Em carta publicada na edição
passada, o leitor Tiago R.
escreveu-nos o seguinte:
“Ontem uma amiga de 35 anos
desencarnou em um acidente
de carro. O esposo e filha
sobreviveram. Esse tipo de
desencarne violento tem
relação com merecimento? O
que significa desencarnar em
um acidente de carro?”
O momento em que se dá a
morte corpórea de uma
pessoa, ressalvados os casos
de suicídio voluntário e
involuntário, está
geralmente ligado à chamada
programação reencarnatória.
É isso que elucida o fato,
aparentemente inexplicável,
de pessoas regressarem muito
cedo à pátria espiritual,
enquanto outras, mais idosas
e às vezes muito doentes,
por aqui continuam.
No acidente mencionado pelo
leitor deduzimos que havia
três pessoas no carro: duas
sobreviveram e apenas uma
desencarnou, comprovando a
informação transmitida pelos
instrutores espirituais na
questão 853 d´O Livro dos
Espíritos, de Allan
Kardec, adiante
reproduzida:
853. Algumas pessoas só
escapam de um perigo mortal
para cair em outro. Parece
que não podiam escapar da
morte. Não há nisso
fatalidade?
“Fatal, no verdadeiro
sentido da palavra, só o
instante da morte o é.
Chegado esse momento, de uma
forma ou doutra, a ele não
podeis furtar-vos.”
a) Assim, qualquer que seja
o perigo que nos ameace, se
a hora da morte ainda não
chegou, não morreremos?
“Não; não perecerás e tens
disso milhares de exemplos.
Quando, porém, soe a hora da
tua partida, nada poderá
impedir que partas. Deus
sabe de antemão de que
gênero será a morte do homem
e muitas vezes seu Espírito
também o sabe, por lhe ter
sido isso revelado, quando
escolheu tal ou qual
existência.” (O Livro dos
Espíritos, 853.)
As explicações dadas pelos
instrutores espirituais
permitem-nos compreender por
que nem todas as pessoas,
embora em situação idêntica,
colhem igual resultado na
eventualidade de um
acidente.
Existem casos em que,
enquanto alguns desencarnam
e outros sofrem mutilações
físicas diversas, outros
nada apresentam, como se não
estivessem presentes no
mesmo acontecimento.
Dada a importância do
assunto, Emmanuel também
dele tratou no livro O
Consolador, obra
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier:
146 – É fatal o instante da
morte?
“Com exceção do suicídio,
todos os casos de
desencarnação são
determinados previamente
pelas forças espirituais que
orientam a atividade do
homem sobre a Terra.
Esclarecendo-vos quanto a
essa exceção, devemos
considerar que, se o homem é
escravo das condições
externas da sua vida no
orbe, é livre no mundo
íntimo, razão por que,
trazendo no seu mapa de
provas a tentação de
desertar da vida expiatória
e retificadora, contrai um
débito penoso aquele que se
arruína, desmantelando as
próprias energias. A
educação e a iluminação do
íntimo constituem o amor ao
santuário de Deus em nossa
alma. Quem as realiza em si,
na profundeza da liberdade
interior, pode modificar o
determinismo das condições
materiais de sua existência,
alçando-a para a luz e para
o bem. Os que eliminam,
contudo, as suas energias
próprias, atentam contra a
luz divina que palpita em si
mesmos. Daí o complexo de
suas dívidas dolorosas. E
existem ainda os suicídios
lentos e gradativos,
provocados pela ambição ou
pela inércia, pelo abuso ou
pela inconsideração, tão
perigoso para a vida da
alma, quanto os que se
observam, de modo
espetacular, entre as lutas
do mundo. Essa a razão pela
qual tantas vezes se batem
os instrutores dos
encarnados, pela necessidade
permanente de oração e de
vigilância, a fim de que os
seus amigos não fracassem
nas tentações.” (O
Consolador, questão 146.)
O leitor perguntou também,
em sua carta, o que
significa desencarnar em
acidente de carro.
Entendemos que as condições
que levam à morte corpórea
de uma pessoa podem ter,
sim, relação com fatos
ocorridos em existências
anteriores, visto que é
diferente a situação
produzida pela morte
violenta, em comparação com
a morte suave, em que a vida
se esvai como uma vela que
se apagasse.
Na questão 152 do seu livro,
acima citado, Emmanuel
comenta também o assunto:
152 – A morte violenta
proporciona aos
desencarnados sensações
diversas da chamada “morte
natural?”
“A desencarnação por
acidentes, os casos
fulminantes de
desprendimento proporcionam
sensações muito dolorosas à
alma desencarnada, em vista
da situação de surpresa ante
os acontecimentos supremos e
irremediáveis. Quase sempre,
em tais circunstâncias, a
criatura não se encontra
devidamente preparada e o
imprevisto da situação lhe
traz emoções amargas e
terríveis. Entretanto, essas
surpresas tristes não se
verificam para as almas, no
caso das enfermidades
dolorosas e prolongadas, em
que o coração e o raciocínio
se tocam das luzes das
meditações sadias,
observando as ilusões e os
prejuízos do excessivo apego
à Terra, sendo justo
considerarmos a utilidade e
a necessidade das dores
físicas, nesse particular,
porquanto somente com o seu
concurso precioso pode o
homem alijar o fardo de suas
impressões nocivas do mundo,
para penetrar tranquilamente
os umbrais da vida do
Infinito.” (O Consolador,
questão 152.)
Embora constitua um momento
doloroso a partida para o
Além de um ente querido, não
podemos ignorar, à luz do
Espiritismo, que não ocorre
perda alguma, que ninguém
morre, que os afetos
permanecem e que o
reencontro entre as pessoas
que se amam é um fato
palpável e confirmado por
todos aqueles que voltaram
para dizer que a vida
continua e que sua
desencarnação não foi fruto
de mero acaso.
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