Jésus Gonçalves, o
poeta das chagas
redentoras |
|
Faz 67 anos que o
fundador da
Sociedade Espírita
Santo Agostinho
regressou à pátria
espiritual
A desencarnação de
Jésus Gonçalves
ocorreu no dia 16 de
fevereiro de 1947,
quando ele vivia, na
condição de
hanseniano, no
Hospital-Colônia de
Pirapitingui, no
interior do Estado
de São Paulo.
O Espírito do poeta
Jésus Gonçalves
animou em
existências passadas
três personalidades
que marcaram o seu
tempo: Alarico, o
Grande, nos séculos
|
|
Jésus
Gonçalves,
sentado,
nos
últimos
anos
de
sua
vida |
|
IV e V;
Alarico II,
8º chefe dos
Visigodos,
nos séculos
V e VI, e
Armand Jean
du Plessis
Richelieu, o
poderoso
Cardeal
Richelieu,
nos séculos
XVI e XVII. |
Sobre as
personalidades
citadas muito já se
escreveu, inclusive
nesta revista.
No início do século
XX, mais
precisamente em
1902, Jésus
Gonçalves retornou
ao cenário do mundo
em que vivemos e
aqui permaneceu
encarnado até 1947,
em busca de sua
redenção por meio de
provas ásperas e
difíceis, em que o
mal de Hansen – a
hanseníase – cumpriu
um papel importante.
Essa não teria sido,
segundo alguns, a
primeira vez que ele
enfrentou a mesma
enfermidade. O que,
porém, importa saber
é que o
enfrentamento das
consequências dos
seus atos e a busca
da redenção por meio
do sofrimento, da
resignação e do amor
conseguiram o que
nossos Benfeitores
esperam de nós: a
transformação moral,
a estruturação de um
novo homem,
comprometido então
com o bem e a paz.
Entre a
desencarnação do
cardeal Richelieu,
o poderoso político
e dirigente francês,
e a de Jésus
Gonçalves
transcorreram 305
anos, um período de
tempo que só é
excessivo aos olhos
nossos, envolvidos
que estamos nas
peripécias da
encarnação, mas que
é insignificante
quando comparado à
vida imortal do
Espírito humano.
Jésus desencarna e
aparece para Chico
Xavier
– Divulgada a morte
de Richelieu,
conta-se que o papa
Urbano VIII, seu
contemporâneo, teria
dito o seguinte: “Se
existe um Deus, o
cardeal Richelieu
terá muitas contas a
prestar. Se não...
bem, sua vida terá
sido uma vitória”.
Os séculos avançaram
e no dia 16 de
fevereiro de 1947,
quando Jésus
Gonçalves deixou o
corpo físico, Chico
Xavier teve uma
visão, que ele assim
relatou: “Terminada
a mensagem do nosso
querido orientador,
quando me achava em
profunda
concentração mental,
vi a porta de
entrada iluminar-se
de suave clarão. Um
homem-espírito
apareceu aos meus
olhos, mas em
condições
admiráveis. Além da
aura de brilho
pálido que o
circundava, trazia
luz não ofuscante,
mas clara e bela, a
envolver-lhe certa
parte do rosto e da
cabeça, ao mesmo
tempo em que uma das
pernas surgia
vestida igualmente
de luz. Profunda
simpatia me ligou o
coração à entidade
que nos buscava,
assim de improviso,
e indaguei,
mentalmente, se eu
podia saber de quem
se tratava. O
visitante
aproximou-se mais de
mim e disse: –
Chico, eu sou Jésus
Gonçalves! Cumpro a
minha promessa...
Vim ver você! As
lágrimas subiram-me
do coração aos
olhos. Percebi que o
inolvidável amigo
mostrava mais
intensa luz nas
regiões em que a
moléstia mais o
supliciara no corpo
físico, e quis
dizer-lhe algo de
minha admiração e de
minha alegria.
Entretanto, não pude
articular palavra
alguma nem mesmo em
pensamento. Ele,
porém, continuou:
– Se possível,
Chico, quero
escrever por você...
dar minhas notícias
aos irmãos que
deixei à distância e
agradecer a Deus as
dádivas que tenho
recebido... A
custo, perguntei a
ele, ainda
mentalmente, o que
pretendia escrever,
querendo, de minha
parte, falar alguma
coisa, porque eu
ignorava que ele
houvesse
desencarnado e não
conseguia esconder
meu jubiloso
espanto. Ele
abraçou-me. Em
seguida,
colocando-se no meio
da pequena sala,
recitou um poema que
eu ouvia, mas não
guardava na
memória... Ao
terminar, pareceu-me
mais belo, mais
brilhante... Tomei o
lápis... Jésus
Gonçalves
debruçou-se sobre o
meu braço e escreveu
em lágrimas os
versos que ele
recitara para mim,
momentos antes, em
voz alta...”.
Aos 31 anos a
hanseníase o afasta
do lar
– Jésus Gonçalves
nasceu no dia 12 de
julho de 1902 em
Borebi-SP, próximo
de Agudos, filho de
humilde lavrador.
Aos 3 anos de idade
ficou órfão de mãe.
Aos 14, empregou-se
como trabalhador
braçal na Fazenda
Boa Vista, de Ângelo
Pinheiro Machado.
Nessa época começou
a aprender música e
surgiu daí a
"Bandinha de Borebi",
que animava as
quermesses da
cidade. Aos 17 anos
foi para Bauru, onde
frequentou o Colégio
São José. Casou-se
aos 20 anos com
Theodomira de
Oliveira, uma mulher
viúva e mãe de 2
filhas. Ela lhe deu
mais 4 filhos. Jésus
trabalhava nessa
ocasião na
Prefeitura da
cidade, como
tesoureiro.
Aos 28 anos,
portanto em 1930,
Jésus perdeu a
esposa, que faleceu
acometida por uma
tuberculose. Apesar
de tudo e das
dificuldades em
criar as 6 crianças,
ele continuava a
tocar e fazia parte
da Banda da
Prefeitura de Bauru
como clarinetista,
além de atuar como
diretor e ator de
teatro na cidade e
colaborar ativamente
com os jornais
"Correio da
Noroeste" e "Correio
de Bauru".
Em 1932 ele casou-se
com Anita Vilela,
uma vizinha que o
ajudava a cuidar das
crianças, quando lhe
surgiu na vida a
hanseníase. Anita
era estudiosa da
doutrina espírita e
tentava, em vão,
esclarecer a mente
materialista de
Jésus.
Naquele tempo os
doentes eram
obrigados a
abandonar seus
empregos e viver
isolados da
sociedade, trancados
em suas casas ou
então em
leprosários.
Aposentado
prematuramente, ele
passou a morar em
uma casa cedida
temporariamente pela
Câmara Municipal,
mas, mesmo assim,
continuava a
escrever para o
"Correio da
Noroeste".
Um compadre, de nome
João Martins Coube,
cedeu-lhe o usufruto
de um sítio, onde
Jésus passou a
cultivar melancias e
outras frutas.
Contudo, em agosto
de 1933, o Serviço
Sanitário o afastou
do convívio de sua
família,
internando-o no
Asilo-Colônia
Aymorés, onde Jésus
fundou o jornal
interno "O Momento",
a "Jazz Band de
Aymorés" e a equipe
de futebol, bem como
um grupo teatral.
Surge o Espiritismo
em sua vida
– Sofrendo muito com
problema no fígado,
ele buscou então uma
transferência para o
Hospital Padre Bento
em Guarulhos, mas
suas cartas paravam
nas mãos do diretor
do Sanatório Aymorés,
que não queria
perder seu mais
ativo e dinâmico
interno. Em 1937
saiu a
transferência, mas
ele não conseguiu
chegar até lá,
porque as dores no
fígado o obrigaram a
parar em Itu-SP,
onde acabou
internado no
Hospital-Colônia de
Pirapitingui.
|
Fundou então, em sua
nova residência, a
"Jazz Band", a Rádio
Clube de
Pirapitingui e um
jornal interno, o
"Nosso Jornal".
Em 3 de março de
1943, vítima de
câncer no útero,
Anita desencarnou.
No velório dela
ocorreram alguns
fenômenos de
clarividência
relatados por
colegas de Jésus e,
por fim, Anita
enviou-lhe uma
mensagem com
informações de
caráter tão íntimo
que Jésus
não teve
dúvida em
|
aceitar. Num
dos trechos
da mensagem,
ela dizia:
"Velho, não
duvides
mais, Deus
existe!" |
Embora fosse
materialista, Jésus
buscou em livros
espíritas
explicações para o
fenômeno.
Sua conversão
ocorreu de forma
bastante curiosa. Um
dia, às voltas com
as dores no fígado,
ele resolveu invocar
Deus, e fez o
seguinte desafio,
depois de colocar um
pouco de água em um
copo: "Se Deus
existe mesmo, dou 5
minutos para que
coloque nesta água
um remédio que me
alivie as dores que
sinto". E contou no
relógio. Quando
bebeu a água, sentiu
que ela estava
amarga. Chamou um
companheiro, que
confirmou a
alteração da água.
Depois de 2 minutos
não mais sentia
dor.
Nasce no
hospital-colônia o
Centro Espírita
– No dia 16 de
dezembro de 1945,
Jésus fundou no
Hospital-Colônia de
Pirapitingui a
Sociedade Espírita
Santo Agostinho, da
qual foi ele o
primeiro presidente.
Ele iniciou então
uma campanha que
conseguiu reunir a
quantia necessária
para construção da
sede própria.
Diversas caravanas
espíritas passaram,
então,
a
visitar
o
sanatório,
levando
alegria e
conforto aos
internos. |
|
Jésus
Gonçalves,
o
quarto
da
direita
para
a
esquerda,
durante
a
inauguração
do
C.
E.
Santo
Agostinho |
|
No dia 16 de
fevereiro de 1947,
aproximadamente às
11 horas da manhã,
Jésus regressou à
Pátria Espiritual.
Em 22 de novembro de
2007 esta revista
recebeu do confrade
Adilson Marques, de
Itu-SP, uma
informação deveras
importante: a
reativação dos
trabalhos mediúnicos
na Sociedade
Espírita Santo
Agostinho, fundada
por Jésus Gonçalves
no Asilo Colônia
para Hansenianos. A
casa estava sendo
usada, até então,
somente para
visitação das
diversas caravanas
que ali chegam para
visita fraternal aos
irmãos de
Pirapitingui. Até
seu nome havia sido
mudado para Centro
Espírita Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes.
Em 2003, por
intermédio de
Adilson Marques, em
reunião realizada no
grupo de feridas Dr.
Mario Tadeu de Souza
Leite, no referido
asilo colônia de
Pirapitingui, foi
solicitada pela
espiritualidade a
reativação dos
trabalhos e a
devolução do nome
dado à instituição
por Jésus Gonçalves,
feito esse que se
deu no dia
20/10/2007, quando,
em assembleia
extraordinária, foi
aprovada a reforma
estatutária e eleita
a nova diretoria,
tendo Ilma Alves
Cardoso como
presidente. A
diretoria da
Sociedade é formada
somente por
pacientes portadores
de hanseníase e por
funcionários do
Hospital-Colônia Dr.
Francisco Ribeiro
Arantes, como
determina o estatuto
em vigor atualizado.
Na espiritualidade,
Jésus continua em
plena atividade,
como demonstram os
romances Perdoa!,
Aves sem Ninho
e Em Busca da
Ilusão,
psicografados pela
médium Célia Xavier
de Camargo, nos
quais ele relata
diferentes
existências suas no
planeta em que
vivemos.
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