DAVILSON SILVA
davsilva.sp@gmail.com
São Caetano do
Sul, SP
(Brasil)
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Quando
suspenderam as
materializações
Houve uma fase
em que os
fenômenos de
efeitos físicos
e de
materialização
de Espíritos
eram comuns,
principalmente
no século 19,
começo e meados
do século 20.
Nas décadas de
20, 50 e 60,
desse último
século, tinha um
centro espírita
em cada esquina
para quem
quisesse ver se
os “mortos
voltavam para
contar”.
Médiuns de
materialização
surgiam em toda
a parte,
incluindo-se
embusteiros e
suas fraudes
grosseiras,
médiuns vaidosos
e interesseiros
que mistificavam
para manter o
prestígio. Daí,
mais e mais
controvérsias,
mais oponentes
ferrenhos que,
até hoje, se
aproveitam
dessas antigas
imposturas para
confundir e
depreciar o
Espiritismo,
difamar médiuns
comprovadamente
autênticos e
honrados.1
Certos
adversários
dizem que os
fenômenos não
passam de uma
espécie de
psicose coletiva
produzida pelo
“inconsciente”.
Sem nos determos
em outros
conceitos do
esdrúxulo
vocabulário de
alguns
“parapsicólogos”,
existem diversos
modos de ver os
fenômenos
espirituais.
Portanto, por
conta da
neofobia, da
postura
cristalizada do
establishment
científico, da
falta de
interesse, do
exclusivismo
milagreiro e
dogmático com
seus rituais e
supostos
exorcismos,
tem-se
menoscabado a
realidade
espiritual.
Por falar em
médiuns dignos,
nos anos 50 do
referido último
século,
ocorreram
impressionantes
fatos no campo
dos efeitos
físicos por
intermédio de
Chico Xavier.
Segundo Arnaldo
Rocha, que foi
casado com
Meimei, várias
Entidades se
materializaram,
entre as quais o
próprio Guia
Espiritual do
famoso médium
mineiro.
O artista
plástico Joaquim
Alves, o Jô,
naquele tempo da
Federação
Espírita do
Estado de São
Paulo,
participou
dessas reuniões
e reproduziu as
presenças
materializadas
em lindos
desenhos. (Só
sinto, ao menos,
não terem
gravado a voz
dos Espíritos
como fizeram os
ingleses George
Woods e Betty
Greene.2)
“Surgiu
esplendorosa
figura
masculina, uma
magnífica
materialização”,
conforme relatou
Rocha. Em uma
das reuniões da
qual participou,
a certa altura
dos
acontecimentos,
de súbito, entre
sussurros
comovidos, saiu
alguém da
cabine, conta
ele, enquanto
Chico se
mantinha em
transe. “Sim,
era mesmo
Emmanuel, bem
diante de todos,
cujo porte de
atleta, estatura
cerca de 1,90 m,
irradiava
intensa
luminosidade”,
segundo ele. E
exclamando,
Rocha disse:
“Ali estava o
abnegado
servidor de
Cristo, o
ex-senador
romano!”. E
continuando o
comovente
relato,
descreveu:
Sua voz clara,
forte baritonada,
suave, mas
enérgica,
impressionou-nos
muito. Via-se no
largo tórax um
luzeiro
multicolorido e,
na mão direita,
segurava uma
tocha luminosa.
Contudo, disse
aos presentes:
“Amigos, a
materialização é
fenômeno que
pode deslumbrar
alguns
companheiros e
até
beneficiá-los
com a cura
física, todavia,
o livro é a
chave que
fertiliza
lavouras
imensas,
alcançando
milhões de
almas. Rogo aos
amigos a
suspensão, a
partir deste
momento, dessas
reuniões.”3
Materializações
nunca mais
“A partir
daquela data,
Chico, a
disciplina em
pessoa”,
concluiu Rocha,
“nunca mais
materializou
nenhum
Espírito”.
Naturalmente,
para Emmanuel,
convinha a Chico
o emprego de uma
outra sua
faculdade,
famosa pelas
sublimes obras
produzidas: a
psicografia.
Chegara,
portanto, o
tempo de ele se
pôr a serviço
daquilo que
tanto contribui
com a Doutrina
Espírita: os
livros
psicografados
—
as belíssimas,
instrutivas e
consoladoras
obras
subsequentes.
Assim,
entenderam
suspensão
das reuniões de
efeitos físicos,
o que só dizia
respeito a
Chico, por
proibição do
desenvolvimento
de todo médium
de efeitos
físicos e de
possíveis
materializações
de Espíritos em
todos os centros
espíritas
brasileiros.
Consoante
maioria dos
dirigentes,
apenas se deve
acolher a teoria
filosófica e
religiosa da
Doutrina, embora
o próprio
Emmanuel, por
intermédio de
Chico, tenha
dito, anos
seguintes, que a
materialização é
um “tesouro”,
“um núcleo
respeitável do
Espiritismo
fenomênico,
suscetível de
acordar as mais
nobres
convicções
dentro da esfera
moral de nossa
consoladora
Doutrina,
atraindo
corações para a
Verdade e para o
Bem, nas
legítimas
finalidades das
nossas tarefas
com Jesus”.4
Creio que as
recusas aos
efeitos físicos,
muito
provavelmente se
baseiem no que
escreveu a
respeitável
escritora e
psicógrafa
Yvonne A.
Pereira. Ela
chegou a
escrever, “sob
orientação do
Espírito Bezerra
de Menezes”,
que seriam
dispensáveis as
materializações
“quando já
estamos bastante
preparados para
compreender e
assimilar a
Doutrina
Espírita”.5
Yvonne Pereira
assegurou que o
tempo áureo das
materializações
pertence ao
passado e que os
grandes
Espíritos não se
interessam mais
por esse gênero
de manifestação.
Disse ela:
“Ficaram
entregues a
entidades de
ordem medíocre e
inferior
(grifei), não
existindo
qualquer
respaldo em
nenhum dos cinco
livros básicos
da Doutrina”.
No entanto
refutou o
escritor e
pesquisador
espírita Rafael
Américo Ranieri,
ex-delegado de
polícia e
ex-secretário da
Segurança
Pública do
Estado de São
Paulo:
... Kardec não
recusou
absolutamente as
reuniões de
efeitos físicos
ou de
materialização.
Tanto que as
classificou n’O
Livro dos
Médiuns como
dignas de seus
estudos. Não
poderia ele, de
forma alguma,
recusar os
fenômenos mais
probatórios da
existência do
mundo espiritual
e de Espíritos
que vivem numa
faixa vibratória
diferente da
nossa. E não o
fez. O que ele
nos ensinou é
que no “seu
tempo” esses
trabalhos eram
sempre
realizados por
Espíritos menos
esclarecidos.
“Menos
esclarecidos”, e
não atrasados,
inferiores,
maus,
perversos...6
Emmanuel jamais
foi contra
Para fortalecer
a ideia de que
Emmanuel jamais
repelira tais
trabalhos como
se fossem
“inúteis”, “uma
perda de tempo”,
atente nestas
palavras pela
psicografia de
Chico: “... Se a
nossa
experiência pode
cooperar
convosco [com
Ranieri]
sugerimos sejam
quaisquer
serviços de
materialização
movimentados na
direção da saúde
humana...”7
As sessões de
efeitos físicos
e de
materialização
de Espíritos não
deveriam ser
consagradas
exclusivamente à
cura de
enfermos. Sei,
no entanto, que
tudo depende
muitíssimo de
médiuns e graus
de mediunidade
além de
diretrizes
respeitantes aos
próprios
Espíritos
interessados.
Por que não? Os
trabalhos
poderiam também
servir de base
de estudo tanto
teórico quanto
prático, visando
descortinar
novos pontos de
ajuste e de
atualíssimas
evidências,
neste Terceiro
Milênio, pelo
menos por meio
de efetivos
registros
fotográficos, de
gravações de
vídeo, por
exemplo. (Hoje,
há câmaras que
registram,
gravam tudo em
total escuridão
afora diversos
instrumentos de
alta tecnologia,
usados até pela
medicina.)
Os tempos são
chegados
Acredito que
chegaram os
tempos de solver
problemas
relativos à
interação
espírito-matéria.
Não é à toa que,
ao longo dos
séculos,
centenas de
filósofos e
cientistas,
dentro dos
conceitos da
metafísica e da
ciência,
elaboraram
hipóteses, assim
como alguns
pesquisadores
hodiernos:
físicos,
bioquímicos,
médicos e
psicólogos,
sobre um assunto
cujas
investigações e
estudos
exaustivos
tiveram com
efeito o seu
prelúdio em
setenta anos (de
1870 a 1940),
apesar do
procedimento
autoritário da
Igreja e do
desapreço
materialista.
Não quis dizer
que todas as
casas espíritas
devam
necessariamente
fazer reuniões
de efeitos
físicos e de
materialização,
cada um é cada
um, sabedor de
seus interesses.
Lembremos,
porém, que Jesus
de Nazaré se
materializou
durante quarenta
dias para
estabelecer a
prova da
imortalidade da
Alma. Ele assim
o fez, mas penso
que não adiantou
muito, não, para
reafirmar os
mesmíssimos
ensinamentos
anteriores ao
episódio do
calvário.7
Isso me fez
recordar uma
frase de Zabeu
Kauffman. O
Padre Zabeu como
era mais
conhecido (o
papa Leão XIII
quando neste
mundo), uma
Entidade cuja
materialização e
diálogo com
pessoas
presentes, num
encontro de
efeitos físicos,
tive ensejo de
presenciar.
Certa feita, em
antigo evento
dessa natureza,
um dos
partícipes,
diante da figura
corporificada de
Zabeu, fez esta
pergunta: “Por
que os Espíritos
se
materializam?”
Resposta: “Os
Espíritos se
materializam
para que os
encarnados se
desmaterializem
se
espiritualizando”...
Quanto à
respeitável
Yvonne Pereira,
sim, concordo
com ela: “já
estamos bastante
preparados para
compreender e
assimilar a
Doutrina
Espírita”. Mas
será que todo o
mundo já se
“desmaterializou”
o bastante para
se considerar
devidamente
“espiritualizado”?
Peço vênia ao
insigne Ranieri
para fazer das
suas palavras as
minhas: Que não
aceitem as
reuniões de
materialização
porque não se
interessem por
elas, é um
direito que
ninguém lhes
contesta; mas
dizer que se
baseiam em
Kardec.
Notas e
referências:
1
Em 1964, o
Espiritismo
sofreu sórdida
campanha
cometida por
cinco famosos
repórteres da
influente
extinta revista
O Cruzeiro,
os quais, com o
apoio de um
perito criminal,
denegriram a
inteireza de 19
médicos que
pesquisaram e
atestaram a
mediunidade de
efeitos físicos
de Otília Diogo,
em Uberaba, MG.
Além de
caluniarem os
médicos e a
médium,
difamaram até
Chico Xavier que
tomara parte das
materializações
como espectador.
Até nos dias de
hoje, nos tempos
da Internet,
insistem em
covardemente
reeditar a
vergonhosa
infâmia, na vã
ilusão de
infamar nomes
tão idôneos
quanto dignos, e
ainda
respaldados por
certos
“espíritas”
omissos.
2
NETO, Geraldo
Lemos.
Mandato de amor.
4. ed. Belo
Horizonte: União
Espírita
Mineira, 1997.
Páginas 76 a 80.
3
Bem fizeram
George Woods e
Betty Greene que
registraram, em
1945,
uma grande
quantidade de
vozes em
gravador do tipo
fita magnética
de rolo, tendo
em vista a
divulgação de
mensagens de voz
direta de
diversos
Espíritos,
dentre elas as
do célebre
Mahatma Gandhi,
Frédéric Chopin,
Bernard Shaw e
outros pelo
médium inglês
físico de voz
direta, Leslie
Flint
(1911/1994).
4
Mensagem do
Espírito
Emmanuel, pela
psicografia de
Chico Xavier,
cedida a Ranieri
por Esmeralda
Bittencourt em
1.o
de janeiro de
1954.
5
PEREIRA, Yvonne
A.
Recordações da
mediunidade.
6. ed. Rio de
Janeiro:
Federação
Espírita
Brasileira,
1989. Capítulo
5.o,
p. 89.
6
RANIERI, R. A.
Materializações
luminosas
—
depoimento de um
delegado de
polícia.
Do 1ọ
ao 5ọ
milheiro. São
Paulo, s/d:
Federação
Espírita do
Estado de São
Paulo. P. 199.
7
O Evangelho
segundo Lucas,
cap. 24, vers.
27, 31, 36 e 37,
44 a 45.
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