O leitor Alex Gonçalves, em
carta publicada nesta mesma
edição, pergunta-nos:
-
Olá, o fato de alguns
médiuns cobrarem dinheiro
para "consultas espirituais"
e para operar curas, mesmo
que seja pouco e digamos que
seja para manter a casa
espírita, é algo errado?
Sim, é errado cobrar pelo
exercício da mediunidade,
sobretudo se seu objetivo
for a cura de uma pessoa.
Allan Kardec, o codificador
da doutrina espírita, foi
muito claro quando tratou
desse tema. Segundo ele,
os médiuns devem conceder ao
exercício da faculdade
mediúnica seu tempo livre,
seus momentos de lazer, sem
pretender com isso obter
nenhuma recompensa de ordem
material.
Essa orientação continua
mais atual do que nunca,
visto que a mediunidade, no
sentido com que o
Espiritismo a apresenta,
jamais poderá ser
transformada em profissão ou
fonte de renda.
Aliás, trata-se de uma
recomendação que remonta a
Jesus de Nazaré. “Restituí a
saúde aos doentes,
ressuscitai os mortos, curai
os leprosos, expulsai os
demônios. Dai gratuitamente
o que gratuitamente haveis
recebido”, eis o que o
Mestre recomendou aos seus
discípulos, querendo com
isso dizer que ninguém deve
cobrar por um dom – o dom da
cura – que o Pai nos
concedeu graciosamente.
A mediunidade, como uma luz
que brilha na carne, é
atributo do Espírito,
patrimônio da alma imortal,
elemento renovador da
posição moral da criatura
terrena, a quem ela
enriquece no capítulo da
virtude e da inteligência
sempre que se encontre
ligada aos princípios
evangélicos na sua
trajetória pela face do
mundo. “Os atributos
medianímicos – assevera
Emmanuel – são como os
talentos do Evangelho. Se o
patrimônio divino é desviado
de seus fins, o mau servo
torna-se indigno da
confiança do Senhor da Seara
da verdade e do amor.” (O
Consolador, item 389.)
Complementando a explicação,
afirmou Emmanuel:
“Multiplicados no bem, os
talentos mediúnicos
crescerão para Jesus, sob as
bênçãos divinas; todavia, se
sofrem o insulto do egoísmo,
do orgulho, da vaidade ou da
exploração inferior, podem
deixar o intermediário do
invisível entre as sombras
pesadas do estacionamento,
nas mais dolorosas
perspectivas de expiação, em
vista do acréscimo de seus
débitos irrefletidos”. (Obra
citada.)
Mediunidade – advertem os
mentores espirituais – não
basta só por si. É
imprescindível saber que
tipo de onda mental
assimilamos, para conhecer
da qualidade de nosso
trabalho e ajuizar de nossa
direção. O médium
moralizado, que encontra na
vivência evangélica a
conduta de vida, é uma
pessoa de bem, que procura
ser humilde, sincero,
paciente, perseverante,
bondoso, estudioso e
trabalhador. E cumpre o
mandato mediúnico com amor.
No exercício da mediunidade
com Jesus, ou seja, na
perfeita aplicação dos seus
valores a benefício da
criatura humana, em nome da
caridade, é que o ser atinge
a plenitude das suas funções
e faculdades, convertendo-se
em celeiro de bênçãos,
semeador da saúde espiritual
e da paz nos diversos
terrenos da vida humana.
Para que não existam dúvidas
com relação à pergunta
formulada pelo leitor, eis
algumas lições colhidas na
obra de Kardec, em que ele
reafirma o que foi acima
mencionado:
“O Espiritismo também
reconhece como profanação
chamar os mortos
levianamente, por motivos
fúteis e, sobretudo, para
fazer disto profissão
lucrativa.” (Revista
Espírita de 1863, Edicel,
págs. 140 e seguintes.)
“Tendo sido divulgado por
determinada sonâmbula que o
Espírito de Jobard lhe
havia dado uma comunicação
recomendando aos médiuns
cobrar as consultas dos
ricos e dá-las gratuitamente
aos pobres e aos operários,
Kardec resolveu, sem contar
a ninguém, fazer a seguinte
experiência: pediu a seis
médiuns que perguntassem a
Jobard se ele havia ditado
referida mensagem, tendo,
porém, o cuidado de não
contar a nenhum deles que a
mesma pergunta fora proposta
aos outros médiuns.
Recolhidas as comunicações
obtidas pelos médiuns sr.
Leymarie, sra. Costel, sr.
Rul, sr. Vézy, sra. Delanne
e sr. d’Ambel, em todas o
Espírito de Jobard desmentiu
a propalada comunicação e
reiterou sua convicção de
que a mediunidade não pode,
em nenhuma hipótese, ser
objeto de exploração
pecuniária.” (Revista
Espírita de 1864, Edicel,
págs. 368 a 374.)
“Comentando o resultado da
experiência, Kardec
reafirmou sua conhecida
postura contrária à
exploração da mediunidade,
lembrando que Jesus e seus
apóstolos não marcavam preço
às suas palavras nem aos
seus cuidados, conquanto não
tivessem renda com que
viver. Nossos esforços - diz
Kardec - tenderão sempre a
preservar o Espiritismo da
invasão da venalidade. O
momento presente é o mais
difícil, mas, à medida que a
doutrina for melhor
compreendida, essa invasão
será menos de temer.”
(Revista Espírita de 1864,
págs. 374 a 377.)
“O sr. Home foi intimado a
deixar Roma em três dias.
Mas, segundo Kardec, o sr.
Home não é rico e dirigiu-se
a Roma para aperfeiçoar-se
na arte da escultura. Kardec
lembra que Home poderia ser
muito rico, se quisesse
explorar sua notável
faculdade mediúnica. Ele
sabia, porém, que essa
faculdade lhe foi dada com
um fim providencial e seria
um sacrilégio convertê-la em
profissão. A mediunidade
séria não pode ser e jamais
será uma profissão.
Explorá-la é dispor de uma
coisa da qual não se é dono;
é desviá-la de seu objetivo
providencial.” (Revista
Espírita de 1864, págs. 33 a
35.)
“Referindo-se a uma senhora
dotada de notável faculdade
tiptológica e inteiramente
devotada à causa do
Espiritismo, Kardec
aproveita o ensejo para
explicar por que a faculdade
mediúnica não pode
constituir uma profissão ou
ser objeto de comércio.
Assevera, então, o
Codificador: I) A
mediunidade não é um
talento, e não existe senão
pelo concurso de um
terceiro. Se este se recusa,
não há mais mediunidade; a
aptidão pode existir, mas
seu exercício estará
anulado. II) Um médium sem a
assistência dos Espíritos é
como um violinista sem
violino. III) Não é apenas
contra a cupidez que os
médiuns devem pôr-se em
guarda. IV) Há um perigo, de
certo modo maior, pois a ele
todos estão expostos: é o
orgulho, que põe a perder um
grande número. V) O
desinteresse material não
tem proveito se não for
acompanhado pelo mais
completo desinteresse moral.
VI) Humildade, devotamento,
desinteresse e abnegação são
qualidades do médium amado
pelos bons Espíritos.”
(Revista Espírita de 1866,
págs. 75 a 77.)
“O desinteresse material é
um dos atributos essenciais
da mediunidade curadora.
Como a faculdade mediúnica
nada lhe custou, o médium
curador deve usá-la
gratuitamente. Diferente
será a posição dos
médicos-médiuns, porque o
exercício da medicina é uma
profissão que precisa ser
remunerada como qualquer
outra e foi adquirida a
título oneroso. Porque um
médico tornou-se médium e é
assistido por Espíritos no
tratamento de seus doentes,
não se segue que deva
renunciar à remuneração. Se
ele o fizer, viverá de quê?”
(Revista Espírita de 1867,
págs. 305 e 306.)
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