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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 401 - 15 de Fevereiro de 2015

JANE MARTINS VILELA
jane.m.v.imortal@gmail.com
Cambé, PR (Brasil)

 
 
 

Coragem na dor 


Um amigo, ao visitarmos seu pai que recentemente teve um acidente vascular cerebral, o famoso “derrame”, disse-nos num desabafo: “Tomara que 2015 acabe logo!” Mas nem começou, retrucamos. “É verdade”, disse ele. “Errei. Quis dizer 2014.”

Aí nos contou o que enfrentou no ano referido. O sogro ficou entre a vida e a morte na UTI, desenganado, sarou, teve alta. A filha dele, esposa desse amigo, preparada para o pior com o pai. Ele melhorou, por incrível que parecesse a todos. A mãe da esposa dele fez uma fratura espontânea de fêmur. Não tinha aparentemente doença alguma. Foram investigar com os médicos, estava com câncer nos ossos e metástases no corpo todo. Desencarnou em duas semanas. Foi um choque, ninguém esperava. A irmã dela, a mesma coisa. Ficou mal de repente, era câncer também e desencarnou. Ele teve um câncer de reto e se submeteu a uma cirurgia. O pai dele há cerca de duas semanas ficou entre a vida e a morte na UTI. Paralisou o lado esquerdo, está com sonda nasogástrica. “No meio de tudo isso, graças a Deus, meu pai não perdeu o lado espirituoso dele”, disse-nos o amigo. O pai dele tem 85 anos. Ele nos reconheceu ao nos ver, apertou nossa mão com a mão direita, que está boa. Fez-nos rir até com seus comentários alegres. Muito inteligente.

Quando estávamos saindo, o enfermeiro que está cuidando dele nos chamou: “Soube que você é espírita. Eu também sou. Trabalhei em Uberaba 8 anos com o Chico Xavier, no Centro Espírita da Prece. Vim para cá há alguns anos”. Contou-nos as atividades espíritas que realiza hoje, os trabalhos voluntários que faz em diversos lugares. Ficamos felizes por ele estar ali, cuidando daquela pessoa querida.

O enfermeiro então nos disse quanto aquele senhor idoso era inteligente. “De madrugada, contou ele, ele acorda. Falou-me da história de Hitler, de Stalin, da verdadeira história de Carlota Joaquina, da segunda guerra mundial, da história do pai dele e quanto ele fez pela cidade. Uma inteligência brilhante, conhecimento demais, contou a história da cidade com detalhes.”

Há quanto tempo foi isso, perguntamos. “Nesses últimos 10 dias, após o derrame, foi quando o conheci”, respondeu ele. “A lucidez e a memória dele não sofreram nada. Ele tem a inteligência preservada e está muito calmo.” Foi isso o que vimos ao visitá-lo. Serenidade e bom humor. Ele sempre teve excelente humor, daqueles que alegra a todos. Não é religioso, apesar de seu pai ter sido um grande espírita na cidade que visitávamos. Fez-nos rir, apesar de paralisado, com a sonda no nariz. Duas sobrinhas viajaram de Belo Horizonte, para a cidade do Triângulo Mineiro onde nos encontrávamos, a 700 km de distância. Chegaram num dia e voltariam no outro, somente para verem o tio querido.

Na questão 258 de O Livro dos Espíritos, estes dizem a Allan Kardec que o Espírito, antes de reencarnar, tem consciência e previsão das coisas que lhe acontecerão. Não existe determinismo; o Espírito pode modificar toda a sua programação encarnatória pelo seu livre-arbítrio, mas existe um gênero de provas a suportar e o próprio Espírito escolhe o que deseja passar aqui. Não é raro vermos determinadas pessoas anunciarem com antecedência o que lhes sucederá, principalmente quanto à sua morte. Muitos começam a despedir-se, a falar onde gostariam de ser enterrados, mesmo quando muito bem, e, subitamente, algo lhes sucede. Quem nunca viu isso?

Quando o Espírito escolhe e a prova não lhe é imposta, geralmente ele enfrenta todos os sofrimentos com resignação e coragem, um verdadeiro exemplo para quem está próximo. É bom ver esse amigo querido passando esses momentos de dor serenamente e com bom humor. Recorda-nos Jerônimo Mendonça, “O Gigante Deitado”, numa provação das mais terríveis que já vimos, sempre fazendo os outros sorrir, um verdadeiro missionário da resignação, um gigante, no termo correto da palavra.

Jesus, o Mestre dos mestres, em nossos corações se agiganta ainda mais quando lembramos suas últimas palavras no martírio infamante: “Pai, perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem”.

Não sabemos na íntegra o que nos sucederá nesta encarnação, que tipo de provas enfrentaremos, mas lembremos Jesus, lembremos aqueles que serenamente passam por nós e deixam um rastro de luz. Sigamos em paz,  e se a dor bater à porta de nossas vidas, continuemos nossa jornada na Terra, na certeza de um amanhã melhor.      



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita