Maria Lourença Pereira, de
São Luís (MA), em carta
publicada nesta mesma
edição, escreveu-nos o
seguinte:
Boa noite! "É certo que o
homem vem dos reinos
anteriores ao da razão,
percorrendo longo caminho
evolutivo, desde a ameba até
adentrar a humanidade, onde
dá curso ao seu processo
evolutivo, de posse da
inteligência, da consciência
e do livre-arbítrio."
(Fragmentos da História pela
Ótica Espírita, de Eurípedes
Kühl.) Isso autoriza dizer
que o homem foi mineral e
vegetal antes de ser homem?
(Estudo de OLE, cap. XI,
607 - 610.) Por favor,
ajude-me a elaborar uma
compreensão à luz da
doutrina espírita.
Não, a conclusão que se pode
tirar do texto citado não é
essa. Nele não existe menção
nenhuma relativa ao reino
mineral.
Algum tempo atrás, nesta
mesma revista, um confrade
perguntou-nos quem escreveu
a frase “A alma dorme na
pedra, sonha no vegetal,
agita-se no animal e acorda
no homem”.
Foi-lhe dito então que a
ideia contida na frase acima
foi expressa por Léon Denis
em sua obra O Problema do
Ser, do Destino e da Dor.
Mas a frase de Denis é
diferente: "Na planta, a
inteligência dormita; no
animal, sonha; só no homem
acorda, conhece-se,
possui-se e torna-se
consciente; a partir daí, o
progresso, de alguma sorte
fatal nas formas inferiores
da Natureza, só se pode
realizar pelo acordo da
vontade humana com as leis
Eternas"
(O Problema do Ser, do
Destino e da Dor, FEB, 1989,
p. 123).
Léon Denis reporta-se, com
tais palavras, à chamada
evolução anímica,
confirmando o entendimento
espírita de que o princípio
inteligente só chega à
condição de Espírito depois
de passar pelos reinos
inferiores da Criação, em
que ele se elabora e se
individualiza. Ele, contudo,
não inclui o reino mineral
nesse processo.
De fato, na questão 607 de
O Livro dos Espíritos
lemos que o princípio
inteligente se elabora e se
individualiza numa série de
existências que precedem o
período a que chamamos
humanidade: “É, de certo
modo, um trabalho
preparatório, como o da
germinação, por efeito do
qual o princípio inteligente
sofre uma transformação e se
torna Espírito. Entra então
no período da humanização,
começando a ter consciência
do seu futuro, capacidade de
distinguir o bem do mal e a
responsabilidade dos seus
atos”.
No cap. VI, itens 14, 15 e
19 do livro A Gênese,
de Allan Kardec, Galileu
(Espírito) confirma o que
acabamos de ler, afirmando
que o Espírito não chega a
receber a iluminação divina,
que lhe dá, simultaneamente
com o livre-arbítrio e a
consciência, a noção de seus
altos destinos, sem haver
passado pela série
divinamente fatal dos seres
inferiores, entre os quais
se elabora lentamente a obra
da sua individualização.
Apenas a contar do dia em
que o Senhor lhe imprime na
fronte o seu tipo augusto, o
Espírito toma lugar no seio
das humanidades.
Gabriel Delanne e outros
autores, como André Luiz,
ratificaram tal
entendimento, o que nos
permite concluir que é
passando pelos diversos
graus da animalidade que a
alma se ensaia para a vida e
desenvolve, pelo exercício,
suas primeiras faculdades.
Chegada, então, ao grau de
desenvolvimento que esse
estado comporta, ela recebe
as faculdades especiais que
constituem a alma humana.
Extraímos do livro A
Reencarnação, de Gabriel
Delanne, as informações
seguintes, que ajudam a
dirimir possíveis dúvidas
que porventura restarem:
O princípio inteligente
individualiza-se, passando
pelos diversos graus da
espiritualidade: é aí que a
alma se ensaia para a vida.
(A Reencarnação, pág. 64.)
A individualidade do
princípio pensante não é
aparente nas formas
inferiores. Somos obrigados
a buscar no reino vegetal o
exórdio da evolução anímica,
porque a forma que as
plantas tomam e conservam
durante a vida implica a
presença de um duplo
perispiritual, que preside
às trocas.
(Idem, pág. 70)
Nos organismos inferiores, o
princípio anímico só existe
em estado impessoal difuso,
pois o sistema nervoso não
está diferenciado. À medida
que o sistema nervoso
adquire mais importância, as
manifestações instintivas
variam e apresentam
complexidade maior.
(Idem, pág. 71)
Pensamento semelhante o
mesmo autor consignou no seu
livro A Evolução Anímica:
Se tivermos bem de vista os
fatos retrocitados, a
respeito dos selvagens,
compreenderemos melhor a
marcha ascendente do
princípio pensante, a partir
das mais rudimentares formas
da animalidade, até atingir
o máximo do seu
desenvolvimento no homem. Os
povos primitivos são
vestígios que demonstram as
fases do processo
transformista, mas tais
seres que nos parecem tão
degradados são, ainda assim,
superiores ao nosso
ancestral da época
quaternária, o que nos
permite compreender que não
existe diferença essencial
entre a alma animal e a
nossa.
(A Evolução Anímica, pp. 70
e 71.)
Concluindo, é importante que
tenhamos em vista o
ensinamento contido na
questão 597 d´O Livro dos
Espíritos, adiante
reproduzida:
597. Pois que os animais
possuem uma inteligência que
lhes faculta certa liberdade
de ação, haverá neles algum
princípio independente da
matéria? “Há e que sobrevive
ao corpo.”
a) Será esse princípio uma
alma semelhante à do homem?
“É também uma alma, se
quiserdes, dependendo isto
do sentido que se der a esta
palavra. É, porém, inferior
à do homem. Há entre a alma
dos animais e a do homem
distância equivalente à que
medeia entre a alma do homem
e Deus.”
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