Conta-nos Chico Xavier que,
alguns dias antes de
aparecer a enfermidade
anginosa que o obrigava a
diminuir as horas de
atendimento ao público,
havia na fila dos que
buscavam falar-lhe uma
senhora de muita presença e
elegância, embora
aparentando visível
abatimento. Ao chegar a vez
de ser atendida detém-se em
pranto, debatendo-se qual
estivesse ferida desde as
mais profundas entranhas do
ser.
Agita-se, enquanto clama em
voz alta e muito agitada:
“Meu filho, Chico, onde está
meu filho? Me devolvam meu
filho, quero falar com meu
filho”.
A seguir joga-se sobre o
peito do médium; algumas
pessoas tentam acalmá-la.
Chico Xavier busca
consolá-la com palavras
balsâmicas de reconforto,
mas tudo parece inútil.
Aquela dor da alma prossegue
num crescendo inestancável,
qual um mar de água que
rompesse imenso dique. Chico
confessa: Neste meio século
de atendimento a serviço do
próximo, raras vezes vi dor
em escala tão aguda e
lancinante, O rapaz
desencarnou havia pouco, não
tinha condições de
comunicar-se então com ela,
por nosso intermédio. Como
fazê-la entender a delicada
e penosa situação? Oramos,
pois, aos nossos Benfeitores
Espirituais suplicando o
socorro necessário. A pobre
mãe começou aos poucos a dar
sinais de cansaço, de
visível abatimento físico,
enquanto prosseguíamos com
estímulos reconfortantes.
Informaram depois a Chico
Xavier que essa senhora,
tanto quanto seu esposo,
eram pessoas de projeção
intelectual. O casal tivera
um único filho, rapaz muito
sensível, introvertido,
inteligente. Embora fossem
pessoas de bem e de
reconhecido valor, o casal
sempre abraçara filosofias
materialistas,
considerando-se ambos ateus
convictos.
O filho, educado por amas, e
posteriormente num colégio
religioso, desde pequenino
mostrara-se receptivo aos
sentimentos de fé e de busca
de Deus, no que era
constante e acremente
desaprovado pelos pais.
Eles, como membros
proeminentes de uma elite
intelectual composta dos que
viam na religião apenas ópio
alienante, diziam não
entender a fragilidade
enfermiça do filho, quando
este lhes falava da salvação
de Jesus, do amor ao
próximo, da fraternidade
etc. Certo dia, à hora do
almoço o casal discutia. O
rapaz, muito emocionado,
torna a falar na salvação
oferecida por Jesus, sendo
desta vez criticado em
termos ásperos pelos
progenitores. Ferido e
desorientado pelo que
acabara de ouvir, o jovem
vai ao guarda-roupa do pai,
tira dali um revólver e, em
crise de desespero, detona a
arma contra a própria
cabeça, morrendo
instantaneamente.
O caso sensibilizou muito a
Chico, a ponto de causar-lhe
dores. Orou demoradamente
por aquela família, como
costuma fazer em intenção de
todas as mães em fase de
intenso sofrimento pela
perda de entes amados. Foi
um dos últimos atendimentos
do médium antes de adoecer.
Fonte: Fernando Worm, junho
de 1977, “Lições de
Sabedoria”, editado pela
Folha Espírita, de SP.
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