JANE MARTINS
VILELA
jane.m.v.imortal@gmail.com
Cambé, PR
(Brasil)
|
|
Coragem na dor
Um amigo, ao visitarmos
seu pai que recentemente
teve um acidente
vascular cerebral, o
famoso “derrame”,
disse-nos num desabafo:
“Tomara que 2015 acabe
logo!” Mas nem começou,
retrucamos. “É verdade”,
disse ele. “Errei. Quis
dizer 2014.”
Aí nos contou o que
enfrentou no ano
referido. O sogro ficou
entre a vida e a morte
na UTI, desenganado,
sarou, teve alta. A
filha dele, esposa desse
amigo, preparada para o
pior com o pai. Ele
melhorou, por incrível
que parecesse a todos. A
mãe da esposa dele fez
uma fratura espontânea
de fêmur. Não tinha
aparentemente doença
alguma. Foram investigar
com os médicos, estava
com câncer nos ossos e
metástases no corpo
todo. Desencarnou em
duas semanas. Foi um
choque, ninguém
esperava. A irmã dela, a
mesma coisa. Ficou mal
de repente, era câncer
também e desencarnou.
Ele teve um câncer de
reto e se submeteu a uma
cirurgia. O pai dele há
cerca de duas semanas
ficou entre a vida e a
morte na UTI. Paralisou
o lado esquerdo, está
com sonda nasogástrica.
“No meio de tudo isso,
graças a Deus, meu pai
não perdeu o lado
espirituoso dele”,
disse-nos o amigo. O pai
dele tem 85 anos. Ele
nos reconheceu ao nos
ver, apertou nossa mão
com a mão direita, que
está boa. Fez-nos rir
até com seus comentários
alegres. Muito
inteligente.
Quando estávamos saindo,
o enfermeiro que está
cuidando dele nos
chamou: “Soube que você
é espírita. Eu também
sou. Trabalhei em
Uberaba 8 anos com o
Chico Xavier, no Centro
Espírita da Prece. Vim
para cá há alguns anos”.
Contou-nos as atividades
espíritas que realiza
hoje, os trabalhos
voluntários que faz em
diversos lugares.
Ficamos felizes por ele
estar ali, cuidando
daquela pessoa querida.
O enfermeiro então nos
disse quanto aquele
senhor idoso era
inteligente. “De
madrugada, contou ele,
ele acorda. Falou-me da
história de Hitler, de
Stalin, da verdadeira
história de Carlota
Joaquina, da segunda
guerra mundial, da
história do pai dele e
quanto ele fez pela
cidade. Uma inteligência
brilhante, conhecimento
demais, contou a
história da cidade com
detalhes.”
Há quanto tempo foi
isso, perguntamos.
“Nesses últimos 10 dias,
após o derrame, foi
quando o conheci”,
respondeu ele. “A
lucidez e a memória dele
não sofreram nada. Ele
tem a inteligência
preservada e está muito
calmo.” Foi isso o que
vimos ao visitá-lo.
Serenidade e bom humor.
Ele sempre teve
excelente humor,
daqueles que alegra a
todos. Não é religioso,
apesar de seu pai ter
sido um grande espírita
na cidade que
visitávamos. Fez-nos
rir, apesar de
paralisado, com a sonda
no nariz. Duas sobrinhas
viajaram de Belo
Horizonte, para a cidade
do Triângulo Mineiro
onde nos encontrávamos,
a 700 km de distância.
Chegaram num dia e
voltariam no outro,
somente para verem o tio
querido.
Na questão 258 de O
Livro dos Espíritos,
estes dizem a Allan
Kardec que o Espírito,
antes de reencarnar, tem
consciência e previsão
das coisas que lhe
acontecerão. Não existe
determinismo; o Espírito
pode modificar toda a
sua programação
encarnatória pelo seu
livre-arbítrio, mas
existe um gênero de
provas a suportar e o
próprio Espírito escolhe
o que deseja passar
aqui. Não é raro vermos
determinadas pessoas
anunciarem com
antecedência o que lhes
sucederá, principalmente
quanto à sua morte.
Muitos começam a
despedir-se, a falar
onde gostariam de ser
enterrados, mesmo quando
muito bem, e,
subitamente, algo lhes
sucede. Quem nunca viu
isso?
Quando o Espírito
escolhe e a prova não
lhe é imposta,
geralmente ele enfrenta
todos os sofrimentos com
resignação e coragem, um
verdadeiro exemplo para
quem está próximo. É bom
ver esse amigo querido
passando esses momentos
de dor serenamente e com
bom humor. Recorda-nos
Jerônimo Mendonça, “O
Gigante Deitado”, numa
provação das mais
terríveis que já vimos,
sempre fazendo os outros
sorrir, um verdadeiro
missionário da
resignação, um gigante,
no termo correto da
palavra.
Jesus, o Mestre dos
mestres, em nossos
corações se agiganta
ainda mais quando
lembramos suas últimas
palavras no martírio
infamante: “Pai,
perdoai-lhes, eles não
sabem o que fazem”.
Não sabemos na íntegra o
que nos sucederá nesta
encarnação, que tipo de
provas enfrentaremos,
mas lembremos Jesus,
lembremos aqueles que
serenamente passam por
nós e deixam um rastro
de luz. Sigamos em paz,
e se a dor bater à
porta de nossas vidas,
continuemos nossa
jornada na Terra, na
certeza de um amanhã
melhor.