641. Ao movimento espiritualista não tardaram em aderir homens
eminentes pelo saber,
pelo caráter e pela
posição social. O
reverendo Brittain, o
Dr. Hallock, o reverendo
Griswold, os professores
Robert Hare e Mapes, o
grande juiz Edmonds, o
senador Tallmadge, o
diplomata R. Dale Owen,
etc., estudaram atenta e
demoradamente os
fenômenos e afirmaram
publicamente a
intervenção dos
Espíritos.
642. O senador Tallmadge, ex-governador do Wisconsin, descreve um
caso de levitação de que
foi objeto, em
Washington:
“A mesa tinha quatro pés; era uma grande mesa para chá. Sentei-me
ao centro. As três
senhoras colocaram as
mãos em cima, aumentando
assim o peso de 200
libras que nela já
existia. Ao começo, dois
pés se elevaram do solo,
depois outros dois se
puseram ao nível dos
primeiros, e a mesa
ficou completamente
suspensa no ar, a seis
polegadas de altura.
Tendo-me sentado em
cima, senti um movimento
brando, como se ela
flutuasse. A mesa ficou
alguns instantes
suspensa e tornou a
descer docemente.”
643. Veremos, dentro em breve, fatos semelhantes se produzirem em
diferentes pontos da
Europa, em particular
nas sessões da médium
napolitana Eusápia
Paladino. Em rigor se
poderia explicá-los pela
ação de forças fluídicas
emanadas dos
assistentes, posto que
pareça bem pouco
provável que forças
humanas exteriorizadas
sejam, só por si,
suficientes para pôr em
movimento objetos tão
pesados.
644. Aqui estão, porém, outros fatos que denotam a intervenção de
Inteligências
invisíveis. É sempre o
senador Tallmadge quem
fala:
“O fenômeno seguinte se produziu numa outra sessão com as
senhoritas Fox.
Estávamos presentes, os
generais Hamilton e
Waddy Thompson e eu.
Recomendaram-nos que
colocássemos a Bíblia,
fechada, em uma gaveta
sob a mesa. Era uma
pequena Bíblia de
algibeira, impressa em
caracteres minúsculos.
Durante algum tempo
numerosos raps
(pancadas vibradas)
tamborilaram uma marcha
que havíamos pedido.
Foram depois se
enfraquecendo como
passos que se afastam, e
cessaram inteiramente; e
outros raps, dado
o sinal do alfabeto,
soletraram esta única
palavra: Olhai.
Tomei o livro com
precaução, porque estava
aberto. Soletraram:
Lede, indicando os
números dos versículos
que desejavam que eu
lesse. Durante essa
leitura, pancadas
violentas acentuaram com
uma força estranha os
sentimentos traduzidos.
O livro estava aberto no
evangelho de S. João,
cap. III; os versículos
a ler eram os seguintes:
Depois disso, mandaram-me colocar diversas folhas de papel para
carta, com um lápis, na
gaveta sob a mesa. Daí a
pouco ouvimos o ruído do
lápis no papel e
bateram. Olhei debaixo
da mesa; as folhas que
eu aí havia colocado
estavam em desordem e na
folha de cima estava
escrito: ‘I'm with you
still (estou ainda
convosco) – John C.
Calhoun.’
Mostrei essa frase ao general Hamilton, antigo governador da
Carolina do Sul, ao
general Waddy Thompson,
antigo ministro do
México, ao general
Robert Campbell, de
Havana, assim como a
outros amigos íntimos do
Senhor Calhoun.
Mostrei-a também a um de
seus filhos, e todos
afirmavam que era um
fac-símile perfeito da
escrita de John Calhoun.
O general Hamilton e a
generala Macomb, que
possuem muitas cartas
particulares de Calhoun,
indicaram como
particularmente
significativo o hábito
constante que ele tinha
de abreviar I am em I’m;
de sorte que essa frase
‘I'm with you still’,
breve como é,
caracteriza
perfeitamente o seu
estilo e o seu modo
peculiar de dizer.”
645. Na mesma ordem de fatos, citemos ainda o testemunho de Charles
Cathcart, antigo membro
do Congresso, homem
instruído e influente,
que ocupa em Indiana uma
elevada posição social:
“Constituído o círculo, reconheci que o médium mais poderoso era
meu filho Henry, criança
de 7 anos apenas. A
família não tivera ainda
tempo de habituar-se a
essa mediunidade, e
inesperadas
demonstrações se
produziram. O pequeno
Henry era balouçado no
quarto como uma pena.
Suspenso pelos
Espíritos, era
transportado até ao
teto, às cornijas das
janelas, aos recantos
mais elevados dos
aposentos, fora do
alcance das mãos
humanas. Às vezes,
ficava o menino em
transe mediúnico, e
nesse estado dizia
coisas admiráveis de
sabedoria e de beleza;
mas, apesar da confiança
que a família depositava
nos ternos cuidados e no
caráter perfeitamente
bom dos Espíritos seus
amigos, a mãe não podia
ver sem inquietação seu
filhinho sob esse poder
anormal, e suplicava aos
invisíveis que o não
sonambulizassem. Eles
lhe repetiam
constantemente, por
intermédio da mesa, que
essa influência era
benéfica para o menino e
lhes permitia a
realização de atos muito
importantes, como doutro
modo o não poderiam
fazer; mas como a Sra.
Cathcart não se pôde
conformar com essa fase
de mediunidade, os
Espíritos se abstiveram
benevolamente de
continuar os transes.”
646. O grande juiz Edmonds, presidente da Corte Suprema de Nova
Iorque, em seu “Apelo ao
público”, no qual refuta
as malévolas imputações
de que fora objeto após
as suas investigações
espiritualistas, assim
resume o problema dos
fenômenos e de sua
causa:
“Vi uma mesa de pinho, de quatro pés, levantada do soalho, em meio
de uma reunião de oito
pessoas, derribada
desordenadamente aos
nossos pés, elevada
acima de nossas cabeças,
em seguida apoiada no
encosto de um sofá em
que estávamos sentados.
Vi essa mesma mesa
levantar-se sobre dois
pés com uma inclinação
de 45º, e assim
permanecer, sem que se
pudesse fazê-la voltar à
sua posição normal. Vi
uma mesa de acaju, de um
único pé e tendo em cima
uma lâmpada acesa,
erguida a distância de,
pelo menos, um pé acima
do soalho, apesar dos
nossos esforços em
contrário, e agitada
como um copo que se
tivesse empunhado,
conservando-se a lâmpada
em seu lugar, mas
entrechocando-se os
pingentes. Vi essa mesa
oscilar com a lâmpada em
cima, a qual deveria ter
caído, se não fosse
amparada por outro meio
que não pelo seu próprio
peso, e, entretanto, não
caiu e nem sequer se
moveu. Vi, muitas vezes,
mais de uma pessoa ser
puxada com uma força a
que lhe era impossível
resistir, mesmo em
ocasião em que eu
juntava os meus esforços
aos da pessoa empuxada.
O que refiro não é
sequer a centésima parte
do que presenciei, mas é
suficiente para mostrar
o caráter do fenômeno.
Nessa época, os jornais
formularam diferentes
explicações para
‘desmascarar a farsa’,
como diziam eles. Li-os
atentamente, contando
receber auxílio em
minhas pesquisas, e não
pude menos que sorrir da
audácia e inanidade
dessas explicações.
Enquanto, por exemplo,
certos professores de
Buffalo se jactavam de
tudo haverem explicado
pelo estalo das
articulações dos dedos e
dos joelhos, as
manifestações consistiam
no tilintar de uma
campainha, que soava
debaixo de uma mesa, e
que era depois
transportada de um para
outro aposento. Ouvi
médiuns servirem-se de
termos gregos, latinos,
espanhóis e franceses,
quando sei que não
conheciam outra língua
além da sua. E é um fato
que muitas pessoas podem
atestar, esse de terem
os médiuns, muitas
vezes, falado e escrito
em línguas que lhes eram
desconhecidas.
Pergunta-se então se, por qualquer misteriosa operação do espírito,
tudo isso não é
simplesmente um reflexo
mental de algum dos
assistentes. E a
resposta é que se tem
recebido comunicação de
fatos ignorados e que em
seguida são reconhecidos
verdadeiros.”
647. O autor cita vários outros casos e depois acrescenta:
“Muitos pensamentos que me não estavam na mente, ou que eram mesmo
contrários às minhas
ideias, me foram
revelados. Isso me
aconteceu várias vezes,
a mim como a outras
pessoas, como para me
convencer de que o nosso
próprio espírito não
toma parte alguma nessas
comunicações. Tudo isso,
porém, e muitas outras
coisas semelhantes, me
têm demonstrado que
existe nesse fenômeno
uma classe de
Inteligências elevadas,
colocadas fora da
Humanidade; porque não
há outra hipótese que eu
possa imaginar, que
explique todos os fatos
estabelecidos pelo
testemunho de dez mil
pessoas, os quais podem
ser verificados por quem
quer que se dê ao
trabalho de procurar.
Reconheci que essas Inteligências invisíveis comunicavam conosco de
vários modos, sem contar
os raps, as
mesas giratórias, e que,
mediante esses outros
processos, se obtinham,
não raro, comunicações
eloquentes e da mais
pura e alta moralidade,
entre muitas
inconsequências e
contradições.”
648. O fenômeno das casas mal-assombradas é um dos mais conhecidos
e frequentes.
Encontramo-lo um pouco
por toda parte.
Numerosíssimos são os
lugares mal-assombrados,
as casas em cujos
soalhos, móveis e
paredes se ouvem ruídos
e pancadas. Em certas
habitações, os objetos
se deslocam sem
contacto; caem pedras
lançadas do exterior por
uma força desconhecida;
ouvem-se estrépitos de
louça a quebrar-se,
gritos, rumores
diversos, que incomodam
e atemorizam as pessoas
impressionáveis.
649. Visitei algumas dessas casas, nelas permaneci demoradamente e
pude quase sempre me
certificar da presença
de seres invisíveis, com
os quais era possível
entrar em comunicação,
quer pela mesa, quer
pela escrita mediúnica.
Em tais casos adquiri eu
a convicção de que os
agentes das
manifestações eram as
almas das pessoas que
haviam habitado esses
lugares, almas
sofredoras, que
procuravam atrair a
atenção; na maior parte
das vezes, bastam
pensamentos compassivos
e preces para lhes dar
alívio. Certos Espíritos
são levados a esses
sítios pela recordação
de remotos crimes;
outros, por um desejo de
vingança; outros, ainda,
por seu apego aos bens
terrestres. As pesquisas
da polícia jamais
conseguem descobrir os
autores de semelhantes
fatos. Mesmo nos
arremessos de pedras,
nota-se que os projéteis
são dirigidos por uma
Inteligência invisível.
650. No caso da paróquia de Groben (Alemanha), descrito pelo pastor
Hennisch, e no de
Munchkof, que foi objeto
de uma investigação
dirigida pelo professor
Arschauer, viam-se
pedras descreverem um
arco de círculo, depois
um ângulo. Em Munchkof,
mais de sessenta pessoas
viram pedras saírem por
uma janela, depois
voltarem ao interior,
descrevendo uma curva.
Esses projéteis nunca
feriram pessoa alguma:
quando atingiam as
testemunhas de tais
cenas, resvalavam-lhes
ao longo do corpo, sem
produzir choque. Objetos
que se procuravam
interpor, a fim de lhes
servirem de anteparo,
eram arrebatados, por
uma força oculta, das
mãos dos que os
sustinham e recolocados
em seu lugar habitual.
651. O mesmo aconteceu na chácara de La Liodière, próximo a Tours.
As pedras aí caíam em
profusão, sem ferir
ninguém. Parecia
provirem de muito longe
e eram de uma natureza
geológica diferente da
do país. Em Izeures
(Indre-et-Loire), numa
casa habitada pela
família do empreiteiro
Sr. Saboureau, ouvia-se,
durante a noite, um
corpo pesado, uma massa
enorme, descer as
escadas, fazendo ranger
ao seu peso os degraus e
os tabiques. Logo que se
fazia luz,
restabelecia-se o
silêncio. A Srta.
Saboureau, que é médium,
foi várias vezes
levantada, com a cadeira
em que se achava
sentada, e depois
atirada ao chão.
Estabeleceu-se um
diálogo, por meio de
pancadas convencionais,
com um ser invisível que
disse chamar-se Roberto
e, por suas
familiaridades, velo,
com o tempo, a ser
considerado amigo da
casa.
652. Em “Animismo e Espiritismo” (cap. III, 1), Aksakof refere
diversos casos de
natureza mal-assombrada.
Um deles teve por teatro
uma chácara do distrito
de Uralsk, no este da
Rússia. O proprietário,
Sr. Schtchapov,
transmitiu ao
“Mensageiro do Ural”, em
1886, a circunstanciada
narrativa das
perseguições ocultas a
que esteve exposta sua
família durante seis
meses. Em vão se havia
ele dirigido a todas as
pessoas esclarecidas de
seu conhecimento,
algumas das quais se
distinguiam por grande
erudição:
“Todas as suas teorias científicas – diz ele – se aniquilavam
diante da evidência dos
fatos. É preciso ter
feito por si mesmo a
experiência; é preciso
ter visto e ouvido, ter
passado noites em claro
e experimentado moral e
fisicamente verdadeiras
torturas até ao
esgotamento das próprias
forças, para adquirir
finalmente a convicção
inabalável de que há
coisas de que os sábios
nem mesmo suspeitam. As
pancadas se faziam ouvir
dia e noite. Os objetos
cuidadosamente guardados
em armários e cofres
eram espalhados pelos
quartos. A inteligência
oculta se revelava
acompanhando de pancadas
ritmadas os cantos, as
palavras e mesmo os
pensamentos. Mediante
pancadas e ruídos
peculiares, como de
arranhaduras de unhas,
se estabeleceram
diálogos entre o Sr.
Akoutine, engenheiro
químico, adido do
governador do Oremburgo,
e os Agentes invisíveis,
sobre assuntos
superiores aos
conhecimentos dos
habitantes da chácara.
Globos luminosos surgiam
de sob os leitos e dos
recantos do quarto e
flutuavam no espaço. A
mão de uma criança
aparece. Coisa mais
grave: atearam fogo em
diversos lugares e até
nas roupas da Sra.
Schtchapov, que escapou
de ficar queimada. Foi
preciso abandonar a toda
pressa a casa tornada
perigosa.”
653. Allan Kardec, na “Revue Spirite”, assinala vários fenômenos de
natureza mal-assombrada,
entre outros o caso do
Espírito batedor de
Bergzabern, cujas
proezas duraram oito
anos (números de maio,
junho e julho de 1858);
o do padeiro de
Grandes-Ventes, próximo
a Dieppe (março de
1860); o da rua des
Noyers n° 95, em Paris
(agosto de 1860);
depois, sob o título
“História de um
condenado”, a história
do Espírito batedor de
Castelnaudary (fevereiro
de 1860); a de um
industrial de São
Petersburgo (abril de
1860), etc.
654. A “Revue d'Études
Psychiques”, de dezembro
de 1903, refere,
transcrevendo-o do
“Daily Express”, de
Londres, os curiosos
sucessos que ocorreram
na “Raikes Farm”,
ocupada pela família
Webster, em Beverley:
“O pão comprado ou fabricado para o consumo da casa diminuía,
desaparecia de modo
inexplicável, assim
durante o dia como à
noite. Um redator do
Express fez uma pesquisa
minuciosa a tal respeito
e não pôde encontrar uma
explicação razoável. Um
ex-comissário de
polícia, de
Bishop-Burton, chamado
Berridge, a quem foi,
dias seguidos, confiada
a guarda do lugar em que
se arrecadava a farinha
e fabricava o pão,
confessou francamente
que o fenômeno o
desorientava por
completo. Um dia,
resolvido a tirar o caso
a limpo, trouxe para o
sítio dois pãezinhos que
havia comprado em
Beverley, guardou-os no
compartimento da casa,
cuja vigilância lhe fora
confiada, reforçou com
uma outra fechadura a
que já existia, e
esperou. O pão estava
intacto. Cortando,
porém, um dos pãezinhos
que trouxera, ficou
surpreendido o
comissário de o achar
metade oco. O próprio
Sr. Webster, desconfiado
antes de tudo de uma
pilhéria de mau gosto,
guardou o pão fresco no
guarda-comidas,
polvilhou de farinha o
soalho do compartimento,
perfeitamente seco,
fechou a porta à chave e
selou-a com duas tiras
de percal. No dia
seguinte, estava tudo
intacto, menos os dois
pãezinhos ali guardados,
um dos quais havia
desaparecido e estava o
outro reduzido à metade.
A situação se tornava
cada vez mais
inquietadora, apesar de
toda a vigilância
exercida, resultando ao
mesmo tempo numa perda
sensível de dinheiro,
pelo que resolveu o Sr.
Webster mudar-se.”