DIAMANTINO
LOURENÇO
RODRIGUES DE
BÁRTOLO
bartolo.profuniv@mail.pt
Venade - Caminha, Viana
do Castelo
(Portugal)
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Destino do Homem
(?)
Frequentemente
se coloca a
questão da
condição humana
enquanto ser
vivente que
constrói
praticamente o
que utiliza,
desde os mais
simples objetos
às mais
sofisticadas
máquinas,
incluindo
aquelas que
servem para o
seu conforto e
bem-estar, como
as que utiliza
para o seu
próprio
sofrimento, por
meios violentos,
como são as
armas de guerra,
levando à
destruição total
se necessário.
Também é
verdade, mesmo
preferindo-se
uma análise
otimista, que a
sua evolução, em
termos da
preservação da
saúde e do
bem-estar, é uma
constante. O
meio-termo,
entre destruição
da própria vida
e a sua
preservação, não
parece, ainda,
estabelecido,
admitindo-se,
contudo, que a
preocupação pela
melhoria das
condições de
vida tem sido
mais evidente, o
que se justifica
com o aumento
demográfico da
população
mundial,
precisamente com
base em avanços
científicos e
tecnológicos a
favor da vida e
da longevidade
sadia.
Considerando,
portanto, que o
saldo é
positivo, para o
lado do “bem”,
importa, apesar
disso, insistir
na ideia segundo
a qual o homem
não deverá ter o
direito de
provocar a sua
própria
destruição,
muito menos por
processos
violentos e até
hediondos, que
repugnam toda
uma civilização,
que se deseja
tolerante e
humanamente
dignificada.
Neste domínio,
aumento da
população,
atualmente,
Portugal é uma
infeliz exceção,
porque a
população está a
diminuir de tal
forma que em
2050 se prevê
uma redução de
cerca de 25%,
sendo certo que
a natalidade é a
das mais baixas
da União
Europeia; o
número de idosos
vem aumentando e
a desertificação
é uma realidade
que nos está a
atormentar.
O destino do
homem não pode
ser a sua
autodestruição,
pelo contrário,
tudo deverá ser
feito para que
sejam
abandonados os
métodos da
violência,
qualquer que
esta seja, e
desenvolvidos
através das boas
práticas, todos
aqueles que
conduzem às
situações
verdadeiramente
humanistas.
O tempo das
cavernas, da
marcação do
território e da
posse da fêmea
não é compatível
com uma
sociedade da
igualdade, de
deveres e de
direitos, com a
dignidade das
pessoas e com os
valores
humanistas que
deveriam reger o
mundo.
É certo que a
ciência e a
técnica ainda
não penetraram
no mais interior
que o ser humano
possui, nem
sequer em toda a
sua parte física
conseguiram
descobrir e
resolver muitos
e graves
problemas
patológicos,
muito menos no
âmbito
espiritual se
conseguiu
qualquer
descoberta
impactante. O
mistério
continua e até
parece estar a
interessar pouco
os cientistas
positivistas.
A dimensão
física, corpórea
ou espacial do
homem é uma
evidência que
ninguém pode
negar, e que se
acompanha,
praticamente,
desde a
concepção até à
morte da pessoa
que, ao longo da
vida física, se
desenvolve
através de um
corpo, com a
configuração
humana, com uma
determinada
regularidade e
perfeição, que
esse corpo
apresenta, em
determinadas
partes, uma
fisionomia que
permite um
reconhecimento
ao longo dos
anos e até
depois da morte
física. Em suma,
o corpo, parte
material do ser
humano, com um
princípio e um
fim.
A dimensão
espiritual
(principalmente
para quem nela
acredita) começa
por ser
inefável, não
tem rosto,
integra-se (ou
não?) num corpo,
este com uma
identidade
própria e que o
acompanha ao
longo da vida. A
alma, espírito
ou qualquer
outra
designação, tem
um princípio e
um fim (ou
não?). Então
considerando as
duas dimensões
do homem, qual
é, afinal, o seu
destino?
Trata-se de uma
questão
complicadíssima,
à qual não se
pretende, aqui,
responder, mas
tão-só, refletir
sobre ela.
O homem, assim
mesmo
considerado, nos
contornos
físicos que se
conhecem e na
sua constituição
biológica até ao
presente
desvendada,
ainda tem
aspetos que não
são
completamente
esclarecidos. O
funcionamento do
cérebro, por
exemplo,
revela-se, por
enquanto, em
grande parte,
algo misterioso,
ao contrário da
maioria dos
restantes
órgãos, internos
e externos.
Portanto, o
conhecimento do
homem total
ainda não é
possível, se é
que algum dia
tal venha a
acontecer. Por
enquanto pode-se
concordar com o
seguinte:
«Desde que
existe, o Homem
oferece-se em
espetáculo a si
próprio. De
fato, há dezenas
de séculos que
outra coisa não
faz senão
olhar-se a si
mesmo. E, no
entanto, mal
começa a
adquirir uma
visão científica
da sua
significação na
física do Mundo.
Não nos
admiremos desta
lentidão no
despertar.
Muitas vezes,
nada há tão
difícil de
perceber como o
que deveria
saltar-nos aos
olhos» (CHARDIN,
1970:7).
A ciência e a
técnica (um
pouco à
semelhança da
justiça), em
alguns domínios,
avançam de forma
relativamente
lenta, ou então,
sabiamente
cautelosas,
apesar dos
sucessos que ao
longo do último
século têm sido
evidentes e
animadores em
diversas áreas,
embora numas
mais do que
noutras.
Há, porém,
campos de
possíveis e
futuros
conhecimentos
onde pouco ou
nada se
conseguiu,
porque,
praticamente,
permanecem
autênticos
dogmas, e que
apenas se fala
neles para
discussão, por
vezes polêmica,
ou para reforçar
determinadas
convicções, seja
pela negativa,
seja pela
positiva.
Por enquanto
será, ainda,
forçoso
considerar-se “campo
de investigação
científica”
aquilo que não
se conhece, que
não se sabe como
vir a conhecer e
que nem sequer
se pode
estabelecer
objeto de
estudo,
metodologia e
objetivos.
Abordar pelas
vias científicas
e técnicas o
destino do homem
é, praticamente,
um risco que
ninguém,
materialmente
responsável,
quererá assumir,
ao contrário de
outras previsões
e estimativas
que se podem
estabelecer
relativamente a
certas áreas
científicas,
eventualmente, e
ainda assim,
muito poucas e a
curto prazo.
No que respeita
ao destino do
homem, referente
ao seu corpo
físico, ao seu
volume corpóreo,
como alguns
preferem
afirmar, as
dúvidas,
praticamente,
não se colocam,
seja pela
inumação, pela
incineração ou
práticas de
conservação de
cadáveres como o
embalsamento. Na
verdade o corpo
físico morre,
deixa de ter
vida e,
excetuando
situações de um
ou outro
‘milagre’ ou
fenômeno de
ressuscitação,
parece que tudo
acaba com a
morte cerebral
da pessoa
possuidora do
respetivo corpo.
A reflexão
continuará
polêmica, sem
conclusões
objetivas e
validadas pela
ciência, há que
reconhecer,
embora se deva
respeitar a
posição dos que
acreditam noutro
fim.
Apesar de
polêmico, o tema
é compensador e
estimulante, na
medida em que
deverá conduzir
cada homem, cada
grupo e cada
sociedade a uma
reflexão
profunda, sobre
se vale a pena,
ou não, a
prática de
atitudes
extremamente
nocivas ao bem
da humanidade,
quando quase
ninguém sabe
qual é o seu
destino último,
ou, em última
instância,
duvida desse
mesmo fim.
Um dos grandes
mistérios do
Homem pode
encontrar-se
neste fim último
a atormentá-lo
de tal maneira
que, justamente,
por
incapacidade de
o desconhecer,
levá-lo a
cometer as
barbáries mais
hediondas, para
além de outras
causas como o
egoísmo, a
vingança, os
fanatismos,
entre outros
comportamentos,
o que, apesar de
tudo, não é
justificável.
A azáfama das
sociedades
atuais,
pressionadas
pelos valores e
contravalores,
objetivos,
estratégias e
supremacias em
todos os
domínios, não
deixa tempo para
o pensamento
livre e
ponderado sobre
o destino do
próprio Homem.
Tudo passa a
correr, é
preciso chegar
primeiro a uma
qualquer meta,
atingir
determinado
objetivo.
Cada um deve
mostrar ao outro
que é melhor.
Vive-se
embriagado pelo
PODER, pelo
PRAZER, pelo
TER, e também
nesse sentido se
deve refletir
que: «O homem
moderno vive, em
geral, à
superfície de si
mesmo e das
coisas, no
frêmito
deslumbrante da
luz e som, que
são os tubos de
néon, o valor
das máquinas, o
acotovelar da
gente. Embora
igualmente
inteligente e
mais
desenvolvido que
o homem dos
outros séculos,
o homem do
século XX não
chega, as mais
das vezes, a
pensar
verdadeiramente,
porque a sua
atenção é
distraída
continuamente
pelo
deslumbramento
do mundo
sensível que o
cerca, numa
sucessão
entontecedora de
imagens de
filme,
perpassando
ininterruptamente
ante o seu
olhar»
(MARTINS,
1961:159).
Como
frequentemente
se firma, também
aqui se pode
aplicar o mesmo
princípio: “à
política o que é
da política”;
“à justiça o
que é da justiça”;
“à ciência o
que é da ciência”;
“ao espírito
o que é do
espírito” e
“a Deus o que
é de Deus”,
obviamente para
quem acreditar
na dimensão
espiritual do
homem, tal como
aqueles que
apenas acreditam
na dimensão
corpórea e que
são igualmente
respeitados.
Refletir aqui
sobre a
possibilidade de
o homem ter dois
destinos ou fins
– o fim do corpo
que pela morte
física
desaparece; a
imortalidade do
espírito ou alma
que pela
transcendência
se junta a uma
entidade divina:
Deus. Trata-se
de uma
“discussão muito
complexa”.
O ser humano não
pode ser
estudado como
qualquer outro
animal, objeto
ou coisa e,
nessa medida,
haverá aspectos
que devem ser
mais cuidados. É
possível, até
porque não se
afigura que já
tenha sido
demonstrado o
contrário, que
para além da
constituição
corpórea, nela
se integre uma
outra
característica,
específica da
espécie humana
que, no final da
morte física, se
liberte do corpo
e se encaminhe
para um outro
destino! Este
poderá ser o
mistério da
condição humana
que não está
provado, mas
também não está
negado em
absoluto.
Adotando-se esta
dúvida, pelo
menos para
alguns,
considere-se que
a constituição
humana é
composta por
alma e corpo.
Quanto ao corpo,
ao fim de um
certo tempo,
naturalmente que
morre e
desaparece para
não mais surgir.
No que à alma
respeita, o seu
destino não será
exatamente o
mesmo, todavia,
não é possível,
com um mínimo de
certeza, indicar
qual será.
Ora, se se
respeita o corpo
até ao seu
desaparecimento
físico, igual
exigência se
deve colocar
relativamente à
alma, com a
diferença de que
esta deverá
merecer a
respeitabilidade
para sempre, e,
para os que
acreditam nesta
dimensão
espiritual,
então, será
imortal. Com
esta lógica, o
destino do homem
terá uma
componente de
imortalidade,
junto do ente
Divino que lhe
deu origem:
Deus.
Recolocar o
homem no seu
posicionamento
correto no mundo
não se trata de
uma teoria
criticada há
alguns séculos,
quando se
defendeu o
antropocentrismo,
ignorando-se,
então, Deus.
Pretende-se,
aqui, uma nova
interpretação e
um papel de
destaque para o
homem,
precisamente em
contraste com os
restantes
animais e com a
natureza em
geral. De fato,
de acordo com o
raciocínio,
segundo o qual:
«Longe de ser
um só a mais no
mundo, o homem é
o centro do
universo, o
ponto para tudo
o mais converge
e que lhe dá um
sentido.»
(Ibid.
1961:208).
Indiscutivelmente
o ser humano é
diferente,
superior,
dominador em
toda a face da
Terra, pelo
menos em relação
ao que até hoje
se conhece,
excetuando,
seguramente, as
forças da
natureza que,
imprevisivelmente,
provocam as
maiores
catástrofes e
contra as quais
o homem ainda
não está
devidamente
preparado para
as enfrentar e
vencer.
Também por este
motivo o seu
destino último
tem de ser
diferente, no
que se refere à
sua dimensão
espiritual,
aceitando-se que
ela existe.
Admitindo,
igualmente, que
a natureza se
deve à
intervenção de
um ente Divino,
que até pode ser
ela própria,
então também se
poderá aceitar
que Homem e
Natureza fazem
parte de um ser
superior que, no
final de cada
ciclo, se podem
fundir, ou ainda
que,
paulatinamente,
o homem se vai
integrando nessa
mesma Natureza.
Será este o
destino do
Homem?
Poder-se-ia
dissertar sobre
este tema, que a
conclusão seria
difícil ou mesmo
impossível para
uns, no que
respeita ao
destino e
imortalidade da
alma e,
aparentemente,
mais fácil para
outros,
principalmente
para os que
acreditam numa
alma ou espírito
que, desligado
do corpo, se
juntará ao ente
Divino que o
criou.
Cientistas,
técnicos e
crentes muito
dificilmente
estarão de
acordo, mas
também não têm
que estar em
confronto
permanente,
desde que
respeitem os
seus papéis e
convicções.
Afinal, ciência,
técnica e
religião apenas
constituem
dimensões
diferentes do
ser humano, o
que também por
aqui o distingue
dos restantes
seres que
existem na Terra
e acabam por ser
o motivo que
justifica a
superioridade
que há pouco se
mencionou. Ainda
que por
raciocínio
diferente,
pode-se chegar a
uma conclusão
interessante,
que aponta para
um destino
último do homem:
«No plano
histórico, na
maior parte das
culturas se
observa que o
homem não se
fecha em si
mesmo, não
alcança na sua
visão das coisas
somente a
realidade
material e o que
o circunda - hic
et nunc -, mas
crê também num
outro mundo e
está orientado
para ele,
confiante de
poder fazer
parte dele um
dia» (MONDIN,
1980:190).
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