916. As próprias
nebulosidades, agregados
de matéria cósmica
condensada, germens de
mundos, e que na
profundeza dos espaços
nos mostram os
telescópios, vão
reaparecer na primeira
fase das materializações
de Espíritos. É assim
que a experimentação
espírita conduz às mais
vastas consequências.
917. Na maior parte das
sessões, distinguem-se,
ao começo, cúmulos
nebulosos em forma de
ovo; depois, listões
fluídicos brilhantes,
que se desprendem, quer
das paredes e do soalho,
quer das próprias
pessoas, se avolumam
pouco a pouco, se
alongam e se tornam
formas espectrais.
918. As materializações
são infinitamente
graduadas. Os Espíritos
condensam suas formas de
modo a serem
primeiramente percebidos
pelos médiuns videntes.
Estes descrevem a
fisionomia dos
manifestantes e o que
descrevem é depois
confirmado pela
fotografia, tanto à
claridade do dia como à
luz do magnésio. Sabe-se
que a placa sensível é
mais impressionável que
o olho humano. Num grau
superior a
materialização se
completa; o Espírito
torna-se visível para
todos; deixa-se pesar;
seus membros podem
deixar impressões e
moldes, em substâncias
plásticas.
919. Em tudo isso a
fiscalização deve ser
muito rigorosa. É
preciso preservar-se
cuidadosamente de todas
as causas de erro ou
ilusão. Convém por isso
recorrer, tanto quanto
possível, aos aparelhos
registradores e à
fotografia.Se têm sido
cometidos numerosos
abusos e fraudes, nessa
ordem de fatos são
abundantes, em
compensação, as
experiências e os
testemunhos sérios.
920. O acadêmico inglês
Russel Wallace,
experimentando em sua
própria casa, com pessoa
de sua família, obteve
uma fotografia do
Espírito de sua mãe, em
que um desvio do lábio
constituía uma prova
convincente de
identidade. O médium
vidente havia descrito a
aparição antes de
terminada a “pose”, e
verificou-se que era
exata a descrição.
921. O pintor Tissot,
célebre pelas
ilustrações de sua “Vida
de Jesus”, obteve uma
prova que não é menos
admirável: a fotografia
de um grupo composto do
corpo físico e do corpo
fluídico do médium,
desdobrado,
simultaneamente, com a
de um Espírito
desencarnado e o do
experimentador.
922. Análogas
comprovações foram
feitas pelos Doutores
Thompson e Moroni, pelos
professores Boutlerov e
Rossi-Pagnoni e pelo Sr.
Beattie, de Bristol.
Todos eles adotaram as
mais minuciosas
precauções. Pode-se ler
em “Animismo e
Espiritismo”, de
Aksakof, cap. I, a
narrativa minuciosa das
experiências do Sr.
Beattie.
923. Na primeira série
dessas experiências, uma
forma humana se desenhou
na placa à décima oitava
exposição. Mais tarde, o
Dr. Thompson se associou
às investigações e
obteve-se uma série de
cabeças, perfis e formas
humanas, ao começo
vagas, depois cada vez
mais distintas, todas as
quais haviam sido
previamente descritas
pelo médium em transe.
Às vezes operava-se às
escuras.
924. Aqui está o que diz
Aksakof:
“Nessas experiências nos
achamos em presença, não
de simples aparições
luminosas, mas de
condensações de uma
certa matéria, invisível
à nossa vista, e que ou
é de si mesma luminosa
ou reflete na placa
fotográfica os raios de
luz, à ação dos quais a
nossa retina é
insensível. Que se trata
aqui de uma certa
matéria, prova-o o fato
de que ora é tão pouco
compacta que deixa ver
através das formas das
pessoas presentes, ora é
tão densa que cobre a
imagem dos assistentes.
Num dos casos a forma
aparecida é negra.”
925. Como se vê, Aksakof
acredita conosco que se
não poderiam explicar
essas manifestações sem
a existência de um
fluido, ou éter,
substância manipulada
por seres inteligentes
invisíveis. É o que
imprime ao fenômeno –
pensa ele – um duplo
caráter, ao mesmo tempo
material, no estrito
sentido da palavra, e
intelectual, pela
intervenção de uma
vontade que trabalha
artificialmente essa
matéria invisível, com
determinado fim.
926. Mumler, fotógrafo
profissional, obtinha
nas placas as imagens de
pessoas falecidas.
Intentaram-lhe um
processo por dolo, mas
não pôde ser descoberta
fraude alguma e o
fotógrafo ganhou a
questão.
927. Não somente o
inquérito judiciário
estabeleceu o fato da
produção, nas placas, de
figuras humanas
invisíveis à vista
desarmada, como também
doze testemunhas
declararam ter
reconhecido nessas
figuras as imagens de
parentes seus já
falecidos. Mais ainda:
cinco testemunhas, entre
as quais o grande juiz
Edmonds, depuseram que
haviam sido produzidas,
e foram reconhecidas,
imagens de pessoas que
em vida nunca se tinham
fotografado. Obteve-se
mesmo, no caso do Senhor
Bronson Murray, a efígie
de pessoas falecidas, na
ausência de toda
testemunha que as
houvesse conhecido na
Terra.
928. Conseguiu-se
fotografar as sucessivas
fases de uma
materialização. Em meu
poder conservo uma série
de reproduções, que devo
à gentileza do Sr.
Volpi, diretor do
“Vessillo”, de Roma,
cuja integridade está
acima de qualquer
suspeita. Representam as
aparições graduais da
forma de um Espírito,
muito vaga à primeira
exposição, depois cada
vez mais condensada e,
por último, visível para
o médium, ao mesmo tempo
em que impressiona a
placa fotográfica.
929. Recordemos agora
alguns dos casos em que
a aparição é
simultaneamente visível
para todos os
assistentes e para o
médium, o que torna
impossível qualquer
equívoco. O Espírito
materializado tem todas
as aparências de um ser
humano; move-se e anda,
conversa com as pessoas
presentes e, depois de
ter participado alguns
momentos de sua vida, se
desvanece lentamente,
funde-se, por assim
dizer, às suas vistas.
930. É esse o caso de
Katie King, forma
feminina que durante
alguns anos se
manifestou em casa de
Sir William Crookes, da
Sociedade Real de
Londres, e de que já
tivemos ensejo de falar.
Várias vezes tem-se
procurado insinuar que
Crookes se havia
retratado de suas
afirmações. Ora, eis o
que dizia ele, a
propósito desses
fenômenos, em seu
discurso no Congresso
para o adiantamento das
ciências (British
Association), realizado
em Bristol, em 1898, e
do qual era presidente:
“Trinta anos se
passaram, depois que
publiquei as narrativas
de experiências
tendentes a demonstrar
que, fora de nossos
conhecimentos
científicos, existe uma
força posta em ação por
uma inteligência que
difere da inteligência
comum a todos os
mortais. Nada tenho que
retratar; mantenho
minhas observações já
publicadas. Posso mesmo
acrescentar-lhes outras
muitas.”
931. A Sra. Florence
Marryat, autora de
grande nomeada, inseriu,
numa de suas obras, uma
descrição minuciosa das
sessões de Crookes, de
que era das mais
assíduas testemunhas.
Eis aqui um fragmento:
“Assisti diversas vezes
às investigações feitas
pelo Senhor Crookes,
para se convencer da
existência da aparição.
Vi madeixas escuras de
Florence Cook esparsas
no chão, diante da
cortina, à vista de
todos os assistentes,
enquanto Katie passeava
e conversava conosco.
Vi, em várias ocasiões,
Florence e Katie, ao pé
uma da outra, de sorte
que não posso ter a
mínima dúvida de que
eram duas
individualidades
distintas... No correr
de uma sessão, pediu-se
a Katie que se
desmaterializasse em
plena luz. Consentiu em
submeter-se à prova,
embora nos dissesse em
seguida que lhe havíamos
feito muito mal. Foi
encostar-se à parede do
salão, com os braços
estendidos em cruz.
Acenderam-se três bicos
de gás. O efeito
produzido em Katie foi
terrífico. Vimo-la ainda
durante um segundo
apenas; depois, ela
desvaneceu-se
lentamente. Não posso
melhor comparar a sua
extinção que a uma
boneca de cera
derretendo-se ao calor
de um braseiro.
Primeiramente, os dois
lados do rosto,
vaporizados e confusos,
parecia entrarem um no
outro; os olhos se
afundavam nas órbitas; o
nariz desapareceu e a
fronte se desmanchou. Os
membros e o vestido
tiveram a mesma sorte;
ia tudo caindo no
tapete, como uma coisa
que desmorona. À luz dos
três bicos de gás,
olhávamos fixamente para
o lugar que Katie King
havia ocupado.”
932. Reproduzimos essas
descrições a fim de
mostrar o grande poder
de desagregação que
exerce a luz sobre as
criações fluídicas
temporárias e a
necessidade das sessões
obscuras, em certos
casos, apesar dos
inconvenientes que
apresentam. A esse
respeito, o Sr. Camille
Flammarion estabelece a
seguinte comparação,
escrevendo na “Revue” de
1906:
“Aqui está, num frasco e
em volume igual, uma
mistura de hidrogênio e
cloro. Se quereis que a
mistura se conserve, é
preciso – seja ou não de
vosso agrado – que o
frasco permaneça na
obscuridade. Tal é a
lei. Enquanto ali ficar,
ela se conservará. Se,
entretanto, movido por
uma fantasia pueril,
expuserdes essa mistura
à ação da luz, uma
violenta explosão se
fará subitamente ouvir;
o hidrogênio e o cloro
terão desaparecido e
encontrareis no frasco
nova substância: o ácido
clorídrico. E, com
acerto, concluireis: a
obscuridade respeita os
dois elementos; a luz os
aniquila.”
933. Outro caso célebre,
que reúne os melhores
elementos de certeza, as
mais concludentes
provas, é a aparição de
Estela Livermore,
falecida, a seu marido,
o banqueiro Livermore,
em Nova Iorque, de 1861
a 1866, em 388 sessões,
dirigidas por um outro
Espírito que a si mesmo
se designava pelo nome
de Dr. Franklin. O
fenômeno se completa com
uma série de provas de
caráter persistente. Uns
cem ditados são escritos
por Estela, sob as
vistas de seu marido, em
cartões trazidos e
marcados por ele. Graças
a uma luz misteriosa que
envolvia o fantasma, o
Sr. Livermore reconhecia
a mão, as feições, os
olhos, a fronte, os
cabelos da escrevente.
“Sua fisionomia – diz
ele – era de uma beleza
sobre-humana e olhava-me
com inefável expressão
de felicidade.”
934. Esses fatos são
antigos e já têm sido
muitas vezes relatados.
Não podíamos,
entretanto, deixá-los
esquecidos, em razão de
sua importância e da
extensa repercussão que
se lhes tem dado. Vamos
apresentar outros mais
recentes. Já não se
trata apenas de formas
insuladas que aparecem,
mas de grupos de
Espíritos
materializados, cada um
dos quais constitui uma
individualidade distinta
do médium. Formas, de
compleição e dimensões
diferentes, se mostram
ao mesmo tempo, se
organizam gradualmente a
expensas de uma massa
fluídica nebulosa e, por
fim, se dissolvem de
repente, depois de terem
intervindo alguns
instantes nos trabalhos
e nas conversas dos
experimentadores.
935. O Dr. Paul Gibier,
diretor do Instituto
Pasteur, de Nova Iorque,
apresentou ao Congresso
de Psicologia de Paris,
em 1900, extensa memória
acerca das
“materializações de
fantasmas”, obtidas por
ele em seu próprio
laboratório, na presença
dos preparadores que o
auxiliam habitualmente
em seus trabalhos de
biologia. Muitas
senhoras de sua família
assistiam, além disso, a
essas experiências.
Tinham por encargo
especial vigiar a
médium, Sra. Salmon,
examinar-lhe os
vestidos, pretos sempre,
ao passo que os
fantasmas apareciam de
branco.
936. Foram tomadas ali
todas as precauções.
Empregava-se uma jaula
metálica, cuidadosamente
fechada, com porta de
ferro presa por um
cadeado. Durante as
sessões, a médium era
encerrada nessa jaula,
cuja chave o Dr. Gibier
conservava em seu poder.
Por excesso de
precaução, colava-se um
selo postal francês no
orifício do cadeado.
Numerosas sessões se
efetuaram nessas
condições, das quais
somente uma relataremos,
porque resume todas as
outras.
937. No dia 10 de julho
de 1889 a médium, Sra.
Salmon, é colocada no
gabinete e amarrada à
cadeira. Passam-lhe,
além disso, uma fita em
volta do pescoço, fixada
por um nó cirúrgico. As
extremidades da fita
passam por dois
orifícios abertos no
forro do gabinete e são
amarradas uma à outra
por um duplo nó muito
apertado, bem longe do
alcance da médium, que
está vestida de preto.
Diminuiu-se a luz; mas
distinguiam-se os
objetos. Aparições
incompletas de braços,
bustos e faces se
produzem a princípio.
Formas inteiras,
vestidas de branco, lhes
sucedem. Suas
compleições variam,
desde uma forma de
criança, a pequena
Maudy, aos fantasmas de
elevada estatura. Vêm
depois formas femininas,
delgadas e graciosas, ao
passo que a médium é
pessoa de seus cinquenta
anos, bem nutrida. Entre
aquelas, aparece uma
figura masculina, alta e
barbada. É Ellan, um
Espírito de voz forte,
que distribui vigorosos
apertos de mãos aos
assistentes. Essa mão,
apertada pela do Dr.
Gibier, dissolve-se
pouco a pouco sob a
pressão recebida.
938. Tais aparições se
formam à vista dos
experimentadores.
Distingue-se ao começo
um ponto nebuloso,
brilhante e móbil, que
se dilata e prolonga em
forma de coluna; depois
é um T. Este muda-se num
perfil de senhora,
coberto com um véu, e
por fim uma encantadora
figura de moça, esbelta
e delicada, se esboça,
se condensa. Passeia por
entre os assistentes,
cumprimenta, aperta as
mãos que se estendem
para ela, depois do que
a aparição se desmorona
como um castelo de
cartas. Por um momento
ainda se distingue uma
cabeça graciosa que
emerge do soalho e em
seguida tudo desaparece.
No mesmo instante, o Dr.
Gibier apalpa a médium,
que se conserva em seu
lugar, amarrada, no
gabinete. Dá-se toda a
força à luz; as fitas
são examinadas; estão
intactas e é preciso
algum tempo para as
desatar.
939. As formas se movem
e falam. Dão os nomes:
Blanche, Lélia,
Musiquita, etc. Esta
última toca uma
guitarra. Todas
conversam com os
assistentes; suas vozes
se fazem ouvir em todos
os pontos da sala.
Quanto aos tecidos de
que se vestem as
aparições, elas mesmas
afirmam produzi-los com
o concurso de elementos
tirados às roupas do
médium, parcialmente
desmaterializadas.
940. Numa sessão, o
Espírito Lélia forma com
um sopro, aos olhos dos
assistentes, um tecido
leve de gaze branca, que
se estende pouco a pouco
e termina por cobrir
todas as pessoas
presentes. É um exemplo
de criação pela vontade,
que vem confirmar o que
dizíamos no começo deste
capítulo.
941. Donde vêm essas
aparições, e qual é a
sua natureza? O Dr.
Gibier no-lo vai dizer:
“Os fantasmas,
interrogados, declararam
todos ser entidades,
personalidades distintas
do médium, Espíritos
desencarnados, que
viveram na Terra, e cuja
missão é demonstrar-nos
a existência da outra
vida.”
942. Uma
particularidade, entre
outras, nos vai
demonstrar que esses
Espíritos têm todo o
caráter humano. “As
formas – diz Gibier – se
mostram a princípio
muito tímidas e é
preciso captar-lhes a
confiança.”
943. A identidade de um
desses Espíritos foi
positivamente
estabelecida: – a de
Blanche, falecida
parenta de duas senhoras
que assistiam às
sessões; ela era
sobrinha de uma e prima
de outra. Ambas puderam
abraçá-la repetidas
vezes e conversar com
ela em francês, língua
que a médium não
compreende.
944. O Dr. Gibier notou
que as manifestações
variavam de intensidade,
na proporção do “volume
de forças” fornecido aos
Espíritos pela médium, e
se produziam, conforme o
caso, a maior ou menor
distância da jaula ou do
gabinete onde estava a
médium sentada.