ANSELMO FERREIRA
VASCONCELOS
afv@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
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Lições de mais
uma crise
Num gesto de
sincera e rara
franqueza, as
autoridades
brasileiras
admitiram
publicamente a
precária
condição hídrica
do país e a
iminência da
aplicação de
racionamentos de
água e
fornecimento de
energia
elétrica,
especialmente na
região sudeste.
Os estados do
Rio de Janeiro,
Minas Gerais e
São Paulo estão
completamente
vulneráveis e já
se considera –
pelo menos em
São Paulo – como
certa a adoção
de medidas
extremas
(cogita-se a
adoção de um
regime 5/2 no
qual a população
ficaria sem
fornecimento de
água durante
cinco longos
dias e
abastecida do
precioso líquido
apenas por
dois).
Seja como for, o
certo é que os
cidadãos serão
submetidos a
penosas
experiências,
algumas
perfeitamente
evitáveis
tivesse havido
maior
responsabilidade
e senso de
prevenção por
parte dos
gestores
públicos. Se em
países como os
Estados Unidos,
Israel e Qatar –
só para citar
alguns exemplos
– várias
soluções viáveis
e pragmáticas
foram
encontradas,
então por que
não aconteceu o
mesmo aqui no
Brasil? Porque
vivemos sob
circunstâncias
peculiares nas
quais o
enfrentamento
concreto dos
problemas e a
divulgação da
verdade não
fazem parte do
repertório
comportamental
dos nossos
políticos até o
ponto que não se
pode mais omitir
os fatos.
Ademais, somos
uma nação – que
me desculpem os
ufanistas –
completamente
despreparada
para lidar com
as suas crises.
Para ilustrar o
raciocínio
lembremos:
·
a vergonhosa
situação
carcerária ainda
vigente no país;
a violência
desmedida e
insuportável
cometida pelos
menores de idade
com absoluta
complacência da
lei;
·
os desatinos de
gestão
perpetrados por
certos prefeitos
e governadores;
·
as centenas de
obras públicas
abandonadas em
processo de
construção em
flagrante
prejuízo dos
cidadãos;
·
e a cultura de
desperdício
existente só
para ficar em
alguns exemplos
cotidianos.
Em síntese,
parece que ainda
não adquirimos a
capacidade da
previdência e do
bom senso, mesmo
quando os sinais
das crises se
fazem claramente
perceber. O
quadro que se
configura, salvo
uma pouco
provável
reviravolta da
nossa tão
espezinhada
natureza, é de
prevalência da
penúria e
sofrimentos
coletivos
adicionais. Mas
como tudo na
vida encerra
algum quinhão de
ensinamento,
então – olhando
pelo lado
otimista – o
mesmo deverá aí
acontecer.
Posto isto, uma
nação não pode e
não deve confiar
em apenas uma
fonte de
energia. Um
plano
estratégico
minimamente bem
feito tem de
contemplar
situações
anômalas e
contingenciais.
Desse modo,
vamos ter de
buscar
desenvolver
outras fontes,
diminuir nossa
dependência de
energia
hidroelétrica,
de contar menos
com a, até
então, dadivosa
natureza para
conosco e
explorar
alternativas
urgentemente
(talvez até
mesmo a energia
nuclear). Tais
soluções
deveriam ter
sido postas em
prática há muito
tempo, mas
porque foram
negligenciadas
pagaremos uma
conta de luz
desconcertantemente
alta com
impactos danosos
nos orçamentos
domésticos e na
economia em
geral.
O drama da água,
por sua vez,
advém não apenas
de escassez das
abençoadas
chuvas, mas de
descuidos
sucessivos
quanto ao seu
uso racional,
eliminação de
desperdícios,
intensificação
do seu
reaproveitamento
e talvez até
mesmo pela falta
da utilização da
água do mar por
meio de
processos de
dessalinização,
embora custosos.
No geral,
provavelmente
haveremos de
enfrentar dias –
quiçá anos –
muito difíceis
pela frente em
razão da grave
crise hídrica.
Relembrando os
ensinamentos do
Espírito
Emmanuel, ele
observou que
“Todos os seres
e coisas se
preparam,
considerando as
crises que
virão. É a crise
que decide o
futuro”. Nesse
sentido, não há
como negar que
uma boa parte
dos brasileiros
deverá passar
por momentos
extremamente
difíceis e
complicados,
salvo algum
outro
acontecimento
extraordinário
ou profundamente
aliviador.
Mas temos também
a oportunidade
de aprender a
“ciência do bom
senso e da
economia” no uso
e trato dos
recursos vitais.
Afinal de
contas, as
nossas
autoridades já
têm importantes
lições de
previdência,
necessidade de
proatividade,
criatividade,
planejamento e
visão aí
embutidas. O
povo, a seu
turno, tem
elementos
estimuladores
para diminuir
hábitos
perdulários e
irresponsáveis.
É notório que,
em se
confirmando as
previsões
iniciais,
haveremos de ter
de lidar com
considerável
paciência os
enormes
inconvenientes
daí derivados.
Mas como afirma
Emmanuel, “O
cristão
conhecerá
testemunhos
sucessivos”.
No entanto, como
ele adverte
igualmente,
“Quando, pois,
te encontrares
em luta imensa,
recorda que o
Senhor te
conduziu a
semelhante
posição de
sacrifício,
considerando a
probabilidade de
tua exaltação, e
não te esqueças
de que toda
crise é fonte
sublime de
espírito
renovador para
os que sabem ter
esperança”.
Estamos vivendo
nesse mundo, e
particularmente
nesse país tão
mal gerido, em
razão de sérios
compromissos
cármicos
estabelecidos
com a
espiritualidade
maior que nos
têm exigido e
exigirão
paciência e
confiança diante
das sucessivas
crises que fazem
parte da era
moderna.