CHRISTINA NUNES
meridius@superig.com.br
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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O nosso
Montségur
Este ano, minha
viagem de férias
vem sendo andar
de um lado para
outro, para
resolver
pequenos
assuntos
domésticos
empurrados para
depois pela
correria do dia
a dia ao longo
do ano. Mas como
da correria
sobram os
preciosos
momentos para
descanso e
reflexão,
aproveitei uma
dessas paradas
para me deixar
atrair por uma
viagem realizada
de modo
diferente, e a
um lugar para
onde, por razões
de ordem
espiritual, meu
íntimo vem se
sentindo
magnetizado a
cada semana e
com maior
intensidade:
Montségur, no
sul da França.
Ontem, por um
acaso aparente,
diante da
internet ligada
no meu laptop,
dei com o ícone
do Google Earth
e, obedecendo a
um impulso
inusitado,
cliquei e abri a
ferramenta,
digitando para
pesquisa, sem
pensar, o nome
do legendário
lugar do
Languedoc onde,
outrora, a
melhor qualidade
de cristãos
existentes há
cerca de
setecentos anos
floresceu, na
longínqua região
francesa, tendo
sido,
literalmente,
incinerados
pelas cruzadas
católicas,
apenas por
compreender
Jesus e Sua
mensagem do modo
mais simples
como todos
deveríamos
entender até aos
dias de hoje.
Viviam naqueles
lugares
verdejantes,
pacificamente,
em harmonia
cotidiana com
uma variegada
vertente do
pensamento
humano; com
respeito por
todos, sem
discriminar as
mulheres no
exercício da fé
cristã;
desprezando as
pompas e
sacramentos
católicos, já
totalmente
discrepantes
para com a
essência da
Mensagem do
Cristo; e, assim
despojados das
excrescências
dogmáticas
vigentes no
poder religioso
daqueles dias,
atraíam para a
sua causa, por
consequência
natural, a
simpatia e
adesão
espontânea de
representantes
de todas as
camadas da
sociedade, das
mais humildes
até as que, e
embora de forma
sutil, os
acolhiam e
adotavam seu
exercício de fé
nas rodas da
nobreza.
Sabiam, pois, da
realidade da
reencarnação, e
dela falavam com
naturalidade às
suas crianças.
Recusavam o
batismo
tradicional
católico e
vários dos
sacramentos mais
importantes de
sua
ritualística.
Viviam,
portanto, e em
meio aos aromas
montanheses de
uma vida
simples, a
amorosa,
harmônica
simplicidade
original da
doutrina que,
séculos antes,
nos fora legada
como joia
preciosa por
Jesus. Mas,
naturalmente,
por conseguinte,
e tendo aos
poucos cativado
um círculo
crescente de
adeptos,
terminaram por
atrair, da parte
do alto clero
católico, de
início, uma
desconfiança
vigilante, que
desaguou em
crescente
hostilidade,
temerosa da
perda de um
poder temporal e
material do qual
a Igreja não
tinha a menor
intenção de
barganhar com
qualquer rival,
mesmo que fosse
no território da
fé - embora não
tivessem, estes
cristãos
humildes, muitos
deles tecelões,
trovadores,
gente do povo, e
em nenhum
momento
declarado alguma
intenção de
disputa política
ou religiosa. A igreja
cátara possuía
crentes e os
denominados parfaits, homens
e mulheres, os
exemplificadores
e doutrinadores
de sua fé. E
somente que se
recusavam a
dobrar sua
conduta às
imposições
rígidas de uma
Igreja que,
ostensivamente,
favorecia os que
lhes serviam aos
vultosos
interesses
materiais,
distanciados, de
forma completa,
daquilo que
outrora fora a
Mensagem
original de
Jesus,
sustentada nos
primeiros tempos
do apostolado
cristão.
Refiro-me, aqui,
portanto, a
esses cátaros -
uma civilização
dotada de
valores e
parâmetros
espirituais
preciosos que,
por
infelicidade,
teve ceifada de
maneira brutal o
seu hálito do
amor
genuinamente
cristão inerente
a uma
compreensão de
vida que,
tivesse
florescido como
merecia ao longo
do tempo, e
teríamos,
talvez, hoje, um
pensamento e
conduta mais
condizentes com
aquilo que Jesus
almejava para o
mundo durante a
sua rápida
passagem nos
cenários
terrestres.
Este generoso e
avançado povo,
portanto, vivia
nesta região do
sul da França
onde, até hoje,
como ícone
sagrado,
permanece a
fortaleza
retratada acima,
neste artigo -
em Montségur -,
naqueles dias,
refúgio dos
mártires, que,
às centenas,
mulheres, homens
e crianças foram
incinerados
vivos em
fogueiras
ardentes pela
selvageria dos
exércitos
cruzados, sob o
patrocínio
ideológico do
Papa Inocêncio
III.
Diante do laptop
ligado,
portanto,
ocorreu-me
inusitadamente
que, se por
enquanto não
posso ver
satisfeito meu
anseio interior
de visitar este
lugar de
significado
sagrado ao meu
coração e
repertório
evolutivo,
poderia
atendê-lo
parcialmente,
recorrendo a
esta ferramenta
útil da
tecnologia
atual,
lançando-me a
uma viagem
virtual que me
situasse diante
deste monumento
representativo
da mais genuína
cristandade,
outrora presente
no repertório
histórico da
humanidade. E a
iniciativa não
poderia ter sido
mais
bem-sucedida!
Porque me bastou
principiar, pela
Street View, a
visita
contemplativa
dos caminhos
ascendentes que
contornam a
serra monumental
- para minha
grande surpresa,
de vez que não a
supunha tão
elevada com base
nas fotografias
conhecidas de
algumas semanas
para cá! - para
que sensações de
ordem íntima
despertassem com
espontânea
intensidade!
Onde
anteriormente já
percorrera, in
loco,
caminhos tão
absolutamente
semelhantes
aqui, na minha
cidade natal, o
Rio de Janeiro?
Caminhos de
beleza
arrebatadora,
com paradas em
mirantes que dão
para as
paisagens
citadinas, ou
para colinas e
montes em níveis
a cada vez mais
diminutos,
vistos de cima;
estradas
bordadas por
verde
luxuriante,
serpenteando a
colossal serra
rica em
vegetação
relvada ou
florestal, ao
longo das quais,
em cada trecho,
entrevemos, cada
vez mais
próximo, o vulto
imponente,
impressionante,
de braços
abertos, como se
para acolher em
gigantesco e
confraterno
abraço toda uma
imensa cidade
com milhões de
habitante na
atualidade...
Como se para
acolher o país -
toda uma
humanidade,
cujos
visitantes, em
todas as épocas
do ano, lá
comparecem a
passeio
turístico, para
se encantar,
emocionar e
embevecer com a
beleza imensa,
indescritível do
cenário
paradisíaco
descortinado das
alturas
azulíneas dos
céus do Rio de
Janeiro!
O Cristo
Redentor!...
Impressionante,
às minhas
impressões mais
imediatas, a
semelhança
frontal com o
trajeto da serra
do Languedoc
francês, não
somente no
quadro
significativo,
mas, sobretudo,
das emoções
experimentadas,
mesmo que
durante um
passeio virtual!
O silêncio
majestoso da
estátua do
Cristo nos
segredando,
ainda e agora,
após tantos
séculos, a
respeito de
simplicidade, de
paz, de harmonia
entre todos os
povos, cujos
representantes
incessantemente
se fazem
presentes em
visita às
alturas frescas
e perfumadas do
morro do
Corcovado! O
distanciamento
das agitações
então mudas,
inofensivas,
avistadas lá
embaixo, nos
emprestando, tão
longe, ao abrigo
das energias
daquele lugar, a
sensação de
segurança
espiritual
genuína, como se
a nos
confidenciar
que, acima e
para além de
todos os
desafios, riscos
e ameaças ao
longo do
emaranhado
confuso dos
nossos caminhos,
permanece o porto
seguro do
amparo e dos
recursos da
Providência
divina,
beneficiando,
indistintamente,
todos os seres
de Sua Criação!
O nosso
Montségur!...
Com natural
espontaneidade,
ontem, emergiu à
minha
compreensão a
razão da emoção
quase
desarrazoada que
experimentei a
cada uma das
visitas que fiz
ao monumento do
Senhor, ao longo
da presente
reencarnação. O
porquê, que não
conseguia
explicar nem a
mim mesma,
daquelas fortes
emoções,
confusas,
indistintas,
banhadas em
lágrimas por
vezes quase
convulsas,
enquanto
contemplava, das
alturas daquela
serra sagrada do
Rio, ora o
semblante
pacífico, sereno
do monumento
crístico, ora os
cenários então
inofensivos, lá
embaixo!
Silenciosos,
límpidos, em
meio aos ventos
frescos e
perfumados de
muitas manhãs ou
tardes
ensolaradas!
É o meu Montségur!
Era a cátara
recordando,
embora durante
muito tempo sem
compreender,
paisagens
espantosamente
semelhantes, em
aparência e,
sobretudo, em
significado
espiritual!
N'alguma vez li
em textos
espíritas que
centenas de
milhares de
franceses
reencarnaram no
Brasil após a
revolução
francesa, por
acordo de ordem
superior com
Jesus,
governador
planetário, e
com os mentores
maiores das
nacionalidades
do mundo;
haviam de se
encaminhar a
estas terras,
para salvaguarda
da paz e dos
caminhos
evolutivos de um
sem-número de
almas
ressentidas, os
Espíritos
necessitados de
uma renovação de
rumos que os
desviasse de
maiores
desgovernos a
pulso de
vingança ou de
rancor em novas
reencarnações
nas terras do
venerado mestre
de Lion, veículo
futuro da
Doutrina dos
Espíritos,
assegurando,
também, e desta
forma, a
acolhida
confraterna dos
planos amorosos
de Jesus, no
sentido de que
fosse o Brasil,
por sintonia
espontânea, uma
hospedagem
amistosa aos
ensinamentos do
Seu prometido
Consolador!
Cala-me a
certeza,
contudo, de que
não apenas
originários do
capítulo difícil
da Revolução,
são estas almas
conturbadas e
necessitadas de
alento para um
novo impulso em
seus rumos, que
as distanciem
das
reminiscências
dos episódios
dolorosos
sofridos ao
longo da
História. Penso
que a migração
terapêutica,
curativa, com
origens nas
diretrizes
celestes, datam
de mais tempo.
Datam das dores
excruciantes de
Montségur!
Abençoada seja,
assim, esta
pátria, que nos
ofereceu, a
tantos, a bênção
da redenção, da
renovação de
propósitos; a
chance do
progresso do
Espírito, e do
temporário, mas
medicamentoso,
esquecimento!