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Brasil
Ano 7 - N° 351 - 23 de Fevereiro de 2014
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, PR (Brasil)
 

 

Jésus Gonçalves, o poeta das chagas redentoras

Faz 67 anos que o fundador da Sociedade Espírita
Santo Agostinho regressou à pátria espiritual
 

A desencarnação de Jésus Gonçalves ocorreu no dia 16 de fevereiro de 1947, quando ele vivia, na condição de hanseniano, no Hospital-Colônia de Pirapitingui, no interior do Estado de São Paulo.

O Espírito do poeta Jésus Gonçalves animou em existências passadas três personalidades que marcaram o seu tempo: Alarico, o Grande, nos séculos

Jésus Gonçalves, sentado, nos últimos
anos de sua vida

IV e V; Alarico II, 8º chefe dos Visigodos, nos séculos V e VI, e Armand Jean du Plessis Richelieu, o poderoso Cardeal Richelieu, nos séculos XVI e XVII.

Sobre as personalidades citadas muito já se escreveu, inclusive nesta revista.

No início do século XX, mais precisamente em 1902, Jésus Gonçalves retornou ao cenário do mundo em que vivemos e aqui permaneceu encarnado até 1947, em busca de sua redenção por meio de provas ásperas e difíceis, em que o mal de Hansen – a hanseníase – cumpriu um papel importante.

Essa não teria sido, segundo alguns, a primeira vez que ele enfrentou a mesma enfermidade. O que, porém, importa saber é que o enfrentamento das consequências dos seus atos e a busca da redenção por meio do sofrimento, da resignação e do amor conseguiram o que nossos Benfeitores esperam de nós: a transformação moral, a estruturação de um novo homem, comprometido então com o bem e a paz.

Entre a desencarnação do cardeal  Richelieu, o poderoso político e dirigente francês, e a de Jésus Gonçalves transcorreram 305 anos, um período de tempo que só é excessivo aos olhos nossos, envolvidos que estamos nas peripécias da encarnação, mas que é insignificante quando comparado à vida imortal do Espírito humano. 

Jésus desencarna e aparece para Chico Xavier – Divulgada a morte de Richelieu, conta-se que o papa Urbano VIII, seu contemporâneo, teria dito o seguinte: “Se existe um Deus, o cardeal Richelieu terá muitas contas a prestar. Se não... bem, sua vida terá sido uma vitória”.

Os séculos avançaram e no dia 16 de fevereiro de 1947, quando Jésus Gonçalves deixou o corpo físico, Chico Xavier teve uma visão, que ele assim relatou: “Terminada a mensagem do nosso querido orientador, quando me achava em profunda concentração mental, vi a porta de entrada iluminar-se de suave clarão. Um homem-espírito apareceu aos meus olhos, mas em condições admiráveis. Além da aura de brilho pálido que o circundava, trazia luz não ofuscante, mas clara e bela, a envolver-lhe certa parte do rosto e da cabeça, ao mesmo tempo em que uma das pernas surgia vestida igualmente de luz. Profunda simpatia me ligou o coração à entidade que nos buscava, assim de improviso, e indaguei, mentalmente, se eu podia saber de quem se tratava. O visitante aproximou-se mais de mim e disse: – Chico, eu sou Jésus Gonçalves! Cumpro a minha promessa... Vim ver você! As lágrimas subiram-me do coração aos olhos. Percebi que o inolvidável amigo mostrava mais intensa luz nas regiões em que a moléstia mais o supliciara no corpo físico, e quis dizer-lhe algo de minha admiração e de minha alegria. Entretanto, não pude articular palavra alguma nem mesmo em pensamento. Ele, porém, continuou: – Se possível, Chico, quero escrever por você... dar minhas notícias aos irmãos que deixei à distância e agradecer a Deus as dádivas que tenho recebido... A custo, perguntei a ele, ainda mentalmente, o que pretendia escrever, querendo, de minha parte, falar alguma coisa, porque eu ignorava que ele houvesse desencarnado e não conseguia esconder meu jubiloso espanto. Ele abraçou-me. Em seguida, colocando-se no meio da pequena sala, recitou um poema que eu ouvia, mas não guardava na memória... Ao terminar, pareceu-me mais belo, mais brilhante... Tomei o lápis... Jésus Gonçalves debruçou-se sobre o meu braço e escreveu em lágrimas os versos que ele recitara para mim, momentos antes, em voz alta...”.  

Aos 31 anos a hanseníase o afasta do lar – Jésus Gonçalves nasceu no dia 12 de julho de 1902 em Borebi-SP, próximo de Agudos, filho de humilde lavrador. Aos 3 anos de idade ficou órfão de mãe. Aos 14, empregou-se como trabalhador braçal na Fazenda Boa Vista, de Ângelo Pinheiro Machado. Nessa época começou a aprender música e surgiu daí a "Bandinha de Borebi", que animava as quermesses da cidade. Aos 17 anos foi para Bauru, onde frequentou o Colégio São José. Casou-se aos 20 anos com Theodomira de Oliveira, uma mulher viúva e mãe de 2 filhas. Ela lhe deu mais 4 filhos. Jésus trabalhava nessa ocasião na Prefeitura da cidade, como tesoureiro.

Aos 28 anos, portanto em 1930, Jésus perdeu a esposa, que faleceu acometida por uma tuberculose. Apesar de tudo e das dificuldades em criar as 6 crianças, ele continuava a tocar e fazia parte da Banda da Prefeitura de Bauru como clarinetista, além de atuar como diretor e ator de teatro na cidade e colaborar ativamente com os jornais "Correio da Noroeste" e "Correio de Bauru".

Em 1932 ele casou-se com Anita Vilela, uma vizinha que o ajudava a cuidar das crianças, quando lhe surgiu na vida a hanseníase. Anita era estudiosa da doutrina espírita e tentava, em vão, esclarecer a mente materialista de Jésus.

Naquele tempo os doentes eram obrigados a abandonar seus empregos e viver isolados da sociedade, trancados em suas casas ou então em leprosários. Aposentado prematuramente, ele passou a morar em uma casa cedida temporariamente pela Câmara Municipal, mas, mesmo assim, continuava a escrever para o "Correio da Noroeste".

Um compadre, de nome João Martins Coube, cedeu-lhe o usufruto de um sítio, onde Jésus passou a cultivar melancias e outras frutas. Contudo, em agosto de 1933, o Serviço Sanitário o afastou do convívio de sua família, internando-o no Asilo-Colônia Aymorés, onde Jésus fundou o jornal interno "O Momento", a "Jazz Band de Aymorés" e a equipe de futebol, bem como um grupo teatral. 

Surge o Espiritismo em sua vida – Sofrendo muito com problema no fígado, ele buscou então uma transferência para o Hospital Padre Bento em Guarulhos, mas suas cartas paravam nas mãos do diretor do Sanatório Aymorés, que não queria perder seu mais ativo e dinâmico interno. Em 1937 saiu a transferência, mas ele não conseguiu chegar até lá, porque as dores no fígado o obrigaram a parar em Itu-SP, onde acabou internado no Hospital-Colônia de Pirapitingui.

Fundou então, em sua nova residência, a "Jazz Band", a Rádio Clube de Pirapitingui e um jornal interno, o "Nosso Jornal".

Em 3 de março de 1943, vítima de câncer no útero, Anita desencarnou. No velório dela ocorreram alguns fenômenos de clarividência relatados por colegas de Jésus e, por fim, Anita enviou-lhe uma mensagem com informações de caráter tão íntimo   que  Jésus  não  teve  dúvida  em

aceitar. Num dos trechos da mensagem, ela dizia: "Velho, não duvides mais, Deus existe!"

Embora fosse materialista, Jésus buscou em livros espíritas explicações para o fenômeno.

Sua conversão ocorreu de forma bastante curiosa. Um dia, às voltas com as dores no fígado, ele resolveu invocar Deus, e fez o seguinte desafio, depois de colocar um pouco de água em um copo: "Se Deus existe mesmo, dou 5 minutos para que coloque nesta água um remédio que me alivie as dores que sinto". E contou no relógio. Quando bebeu a água, sentiu que ela estava amarga. Chamou um companheiro, que confirmou a alteração da água. Depois de 2 minutos não mais sentia dor. 

Nasce no hospital-colônia o Centro Espírita – No dia 16 de dezembro de 1945, Jésus fundou no Hospital-Colônia de Pirapitingui a Sociedade Espírita Santo Agostinho, da qual foi ele o primeiro presidente. Ele iniciou então uma campanha que conseguiu reunir a quantia necessária para construção da sede própria. Diversas caravanas espíritas passaram, então,  a  visitar  o  sanatório,  levando alegria e conforto aos internos.

Jésus Gonçalves, o quarto da direita para a esquerda, durante a inauguração
do C. E. Santo Agostinho

No dia 16 de fevereiro de 1947, aproximadamente às 11 horas da manhã, Jésus regressou  à Pátria Espiritual.

Em 22 de novembro de 2007 esta revista recebeu do confrade Adilson Marques, de Itu-SP, uma informação deveras importante: a reativação dos trabalhos mediúnicos na Sociedade Espírita Santo Agostinho, fundada por Jésus Gonçalves no Asilo Colônia para Hansenianos. A casa estava sendo usada, até então, somente para visitação das diversas caravanas que ali chegam para visita fraternal aos irmãos de Pirapitingui. Até seu nome havia sido mudado para Centro Espírita Dr. Adolfo Bezerra de Menezes. Em 2003, por intermédio de Adilson Marques, em reunião realizada no grupo de feridas Dr. Mario Tadeu de Souza Leite, no referido asilo colônia de Pirapitingui, foi solicitada pela espiritualidade a reativação dos trabalhos e a devolução do nome dado à instituição por Jésus Gonçalves, feito esse que se deu no dia 20/10/2007, quando, em assembleia extraordinária, foi aprovada a reforma estatutária e eleita a nova diretoria, tendo Ilma Alves Cardoso como presidente. A diretoria da Sociedade é formada somente por pacientes portadores de hanseníase e por funcionários do Hospital-Colônia Dr. Francisco Ribeiro Arantes, como determina o estatuto em vigor atualizado.

Na espiritualidade, Jésus continua em plena atividade, como demonstram os romances Perdoa!, Aves sem Ninho e Em Busca da Ilusão, psicografados pela médium Célia Xavier de Camargo, nos quais ele relata diferentes existências suas no planeta em que vivemos. 

 


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita