Em carta dirigida a esta
revista e publicada nesta
mesma edição, uma leitora
pergunta-nos:
-
Uma pessoa que cometeu
erros pode pedir nesta
mesma vida uma expiação
para seus males?
-
Qual é a punição para
uma pessoa colérica?
Aprendemos no Espiritismo
que o homem nem sempre é
punido, ou punido
completamente, na sua
existência atual, mas não
escapa jamais às
consequências de suas
faltas.
Kardec escreveu no cap. V,
item 7, d´O Evangelho
segundo o Espiritismo, o
texto abaixo:
“Os sofrimentos devidos a
causas anteriores à
existência presente, como os
que se originam de culpas
atuais, são muitas vezes a
consequência da falta
cometida, isto é, o homem,
pela ação de uma rigorosa
justiça distributiva,
sofre o que fez sofrer aos
outros. Se foi duro e
desumano, poderá ser a seu
turno tratado duramente e
com desumanidade; se foi
orgulhoso, poderá nascer em
humilhante condição; se foi
avaro, egoísta, ou se fez
mau uso de suas riquezas,
poderá ver-se privado do
necessário; se foi mau
filho, poderá sofrer pelo
procedimento de seus filhos,
etc. Assim se explicam pela
pluralidade das existências
e pela destinação da Terra,
como mundo expiatório, as
anomalias que apresenta a
distribuição da ventura e da
desventura entre os bons e
os maus neste planeta.
Semelhante anomalia,
contudo, só existe na
aparência, porque
considerada tão só do ponto
de vista da vida presente.
Aquele que se elevar, pelo
pensamento, de maneira a
apreender toda uma série de
existências, verá que a cada
um é atribuída a parte que
lhe compete, sem prejuízo da
que lhe tocará no mundo dos
Espíritos, e verá que a
justiça de Deus nunca se
interrompe.”
(Grifamos.)
A doutrina espírita nos
ensina, porém, que a
expiação pode ser evitada,
ou minorada, pelas ações
nobres que praticarmos,
conforme nos foi ensinado
pelo apóstolo Pedro no
capítulo 4 de sua primeira
epístola: “Antes de tudo,
mantende entre vós uma
ardente caridade, porque a
caridade cobre a multidão
dos pecados”. (Cf. 1ª
Epístola de Pedro, 4:8.)
Quanto à primeira pergunta
formulada pela leitora, o
correto, pois, não seria
solicitar expiação, mas sim
procurar reparar com a
prática do bem o que houver
feito de errado, vencendo
com isso as inclinações
infelizes, o que pode ser
conseguido por qualquer
pessoa, desde que tenha para
isso vontade.
Com efeito, ensina a questão
909 d´O Livro dos
Espíritos:
909. Poderia sempre o homem,
pelos seus esforços, vencer
as suas más inclinações?
“Sim, e, frequentemente,
fazendo esforços muito
insignificantes. O que lhe
falta é a vontade. Ah! quão
poucos dentre vós fazem
esforços!”
Quanto à segunda pergunta, a
pessoa colérica é, sem
dúvida nenhuma, a primeira
vítima da cólera que não
consegue reprimir, conforme
podemos verificar nos textos
adiante reproduzidos:
1.) Disse Clara, confirmando
a impropriedade da cólera:
"Sim, indiscutivelmente, a
cólera não aproveita a
ninguém, não passa de
perigoso curto-circuito de
nossas forças mentais, por
defeito na instalação de
nosso mundo emotivo,
arremessando raios
destruidores, ao redor
de nossos passos... Em tais
ocasiões, se não
encontramos, junto de nós,
alguém com o material
isolante da oração ou da
paciência, o súbito
desequilíbrio de nossas
energias estabelece os mais
altos prejuízos à nossa
vida, porque os pensamentos
desvairados, em se
interiorizando, provocam a
temporária cegueira de nossa
mente, arrojando-a em
sensações de remoto
pretérito, nas quais como
que descemos quase sem
perceber a infelizes
experiências da animalidade
inferior". E Clara aduziu,
de forma peremptória: "A
cólera, segundo
reconhecemos, não pode e nem
deve comparecer em nossas
observações, relativas à
voz. A criatura enfurecida é
um dínamo em descontrole,
cujo contacto pode gerar as
mais estranhas
perturbações". (Entre a
Terra e o Céu, de André
Luiz, obra psicografada por
Chico Xavier; cap. XXII,
págs. 137 e 138.)
(Grifamos.)
2.) Reportando-se à cólera,
disse um Espírito protetor:
"Pesquisai a origem desses
acessos de demência
passageira que vos
assemelham ao bruto,
fazendo-vos perder o
sangue-frio e a razão;
pesquisai e, quase sempre,
deparareis com o orgulho
ferido. Que é o que vos faz
repelir, coléricos, os mais
ponderados conselhos, senão
o orgulho ferido por uma
contradição? Até mesmo as
impaciências, que se
originam de contrariedades
muitas vezes pueris,
decorrem da importância que
cada um liga à sua
personalidade, diante da
qual entende que todos se
devem dobrar. Em seu
frenesi, o homem colérico a
tudo se atira: à natureza
bruta, aos objetos
inanimados, quebrando-os
porque lhe não obedecem. Ah!
se nesses momentos pudesse
ele observar-se a
sangue-frio, ou teria medo
de si próprio, ou bem
ridículo se acharia! Imagine
ele por aí que impressão
produzirá nos outros. Quando
não fosse pelo respeito que
deve a si mesmo, cumpria-lhe
esforçar-se por vencer um
pendor que o torna objeto de
piedade. Se ponderasse que
a cólera a nada remedeia,
que lhe altera a saúde e
compromete até a vida,
reconheceria ser ele próprio
a sua primeira vítima. Mas,
outra consideração,
sobretudo, deveria contê-lo:
a de que torna infelizes
todos os que o cercam. Se
tem coração, não lhe será
motivo de remorso fazer que
sofram os entes a quem mais
ama? E que pesar mortal se,
num acesso de fúria,
praticasse um ato que
houvesse de deplorar toda a
sua vida! Em suma, a cólera
não exclui certas qualidades
do coração, mas impede se
faça muito bem e pode levar
à prática de muito mal. Isto
deve bastar para induzir o
homem a esforçar-se pela
dominar. O espírita, ao
demais, é concitado a isso
por outro motivo: o de que a
cólera é contrária à
caridade e à humildade
cristãs. (O Evangelho
segundo o Espiritismo,
de Allan Kardec; capítulo
IX, item 9.)
(Grifamos.)
3.) O instrutor Alexandre
asseverou: "Nas moléstias da
alma, como nas enfermidades
do corpo físico, antes da
afecção existe o ambiente.
Ações produzem efeitos,
sentimentos geram criações,
pensamentos dão origem a
formas e consequências de
infinitas expressões. Cada
um de nós é responsável pela
emissão das forças lançadas
em circulação nas correntes
da vida. A cólera, a
desesperação, o ódio e o
vício oferecem campo a
perigosos germens psíquicos
na esfera da alma. E, qual
acontece no terreno das
doenças do corpo, o contágio
nas enfermidades da alma é
fato consumado, desde que a
imprevidência ou a
necessidade de luta
estabeleçam ambiente
propício. Os homens,
sobretudo os pais
terrestres, com raríssimas
exceções, são os primeiros a
agir em prejuízo da saúde
espiritual da coletividade.
Entre abusos do sexo e da
alimentação, desde os anos
mais tenros, nada mais
fazíamos que desenvolver as
tendências inferiores,
cristalizando hábitos
malignos. Não é, pois, de
admirar tantas moléstias do
corpo e degenerescências
psíquicas". (Missionários
da Luz, de André Luiz,
obra psicografada por Chico
Xavier; cap. 4, págs. 38 e
39.)
(Grifamos.)
Evidentemente, conforme dito
acima, os males que, devido
à cólera, acometerem outras
pessoas enquadram-se no rol
dos atos infelizes que
deveremos reparar e
certamente expiar, em face
da lei de causa e efeito que
rege os destinos humanos.
Quando isso se dará? Em
alguns casos, pode ocorrer
já na presente existência,
porque, como ninguém
certamente ignora, todos nós
recebemos da vida o que
damos a ela.
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