JORGE LEITE DE OLIVEIRA
jojorgeleite@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)
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O
Sermão da
Montanha e O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
(Parte II)
Como dito no artigo
anterior (parte I) desta
pesquisa, o Sermão da
Montanha (ou do
Monte) foi abordado
diretamente por Allan
Kardec, sob a inspiração
e ditado dos Espíritos
superiores, em 14
capítulos d'O
Evangelho segundo o
Espiritismo (ESE).
O Sermão do Monte
inicia-se no cap. 5, com
as bem-aventuranças, e
só termina no cap. 7 de
Mateus, no Novo
Testamento. No
artigo anterior, citamos
os cinco primeiros
capítulos do ESE,
dos seus quatorze que
tratam diretamente sobre
o assunto; neste,
citaremos outros cinco:
capítulos 10, 12, 13, 16
e 17:
O cap. 10 do ESE,
intitulado
Bem-aventurados os que
são misericordiosos,
corresponde ao contido
em Mateus, 5: 7,
"Bem-aventurados os
misericordiosos, porque
eles alcançarão
misericórdia".
Kardec esclarece-nos que
"a misericórdia é o
complemento da brandura,
porquanto aquele que não
for misericordioso não
poderá ser brando e
pacífico". Afirma ele
ainda que a misericórdia
está no perdão e no
esquecimento das ofensas
que nos são desferidas,
virtudes que são
inerentes às almas
superiores.
Em seguida, o
codificador da Doutrina
Espírita diz: "Ai
daquele que diz: nunca
perdoarei. Esse, se não
for condenado pelos
homens, sê-lo-á por
Deus". Se nossa
misericórdia para com
nosso próximo não for
ilimitada, como
pretendermos que Deus
nos perdoe sempre, como
almas ainda tão
imperfeitas e,
consequentemente,
pecadoras. O perdão,
porém, não deve jamais
humilhar o perdoado, o
que demonstra orgulho de
quem assim age. Também
deve ser incondicional,
pois somente a Deus cabe
o julgamento de cada um
de nós.
Conclui Kardec que na
recomendação de Jesus
para perdoarmos nossos
ofensores, na primeira
oportunidade que surgir
para essa reconciliação,
seu objetivo é evitar
que nossas desavenças
não se perpetuem em
infindáveis existências.
Sendo a Terra uma prisão
para o Espírito que
deseja evoluir, daqui
não sairemos sem
quitarmos nossas dívidas
para com a Justiça
Divina.
No cap. 12 do ESE,
lemos o seguinte:
Amai os vossos inimigos,
que expressa o contido
no art. 5, vers. 44 do
sermão proferido por
Jesus e citado por
Mateus: "Amai os vossos
inimigos, bendizei os
que vos maldizem, fazei
bem aos que vos odeiam e
orai pelos que vos
maltratam e vos
perseguem".
Sendo o amor o
sentimento que nos leva
à caridade para com
nossos semelhantes,
explica o codificador,
"amar os inimigos é a
mais sublime aplicação
desse princípio,
porquanto a posse de tal
virtude representa uma
das maiores vitórias
alcançadas contra o
egoísmo e o orgulho"
(KARDEC, 2013, p. 166).
Explica ainda Kardec que
o amor aos inimigos não
significa ter para com
estes a mesma confiança
e carinho que temos para
com nossos amigos e
familiares.
Principalmente quando se
sabe que aqueles que não
participam das mesmas
ideias e sentimentos
nossos podem fazer mau
uso da nossa confiança.
Os sentimentos negativos
de alguém em relação a
nós causam-nos uma
impressão ruim e,
portanto, amá-los não é
nos sujeitarmos à sua
companhia desagradável,
salvo quando for para
socorrê-los em alguma
situação difícil.
Amá-los é, entretanto,
aproveitar todas as
oportunidades que nos
forem oferecidas para
lhes retribuir o mal com
o bem; ficar felizes com
o que de bom lhes suceda
e evitar todo o mal que
os possa prejudicar.
Ninguém pode impedir
alguém de ser seu
inimigo, mas, conforme
disse Divaldo Franco em
entrevista, "o
importante é não ser
inimigo de ninguém". Ou
seja, exercitar o amor e
sua prática sempre.
Cita Allan Kardec no
cap. 13 do ESE:
Não saiba a vossa mão
esquerda o que dê a
vossa mão direita.
Isso está em Mateus,
6:3, que é continuação
do Sermão da Montanha:
"Mas, quando tu deres
esmola, não saiba a tua
mão esquerda o que faz a
tua direita".
Essa figura de linguagem
significa, segundo
Kardec, não ostentar o
bem que fazemos, evitar
os aplausos do mundo,
ser modesto na
beneficência praticada.
Enfim, evitar todo sinal
de orgulho pelo bem que
fazemos, por mais
insignificante que seja
essa marca de caridade
para com o nosso
próximo.
Aqueles que fingem a
modéstia, mas procuram o
reconhecimento do mundo,
ainda que ocultamente,
já receberam sua
recompensa. O bem feito
com a intenção de
humilhar o beneficiado
nem mesmo o
reconhecimento terreno
terá, pois não receberá
a gratidão do
beneficiado, que se
sentirá humilhado e não
socorrido amorosamente
em suas necessidades
materiais ou morais.
Temos, no cap. 16, a
seguinte citação de
Kardec: Não se pode
servir a Deus e a Mamon,
que sintetiza estas
palavras do Cristo, em
Mateus, 6:24: "Ninguém
pode servir a dois
senhores; porque ou há
de odiar um e amar o
outro, ou se dedicará a
um e desprezará o outro.
Não podeis servir a Deus
e a Mamon".
Nesse longo capítulo de
quinze itens, somos
esclarecidos sobre o
amor a Deus e o apego às
riquezas mundanas,
representadas por Mamon.
Kardec explica, no item
7, que "Se a riqueza é
causa de muitos males,
se exacerba tanto as más
paixões, se provoca
mesmo tantos crimes, não
é a ela que devemos
inculpar, mas ao homem
que dela abusa, como de
todos os dons de Deus".
O problema não é,
portanto, a riqueza em
si, mas o mau uso que
dela fazemos, pois ela é
fundamental ao progresso
humano, quando utilizada
para o bem da sociedade
e adquirida por meio do
trabalho honesto.
Dentre as seis mensagens
finais desse capítulo,
contidas nas instruções
dos Espíritos, o
Espírito Fénelon, item
13, destaca a
Parábola dos Talentos
narrada por Jesus, que o
leitor amigo e a amiga
leitora podem conferir
em Mateus, 25:14 a 30.
Conclui o Espírito
Fénelon: "A todos os que
podem dar, pouco ou
muito, direi, pois: dai
esmola quando for
preciso; mas, tanto
quanto possível,
convertei-a em salário,
a fim de que aquele que
a receba não se
envergonhe dela".
Atualmente, os órgãos
governamentais não
admitem o emprego da
palavra "esmola", nos
serviços de assistência
social, e, sim,
benefícios destinados às
pessoas em situação de
vulnerabilidade e risco
social. E o auxílio a
essas pessoas não se
restringe ao
assistencialismo, mas
também ao seu preparo
para o exercício da
cidadania, além de
proporcionar-lhes a
oportunidade da
contraprestação do
benefício recebido. Ou
seja, sem desamparar os
que se encontram na
situação de
vulnerabilidade social,
a essas pessoas é
proporcionada a
oportunidade de ser
também úteis à sociedade
pelo exercício de uma
profissão remunerada.
Antes disso, já nos
advertiam os Espíritos
elevados para
socorrermos aos que nos
pedem ajuda sem, porém,
os humilhar.
O cap. 17 do ESE
traz como título:
Sede perfeitos,
correspondendo ao vers.
48 do cap. 5 de Mateus:
"Sede vós, pois,
perfeitos, como é
perfeito o vosso Pai que
está nos céus".
É nesse capítulo do
ESE que encontramos,
no seu item 3, o
maravilhoso roteiro do
que caracteriza o
"verdadeiro homem de
bem", começando pela
informação de que este
"é o que cumpre a lei de
justiça, de amor e de
caridade, na sua maior
pureza".
Após a enumeração dessas
qualidades elevadas, que
continua elencando as
virtudes do "homem de
bem" como a fé, a
aceitação das provas e
expiações sem murmúrio,
a ação no bem
incondicional, a
caridade, a indulgência
para as fraquezas
alheias e o perdão,
entre outras virtudes,
como, principalmente, a
humildade, como forma de
combater o orgulho, e o
amor, como antídoto
contra o egoísmo, Kardec
diz que "aqueles que se
esforcem por possuir
essas qualidades, no
caminho se acham que a
todas as demais conduz".
Como podemos observar,
leitor amigo, não é
tarefa fácil nos
libertarmos de todas as
nossas imperfeições
milenares. Comparemos
nossa alma ao nosso
corpo, porém, e
verificaremos que, tanto
quanto os cuidados
paulatinos que, de modo
limitado, o corpo exige
para ter saúde, também
devemos cuidar da
saúde da alma
imortal de forma
ilimitada, pois sem
limites é a felicidade
das almas elevadas,
incansáveis na prática
do bem.
Por isso, disse Jesus,
"Na paciência possuireis
as vossas almas" (Lucas,
21:19). E Paulo, após
recomendar-nos não nos
cansarmos de fazer o
bem, porque se não
desfalecermos teremos o
tempo da boa colheita,
alerta-nos ainda:
"Porque o reino de Deus
não consiste em
palavras, mas em
virtude" (Aos Gálatas,
6:9 e I Coríntios,
4:20).
Referências:
A BÍBLIA Sagrada.
Tradução de João
Ferreira de Almeida. Rio
de janeiro: Sociedade
Bíblica do Brasil, 1969.
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo.
Tradução de Guillon
Ribeiro. 131. ed.
histórica. Brasília: FEB,
2013.
Acesse o blog: www.jojorgeleite.blogspot.com