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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 373 - 27 de Julho de 2014

JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)

 
 
 

Os Espíritos intervêm em nossas vidas


Afora aquelas pessoas que não creem na sobrevivência da alma após a morte do corpo físico, muitas outras existem que imaginam ser a desencarnação a separação definitiva entre os chamados vivos e os mortos.

Algumas narrações evangélicas parecem confirmar essa última suposição. Em Lucas (16:27-31), Jesus narra a parábola de Lázaro, o mendigo, e do homem rico. Após a desencarnação de ambos, o último pede ao Espírito Abraão para enviar Lázaro, que gozava das bem-aventuranças celestes, para avisar os cinco irmãos do rico sobre os tormentos morais dos que, como este, desfrutaram egoisticamente das riquezas materiais quando encarnados.

Em resposta, ouve o seguinte: “Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos”. O rico então replica que se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Mas Abraão lhe diz: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Se essa parábola, ou mesmo a passagem evangélica em que Jesus pede para deixar “aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos” (Lucas, 9:60) significassem que não há qualquer possibilidade de comunicação com os Espíritos, não fariam sentido as narrativas de Mateus (18:3-4) e Lucas (9:28-36), nas quais Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João, condu-los a um alto monte e, ali, após o Cristo irradiar intensa luz, às vistas desses apóstolos, surgem os Espíritos Moisés e Elias, que conversam com o Mestre. A visão foi tão real que Pedro propôs a Jesus fazer três tabernáculos, um para este e os outros dois para Moisés e Elias (Mateus, 17:4).

Coube aos Espíritos superiores restabelecer a verdade sobre o intercâmbio entre os dois planos de uma mesma existência: a física e a espiritual. Na questão 459 de O Livro dos Espíritos, somos informados de que os Espíritos influem de tal modo em nossas vidas que, geralmente, eles nos “dirigem”.

Nossa alma é um Espírito que pensa. E, muitas vezes, vários pensamentos nos ocorrem simultaneamente sobre um mesmo assunto. É aí que se misturam com os nossos os pensamentos dos Espíritos, conforme lemos na questão 460 da obra supracitada. A liberdade de ação cabe a nós, por isso, afirmam os Espíritos a Kardec, não é muito importante distinguirmos nossos próprios pensamentos dos que nos são sugeridos (op. cit., q. 461).

A capacidade de distinguir se um pensamento sugerido procede de um bom ou um mau Espírito é adquirida pelo estudo de cada caso. Como pode ser lido na questão 464: “Estudai o caso. Os bons Espíritos só para o bem aconselham. Compete-vos discernir”.

Orientam-nos, ainda, os Espíritos superiores, que podemos nos eximir da influência dos Espíritos que procuram nos arrastar para o mal “[...] visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem” (op. cit., q. 467).

A forma de neutralizar a influência dos maus Espíritos é a prática do bem e a confiança em Deus (op. cit., q. 469).

Se observarmos atentamente os inúmeros acontecimentos de nossas existências físicas, podemos encontrar, de forma incontestável, a confirmação das informações transmitidas pelos Espíritos a Allan Kardec. Sim, nossas vidas e as das pessoas que conhecemos, ou não, são ricas de fatos atestatórios das influências dos Espíritos sobre os chamados vivos. E a destes sobre aqueles também é normal, embora nem sempre conscientes disso, assim como as influências dos encarnados entre si, que também podem ser ostensivas ou ocultas.

Filho de pai espírita convicto, embora este tenha falecido precocemente, aos cinquenta e três anos, quando tínhamos onze anos, aos vinte anos iniciamos, de fato, nossa participação no Movimento Espírita do Rio de Janeiro. Por várias décadas, ansiávamos por ter uma demonstração patente da sobrevivência do Espírito paterno, embora tenhamos tido sonhos vagos com ele. Casamo-nos e... nada. A esposa, médium vidente, após alguns anos de casados, afirmou-nos tê-lo visto em certa ocasião e, ao perguntar-lhe, mentalmente, se ele ficaria conosco, respondeu-lhe que sim, espiritualmente.

Os anos passaram, a vontade de receber notícias do pai inesquecível permaneceu, mas também permanecemos calado. Jamais havíamos falado com ninguém sobre esse desejo. Desde que nos casamos, e há mais de vinte anos, cultuamos o Evangelho no lar. Durante esse período, sempre ouvimos de nossa companheira a notícia de que temos um mentor espiritual, mas nunca fizemos qualquer correlação deste com a figura paterna. Até que, há alguns meses, a esposa tornou a vê-lo e, discretamente, transmitiu-nos mediunicamente a seguinte mensagem: “Meus filhos queridos, os tenho acompanhado por todos esses anos. Presenciei o renascimento de cada um dos seus três filhos e fui encarregado de ser o mentor espiritual do Evangelho no lar de sua família. Deixo aqui o meu abraço para todos vocês...” E identificou-se.

Era demais; a Espiritualidade coroava-nos a paciência da espera de mais de trinta anos com a mensagem daquele que, em vida, na curta convivência dos nossos onze anos, tínhamos como o modelo de honestidade, de elevação moral e de pai ideal. Pouco tempo após, viajamos para o Rio de Janeiro e, abrigados na casa materna, recebemos a ligação de um primo que mora em Niterói. Espontaneamente, falou-nos ter assistido a uma reunião mediúnica em Minas Gerais, na casa da esposa de seu irmão. Esta senhora, também médium vidente e de psicofonia, embora sem nunca ter conhecido nosso pai, afirmou para todos os presentes a uma reunião do culto do Evangelho em seu lar que fora informada sobre a situação de diversos Espíritos familiares desencarnados. Concluiu afirmando: “De todos, o que está em melhor situação espiritual é o Sr. Sebastião”. E o identificou como tio do meu primo e meu inesquecível pai.

É como disse um dia Chico Xavier: “o telefone toca de lá para cá e não de cá para lá”. Quando os Espíritos nos julgam merecedores, se apresentam para nós, e se fazem conhecer, mas é preciso ter “olhos para ver e ouvidos para ouvir”, como falava Jesus. Por isso, dizia Kardec que o Espiritismo não é Ciência, no sentido comum dessa palavra. É Ciência de observação. Embora também se lhe aplique o método experimental, requer todo um procedimento que demanda esforço, crescimento espiritual. “Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual”.  (KARDEC, Allan. A Gênese. 22. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980, cap. I, item 16, p. 21).

Há poucos anos, participando de uma atividade de pesquisa na Biblioteca de Obras Raras, na FEB/Brasília, tivemos a felicidade de ler artigos de um “ex-inimigo do Espiritismo”: César Lombroso, o famoso psiquiatra e antropologista italiano, criador de uma tese famosa, utilizada ainda hoje, pela ciência criminológica, para identificar, pelos caracteres psicofísicos, a tendência de uma pessoa às atitudes criminosas, além de outras tendências. Era, então, César, materialista convicto (LOMBROSO, César. Hipnotismo e Mediunidade. Trad. Almerindo Martins de Castro. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1974, p. 38) até ter resolvido participar de algumas reuniões mediúnicas em casa de médium famosa, Eusápia Paladino, que materializou o Espírito da mãe de Lombroso. Este ficou tão emocionado e estupefato com a presença e expressões maternas, que não teve mais qualquer dúvida: o Espírito de sua mãe viera dar-lhe a certeza da imortalidade da alma (op. cit., p. 56).

A partir desse dia, Lombroso se tornou um dos mais fervorosos divulgadores da Doutrina Espírita e autor da obra Hipnotismo e Mediunidade, traduzida pela Federação Espírita Brasileira, em que enfoca, à luz da Ciência espírita, a realidade dos fenômenos mediúnicos.

Na obra E a Vida Continua..., cap. 25, “Nova diretriz”, ditada pelo Espírito André Luiz a Francisco Cândido Xavier, é narrado o caso da influência, mente a mente, entre o Espírito Evelina Serpa e seu ex-marido, Caio Serpa, que ainda se encontrava encarnado.

A esposa desencarnada buscava atuar sobre os pensamentos de Caio, objetivando influenciá-lo na decisão de consorciar-se com Vera, jovem por quem ele se apaixonara, mas se encontrava indeciso entre assumir ou não um compromisso de maior responsabilidade, como o de um segundo casamento. O casamento entre Caio e Vera ajudá-los-ia a se reajustarem ante a lei de causa e efeito, como de fato ocorreu.

A influência dos Espíritos pode, entretanto, ser boa ou má. Os maus inspiram-nos maus pensamentos, “sopram a discórdia” entre nós, insuflam-nos as “más paixões” e nos “exaltam o orgulho”. Os bons Espíritos inspiram-nos bons pensamentos, fazem-nos todo o bem que podem e se rejubilam com as nossas alegrias. Os nossos males morais os afligem mais do que os físicos. (O Livro dos Espíritos, q. 486 e 487.)

Temos, ainda, além da proteção dos parentes e amigos que nos precederam na “outra vida”, a do nosso Espírito protetor, comumente chamado anjo de guarda. (Op. cit., q. 489 e seguintes.) Todo o nosso relacionamento com os Espíritos está na base da sintonia. Se nos ligarmos aos maus, os bons se afastam, se cultivarmos o bem, estes se aproximam e aqueles se afastam ou se convertem ao bem. Não foi por outra razão que Jesus nos recomendou: “Vigiai e orai, para não entrardes em tentação” (Mateus, 26:41; Marcos, 14:38).

O Espírito Emmanuel, no livro Caminho, Verdade e Vida, psicografado por Francisco Cândido Xavier (Lição 170: “Domínio Espiritual”), afirma-nos: “Nos transes aflitivos a criatura demonstra sempre onde se localizam as forças exteriores que lhe subjugam a alma”. E, como mais elevada companhia, cita a do próprio Criador junto de nós, como sempre esteve junto do Cristo, conforme atestam suas palavras em João, 16:32: “Não estou só, porque o Pai está comigo”.

Se também estivermos em perfeita sintonia com Jesus, o Pai também estará conosco, assim como todos os Espíritos que Ele destinou para nos instruir, testar o nosso equilíbrio, evoluir conosco.

É a lei de solidariedade - junto à de justiça, amor e caridade - que rege os nossos destinos e nos solicita, permanentemente, o bom uso do livre-arbítrio, a fim de que as boas influências espirituais se reflitam em nossos pensamentos, palavras e atos. Por isso, a sabedoria popular já afirma: “Dize-me com quem andas e te direi quem és”.


 


 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita