Alma e corpo
Antero de Quental
Disse a Alma, chorando,
ao Corpo aflito:
– Por que me prendes,
triste barro escuro,
Se busco o Espaço
imenso, se procuro
O império resplendente
do infinito?
Por que me deste a dor
por sambenito(1)
No caminho terrestre
áspero e duro?
Por que me algemas a
sinistro muro,
O coração cansado, ermo
e proscrito?
Mas o Corpo exclamou: -
Cala-te e ama!
Eu sou, na Terra, a cruz
de cinza e lama
Que te serve de ninho,
templo e grade...
Mas dos meus braços
partirás, um dia,
Para a glória celeste da
alegria,
Nos castelos de luz da
eternidade!...
(1)
Sambenito - hábito de
baeta amarela e verde,
que os penitentes
vestiam pela cabeça à
moda de saco e trajavam
nos autos-de-fé.
Do livro Relicário de
Luz, obra mediúnica
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.
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