VLADIMIR POLÍZIO
polizio@terra.com.br
Jundiaí, SP
(Brasil)
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Monteiro Lobato,
o mestre da
literatura
infantil
O materialismo
cede ao
espiritualismo
“Ao nascer
ganhamos um
cavalo – o nosso
corpo. Só que,
com o tempo, se
o cavalo adoece
e morre,
pensamos que
somos nós que
morremos.”
Esta frase é de
José Renato
Monteiro
Lobato, o
criador do
Jeca-Tatu,
Marquês de
Rabicó,
Narizinho,
Pedrinho, D.
Benta, Tia
Anastácia e
outros mais, que
nasceu em
Taubaté-SP, em
18 de abril de
1882.
Como pretendesse
usar a bengala
do pai, que
trazia
engastadas as
iniciais “JBML”,
substituiu o
“Renato” por
“Bento”, ficando
com o nome de
José Bento
Monteiro Lobato,
percorrendo e
florindo os
caminhos
literários, do
mundo infantil
especialmente,
enriquecendo-os
com suas
espetaculares
criações.
Retornou à
morada eterna em
5 de julho de
1948, com 66
anos, vividos
entre alegrias
pessoais, sonhos
de um Brasil
melhor, o
cárcere e a dor
da tristeza,
provocada pela
sensação de
perda de dois de
seus filhos:
Guilherme (aos
28 anos, faleceu
em 1939) e
Edgard (aos 32
anos, faleceu em
1941).
Quando estava no
internato do
Instituto de
Ciências e
Letras, na
Capital de São
Paulo, onde
viria concluir
seus estudos
preparatórios
aos 16 anos,
recebe a notícia
da morte de seu
pai, então com
48 anos, e com
quem, naqueles
últimos tempos,
só se comunicou
uma única vez e
por
correspondência,
para dar-lhe
notícia dos
estudos.
Um ano depois
desse golpe, D.
Olímpia, aos 39
anos de idade,
já com a saúde
já precária e
presa ao leito,
piora e,
sentindo
aproximar-se o
fim, escreve ao
filho e dele se
despede. Ele não
chega a tempo de
vê-la com vida
em Taubaté, onde
morava.
Com seu
amadurecimento
antecipado, ele
mesmo conclui
que a infância
“já se tornara
uma saudade”,
passando a
residir com o
avô.
Formado há
quatro anos e
integrando o
Ministério
Público, foi
trabalhar na
Cidade paulista
de Areias, no
Vale do Paraíba,
e extremo leste
do Estado,
casando-se aos
26 anos com
Maria Pureza da
Natividade, com
quem teve três
filhos: Marta,
Guilherme e
Edgard.
Enquanto a Terra
estava envolvida
com a Primeira
Guerra Mundial,
em 1914, por
aqui, no jornal
O Estado de
S. Paulo, de
23 de dezembro,
era publicado o
célebre romance
Urupês.
O primeiro livro
infantil do
Brasil nasce com
a publicação de
“A Menina de
Narizinho
Arrebitado”,
lançado em 16 de
janeiro de 1921,
não só com a
graciosa capa
desenhada, mas
todo ele
ilustrado por Di
Cavalcanti, pois
que “em lugar
das habituais
chapas
tipográficas,
vistosos
desenhos dão
colorido e graça
às brochuras”.
O sucesso
foi tão grande
que a edição
alcançou, há 87
anos, a
marca dos
cinquenta mil
exemplares.
Antes de sua
luta a favor do
petróleo, que
lhe custou
dissabores,
Monteiro Lobato
liderou
campanhas de
saneamento.
“... em um país,
na época com 25
milhões de
habitantes,
dois terços
estavam
derrubados pela
ancilostomíase.
Outros três
milhões de
brasileiros
sofriam de ‘papudos’,
sem falar dos
dez milhões
impaludados, por
falta de
quinina. – E o
que fazemos
nós?” –
pergunta Lobato.
“A parte
culta da
sociedade folga
e ri. o Governo
faz reformas
eleitorais... Os
intelectuais
debatem a
colocação dos
pronomes”
– responde o
biógrafo Edgard
Cavalheiro.
Não obstante sua
vocação
materialista,
pois, como diz
seu próprio
biógrafo,
“Faltando-lhe
sentimento
religioso,
Monteiro Lobato
pouco se
preocupara
anteriormente
com a
morte, mas,
agora que perde
o segundo filho,
agora que a
Parca repete a
proeza, a morte
é tema
constante para
seu Espírito”.
É então que
se envolve com o
Espiritismo, que
considera “a
religião de
amanhã”.
Passagens muito
pouco conhecidas
de Monteiro
Lobato dão conta
de que o
escritor,
reconhecido
agora de que a
vida, fugaz e
não só voltada
aos interesses
materiais, tem
outro e mais
importante lado,
ele, descrente
da
religiosidade,
passa a
dedicar-se, de
1943 até o final
de seus dias, em
1948, em sua
casa e na de
amigos, a
reuniões
mediúnicas que
lhe davam sinais
evidentes e
claros de que a
vida não era
somente aquela
que ele estava
acostumado a
conhecer. Era
nessas ocasiões
que Monteiro
Lobato fazia as
perguntas e
anotava o
resultado desses
encontros,
através do
emprego dos
copos ou mesmo
pela
psicografia,
tudo feito em
ata e deixado
com sua
secretária e
revisora por
toda a vida,
Maria José Sette
Ribas, conhecida
por Marjori.
Além de inúmeros
Espíritos que se
manifestaram,
seus dois
filhos,
Guilherme e
Edgard, deixaram
também a prova
de que Monteiro
Lobato
precisava.
"Daqui por
diante, diz ele,
o que tenho a
fazer é arrumar
a quitanda para
a grande viagem,
coisa que
para mim perdeu
a importância
depois que
aceitei a
sobrevivência.
Estou com uma
curiosidade
imensa de
mergulhar no
Além!”
Nas palavras de
Marjori,
“Todo mundo
conheceu
Monteiro Lobato
sob vários
aspectos: o
amigo leal e
incomparável, o
contista
primoroso, o
ardoroso e
cáustico
polemista, o
patriota
ferrenho e
implacável; mas,
sob o prisma
espiritualista,
poucos, muito
poucos o
conhecem e até
alguns duvidam
dessa sua
conversão ao
Espiritismo”.
Doente, foi
assim que se
despediu dela:
“Minha filha,
amanhã ou
depois, se vir
no jornal que eu
morri, você não
vai chorar. Sabe
bem que não
morremos, e esta
foi, apenas, uma
de minhas
passagens sobre
a Terra. Somos
imortais”.
“E morreu
feliz, sabendo
que somos
eternos” –
finalizou
Marjori, que
hoje também se
encontra do
outro lado.