RICARDO BAESSO
DE OLIVEIRA
kargabrl@uol.com.br
Juiz de Fora, MG
(Brasil)
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Responsabilidade humana
nas deformidades
congênitas dos animais
O sofrimento dos animais
é tema intrigante, que
tem gerado especulações.
Sabemos que não há
expiações para eles (O
livro dos Espíritos,
item 602),
pois não tendo
conhecimento do bem e do
mal, não podem
responder, perante o
tribunal da consciência,
por suas ações. No
entanto, são seres
sencientes, suas dores e
limitações são reais,
muitos nascem mutilados,
cegos etc. O que pensar
a respeito?
André Luiz, quando
examina as diferentes
modalidades de
sofrimento, no livro Ação
e Reação, cap.
19, apresenta o conceito
de dor-evolução, caracterizada,
segundo ele, por
agir de fora para
dentro, aprimorando o
ser, sem a qual não
existiria progresso.
Diferente da dor-expiação, que
age de dentro para fora,
a dor-evolução não
se enquadra no conceito
de causa e efeito,
portanto não se vincula
a erros cometidos por
aqueles que a vivenciam.
O sofrimento dos animais
e das plantas, que
experimentam
enfermidades peculiares,
é colocado, por André
Luiz, na categoria dor-evolução,
que tem como finalidade
impulsionar o progresso
do princípio inteligente
que vem vivenciando
experiências nesses
seres mais simples da
natureza. A dor e as
dificuldades colocam o
princípio inteligente
diante de condições que
funcionam como estímulos
ao desenvolvimento de
sua consciência
rudimentar.
Observações igualmente
importantes foram feitas
por Chico
Xavier/Emmanuel em uma
série de entrevistas
publicadas pela Folha
Espírita, de
São Paulo, nas décadas
de 1970, 80 e 90. Essas
entrevistas podem ser
consultadas no livro Lições
de Sabedoria.
Segundo Chico, as
plantas e os animais
passam por esses traumas
dolorosos para que
possam adquirir memória
e sensibilidade. Conta
que certa feita ele
estava diante de uma
floresta, ventava muito,
muitos galhos das
árvores foram quebrados,
os frutos e as flores
foram arrancados. Ficou
então pesaroso e
perguntou: qual a razão
deste quadro destruidor?
E os Espíritos amigos
responderam que as
árvores estavam
aprendendo a memória,
diante da tempestade. E
acrescentaram que o
sofrimento é um
ingrediente necessário,
porque é muito difícil
um despertamento sem
ele.
Indagado especificamente
a respeito das
deformidades congênitas
que acometem várias
espécies de animais,
Chico Xavier se
manifestou:
Nossos benfeitores
espirituais nos
esclarecem que é preciso
que todos nós
consideremos que os
animais diversos, a nos
rodearem a existência de
seres humanos em
evolução no planeta
Terra, são nossos irmãos
menores, desenvolvendo
em si mesmos o próprio
princípio inteligente. E
o que é que nós estamos
fazendo com esta
responsabilidade santa
de proteger e guiar o
reino animal? Como é que
esta humanidade
terrestre tem agido em
relação aos animais, nos
inúmeros séculos de
nossa história?
Porventura nós, os
homens, não temos nos
convertido em algozes
impiedosos dos animais
ao invés de seus
protetores fiéis? Quem
ignora que a vaca sofre
imensamente a caminho do
matadouro? Quem
desconhece que minutos
antes do golpe fatal os
bovinos derramam
lágrimas de angústia?
Não temos treinado
determinadas raças de
cães exaustivamente para
o morticínio e o ataque?
Que dizermos das caçadas
impiedosas de aves e
animais silvestres,
unicamente por prazer
esportivo? Que dizermos
das devastações
inconsequentes ao meio
ambiente? Tudo isto se
resume em graves
responsabilidades para
os seres humanos! A
angústia, o medo e o
ódio que provocamos nos
animais lhes alteram o
equilíbrio natural de
seus princípios
espirituais,
determinando ajustamento
em posteriores
existências, a se
configurarem por
deformidades congênitas.
A responsabilidade maior
recairá sempre nos
desvios de nós mesmos,
os seres humanos, que
não soubemos guiar os
animais à senda do amor
e do progresso, segundo
a vontade de Deus.
E acrescenta:
Agora, vejamos, se
determinado cão é
treinado para o ataque e
a morte com requintes de
crueldade, se ele é
programado para o mal,
pode ocorrer que em
determinado momento de
superexcitação este
mesmo cão, treinado para
atacar os estranhos,
ataque as crianças de
sua própria casa ou os
próprios donos. Aí
teremos um desajuste
induzido pela
irresponsabilidade
humana. Ora, este mesmo
cão aspira crescer
espiritualmente para a
inteligência e o
livre-arbítrio. Mas,
para isso, ele precisará
experimentar o
sofrimento que lhe
reajuste o campo
emotivo, aprendendo
pouco e pouco a Lei de
ação e reação. Assim,
ele provavelmente
renascerá com sérias
inibições congênitas. A
responsabilidade de tudo
isto, no entanto,
dever-se-á à maldade
humana.
O tema é complexo e está
aberto a reflexões. Fica
a opinião de Chico como
móvel a novos estudos e
discussões.
Ricardo Baesso de
Oliveira, médico radicado
na cidade de Juiz de Fora-MG, é membro do
Conselho Editorial desta
revista.