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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 347 - 26 de Janeiro de 2014

ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil)

 
 


Verdade & paz

A riqueza não é necessária à felicidade
 

 “(...) Acalma-te, dá ritmo equilibrado aos teus interesses e encontrarás o filão de ouro que te conduzirá à felicidade.”  -   Joanna de Ângelis[1]  

Disse Jesus[2]: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá”; “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.  

Enquanto nos mantivermos prisioneiros dos “valores” (leia-se: “desvalores”) do mundo, preferindo-os e preterindo os verdadeiros que são os valores espirituais, estaremos na condição de prisioneiros voluntários e escravos das nonadas que travam a nossa caminhada evolutiva...

Ninguém em sã consciência contrataria um jardineiro para cuidar das rosas fanadas que enfeitam uma jarra, negligenciando o jardim que ficaria exposto às pragas e às intempéries.

Pois bem, se figurarmos a jarra de flores como se fosse a vida material e o jardim como a vida espiritual, vamos observar que normalmente as criaturas estão focalizando toda a atenção na “jarra de flores” (vida material) em detrimento do “Jardim” (vida espiritual).

Jesus já ressaltou essa característica humana ao dizer para Marta, irmã de Lázaro, que ela estava se deixando afligir e envolver por muitas coisas, quando, na verdade, apenas uma era necessária. Portanto, será bom avaliarmos como estamos distribuindo o nosso tempo entre os cuidados dispensados à “jarra de flores” e ao “Jardim”, vez que aquelas são transitórias e perecerão, enquanto o “Jardim” é eterno. Até quando vamos valorizar o que perece em detrimento do que permanece?

Um Espírito protetor, Fénelon e Lacordaire se alinham para dizer: [3]

“(...) Quando considero a brevidade da vida, dolorosamente me impressiona a incessante preocupação de que é para vós objeto o bem-estar material, ao passo que tão pouca importância dais ao vosso aperfeiçoamento moral, a que pouco ou nenhum tempo consagrais e que, no entanto, é o que importa para a Eternidade. Dir-se-ia, diante da atividade que desenvolveis, tratar-se de uma questão do mais alto interesse para a Humanidade, quando não se trata, na maioria dos casos, senão de vos pordes em condições de satisfazer a necessidades exageradas, à vaidade, ou de vos entregardes a excessos. Que de penas, de amofinações, de tormentos cada um se impõe; que de noites de insônia, para aumentar haveres muitas vezes mais que suficientes! Insensatos! Credes, então, realmente, que vos serão levados em conta os cuidados e os esforços que despendeis movidos pelo egoísmo, pela cupidez ou pelo orgulho, enquanto negligenciais do vosso futuro, bem como dos deveres que a solidariedade fraterna impõe a todos os que gozam das vantagens da vida social? Unicamente no vosso corpo haveis pensado; seu bem-estar, seus prazeres foram o objeto exclusivo da vossa solicitude egoística. Por ele, que morre, desprezastes o vosso Espírito, que viverá sempre. Por isso mesmo, esse senhor tão animado e acariciado se tornou o vosso tirano; ele manda sobre o vosso Espírito, que se lhe constituiu escravo. Seria essa a finalidade da existência que Deus vos outorgou?

(...) Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio. O mau uso consiste em aplicá-los exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo. (...) O vosso coração será o primeiro a dessedentar-se nessa fonte benfazeja; já nesta existência fruireis os inefáveis gozos da alma, em vez dos gozos materiais do egoísta, que produzem no coração o vazio.  

Nós nos devemos uns aos outros, e somente pela união sincera e fraternal entre os Espíritos e os encarnados será possível a regeneração. O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual.            

(...) Nada vos pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não proprietários, não vos iludais.

 (...) O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los.

  Sede, antes de tudo, submissos; confiai n`Aquele que, tendo-vos dado e tirado, pode novamente restituir-vos o que vos tirou. Resisti animosos ao abatimento, ao desespero, que vos paralisam as forças e quando Deus vos desferir um golpe, não esqueçais nunca que, ao lado da mais rude prova, coloca sempre uma consolação. Ponderai, sobretudo, que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia vos ajudará a desprender-vos destes últimos.

A ninguém ordena o Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens terrenos. Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna: Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo segundo a Tua santa vontade.

Aí tendes, meus amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos. Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres, não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se prestásseis contas de uma tutela.  Não sejais depositário infiel, utilizando-os unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade”. 

Joanna de Ângelis nos concita a não adiarmos indefinidamente o nosso momento de entrega, o momento de nos colocarmos em relação com o melhor tesouro, vez que “aí estará o nosso coração”, conforme acentuou Jesus, facultando-nos ou não a felicidade.

E ainda diz mais a querida Mentora1

“A tua escala de valores necessita de uma avaliação, pois depositas muita importância em coisas materiais. Acalmas-te por um momento e já noutro retornam a incerteza e a insatisfação. A ânsia de querer mais e o veemente desejo de abarcar tudo te exaurem os nervos, e o equilíbrio bate em retirada.

Os tesouros valem o preço que lhes atribuis. Nenhum deles preenche o espaço da saudade de um ser amado ou traz o amor legítimo de alguém ao coração solitário.

Toda busca da Verdade, para legitimar-se, deve ser fundamentada na paz, pois a pressa responde pela imperfeição de qualquer obra quanto à indolência pela demora da realização. Assim, acalma-te, dá ritmo equilibrado aos teus interesses e encontrarás o filão de ouro que te conduzirá à felicidade.  Jesus já veio ter contigo e deixou-te precioso legado, que ainda não conheces.

Ao Mahatma Gandhi bastou o “sermão da montanha” para completar-lhe a preciosa e missionária existência de homem de fé e ação.

Já o leste, meditando e aplicando-lhe os conceitos no dia-a-dia? Reavalia, pois, a tua existência, porque, talvez, sem aviso prévio, a morte chegue à tua porta, e, sem pedir licença, informe que está na hora do retorno. Como seguirás?                                                               


[1] - FRANCO, Divaldo. Momentos de Meditação.  2. ed. Salvador: LEAL, 1996, cap. 15.

[2] - Jo., 14:27 e 8:32.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho seg. o Espiritismo. 125. ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, cap. XVI, itens 12 a 14.

 

 

 

 


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