Ponto de vista
Cornélio Pires
Recebi o seu pedido,
Prezado amigo Antenor,
Você deseja saber
O que pensamos do amor.
Falarei do amor
terrestre,
Não daquele que conduz
Nossa vida e pensamento
Para a união com Jesus.
É verdade que não tenho
Direito algum que me
assista;
Por isso, exponho a você
Meu simples ponto de
vista.
Conforme acredito hoje,
Nos pobres estudos meus,
O amor na totalidade
É a natureza de Deus.
No entanto, pelo que
vejo,
Quanto ao que sinto e ao
que faço,
O amor é Deus em nós
todos...
Cada qual tem um pedaço.
De tudo, porém, que
amamos,
Até quanto conhecemos,
Quanto menos possessão
Maior a porção que
temos.
O amor, quando chega,
alcança
Nossa vida rotineira,
Parecendo o orvalho à
noite,
Quando cai na
laranjeira.
Mas é preciso cuidado
Por dentro do coração.
Toda afeição caprichosa
Traz grande perturbação.
Quando a pessoa faz
isso,
Lá se vai a luz do bem:
Carinho vira paixão
Que não dá paz a
ninguém.
Olhe a história de
Quinota:
Dizia adorar Lineu,
Porque o moço quis a
prima,
A coitada enlouqueceu.
Delfim perseguindo Joana
Que, de fato, o não
queria,
Atirou sobre o pai dela
E acertou Dona Maria.
Joaquim namorava Zélia;
A paixão nele era
fogo...
Quando viu Zélia doente,
Colou-se à Tina Diogo.
Antônia clamava sempre
Que amava Zeca Vilaça,
Mas Zeca perdeu as
pernas
E Antônia sumiu da
praça.
Recorde o que sucedeu
Com Camilo Felisberto,
Desprezado por Joaquina,
Matou-se com tiro certo.
O amor, na Terra, em
verdade,
Pode ter grande
aconchego,
Mas para viver em paz
Não deve ter muito
apego.
O amor, enfim, vem de
Deus,
Mas se em nós vira
paixão,
Parece cousa de louco
Ou trama de obsessão.
Do cap. 3 do livro
Diálogo dos Vivos,
obra de autoria de
Francisco Cândido
Xavier, J. Herculano
Pires e Espíritos
diversos.
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