JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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Os
Espíritos intervêm em
nossas vidas
Afora aquelas pessoas
que não creem na
sobrevivência da alma
após a morte do corpo
físico, muitas outras
existem que imaginam ser
a desencarnação a
separação definitiva
entre os chamados vivos
e os mortos.
Algumas narrações
evangélicas parecem
confirmar essa última
suposição. Em Lucas
(16:27-31), Jesus narra
a parábola de Lázaro, o
mendigo, e do homem
rico. Após a
desencarnação de ambos,
o último pede ao
Espírito Abraão para
enviar Lázaro, que
gozava das
bem-aventuranças
celestes, para avisar os
cinco irmãos do rico
sobre os tormentos
morais dos que, como
este, desfrutaram
egoisticamente das
riquezas materiais
quando encarnados.
Em resposta, ouve o
seguinte: “Têm Moisés e
os profetas; ouçam-nos”.
O rico então replica que
se algum dos mortos
fosse ter com eles,
arrepender-se-iam. Mas
Abraão lhe diz: “Se não
ouvem a Moisés e aos
profetas, tampouco
acreditarão, ainda que
algum dos mortos
ressuscite”.
Se essa parábola, ou
mesmo a passagem
evangélica em que Jesus
pede para deixar “aos
mortos o cuidado de
enterrar seus mortos”
(Lucas, 9:60)
significassem que não há
qualquer possibilidade
de comunicação com os
Espíritos, não fariam
sentido as narrativas de
Mateus (18:3-4) e Lucas
(9:28-36), nas quais
Jesus toma consigo
Pedro, Tiago e João,
condu-los a um alto
monte e, ali, após o
Cristo irradiar intensa
luz, às vistas desses
apóstolos, surgem os
Espíritos Moisés e
Elias, que conversam com
o Mestre. A visão foi
tão real que Pedro
propôs a Jesus fazer
três tabernáculos, um
para este e os outros
dois para Moisés e Elias
(Mateus, 17:4).
Coube aos Espíritos
superiores restabelecer
a verdade sobre o
intercâmbio entre os
dois planos de uma mesma
existência: a física e a
espiritual. Na questão
459 de O Livro dos
Espíritos, somos
informados de que os
Espíritos influem de tal
modo em nossas vidas
que, geralmente, eles
nos “dirigem”.
Nossa alma é um Espírito
que pensa. E, muitas
vezes, vários
pensamentos nos ocorrem
simultaneamente sobre um
mesmo assunto. É aí que
se misturam com os
nossos os pensamentos
dos Espíritos, conforme
lemos na questão 460 da
obra supracitada. A
liberdade de ação cabe a
nós, por isso, afirmam
os Espíritos a Kardec,
não é muito importante
distinguirmos nossos
próprios pensamentos dos
que nos são sugeridos
(op. cit., q. 461).
A capacidade de
distinguir se um
pensamento sugerido
procede de um bom ou um
mau Espírito é adquirida
pelo estudo de cada
caso. Como pode ser lido
na questão 464: “Estudai
o caso. Os bons
Espíritos só para o bem
aconselham. Compete-vos
discernir”.
Orientam-nos, ainda, os
Espíritos superiores,
que podemos nos eximir
da influência dos
Espíritos que procuram
nos arrastar para o mal
“[...] visto que tais
Espíritos só se apegam
aos que, pelos seus
desejos, os chamam, ou
aos que, pelos seus
pensamentos, os atraem”
(op. cit., q. 467).
A forma de neutralizar a
influência dos maus
Espíritos é a prática do
bem e a confiança em
Deus (op. cit., q. 469).
Se observarmos
atentamente os inúmeros
acontecimentos de nossas
existências físicas,
podemos encontrar, de
forma incontestável, a
confirmação das
informações transmitidas
pelos Espíritos a Allan
Kardec. Sim, nossas
vidas e as das pessoas
que conhecemos, ou não,
são ricas de fatos
atestatórios das
influências dos
Espíritos sobre os
chamados vivos. E a
destes sobre aqueles
também é normal, embora
nem sempre conscientes
disso, assim como as
influências dos
encarnados entre si, que
também podem ser
ostensivas ou ocultas.
Filho de pai espírita
convicto, embora este
tenha falecido
precocemente, aos
cinquenta e três anos,
quando tínhamos onze
anos, aos vinte anos
iniciamos, de fato,
nossa participação no
Movimento Espírita do
Rio de Janeiro. Por
várias décadas,
ansiávamos por ter uma
demonstração patente da
sobrevivência do
Espírito paterno, embora
tenhamos tido sonhos
vagos com ele.
Casamo-nos e... nada. A
esposa, médium vidente,
após alguns anos de
casados, afirmou-nos
tê-lo visto em certa
ocasião e, ao
perguntar-lhe,
mentalmente, se ele
ficaria conosco,
respondeu-lhe que sim,
espiritualmente.
Os anos passaram, a
vontade de receber
notícias do pai
inesquecível permaneceu,
mas também permanecemos
calado. Jamais havíamos
falado com ninguém sobre
esse desejo. Desde que
nos casamos, e há mais
de vinte anos, cultuamos
o Evangelho no lar.
Durante esse período,
sempre ouvimos de nossa
companheira a notícia de
que temos um mentor
espiritual, mas nunca
fizemos qualquer
correlação deste com a
figura paterna. Até que,
há alguns meses, a
esposa tornou a vê-lo e,
discretamente,
transmitiu-nos
mediunicamente a
seguinte mensagem: “Meus
filhos queridos, os
tenho acompanhado por
todos esses anos.
Presenciei o
renascimento de cada um
dos seus três filhos e
fui encarregado de ser o
mentor espiritual do
Evangelho no lar de sua
família. Deixo aqui o
meu abraço para todos
vocês...” E
identificou-se.
Era demais; a
Espiritualidade
coroava-nos a paciência
da espera de mais de
trinta anos com a
mensagem daquele que, em
vida, na curta
convivência dos nossos
onze anos, tínhamos como
o modelo de honestidade,
de elevação moral e de
pai ideal. Pouco tempo
após, viajamos para o
Rio de Janeiro e,
abrigados na casa
materna, recebemos a
ligação de um primo que
mora em Niterói.
Espontaneamente,
falou-nos ter assistido
a uma reunião mediúnica
em Minas Gerais, na casa
da esposa de seu irmão.
Esta senhora, também
médium vidente e de
psicofonia, embora sem
nunca ter conhecido
nosso pai, afirmou para
todos os presentes a uma
reunião do culto do
Evangelho em seu lar que
fora informada sobre a
situação de diversos
Espíritos familiares
desencarnados. Concluiu
afirmando: “De todos, o
que está em melhor
situação espiritual é o
Sr. Sebastião”. E o
identificou como tio do
meu primo e meu
inesquecível pai.
É como disse um dia
Chico Xavier: “o
telefone toca de lá para
cá e não de cá para lá”.
Quando os Espíritos nos
julgam merecedores, se
apresentam para nós, e
se fazem conhecer, mas é
preciso ter “olhos para
ver e ouvidos para
ouvir”, como falava
Jesus. Por isso, dizia
Kardec que o Espiritismo
não é Ciência, no
sentido comum dessa
palavra. É Ciência de
observação. Embora
também se lhe aplique o
método experimental,
requer todo um
procedimento que demanda
esforço, crescimento
espiritual. “Assim como
a Ciência propriamente
dita tem por objeto o
estudo das leis do
princípio material, o
objeto especial do
Espiritismo é o
conhecimento das leis do
princípio espiritual”.
(KARDEC, Allan. A
Gênese. 22. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 1980,
cap. I, item 16, p. 21).
Há poucos anos,
participando de uma
atividade de pesquisa na
Biblioteca de Obras
Raras, na FEB/Brasília,
tivemos a felicidade de
ler artigos de um
“ex-inimigo do
Espiritismo”: César
Lombroso, o famoso
psiquiatra e
antropologista italiano,
criador de uma tese
famosa, utilizada ainda
hoje, pela ciência
criminológica, para
identificar, pelos
caracteres psicofísicos,
a tendência de uma
pessoa às atitudes
criminosas, além de
outras tendências. Era,
então, César,
materialista convicto (LOMBROSO,
César. Hipnotismo e
Mediunidade. Trad.
Almerindo Martins de
Castro. 2. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 1974, p.
38) até ter resolvido
participar de algumas
reuniões mediúnicas em
casa de médium famosa,
Eusápia Paladino, que
materializou o Espírito
da mãe de Lombroso. Este
ficou tão emocionado e
estupefato com a
presença e expressões
maternas, que não teve
mais qualquer dúvida: o
Espírito de sua mãe
viera dar-lhe a certeza
da imortalidade da alma
(op. cit., p. 56).
A partir desse dia,
Lombroso se tornou um
dos mais fervorosos
divulgadores da Doutrina
Espírita e autor da obra
Hipnotismo e
Mediunidade, traduzida
pela Federação Espírita
Brasileira, em que
enfoca, à luz da Ciência
espírita, a realidade
dos fenômenos
mediúnicos.
Na obra E a Vida
Continua..., cap.
25, “Nova diretriz”,
ditada pelo Espírito
André Luiz a Francisco
Cândido Xavier, é
narrado o caso da
influência, mente a
mente, entre o Espírito
Evelina Serpa e seu
ex-marido, Caio Serpa,
que ainda se encontrava
encarnado.
A esposa desencarnada
buscava atuar sobre os
pensamentos de Caio,
objetivando
influenciá-lo na decisão
de consorciar-se com
Vera, jovem por quem ele
se apaixonara, mas se
encontrava indeciso
entre assumir ou não um
compromisso de maior
responsabilidade, como o
de um segundo casamento.
O casamento entre Caio e
Vera ajudá-los-ia a se
reajustarem ante a lei
de causa e efeito, como
de fato ocorreu.
A influência dos
Espíritos pode,
entretanto, ser boa ou
má. Os maus inspiram-nos
maus pensamentos,
“sopram a discórdia”
entre nós, insuflam-nos
as “más paixões” e nos
“exaltam o orgulho”. Os
bons Espíritos
inspiram-nos bons
pensamentos, fazem-nos
todo o bem que podem e
se rejubilam com as
nossas alegrias. Os
nossos males morais os
afligem mais do que os
físicos. (O
Livro dos Espíritos,
q. 486 e 487.)
Temos, ainda, além da
proteção dos parentes e
amigos que nos
precederam na “outra
vida”, a do nosso
Espírito protetor,
comumente chamado anjo
de guarda. (Op. cit., q.
489 e seguintes.) Todo o
nosso relacionamento com
os Espíritos está na
base da sintonia. Se nos
ligarmos aos maus, os
bons se afastam, se
cultivarmos o bem, estes
se aproximam e aqueles
se afastam ou se
convertem ao bem. Não
foi por outra razão que
Jesus nos recomendou:
“Vigiai e orai, para não
entrardes em tentação”
(Mateus, 26:41; Marcos,
14:38).
O Espírito Emmanuel, no
livro Caminho, Verdade e
Vida, psicografado por
Francisco Cândido Xavier
(Lição 170: “Domínio
Espiritual”),
afirma-nos: “Nos transes
aflitivos a criatura
demonstra sempre onde se
localizam as forças
exteriores que lhe
subjugam a alma”. E,
como mais elevada
companhia, cita a do
próprio Criador junto de
nós, como sempre esteve
junto do Cristo,
conforme atestam suas
palavras em João, 16:32:
“Não estou só, porque o
Pai está comigo”.
Se também estivermos em
perfeita sintonia com
Jesus, o Pai também
estará conosco, assim
como todos os Espíritos
que Ele destinou para
nos instruir, testar o
nosso equilíbrio,
evoluir conosco.
É a lei de solidariedade
- junto à de justiça,
amor e caridade - que
rege os nossos destinos
e nos solicita,
permanentemente, o bom
uso do livre-arbítrio, a
fim de que as boas
influências espirituais
se reflitam em nossos
pensamentos, palavras e
atos. Por isso, a
sabedoria popular já
afirma: “Dize-me com
quem andas e te direi
quem és”.