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Clássicos do Espiritismo
Ano 8 - N° 376 - 17 de Agosto de 2014
ANGÉLICA REIS
a_reis_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

Fatos Espíritas

William Crookes

(Parte 1)

Iniciamos nesta edição o estudo metódico e sequencial do clássico Fatos Espíritas, de William Crookes, obra publicada em 1874, cujo título no original inglês é Researches in the phenomena of the spiritualism.

Questões preliminares   

A. Que contém esta obra?

Ela apresenta os fatos espíritas que foram examinados rigorosamente à luz da ciência por William Crookes, um dos mais eminentes sábios do século 19, e por inúmeros outros investigadores dos fenômenos mediúnicos, que, com justa razão, devem encher de júbilo os espiritualistas e entristecer profundamente todos quantos, até então, só acreditavam na força e na matéria.
(Fatos Espíritas, Prefácio de Oscar D´Argonnel.)

B. Quais foram os sábios, além de Crookes, que pesquisaram os fatos espíritas?

Os fenômenos espíritas foram objeto de atenção no século 19 dos sábios mais ilustres do mundo, tais como Gully, Elliotson, Lodge, Challis, Morgan, Wallace, Varley, Lombroso, Zöellner, Carl du Prel, Charles Richet, Aksakof, Rochas e muitos outros. Físicos, químicos, matemáticos, astrônomos e fisiologistas atestaram a realidade dos fatos do Espiritismo, o que representou um golpe mortal na escola materialista. A existência da alma, que era apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade científica.
(Obra citada, Prefácio de Oscar D´Argonnel.)

C. Os médiuns deram a William Crookes o necessário apoio em suas pesquisas?

Sim. Ele próprio a isso se referiu seguinte nota: “Para ser justo a esse respeito, devo estabelecer que, expondo estes intentos a vários espiritualistas eminentes e a médiuns entre os mais dignos de confiança da Inglaterra, eles manifestaram perfeita confiança nos êxitos da pesquisa, se fosse lealmente prosseguida do modo pelo qual indiquei aqui, oferecendo-se para me ajudar com todo o poder ao seu alcance e pondo à minha disposição as suas faculdades particulares. Até ao ponto aonde cheguei, posso acrescentar que as experiências preliminares têm sido satisfatórias.”
(Obra citada, Introdução.) 

Texto para leitura

1. Observação preliminar  Embora esteja dito no preâmbulo que o livro que ora estudamos é uma tradução de "Researches in the Phenomena of Spiritualism", essa informação não é inteiramente exata. Em verdade, ele contém um capítulo inteiro, o último da obra de Crookes, capítulo esse intitulado "Notes of an Enquiry into the Phenomena Called Spiritual". Os demais vêm de outras fontes, embora sejam igualmente de autoria de Crookes. Como o leitor verá, o livro em exame contém também comentários de diferentes pesquisadores, mas obedece a um plano original feito por seu tradutor, Oscar D´Argonnel, que é, pois, não somente tradutor mas também o organizador da obra.

2. Prefácio de Oscar D´Argonnel – Publicando este livro temos em vista tão somente tornarem-se conhecidos aos leitores de língua portuguesa os fatos espíritas examinados rigorosamente à luz da ciência por um dos mais eminentes sábios do século – William Crookes. Deixamos de apresentar os rigorosos processos científicos adotados pelo ilustre experimentador, porque temos certeza de que as pessoas que os desejarem conhecer irão lê-los na obra original. Esses admiráveis fenômenos devem encher de júbilo os espiritualistas e entristecer profundamente todos quantos só acreditavam na força e na matéria.

3. Os fenômenos espíritas têm sido objeto de atenção dos sábios mais ilustres do mundo, tais como Crookes, Gully, Elliotson, Lodge, Challis, Morgan, Wallace, Varley, Lombroso, Zöellner, Carl du Prel, Charles Richet, Aksakof, Rochas e muitos outros. Como vemos, são os mais distintos físicos, químicos, matemáticos, astrônomos, fisiologistas, criminalistas, etc., os homens que atestam a realidade dos fatos do Espiritismo.

4. Essa atestação é um golpe mortal vibrado na escola materialista. A existência da alma, que era apresentada como um dogma de fé por todas as religiões e que a filosofia nos mostrava por palavras, é hoje, graças ao Espiritismo, uma verdade científica. Atualmente os sábios dizem que a alma existe porque a veem e tocam, conversam com ela e lhe tiram o retrato.

5. A prova científica da existência da alma e da sua comunicação conosco é o legado mais brilhante que o século 19 vai deixar ao vindouro.

6.
Introdução – Antes de apresentar os fatos espíritas observados rigorosamente à luz da ciência por William Crookes, julgamos necessário fazer o leitor conhecer quem é esse eminente sábio que, estudando o Espiritismo para saber de que lado se achava a verdade, se com os espiritualistas ou com os materialistas, não temeu, achando-a com os primeiros, tornar públicas as suas conclusões.

7. Para isso traduzimos resumidamente as seguintes palavras do Doutor Paul Gibier(1): “Aos 20 anos, Crookes publicava interessantes memórias sobre a luz polarizada; depois, foi um dos primeiros, na Inglaterra, a estudar, com o auxílio do espectroscópio, as propriedades dos espectros solar e terrestre. Deve-se a ele sérios trabalhos sobre a medida da intensidade da luz e engenhosos instrumentos: o fotômetro de polarização e o microscópico espectral, por exemplo. Os seus escritos sobre a química geral foram muito apreciados desde o momento em que apareceram”.

8. Eis outras informações extraídas do texto de Paul Gibier: É ele o autor de um tratado de análises químicas (Méthodes Choisies), hoje clássico. Devem-se-lhe numerosas pesquisas em Astronomia e principalmente sobre a fotografia celeste. Em 1855-56, a Sociedade Real de Londres, que o admitiu no número de seus membros ativos – em primeira votação – decretou-lhe um auxílio monetário para prosseguir em seus trabalhos sobre a fotografia da Lua. O governo da Rainha o enviou ultimamente a Orara para observar um eclipse.

9. Acrescentamos que ele, além disso, se ocupou de medicina e de higiene, do que dão testemunho os seus trabalhos sobre a peste bovina, entre outros. Mas duas descobertas têm sobretudo classificado Crookes entre os mestres da ciência moderna: o ilustre sábio era já distinto pela sua descoberta de um processo de amalgamação com o auxílio do sódio, processo que é empregado hoje na Austrália, na Califórnia e na América do Sul pela indústria metalúrgica do ouro, quando fez conhecer um novo corpo simples metálico: o Tálio.

10. Aprecia-se o valor de semelhante descoberta quando se sabe que o número de corpos simples conhecidos na série dos metais se elevava a cerca de cinquenta. Ele foi conduzido a essa preciosa descoberta pelos seus trabalhos sobre a análise espectral. Foi assim, de fato, que foram insulados o césio, o rubídio e o índio.

11. A segunda descoberta de Crookes vem corroborar o que avançamos; queremos falar da matéria radiante. A matéria aparece aos nossos sentidos sob três estados bem diferentes: sólido, líquido e gasoso. Existe, provavelmente, uma infinidade de estados da matéria, mas não conhecemos senão três. Crookes nos fez entrever um quarto. Por uma série de experiências, feitas com rara exatidão, demonstrou ele o estado entrevisto por Faraday, denominando-a matéria radiante.

12. Não queremos fazer o histórico dessas experiências tão importantes sob o ponto de vista filosófico da Química, da Física e do estudo da matéria em geral; em resumo, resulta disso que a matéria, em sua essência, deve ser una e que os corpos variados que caem sob os nossos sentidos imperfeitos não são senão um agrupamento, uma estrutura molecular especial da matéria, segundo a opinião do celebre químico Boutlerow, de São Petersburgo, que confirmou o que pôde verificar das experiências de Crookes sobre a força psíquica.

13. Crookes repetiu suas experiências sobre a matéria radiante em 1879 (setembro), no Congresso da Associação Britânica para o adiantamento das ciências, e em 1880, na Escola de Medicina de Paris e no observatório, a convite do Professor Würtz e do Almirante Mouchez. Os efeitos produzidos pela matéria nesse estado foram os mais surpreendentes e de uma força formidável, valendo um grande êxito para Crookes.

14. As poucas linhas precedentes darão, segundo esperamos, uma ideia do alto valor científico do homem que não temeu enfrentar o estudo dos fenômenos espíritas. Por isso, quando o ilustre membro da Sociedade Real anunciou no Quartely Journal que se ia ocupar dos fenômenos chamados espíritas, foi um grito geral: “Enfim! vamos pois saber como havemos de pensar”.

15. Mas desde os primeiros artigos, quando se viu Crookes admitir a realidade dos fenômenos e declarar que os tinha observado, pesado, medido, registrado, etc., o caso mudou de figura. Houve, sem dúvida, grande número de pessoas que tinham o assunto como julgado; mas nem todo o mundo quis render-se e palavras de reprovação mais ou menos sinceras se fizeram ouvir. Não será esse um dos incidentes menos curiosos da história do Espiritismo.

16. Crookes tinha, entretanto, mostrado a maior severidade na série das suas pesquisas; mas as pessoas que se achavam desconcertadas no momento da digestão tranquila dos seus conhecimentos adquiridos ficaram irritadas por ver pronunciar-se contra elas um juiz do qual tinham antecipadamente aceito as conclusões, mas com a condição, implicitamente formulada, de que seriam conformes com as suas ideias.

17. Ver-se-á, entretanto, que essas pesquisas foram empreendidas com espírito verdadeiramente científico:

“O espiritualista – diz Crookes – fala de corpos pesando 50 ou 100 libras, que se elevam ao ar sem a intervenção de força conhecida; mas o químico está habituado a fazer uso de uma balança sensível a um peso tão pequeno que seriam necessários 10.000 deles para perfazer um grão. Ele tem base para pedir a esse poder, que se diz guiado por uma inteligência que suspende ao teto um corpo pesado, que faça mover, sob condições determinadas, a sua balança tão delicadamente equilibrada.
“O espiritualista fala de pancadas que se produzem nas diferentes partes de um quarto, quando duas ou mais pessoas estão tranquilamente sentadas ao redor de uma mesa. O experimentador científico tem o direito de pedir que essas pancadas se produzam sobre a membrana esticada de seu fonautógrafo.
“O espiritualista fala de quartos e de casas sacudidas por um poder sobre-humano, mesmo até a ponto de ficarem danificadas. O homem de ciência pede simplesmente que um pêndulo colocado sob uma campânula de vidro e repousando em sólida alvenaria seja posto em vibração.
“O espiritualista fala de pesados trastes em movimento de um aposento a outro sem ação do homem. Mas o sábio construiu instrumentos que dividem uma polegada em um milhão de partes; e tem, portanto, o direito de duvidar da exatidão das observações efetuadas se a mesma força é impotente para fazer mover de um simples grau o indicador de seu instrumento.
“O espiritualista fala de flores molhadas pelo orvalho fresco, de frutos, mesmo de seres vivos, trazidos através de janelas fechadas e mesmo através de sólidas muralhas de tijolo. O investigador científico pede, naturalmente, que um peso adicional (ainda que não tenha mais que a milésima parte de um grão) seja depositado em uma das conchas da sua balança quando a caixa estiver fechada à chave. E o químico pede que se introduza a milésima parte de um grão de arsênico através das paredes de um tubo de vidro, no qual está água pura hermeticamente fechada.
“O espiritualista fala das manifestações de uma força equivalente a milhares de libras e que se produz sem causa conhecida. O homem de ciência, que crê firmemente na conservação da força e que pensa que ela nunca se produz sem um esgotamento correspondente de alguma coisa para substituí-la, pede que as ditas manifestações se produzam no seu laboratório, onde ele as poderá pesar, medir e submeter a seus próprios ensaios.”

18. Foi com esses sentimentos que Crookes enfrentou o estudo dos fenômenos cujo exame, no seu entender, se impunha à ciência, sem que ela pudesse protelar por mais tempo.

19. Logo depois de ter feito essa espécie de profissão de fé científica, o autor acrescenta, em uma nota, a observação seguinte:

“Para ser justo a esse respeito, devo estabelecer que, expondo estes intentos a vários espiritualistas eminentes e a médiuns entre os mais dignos de confiança da Inglaterra, eles manifestaram perfeita confiança nos êxitos da pesquisa, se fosse lealmente prosseguida do modo pelo qual indiquei aqui, oferecendo-se para me ajudar com todo o poder ao seu alcance e pondo à minha disposição as suas faculdades particulares. Até ao ponto aonde cheguei, posso acrescentar que as experiências preliminares têm sido satisfatórias.”  (Continua no próximo número.)
 

(1) O Espiritismo (Faquirismo Ocidental), tradução portuguesa. Edição da Federação Espírita Brasileira.



 


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