca infinita por esse elo perdido entre ambos permanece até os nossos dias.

Fortey indica que um primeiro fator de Humanidade é a bipedia, conquistada há quatro milhões de anos. Sua importância está no fato de liberar as mãos e dar a chance de elas serem usadas para a fabricação de instrumentos, o que foi acompanhado por um avanço da capacidade cerebral. Para Fortey, sentimos até hoje os efeitos da passagem da condição de quadrúpedes para bípedes: dores nas costas são a prova disso. 

A chegada ao “Homo Sapiens” não foi uma linha reta. O homem de Neanderthal, que viveu entre 70 mil e 30 mil anos a.C., que tinha capacidade craniana praticamente igual à nossa, é apontado hoje como uma espécie à parte, que pode ter se extinguido em guerras com nossos antecessores. Enfim, sobrou o “Homo Sapiens” para contar a história...

E o futuro do homem? Se a Natureza é pródiga em mudanças, por que não continuaremos mudando? É esperar para ver, finaliza Laterce.

Emmanuel analisa[1] aspectos importantes sobre o “amanhã” da Humanidade, numa extraordinária mensagem psicografada por Chico Xavier intitulada:

O  homem ante a vida

“No crepúsculo da civilização em que rumamos para a alvorada de novos milênios, o homem que amadureceu o raciocínio supera as fronteiras da inteligência comum e acorda, dentro de si mesmo, com interrogativas que lhe incendeiam o coração: Quem somos? Donde viemos? Onde se localiza a estação de nossos destinos?  

À margem da senda em que jornadeia, surgem os escuros estilhaços dos ídolos mentirosos que adorou e, enquanto sensações de cansaço lhe assomam à alma enfermiça, o anseio da vida superior lhe agita os recessos do ser, qual braseiro vivo do ideal, sob a espessa camada de cinzas do desencanto. Recorre à sabedoria e examina o microcosmo em que sonha; reconhece a estreiteza do círculo em que respira; observa as dimensões diminutas do Lar Cósmico em que se desenvolve; descobre que o Sol, sustentáculo de sua apagada residência planetária, tem um volume de 1.300.000 vezes maior que o dela; aprende que a Lua, insignificante satélite do seu domicilio, dista mais de 380.000 quilômetros do mundo que lhe serve de berço.

Alongando as perquirições, além do nosso Sol, analisa outros centros de vida: Sírius ofusca-lhe a grandeza; Pólux, a imponente estrela dos Gêmeos, eclipsa-o em majestade; Capela é 5.800 vezes maior; Antares apresenta volume superior; Canópus tem um brilho oitenta vezes superior ao do Sol. Deslumbrado, apercebe-se de que não existe vácuo, de que a vida é patrimônio da gota d’água, tanto quanto é a essência dos incomensuráveis sis­temas siderais, e, assombrado ante o esplendor do Universo, o homem que empreende a laboriosa tarefa do descobrimento de si mesmo volta-se para o chão a que se imanta e pede ao amor que responda à soberania cósmica, dentro da mesma nota de grandeza.

Todavia, o amor no ambiente em que ele vive é ainda qual planta em tenro desabrochar. Confinado ao reduzido agrupamento consanguíneo a que se ajusta, ou compondo a equipe de interesses passageiros a que provisoriamente se enquadra, sofre a inquietação do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor... Não sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar e, criando o choque da exigência para os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e auxiliar-se.

Vê a Majestade Divina nos Céus e identifica em si a pobreza infinita da Terra; tem o cérebro inflamado de glória e o coração invadido de sombra; orgulha-se ante os espetáculos magnificentes do Alto e padece a miséria de baixo; deseja comunicar aos outros quanto apreendeu e sentiu na contemplação da vida ilimitada, mas não encontra ouvidos que o entendam...

Repara, então, que o Amor, na Terra, é ainda a alegria dos oásis fechados.  Então, partindo os elos que o prendem à estreita família do mundo, o homem que desperta, para a grandeza da Criação, deambula na Terra, à maneira do viajante incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a sentir-se grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais. Sem embargo, nesse homem alarga-se a acústica da alma e, embora acicatado pelo sofrimento, é sobre ele que as Inteligências Superiores estão edificando os fundamentos espirituais da Nova Humanidade.”  

 

[1] - XAVIER, F. Cândido. Roteiro. 8. ed. Rio [de janeiro]: FEB, 1989, cap. 1, p.p. 11-14.



 


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