VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP
(Brasil)
|
|
A despedida
Com esse título,
a Polícia
Militar do
Estado de São
Paulo registrou
em vídeo um
episódio
dramático
envolvendo
ex-presidiário
que, sentindo
aproximar-se os
instantes
derradeiros da
vida, buscou
aliviar o peso
que seu coração
suportava. Este
fato ocorreu na
cidade de
Igarapava,
último município
ao norte
paulista às
margens da via
Anhanguera,
SP-330, na
divisa com o
Estado de Minas
Gerais.
Em seu leito de
dor, procurou
por sacerdote da
cidade e
conversou a
respeito de suas
necessidades.
Pediu para falar
com um certo
oficial da
Corporação, pois
queria pedir-lhe
perdão por algo
que ocorrera
durante os
tempos em que se
achava com a
saúde física
normal.
Atendendo ao
pedido que lhe
fora feito, esse
oficial foi até
a residência do
solicitante,
sendo recebido
pela esposa.
Sentado numa
cadeira à beira
da cama em que o
doente se
achava, o
policial, em
cena comovente,
segura a mão
daquele homem,
cujas condições
de saúde física
estavam
precariíssimas,
e ouve o relato
que lhe é feito:
–
“O que eu não
quero é ficar em
desacerto com
ninguém... Eu
vou sossegado,
quero viver a
minha vida
sossegado; quero
deixar certo que
não tem nada a
ver entre nós,
entendeu? Quero
paz, graças a
Deus”.
Ao final da
conversa e ao
despedir-se, o
policial lhe
diz:
–
“Fique em paz”.
E o doente lhe
responde:
–
“Graças a Deus,
eu estou!”.
Assim
encerrou-se o
triste e
comovente
diálogo de
alguém que
queria
recompor-se em
seus íntimos
sentimentos de
arrependimento,
com o oficial
beijando-lhe o
rosto, enquanto
desde o início
mantinha segura
uma das mãos do
doente que,
levantando o
outro braço, se
esforça para
colocá-lo sobre
as costas do
policial, num
gesto derradeiro
de afeto.
Uma semana após
este relato, o
doente faleceu.
Não houve
qualquer
preocupação no
sentido de
conhecer a
religião de
ambos os
protagonistas
deste insólito
acontecimento,
que por si só
traduz um
respeito
recíproco,
também inabitual.
Este é um
assunto
desconhecido.
Mas, onde existe
o respeito,
existe
fraternidade;
existindo
fraternidade,
existe o
reconhecimento
de um Poder
Divino, que
suplanta todos
os interesses de
ordem material.
Neste episódio
podemos
configurar
aquilo que o
Evangelho
estabelece como
prenúncio de
paz: estar bem
consigo próprio.
Recompor-se com
os possíveis
inimigos ou
simples
adversários é
uma necessidade
premente do
Espírito que
desperta, ainda
na Terra,
vislumbrando a
possibilidade de
um mundo melhor.
Belo gesto
demonstrado da
parte do
cidadão,
significativo
registro da
Corporação e ato
caridoso do
oficial, 1º Tem.
Helder,
comparecendo ao
leito de morte e
estendendo a mão
ao que estava
prestes a
partir, numa
troca harmoniosa
de fluidos: de
um lado, o que
necessita e pede
e, do outro, o
que pode e
assente.
Todos nós, que
estamos ainda a
caminho, podemos
acordar para
esse gesto
promissor, não
obstante os
desafios
contrários,
verdadeiros
obstáculos
presos ao
orgulho e à
vaidade, que
muitos corações
ainda trazem
arraigados
consigo.