No livro “Árdua Ascensão”
(Editora IDEAL), Vitor Hugo,
através da mediunidade de
Divaldo Pereira Franco,
narra, de forma esplêndida e
doutrinária, os
acontecimentos mais
importantes dos primórdios
da vida de Chico Xavier.
Utilizando de pseudônimos,
em determinado momento conta
um fato que teria marcado a
cidadezinha de Pedro
Leopoldo. Dividiremos a
história em duas partes: na
primeira, mostrando a luta
de um Chico menino para
defender suas convicções
religiosas e, na segunda, em
que ele narra o diálogo
entre a senhora que perdeu o
marido com o pároco local.
Comecemos pela primeira
parte:
Faleceu, na cidadezinha, um
rico proprietário de terras
e possuidor de sólida
fortuna, o Sr. Alexandre
Azevedo, que deixou a
família inconsolável.
A viúva, D. Leocádia, esteve
no penetral da loucura,
inconformada com a
ocorrência, para ela
desditosa, ainda mais porque
o esposo fora acometido de
morte súbita, tornando mais
dolorosa a separação.
Passado o período mais
difícil do drama, quando a
indiferença pela própria
existência levava-a a uma
patologia depressiva de
difícil retorno, amigos
estimularam-na a recorrer à
mediunidade do obreiro do
Senhor (Chico Xavier), numa
tentativa de colher notícias
do companheiro, se
prosseguia vivo, como
ensinava a religião esposada
(Catolicismo), e, em caso
positivo, de como se
encontrava.
Sem qualquer formação
espiritista, ignorando
completamente o fenômeno das
comunicações espirituais em
razão da sua crença
católica, a senhora não
demonstrou mais amplo
interesse pelo tentame.
Todavia, não desconhecia as
virtudes do médium, apesar
dos calhaus que lhe atiravam
os desprevenidos e
invejosos, que também o
procuravam à socapa,
pedindo-lhe conselhos e
ajuda.
Tão insistentes se fizeram
as sugestões, que a viúva
aquiesceu em cometer o
pecado de ir a uma reunião
espírita.
O constrangimento, nascido
do preconceito social e
religioso, se lhe estampava
na face, enquanto a
curiosidade a arrancara um
pouco da depressão.
Iniciada a reunião pela
prece e feitas as leituras,
o médium pôs-se a escrever,
preenchendo com velocidade
as laudas de papel que iam
sendo retiradas, sem que ele
acompanhasse o que era
registrado.
O transe mediúnico era
patente, inegável.
Concluída a tarefa,
procedeu-se à leitura dos
comunicados do Além. Dentre
as mensagens da noite, a
carta do Sr. Alexandre
produziu compreensível
frisson nos
circunstantes. À medida que
os períodos eram
apresentados, a senhora, em
crescente emoção, confirmava
a legitimidade da
procedência da mensagem.
Desfilavam nomes de
familiares encarnados como
daqueles que o haviam
precedido no retorno à Vida;
datas e ocorrências
reapareciam claras e
verdadeiras; anotações
íntimas, e a explicação dos
motivos imponderáveis que
respondiam pela morte
naquelas circunstâncias,
eram tão bem definidos que,
ao término, em choro de
felicidade e dor, D.
Leocádia declarou que se
tratava do marido, que
escrevera em nobre
testemunho à verdade.
A notícia eclodiu no dia
seguinte, com as alterações
compreensíveis. A mensagem
passou a ser a novidade, a
emoção do momento,
alongando-se por toda a
semana. Do púlpito, no
domingo imediato, a reação
fez-se violenta, no
apaixonado das palavras e
nas labaredas da cegueira
religiosa... Chegou-se a
pedir a volta da fogueira
para o bem da comunidade,
liberando-a do feiticeiro
deslavado, enquanto a reação
popular contra o
mistificador dizia que ele
recolhera dados e
informações preciosos para
ludibriar a senhora
aturdida, portanto receptiva
às insinuações desonestas do
aventureiro, que assim teria
procedido por interesses
inconfessáveis, já que se
tratava de uma dama rica...
Os ânimos exaltados
dividiram os desocupados,
não deixando insensíveis as
pessoas probas, e até mesmo,
serenas, do lugar. Falsos
amigos movimentaram-se na
atividade de levar e trazer
notícias aos familiares do
médium, alguns dos quais
tomaram a posição da
Igreja...
Quando o ouriçar dos
comentários começou a
atingir Chico, que foi
aconselhado, inclusive, a
transferir-se de cidade, tal
a exaltação dos ânimos,
este, sob inspiração da sua
Doutrina e telementalizado
pelo seu Guia Espiritual,
redarguiu:
- Permanecerei onde sempre
estive e rogo o favor de não
me transmitirem qualquer
notícia a respeito deste
caso, escolhendo para mim a
posição de silenciar a
qualquer afronta e continuar
no reto cumprimento dos
deveres que tenho abraçado
durante esta breve, mas
movimentada existência.
Cerrou a porta do coração à
maledicência, permanecendo
de consciência tranquila e
na ação do serviço
nobre.
O gesto gentil e definitivo
interrompeu a onda da
maldade em parte, que não
encontrava estímulos nem
motivações para alastrar o
incêndio da cólera.
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