Uma leitora pergunta-nos se
é correto o uso do termo
“incorporação” nos casos em
que um médium, no estado de
transe, transmite pela fala
a mensagem de um Espírito.
Já tratamos do assunto nesta
mesma seção na edição 127 de
nossa revista. Eis o link
que remete o interessado ao
texto publicado:
http://www.oconsolador.com.br/ano3/127/oespiritismoresponde.html
Dissemos naquela
oportunidade que quem estuda
o Espiritismo sabe que Allan
Kardec mudou de ideia com
relação à "possessão", que
ele rejeitou até O Livro
dos Médiuns e depois
admitiu claramente em A
Gênese.
Quando produzida por um mau
Espírito – diz o Codificador
– a possessão tem todos os
característicos da
subjugação, mas,
diferentemente da
subjugação, a possessão pode
ser produzida por um bom
Espírito. Neste caso, pode
se aplicar ao fenômeno o
termo “incorporação”
utilizado por Léon Denis e,
décadas mais tarde, por
André Luiz e vários autores.
A mudança de pensamento do
Codificador deu-se por força
dos fatos. Demorou algum
tempo para que ele
conhecesse o fenômeno da
incorporação, hoje tão
conhecido dos que trabalham
na área da mediunidade. Na
Revista Espírita de 1863 ele
aludiu ao episódio, que
muito o impressionou na
ocasião. Depois de analisar
um caso de possessão – o da
senhorita Júlia – Kardec
escreveu: “Temos dito que
não havia possessos, no
sentido vulgar do vocábulo,
mas subjugados. Voltamos a
esta asserção absoluta,
porque agora nos é
demonstrado que pode haver
verdadeira possessão, isto
é, substituição, posto que
parcial, de um Espírito
errante a um encarnado.”
(Revista Espírita de 1863,
tradução de Júlio Abreu
Filho, Edicel, pág. 373.)
É compreensível que a dúvida
com relação ao uso do termo
“incorporação” ainda
persista, mas é algo que
decorre simplesmente do
desconhecimento do que
inúmeros autores escreveram
sobre o assunto.
No fenômeno de incorporação,
o Espírito do manifestante
se incorpora efetivamente no
organismo do médium? Ou
opera ele, a distância, pela
sugestão mental e pela
transmissão de pensamento,
como o pode fazer o Espírito
exteriorizado do sensitivo?
Segundo Léon Denis,
semelhante questão foi, em
sua época, proposta por
alguns experimentadores.
O exame atento dos fatos –
afirma Denis – nos leva a
crer que as duas explicações
são igualmente admissíveis,
conforme os casos. Em muitos
deles, a incorporação pode
ser real e completa e é
mesmo algumas vezes
inconsciente, quando, por
exemplo, certos Espíritos
pouco adiantados são
conduzidos por uma vontade
superior ao corpo de um
médium e postos em
comunicação conosco, a fim
de serem esclarecidos sobre
sua verdadeira situação.
(Confira, a respeito do
pensamento de Léon Denis, o
livro No Invisível,
cap. XIX - Transe e
incorporações.)
No fenômeno da incorporação,
como os participantes de
sessões mediúnicas sabem
muito bem, o semblante, a
voz, as sensações e o modo
de se expressar do médium
são com frequência muito
diferentes do que ele mostra
em seu estado normal.
Foram, portanto, os fatos
que fizeram com que o termo
“incorporação”, embora não
utilizado por Kardec,
passasse a fazer parte dos
textos em que autores
diversos, encarnados e
desencarnados, tratam do
tema mediunidade.
Emmanuel o utilizou no livro
O Consolador, na
resposta dada à pergunta
397.
André Luiz o mencionou nos
capítulos 32, 42 e 43 do
livro Desobsessão,
bem como no cap. 8 do livro
Nos Domínios da
Mediunidade e no cap. VI
de Sexo e Destino, em
que ele descreve um curioso
episódio que envolveu
Cláudio Nogueira e o
Espírito de um alcoólatra.
Quando o Espírito, no afã de
desfrutar a bebida,
incorporou-se a Cláudio,
André Luiz disse que se
produzia ali algo semelhante
ao encaixe perfeito.
Cláudio-homem absorvia o
desencarnado, à guisa de
sapato que se ajusta ao pé.
Fundiram-se os dois, como se
morassem num só corpo.
Altura idêntica. Volume
igual. Movimentos
sincrônicos. Identificação
positiva. Levantaram-se a um
tempo e giraram
integralmente incorporados
um ao outro, na área
estreita, arrebatando o
frasco de uísque. André não
podia dizer a quem atribuir
o impulso inicial de
semelhante gesto, se a
Cláudio que admitia a
instigação ou se ao obsessor
que a propunha. A talagada
rolou através da garganta,
que se exprimia por
dualidade singular: ambos os
dipsômanos estalaram a
língua de prazer, em ação
simultânea. André
aproximou-se então de
Cláudio, para avaliar até
que ponto ele sofria
mentalmente aquele processo
de fusão; mas ele continuava
livre, no íntimo, e não
experimentava qualquer
espécie de tortura, a fim de
render-se. Hospedava o
outro, simplesmente,
aceitava-lhe a direção,
entregava-se por deliberação
própria. Nenhuma simbiose em
que fosse a vítima. A
associação era implícita, a
mistura era natural.
Efetuava-se a ocorrência na
base da percussão. Apelo e
resposta. Eram cordas
afinadas no mesmo tom.
Divaldo Franco e J. Raul
Teixeira também se valeram
do termo “incorporação” nas
respostas que deram às
perguntas 31, 58, 69 e 83 do
livro Diretrizes de
Segurança, sendo que
Divaldo voltou a fazê-lo ao
responder à pergunta 53 da
2ª Parte do livro
Qualidade na Prática
Mediúnica.
Eis um trecho do que foi
dito pelo conhecido médium:
“Há muitos anos, numa
prática mediúnica em nossa
Casa, uma Entidade muito
sofredora se comunicou por
meu intermédio. Era o
Espírito de uma senhora que
havia desencarnado na
ocasião do parto. Quando ela
começou a sentir as cólicas
da dilatação da bacia para
expulsar o feto, veio a
desencarnar inesperadamente.
No instante em que o
Espírito incorporou, comecei
a sentir uma grande
indisposição no estômago,
acompanhada de mal-estar,
falta de ar, enjoo. Quando o
doutrinador começou a falar,
deu-me uma vontade de sair
dali correndo, tal a maneira
despropositada com que era
feita a doutrinação. Ao
invés de utilizar os
recursos do passe, da
sugestão mental otimista
para diminuir o estado de
paroxismo em que se
encontrava o Espírito, ele
resolveu apenas dizer
palavras sem nenhuma
expressão socorrista.
Encontrando-me ainda num
semitranse, comecei a
pensar: - Ah! Meu Deus, não
vou aguentar! Finalmente a
incorporação se consumou e
eu perdi a consciência.
Quando voltei ao normal
sentia dores físicas atrozes
que perduraram durante três
dias. Posteriormente, contei
a alguém que teve doze
filhos: - Fulana, estou com
uma dor aqui nos rins e nos
quadris, horrível! Ela
retrucou: - Divaldo, isto é
dor de parto!”
(Qualidade na Prática
Mediúnica, 2ª Parte,
pergunta 53.)
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