Em carta publicada nesta mesma edição, o leitor
Francisco Tangarife, de Cali,
Colômbia, enviou-nos as
seguintes perguntas:
Buen dia, por favor me
ayudan con las siguientes
preguntas:
En que momento y bajo que
circunstancias se da el
proceso de individualizacion
del principio inteligente?
Se puede considerar ese
proceso como evolucion del
principio inteligente o se
da a causa del determinismo
Divino?
Muchas gracias por su ayuda.
Francisco Tangarife.
Lembremos de início que os
Espíritos são os seres
inteligentes da criação.
“São eles obra de Deus”,
diz-nos a questão 77 d´O
Livro dos Espíritos.
Mas, diferentemente do que
pensamos, eles não surgem
assim, de repente, prontos e
acabados, pois são, em
verdade, o produto de uma
elaboração a que o princípio
inteligente se submete, em
uma série de existências que
precedem o período a que
chamamos Humanidade.
O assunto é tratado na questão 607 da obra
mencionada:
– Dissestes que o estado da alma do homem, na sua origem,
corresponde ao estado da
infância na vida corporal,
que sua inteligência apenas
desabrocha e se ensaia para
a vida. Onde passa o
Espírito essa primeira fase
do seu desenvolvimento?
“Numa série de existências que precedem o período a que chamais
Humanidade.”
(O Livro dos Espíritos,
607.)
– Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo
sido o princípio inteligente
dos seres inferiores da
criação, não?
“Já não dissemos que tudo em
a Natureza se encadeia e
tende para a unidade? Nesses
seres, cuja totalidade
estais longe de conhecer, é
que o princípio inteligente
se elabora, se individualiza
pouco a pouco e se ensaia
para a vida, conforme
acabamos de dizer. É, de
certo modo, um trabalho
preparatório, como o da
germinação, por efeito do
qual o princípio inteligente
sofre uma transformação e se
torna Espírito. Entra então
no período da humanização,
começando a ter consciência
do seu futuro, capacidade de
distinguir o bem do mal e a
responsabilidade dos seus
atos. Assim, à fase da
infância se segue a da
adolescência, vindo depois a
da juventude e da madureza.
Nessa origem, coisa alguma
há de humilhante para o
homem. Sentir-se-ão
humilhados os grandes gênios
por terem sido fetos
informes nas entranhas que
os geraram? Se alguma coisa
há que lhe seja humilhante,
é a sua inferioridade
perante Deus e sua
impotência para lhe sondar a
profundeza dos desígnios e
para apreciar a sabedoria
das leis que regem a
harmonia do Universo.
Reconhecei a grandeza de
Deus nessa admirável
harmonia, mediante a qual
tudo é solidário na
Natureza. Acreditar que Deus
haja feito, seja o que for,
sem um fim, e criado seres
inteligentes sem futuro,
fora blasfemar da sua
bondade, que se estende por
sobre todas as suas
criaturas.”
(L.E., 607 – a.)
– Esse período de humanização principia na Terra?
“A Terra não é o ponto de
partida da primeira
encarnação humana. O período
da humanização começa,
geralmente, em mundos ainda
inferiores à Terra. Isto,
entretanto, não constitui
regra absoluta, pois pode
suceder que um Espírito,
desde o seu inicio humano,
esteja apto a viver na
Terra. Não é frequente o
caso; constitui antes uma
exceção.” (L.E., 607 – b.)
No cap. VI do livro A Gênese, Galileu
(Espírito) confirma o que
acabamos de ler afirmando
que o Espírito não chega a
receber a iluminação divina,
que lhe dá o livre-arbítrio,
a consciência e a noção de
seus altos destinos, sem
haver passado pela série
divinamente fatal dos seres
inferiores, entre os quais
se elabora lentamente a obra
de sua individualização.
Apenas a contar do dia em
que o Senhor lhe imprime na
fronte o seu tipo augusto, o
Espírito toma lugar no seio
das humanidades.
Gabriel Delanne e outros autores, como André
Luiz, ratificaram esse
entendimento.
Anotamos na obra de Delanne as informações que
abaixo reproduzimos:
Nos organismos inferiores, o
princípio anímico só existe
em estado impessoal difuso,
pois o sistema nervoso não
está diferenciado.
(A Reencarnação, tradução de
Carlos Imbassahy, FEB, pág.
71.)
À medida que o sistema
nervoso adquire mais
importância, as
manifestações instintivas
variam e apresentam
complexidade maior.
(Obra citada, ibidem.)
Enquanto a vida se apresenta
difusa, como no caso dos
animais inferiores, e
enquanto todas as células
podem viver individualmente,
sem auxílio de outras, o
princípio inteligente mal se
revela nítido, visto que nos
seres rudimentares apenas se
constata a irritabilidade,
isto é, a reação a uma
influência exterior e
nenhuma sensibilidade
distinta. Mas, logo que
surge o sistema nervoso,
desde o instante em que as
funções animais nele se
concentram, a comunidade
viva transforma-se em
indivíduo, pois a partir daí
o princípio inteligente
assume a direção do corpo e
manifesta a sua presença com
os primeiros clarores do
instinto.
(A Evolução Anímica, pág. 96.)
A maior parte dos animais vertebrados possui um
sistema nervoso bastante
desenvolvido. Seu sistema
nervoso central é composto
pelo cérebro e medula
espinal. Com base em
Delanne, podemos deduzir que
é neles, nos animais
vertebrados, que o princípio
inteligente é
individualizado e pode, por
conseguinte, ser chamado de
“alma”.
Assim, o chimpanzé é dotado de "alma". Claro que
estamos falando de alma de
animal, diferente da alma
humana. Segundo André Luiz,
a alma dos animais não é
capaz de gerar pensamento
contínuo, que é um atributo
inerente à “alma” humana ou
Espírito, ou seja, um ser
que já pertence ao seio da
Humanidade.
*
Quanto à segunda pergunta, parece-nos claro que
o progresso contínuo é
inerente aos seres, aos
povos e aos mundos. Essa
marcha ascendente obedece a
uma das leis naturais que
regem a vida – a Lei do
Progresso –, que é tratada
no cap. VIII, questões 776 e
seguintes, d´O Livro dos
Espíritos. Trata-se,
portanto, de um determinismo
divino a que nem mesmo os
Espíritos, embora dotados de
livre-arbítrio, podem fugir.
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