JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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O Livro dos Espíritos:
uma obra ímpar
Existiu na França, no
século XIX, um
professor, filósofo,
cientista, escritor e
poliglota (tradutor, com
domínio do alemão,
inglês, italiano e
espanhol), profundo
conhecedor do
magnetismo, ciência que
estudou por cerca de 35
anos. Sua personalidade
era tida como grave e
compenetrada, mas também
possuía alma boníssima.
Era filho de um juiz de
direito que, durante a
infância e adolescência
do futuro professor, o
encaminhou para Yverdun,
na Suíça, onde ele se
submeteu à pedagogia de
um dos maiores pedagogos
da época, cujos métodos
de ensino ainda hoje
influenciam escolas do
mundo inteiro, Johann
Heinrich Pestalozzi. O
futuro filósofo
aprendeu, com Pestalozzi,
desde jovem, a nada
aceitar cegamente, a
tudo submeter ao crivo
da razão. Seu nome civil
foi Hippolyte-Léon
Denizard Rivail, o qual,
dotado de imenso amor à
educação, durante muitos
anos foi professor de
gramática francesa,
aritmética, física,
química, astronomia e
outras disciplinas, além
de ter escrito algumas
obras de destacado
relevo relacionadas à
educação, uma delas
premiada.
Como demonstração da
mente racionalista de
Rivail, e também como
constatação do seu
imenso bom senso,
recolhemos, na obra de
Torchi,
a frase escrita pelo
futuro codificador do
Espiritismo quando, aos
24 anos, seu espírito
fundamentalmente
positivista, na
juventude, escreveu em
obra sobre Educação
Pública: “Aquele que
houver estudado as
ciências rirá, então, da
credulidade
supersticiosa dos
ignorantes. Não mais
crerá em espectros e
fantasmas. Não mais
aceitará fogos-fátuos
por Espíritos”.
Pois foi esse mesmo
Rivail que, cerca de
três décadas mais tarde,
entrando na madureza de
seu espírito, foi
chamado a observar
“estranhos fenômenos”.
E, após certo tempo de
hesitação e dúvidas,
resolveu investigar
in loco as chamadas
manifestações das mesas
girantes, muito em voga
na Europa, em especial
na França, ali pelos
anos cinquenta do século
XIX. E viu. E ouviu. E
percebeu, naqueles
fenômenos, que serviam
como entretenimento às
almas vulgares e de
estudo e reflexão às
almas elevadas, que
neles poderia estar
contida a maior das
revelações de uma nova
ciência. Adotou, então,
o pseudônimo de Allan
Kardec.
Assim viria a lume a
obra intitulada O
Livro dos Espíritos,
inicialmente com 501
questões e já na segunda
edição com 1019
perguntas, cujas
respostas foram obtidas
com a ajuda de médiuns,
em especial mulheres,
algumas delas ainda
adolescentes. As
informações obtidas por
Kardec e sua equipe eram
surpreendentes.
Anunciavam a proximidade
do surgimento breve de
uma nova Era para a
Humanidade e deram
origem ao desdobramento
dessa obra em quatro
outras, que completaram
seu trabalho gigantesco
de codificação da
Doutrina Espírita: O
Livro dos Médiuns,
O Evangelho segundo o
Espiritismo, O
Céu e o Inferno e
A Gênese. Estava
assim completo o
denominado Pentateuco
kardequiano, embora,
em sua modéstia, este
jamais tenha se
atribuído a autoria do
extraordinário conteúdo
dessa obra.
Considerava-se um mero
compilador dos ensinos
dos Espíritos.
Mas Allan Kardec viria a
ser reconhecido
posteriormente como o
Codificador da Doutrina
Espírita, pois seu
trabalho foi muito além
de simplesmente
organizar e dispor as
questões que deram
origem a todo o edifício
do Espiritismo.
Comparava as respostas,
rejeitava o que não
estava de acordo com o
“consenso universal”,
por orientação das
entidades superiores que
o inspiravam e sob a
direção suprema do
Espírito de Verdade.
Refletia sobre as
respostas, analisava-as,
elaborava comentários de
grande sabedoria e
deduzia as consequências
morais e a renovação
para a Humanidade
advindas do conhecimento
e prática dessa
Revelação.
O Livro dos Espíritos,
base de todas as demais
obras da Codificação,
foi desmembrado por
Allan Kardec, sempre sob
a supervisão e
orientação do Espírito
de Verdade, em quatro
livros: o primeiro, com
quatro capítulos, trata
sobre “As Causas
Primeiras”; o segundo,
com 11 capítulos, aborda
o “Mundo Espiritual ou
dos Espíritos”; o
terceiro, em doze
capítulos, expõe-nos “As
Leis Morais”; e o
quarto, as “Esperanças e
Consolações” em dois
capítulos.
Na introdução de O
Livro dos Espíritos,
somos esclarecidos sobre
a ciência espírita, que
se baseia nas relações
do mundo material com o
dos Espíritos, os seres
inteligentes do mundo
espiritual. Com base na
moral de Jesus, a obra
aborda os seguintes
capítulos: Existência de
Deus; Imortalidade da
Alma; Reencarnação;
Pluralidade dos Mundos
Habitados e
Comunicabilidade dos
Espíritos.
Prolegômenos é o nome do
capítulo seguinte. Nele,
lemos o anúncio dos
Espíritos de que “são
chegados os tempos
marcados pela
Providência para uma
manifestação universal”.
Os Espíritos superiores
são os ministros de Deus
e os agentes de sua
vontade. Sua missão é
instruir e esclarecer os
homens, abrindo-se “uma
nova era para a
regeneração da
Humanidade”. Com
humildade, Kardec sempre
se exime da autoria da
obra, a qual atribui aos
Espíritos superiores que
lhe transmitem seus
ensinamentos elevados.
A primeira pergunta do
primeiro livro é: O
que é Deus. Como
resposta, esclarecem-nos
os Mensageiros do Cristo
que “Deus é a
inteligência suprema,
causa primeira de todas
as coisas”. Em seguida,
somos informados sobre
os atributos da
Divindade: Eterno,
Imutável, Imaterial,
Único, Onipotente,
Soberanamente Justo e
Bom. Os “elementos
gerais do Universo” são
Deus, o Espírito e a
Matéria, que
simbolizam a “trindade
universal”. O princípio
vital é a causa da
animalização da matéria,
e o perispírito é o
invólucro semimaterial
de que se reveste o
Espírito, retirado dos
elementos naturais do
mundo da sua encarnação.
Todas essas informações,
e outras mais
detalhadas, sobre as
“causas primeiras”, com
75 questões respondidas,
estão contidas no
primeiro livro de O
Livro dos Espíritos.
Essas questões darão
origem, anos mais tarde,
à última obra do chamado
“Pentateuco
kardequiano”: A
Gênese.
No segundo livro, estão
impressas as informações
sobre o Mundo
Espiritual ou dos
Espíritos. Essa
parte vai da questão 76
a 613. Nela, encontramos
informações sobre os
três elementos do ser
humano: alma,
perispírito e corpo. A
alma é, pois, “um
Espírito encarnado”. O
Espírito jamais fica
inativo; mesmo durante o
sono, nossa alma está em
atividade. Temos, nesse
livro, esclarecimentos
sobre a “Escala
Espírita”, com a divisão
por ordens básicas,
conforme o grau de
perfeição alcançado por
cada Espírito: a dos
Espíritos puros, a dos
Espíritos bons e a dos
Espíritos imperfeitos e
sobre a reencarnação.
Daí surgirá O Livro
dos Médiuns.
O terceiro livro que
compõe a obra O Livro
dos Espíritos trata
sobre as “Leis Morais”.
Possui doze capítulos,
que originam O
Evangelho segundo o
Espiritismo, que nos
informa sobre a lei de
Deus estar escrita em
nossa consciência e de
que Jesus é o tipo mais
perfeito que Deus já nos
ofereceu para nos guiar
e servir de modelo.
Também temos aqui a
informação de que o meio
prático mais eficaz de
nos melhorar nesta vida
e de resistirmos ao
arrastamento do mal é o
do autoconhecimento e de
que a moral, regra de
bem proceder, funda-se
na observância da lei de
Deus.
Por fim, deparamo-nos,
no livro quarto, com as
“Esperanças e
Consolações”, em apenas
dois capítulos, que nos
fazem refletir sobre
temas como o de que
somos obreiros de nossa
própria infelicidade,
mas também seremos
felizes, na Terra,
quando, com nossa
melhoria e trabalho,
colaborarmos para a
transformação da
Humanidade. Cabe-nos,
para isso, combater a
grande praga dos nossos
tempos: o materialismo,
fonte de imensas
desgraças, pela
degradação moral que
proporciona a quem nele
crê. Esse livro dá
origem a uma síntese da
obra nº 4, intitulada
O Céu e o Inferno ou A
Justiça Divina segundo o
Espiritismo.
A grandeza de Allan
Kardec está refletida
nestas suas palavras, em
12 de junho de 1856, ao
receber as monumentais
respostas que deram
origem à não menos
grandiosa obra que é
O Livro dos Espíritos
e a incumbência, do
Espírito de Verdade, em
tornar-se o missionário
da Codificação Espírita,
que anuncia uma nova era
para a Humanidade:
Senhor! Já que te
dignaste lançar os olhos
sobre mim para
cumprimento dos teus
desígnios, faça-se a tua
vontade! A minha vida
está nas tuas mãos;
dispõe do teu servo.
Reconheço a minha
fraqueza diante de tão
grande tarefa; a minha
boa vontade não
desfalecerá, mas talvez
as forças me traiam.
Supre a minha
deficiência; dá-me as
forças físicas e morais
que me forem
necessárias. Ampara-me
nos momentos difíceis e,
com o teu auxílio e dos
teus celestes
mensageiros, tudo
envidarei para
corresponder aos teus
desígnios.
Cerca de dez meses
depois, a 18 de abril de
1857, era publicada a
primeira edição de O
Livro dos Espíritos
e um Novo Tempo
inaugurava-se para a
Humanidade! Cabe a nós,
espíritas, estudar,
refletir, comparar com
as demais obras da
Codificação de Kardec e
com os acontecimentos
atuais o conteúdo deste
livro sempre atual e de
incomparável grandeza.
Cabe-nos trabalhar o
sentimento e as ações na
prática incessante do
Bem e na divulgação
desta obra imortal,
proveniente das mais
altas regiões
espirituais, de onde
dirige os destinos da
Terra o Cristo de Deus,
que no-la enviou, pelas
mãos de seus emissários
encarnados e
desencarnados.
Compete-nos, como
espíritas, deixar as
dissensões de lado e nos
unir, como um feixe de
varas conduzido por
Jesus, a fim de
colaborarmos,
humildemente, com sua
obra de transformação da
Terra num mundo
destinado aos justos e
onde a miséria, material
e moral, não mais
prolifere.
Amemo-nos e
instruamo-nos, começando
pela leitura e estudo de
O Livro dos Espíritos!
WANTUIL, Zeus;
THIESEN,
Francisco.
Allan Kardec.
Rio de Janeiro:
Federação
Espírita
Brasileira,
2004, v. I,
parte segunda,
cap. I, item 4.
Apud. TORCHI,
op. cit. na nota
n. 1 acima.