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Crônicas e Artigos

Ano 7 - N° 350 - 16 de Fevereiro de 2014

DIAMANTINO LOURENÇO RODRIGUES DE BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt
Venade - Caminha
,
 Viana do Castelo (Portugal)

 
 

O Poder Ético da Fé


Existem razões suficientes para, apesar dos conflitos regionais e locais, das dificuldades em diversos domínios da vida humana; dos problemas na saúde, no trabalho, nas famílias; preconceitos, egoísmos, radicalismos, fundamentalismos, e outras situações incômodas, se acreditar num mundo mais equilibrado, numa sociedade global mais humanizada e fraterna, principalmente para a grande maioria dos que têm Fé, daqueles que acreditam numa Justiça Divina, obviamente mais sábia, mais compreensiva, mais tolerante, porque perfeita, comparativamente com os sistemas judiciais do homem imperfeito e finito.

O êxito para a humanidade atingir patamares de bem-estar, neste se incluindo condições materiais de vida, mas também convicções verificáveis de serenidade de espírito e Fé, numa vida transcendente e redentora, terá de passar por uma conduta individual e coletiva, compaginável com o respeito pelos direitos e deveres que cabem aos cidadãos em concreto e aos Espíritos prudentes, benevolentes e tranquilos, que em cada indivíduo devem existir.

Exige-se competência na conduta que a pessoa deve assumir perante a vida e a sociedade. Conduta como sendo a: «Maneira de agir, atuar, comportar-se em observância a princípios, valores, orientações e regras. Este fator possui uma característica interessante: é o único que todas as pessoas podem possuir em igualdade de condições, independentemente de posição ou formação, pois é fruto apenas da vontade”. (RESENDE, 2000:45).

A pessoa de Fé manifesta uma conduta perfeitamente assumida, declarada, exibida perante os demais seus iguais, e será este seu comportamento que lhe garante um Poder legítimo, transcendente e que ninguém lho pode usurpar. A sua conduta ética no exercício da sua Fé ilimitada, garantem-lhe um poder que, sem violência, sem armas, sem fundamentalismos, se impõe e, de certa forma, subjuga todos aqueles que, no limite e na dúvida, preferem manter-se, aparentemente, indiferentes, não hostilizando os detentores deste poder ético da Fé.

A práxis permanente, coerente e singularmente assumida pelos crentes, no respeito por aqueles que professam outras ideologias religiosas, aceitando com tolerância e compreensão os atos litúrgicos que lhes são próprios, credibilizam a pessoa de Fé e reforçam o seu poder espiritual. A consciência ética da pessoa de Fé permite-lhe tomar decisões adequadas, face às situações que se lhe colocam ao longo da vida, porque para ela: «A busca religiosa de valores principia com a aceitação de Deus como padrão de todas as decisões» (FORELL, 1980:77).

Os modelos socioeconômicos que ao longo dos séculos têm vigorado em diferentes pontos do mundo, em contextos culturais diversos e com resultados divergentes, na maior parte dos casos, estão próximos do esgotamento, dificultando a adoção de novos processos, outras soluções, porque persistem interesses e objetivos inconfessáveis em muitos dirigentes políticos, um pouco por todo o universo.

Continua-se a investir no conflito para ganhar poder estratégico, bélico e hegemônico, destruindo, mutilando e matando homens, mulheres, crianças e idosos inocentes, civis e militares. Muitos dos poderes que os responsáveis pelos diferentes sistemas políticos têm utilizado já se revelaram ineficazes, ou mesmo prejudiciais, por isso cumpre mudar, impõe-se novas políticas, novos processos, condutas compatíveis com a superior condição da dignidade da pessoa humana.

As filosofias e políticas individualistas, nacionalistas e unilateralistas não conduzem a objetivos verdadeiramente humanos, no contexto de uma sociedade moderna, democrática, tolerante e solidária. A dilapidação de recursos materiais nos investimentos bélicos tem-se revelado desastrosa, na medida em que os principais problemas do mundo não são resolvidos, pelo contrário, alguns se têm agravado: doença, fome, desemprego e guerras.

O egocentrismo que caracteriza pessoas e regimes constitui um sentimento cuja conduta produz mais desigualdade e injustiça. Facilmente se comprova que as políticas sociais, econômicas e culturais implementadas até ao presente estão esgotadas na maioria dos países.

O homem só conseguirá reabilitar-se e recuperar a sua dignidade quando se assumir, na prática, em suas dimensões essenciais, enquanto ser único e individual, cooperando com o outro seu igual, com o mundo e com Deus, o que se aplica às organizações, às nações, aos continentes, porque: «O homem só e autossuficiente é impensável. Se ele quiser realizar-se deve abrir-se livre e totalmente para Deus que, em seu amor, não se contenta apenas em dar-lhe o ser, mas deseja unir-se a ele e transformá-lo em si. O homem não está só, está ligado a todos os outros homens e deve livremente unir-se a eles pelo amor» (QUOIST, 1985:23).

O imperativo categórico e o verdadeiro desígnio universal fundam-se, portanto, numa conduta ética, para com os homens, para com o mundo, para com Deus. O Poder Ético da Fé, mas também de quaisquer atividades humanas, poderá ser a chave para a elaboração de soluções de problemas que atormentam e envergonham a humanidade.

Aquele Poder está acessível a cada pessoa individualmente considerada, desde que o queira utilizar em todas as suas tarefas e em quaisquer situações, porque: «A conduta ética tem a ver com respeito próprio. Sabemos que as pessoas que se sentem bem consigo mesmas possuem o que é necessário para resistir a pressões externas e para fazer o que é certo, e não o que é meramente conveniente, popular ou lucrativo». (BLANCHARD & PEALE, 1988:10.)

A conduta ética revela-se, assim, um poderoso instrumento para solucionar muitos problemas, alterar situações, melhorar condições de vida pessoais e coletivas, iniciar um novo e profícuo processo para uma sociedade mais fraterna, para que cada um alcance, eticamente, o sucesso a que tem direito, porque não ofende a Deus, nem ao mundo, nem ao outro seu igual, lutar, legítima, legal e eticamente, por uma vida melhor, individual ou coletiva.

Para se alcançar tais objetivos, pode-se iniciar o projeto recorrendo aos cinco princípios fundamentais da tomada de decisões éticas: «Propósito, Pundonor; Paciência; Persistência e Perspectiva. (…) Os cinco princípios básicos na conduta ética são também ingredientes de uma realização autêntica e duradoura na vida» (Ibid.:44).
 

Bibliografia:

BIGO, Pierre, S.J., & ÁVILA, Fernando Bastos, S.J., (1983). Fé Cristã e Compromisso Social; Elementos para uma reflexão sobre a América Latina à luz da Doutrina Social da Igreja, 2. Edição revista e aumentada, São Paulo: Edições Paulinas.

BLANCHARD Kenneth & PEALE, Norman Vincent, (1988). O Poder da Administração Ética, Trad. Ruy Jungmann, Rio de Janeiro: Editora Record.

DERISI, Octávio Nicolás, (1977). Valores Básicos para a Construção de uma Sociedade Realmente Humana, Trad. Alfredo Augusto Rabello Leite, São Paulo: Mundo Cultural.

ECKHART, Mestre, (1991). O Livro da Divina Consolação e outros textos seletos, Trad. Raimundo Vier, O.F.M. et al, 2ª Ed. Petrópolis: Vozes.

FORELL, George W., (1980). Ética da Decisão, Introdução ao Estudo da Ética Cristã, Trad. Walter Muller, 2ª Ed. São Leopoldo/RS: Editora Sinodal.

FRANCA, Leonel, Padre S.J., (1955). A Crise do Mundo Moderno, 4ª Ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora.

IKEDA, Daisaku, (1982). Vida: Um Enigma, Uma Joia Preciosa, Trad. Limeira Tejo Rio de Janeiro: Editora Record.

QUOIST, Michel, (1985). Construir o Homem e o Mundo, Trad. Rose Marie Muraro, 34ª. Ed. (332º milheiro), São Paulo: Livraria Duas Cidades.

RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark

ROMA L, & VERÓNICA, E. (s.d.). Guia del Educador para el Material.  Derechos  y  Deberes de las Niñas del Mundo.  Amnistía Internacional-Sección Chilena: s.l.

SALGADO, Plínio. (1950). Direitos e Deveres do Homem. Rio de Janeiro/RJ: Livraria Clássica Brasileira.

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