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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 348 - 2 de Fevereiro de 2014

DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Caetano do Sul, SP (Brasil)

 

 

Novas considerações sobre vigiar e orar


Quem entre os espíritas já não leu ou escreveu, ou falou, ou ouviu falar a respeito de vigilância e oração?! Acredite! Tem gente que pensa que “vigiar” quer dizer vigiar os outros, e, ainda por cima “orando”, para que não deem prejuízo... Este conselho — vigiar e orar — encerra grande profundidade como todos os conselhos do Mestre Jesus, oferecidos a exame.

Tudo o que pensamos, falamos e fazemos transforma-se em ondas vibráteis a se expandir em nível inacessível. Todo efeito provém do núcleo vibratório de nossos conseguimentos mentais, essa curiosa zona indecifrável pela ciência. Nossas ações indicam a qualidade moral-espiritual somente respeitante a nós. Quaisquer pareceres, imagens conservadas na tela da nossa estrutura psíquica serão de inteira autoria nossa, quer resultem do próprio pensamento, quer não resultem.

Toda manifestação de um ponto de vista nos situará na categoria de causadores conscientes por meio de um julgamento, de uma proposta ou de qualquer significado mental por nós admitido, concreto ou abstrato. Tornadas possíveis as ideias por nós produzidas, o sentimento as assimilará de pronto, codificando-as no âmbito da silenciosa engrenagem do raciocínio.

Sentimento e pensamento

Apropriando-se o sentimento do que pensamos, a energia mental será por ele solidificada sob influxo de admirável sutileza. Tal processo que tem a ver com a corrente energética do campo imponderável é que consiste nessas duas aptidões íntimas de toda criatura favorecida de raciocínio e discernimento. Por causa dessas duas capacidades é que uns vivem cativos dos outros.

Pensamentos e sentimentos unem todas as criaturas pelos laços dos gostos e pendores já que ninguém se acha isolado e todo mundo pensa e sente com liberdade. Dessa reciprocidade suscetível de influência de uns sobre os outros pode provir de modo consciente ou inconscientemente uma comunicação de pensamentos benéficos, uma sensação de bem-estar ou de sombrias induções hipnóticas, causa de enormes infortúnios, de lamentável ausência de equilíbrio.1

Como consequência de irremediável vínculo, acontece uma série de sucedimentos aos quais todas as individualidades se veem submetidas. Uma vez pressionadas por tão vigorosa influência, suscitamos atitudes e palavras imperceptíveis ao meio material. É muito difícil saber se propósitos, ideias originam-se mesmo do nosso íntimo. Por falar nisso, essa complexidade faz parte do nosso crescimento espiritual, e aí vemos como é imensa a sabedoria de Jesus no tocante ao referido conselho: Vigiai e orai para não cairdes em tentação.2  

Por que vigiar e orar

Vigiai e orai, aparente alvitre singelo, encerra conteúdo de cunho eminente. Por estarmos com frequência, a cada passo diário, sujeitos a disposições de ânimo para a prática de coisas diversas ou censuráveis (caindo em tentação), esse oportuno aviso do Mestre indica prudência, bom senso.

São diversas as circunstâncias nas quais, de ordinário, colhemos vários tipos de informes em nosso dia a dia, segundo o Espírito André Luiz. Disse ele que tudo começa a partir de notícias, avisos, queixas, críticas, sentenças daqueles que compartilham conosco do mesmo teto e nos dirigem a palavra.3 Se em seguida nos entregamos, às induções da mídia, a certos programas de TV, como por exemplo os do tipo reality show, acolhemos automaticamente conceitos, testemunhando um conjunto de influências perniciosas.  

A via pública, outra intensa fonte indutiva, nela somos impelidos a diversos atrativos, “viajando ou caminhando, anotando as novidades da hora ou deglutindo anúncios comerciais”, consoante André Luiz. No exercício da profissão usamos de uma máscara, decidimo-nos por um personagem adequado ao meio, representado por nós em serviço, e, “à noite, comumente manuseamos livros e publicações com os quais nos afinamos ou assistimos a espetáculos, procuramos entretenimentos entre amigos e assimilamos múltiplas sugestões com que nos influenciam o repouso”, concluiu o ínclito instrutor. 

Disse ainda André que o Espírito benfeitor ou malfeitor consegue invadir o nosso maior patrimônio, a casa mental, transpassando todos os escaninhos, devassando-lhe todos os segredos, decifrando-lhe todos os mistérios.4 Por isso, o verbo “vigiar” refere-se ao ato de se pesquisar as nossas próprias imperfeições, o “conhece-te a ti mesmo” daquele filósofo da Antiguidade. Já a “oração” é preciosa ferramenta de suporte e resguardo: apoiada na fé inabalável, ela nos defende de possíveis ideias que nos insurjam do âmago ou se manifestem em circunstâncias de frequência com algum sistema externo de imposições.

Desenvolvamos o nosso próprio raciocínio, embora nos seja lícito admirarmos o dos outros e até aceitá-lo se oportuno. A Doutrina Espírita, sublime tratado preventivo contra danos da Alma, oferece-nos a fé raciocinada, a que encara a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade; ela nos ensina a separar o joio do trigo através do livre exame sob o exercício da vigilância humilde e o suporte da oração sincera, salvando-nos da queda no precipício do erro e dos enganos ardilosos das obsessões espirituais.

___________________

Referências:

1 XAVIER, Francisco C. Nos domínios da mediunidade (Espírito André Luiz). 22. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira (FEB), 1994. Cap. 19, p. 186.

2 XAVIER, Francisco C. Fonte viva (Espírito Emmanuel). 1. ed. Rio: FEB, 2005. Tema 110, p. 255.

3 VIEIRA, Waldo; XAVIER, Francisco C. Sol nas almas. 8. ed. Uberaba: Comunhão Espírita Cristã (CEC), 1990. Tema 17, p. 58.

4_____ . _____ . Tema 7, p. 30.

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