JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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O reino
do Cristo
"(...)
Respondeu-lhe
Jesus: Meu reino não é
deste mundo. Se o meu
reino fosse deste mundo,
a minha gente houvera
combatido para impedir
que eu caísse nas mãos
dos judeus; mas o meu
reino ainda não é
daqui." (João, 18:36.)
Costumamos denominar
rei as pessoas que
se destacam
extraordinariamente em
alguma coisa. Assim é
que há o rei Roberto
Carlos, o rei Pelé, o
rei do gado, e assim por
diante. Há também, até
hoje, os nobres por
natureza: a rainha da
Inglaterra, o rei da
Espanha... Enfim, há
milênios foi instalado o
reinado na Terra como
representante da
Divindade entre os
diversos povos.
Na época em que Jesus
esteve entre nós era
esperado o Messias, que
viria como um rei para
dominar todos os demais
reis do Mundo, no
conceito de quase todos
os judeus. Talvez por
isso eles não tenham
aceitado aquele "rei"
diferente, nascido numa
tosca estrebaria, filho
de modesto carpinteiro.
O quê? Então o Messias,
o Salvador, teria
nascido pobre e, ao
crescer, pregava a
humildade e o
desprendimento dos bens
da Terra? Não dava para
acreditar, pois o
imaginavam descendo do
céu num "carro de fogo",
poderoso, rico e se
impondo pela força sobre
todas as nações.
Esse conceito de realeza
terrestre Jesus
demonstrou com seus
exemplos e palavras que
não se lhe aplicavam.
Seu reinado era outro,
conforme vemos no item
4, cap. II, de O
Evangelho segundo o
Espiritismo: o
reinado moral. Por ele,
o Cristo mantém seu
poder além desta vida.
Antes da famosa
entrevista com Pilatos,
havia dito Jesus:
Deixo-vos a paz. Minha
paz vos dou. Não vo-la
dou como o Mundo a dá
(João, 14:27). Aquele
que não crê na vida
futura, ou dela duvida,
pensa e age somente em
função das paixões
materiais, mas não
desfruta de uma paz
real. A sua é a "paz" do
reino do Mundo, cheia de
inquietações, de
tormentos, de
incertezas. Mas a paz do
Cristo, que não se
aplica aos que duvidam
ou descreem de suas
palavras, é a dos que
adquiriram a certeza na
vida futura e, pois,
apenas relativa
importância dão aos bens
terrenos.
Aqui, talvez o leitor
pergunte: Mas se o reino
do Cristo não é deste
Mundo, por que Ele
afirmou, no Sermão do
Monte: Bem-aventurados
os mansos, porque
herdarão a Terra?
(Mateus, 5:5). É
verdade, mas antes Ele
diz: Bem-aventurados os
pobres de espírito,
porque deles é o reino
dos céus. (Id., 5:3).
Por pobres de espírito
devemos entender as
pessoas simples,
sensíveis, devotadas ao
próximo. Espíritos
moralmente superiores.
Por mansos,
classificamos as pessoas
que se esforçam em viver
harmoniosamente, em
praticar o bem. A Terra
futuramente lhes
pertencerá, quando o
homem compreender que
somente combatendo o
egoísmo e a brutal
desigualdade social dos
dias atuais poderá
conviver pacificamente
com seu semelhante.
Poderá, enfim, herdar um
Mundo renovado e mais
feliz.
As afirmações de Jesus
não são contraditórias.
Ele afirma, em outra
ocasião, que seu reino
"ainda" não é deste
Mundo (João, 18:36),
entretanto não diz que
“esse reino” não pode
estar e nunca estará
aqui. Quando aprendermos
a ser, como Ele, mansos
e humildes de coração,
viveremos felizes no seu
reino de amor, tanto na
Terra como nos Planos
elevados do Mundo
Espiritual.
Para vivermos no reinado
do Cristo, precisamos,
desde logo, praticar a
abnegação, o
desinteresse, o amor ao
próximo, a humildade.
Quando ingressarmos no
Além, não nos será
perguntado quem fomos,
que posição social
ocupamos, quanto
possuíamos em bens
terrenos, mas o que
fizemos, quantas
lágrimas secamos, quanto
progredimos moralmente.
Só então ingressaremos
na "Humanidade Real",
conforme afirma o
Espírito Emmanuel, pela
psicografia de Francisco
Cândido Xavier, na obra
Fonte Viva, cap.
127, Ed. FEB.
O reino do Cristo,
portanto, ainda não é
deste Mundo, ou seja,
não se assemelha às
glórias efêmeras dos
conquistadores
terrestres, nem às suas
riquezas materiais, mas
pertence aos que
comungam dos seus
preceitos morais e se
esforçam por seguir seus
exemplos luminosos.
No soneto abaixo, que
nos foi inspirado há
alguns anos, encontramos
algumas normas para nos
candidatarmos a, um dia,
ingressar no reino do
Cristo. Para tal, não se
pede muito de nós. Basta
querermos e agir; o
merecimento virá com
nossas obras.
Com Cristo
Aquele que deseje
unir-se ao Cristo
Com todo o resplendor de
sua glória
Precisa refletir
bastante nisto:
A vida neste mundo é
transitória.
Previna-se de todo o
imprevisto
Ao longo de tão árdua
trajetória
Porque quem assumir tal
compromisso
Terá de merecer sua
vitória.
Terá de se calar ante a
maldade
Dos que não lhe
compreendem o ideal
Certo de que Jesus é a
verdade.
E o Cristão novo, nessa
nova lida,
Triunfará da senda atroz
do mal
Para viver com Cristo
nova vida.
Nada melhor para
concluirmos nossas
considerações sobre o
reino de Jesus do que as
palavras de Emmanuel
(op. cit. cap. 127). Em
mensagem, ele mostra-nos
vivamente a realeza
espiritual do Cristo
quando afirma:
"Apresentando o Cristo à
multidão, Pilatos não
designava um triunfador
terrestre... (...)
Traído, não se rebelara.
Preso, exercera a
paciência. Humilhado,
não se entregou a
revides. Esquecido, não
se confiou à revolta.
Escarnecido, desculpara.
Açoitado, olvidou a
ofensa. Injustiçado, não
se defendeu. Sentenciado
ao martírio, soube
perdoar. Crucificado,
voltaria à convivência
dos mesmos discípulos e
beneficiários que o
haviam abandonado, para
soerguer-lhes a
esperança. (...)".
Deu-nos Jesus-Cristo o
mais elevado exemplo de
dignidade humana.
Conclui Emmanuel, nessa
bela página, "(...) que
somente nas linhas
morais do Cristo é que
atingiremos a Humanidade
Real".
Aí está o roteiro. Nele
encontramos o reinado da
moral elevada acima de
todas as iniquidades que
ainda regem grande parte
das ações humanas.
Quando nos cansarmos das
"glórias" mundanas e,
arrependidos dos nossos
equívocos, buscarmos nos
esforçar para dominar
nossas más inclinações e
nos transformarmos
moralmente, conforme nos
aconselha Allan Kardec (O
Evangelho segundo o
Espiritismo, FEB,
cap. XVII), estaremos na
posse do reino do Cristo
aqui ou alhures.
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