MARCUS VINICIUS
DE AZEVEDO BRAGA
acervobraga@gmail.com
Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
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A mordida e o
veneno
Foi ofendido.
Ouviu o que não
devia e um pouco
do que
precisava. Foi
humilhado,
injustiçado, e
aquilo bateu
forte dentro de
si. Acabada a
refrega,
terminada a
contenda, cada
um para seu lado
e nosso
protagonista
segue, mordido.
Mordido passará
a semana, e
aquela dor o
atormentará, no
lazer, no
trabalho, no
estudo,
convertendo-se
em um veneno,
uma peçonha
destilada nas
falas, narrações
infinitas do
fato tormentoso
que tanto o
machucou.
O trecho narrado
se encaixa em
diversos
personagens, nas
lutas
cotidianas, nos
desentendimentos
comuns da vida
do trabalho, da
escola, da casa
espírita e que
servem de palco
para espetáculos
lamentosos, com
frases
desnecessárias,
que terminam por
deixar o
indivíduo
“mordido”,
magoado com
aquilo tudo e
encontrando como
solução,
espalhar seu
veneno por todo
seu entorno.
O orgulho ferido
figura como
causa essencial
dessa situação.
Afetados em
nossa postura,
ao invés de
buscar a
reflexão,
partimos para a
contra-argumentação,
como meninos
mimados, a medir
espaços com
nossos
opositores,
querendo a
réplica, a
tréplica, dessa
nossa batalha
individual.
Seguimos
sangrando,
querendo a
revanche da
situação que nos
abalou,
engendrando na
mente cenários
de como foi ou
de como deveria
ter sido,
massageando
medos e
inseguranças,
centrando na
disputa e pouco
em soluções.
A capacidade de
perdoar e de
reconstruir
relações se
apresenta como
competência
cicatrizante
para estancar a
mordida e
impedir que esse
veneno se
espalhe na
fofoca e na
maledicência.
Perdoar é uma
ciência que
precisamos
aprender, e
exercitar,
setenta vezes
sete vezes, como
já dito por
Jesus.
Passar uma
borracha,
reiniciar
entendimentos,
ceder e negociar
são ações
essenciais aos
que buscam a paz
e a
produtividade
nas relações.
Pensar nas
tarefas, no
grupo, nos
contextos,
sopesando isso
com o que
motivou o
entrevero, é uma
postura madura
em casos de
atritos entre as
diversas equipes
de trabalho, e
que permite
relevarmos os
problemas,
colocando-os no
seu devido
lugar.
Por vezes,
ficamos sem
falar com uma
pessoa,
magoados, e já
nem nos
lembramos do por
quê. Antipatias
e questões
comezinhas
servem de
combustível para
contendas que se
arrastam e que
têm a sua
gênese, de fato,
nas nossas
imperfeições, na
intolerância, na
inveja e no
ciúme, e que têm
como estopim,
por vezes, as
questões
menores.
No trabalho
espírita, diante
de um impasse,
de um conflito,
fujamos do
padrão de trocas
de impropérios,
seguida da mágoa
e da fofoca, na
polarização
destrutiva.
Respeitemos o
dissenso, como
natural das
relações, e
valorizemos o
diálogo, a
indulgência e,
ainda, a
maturidade que
nos permite sair
do calor do
momento e
retornar à vida
que segue.
O Cristo falou
do perdão e do
amor aos
semelhantes.
Kardec nos
brindou com a
valorização da
argumentação e
da humildade. Na
casa espírita,
na busca da
construção do
homem de bem, na
realização de
tarefas com
amigos de cá e
de lá, não se
justifica o
“climão” após
reuniões com
ideias
divergentes, e
sim a busca do
diálogo e da
reflexão, como
forma de
aprimoramento
contínuo.
Certamente,
sabemos que isso
é difícil...
Mordidos ficamos
e arrastamos
essa ferida por
anos a fio.
Sofremos e
fazemos sofrer,
no veneno da
maledicência,
esquecendo a
lição do perdão
e de como pesam
no coração o
rancor e a
mágoa. Mas
reconhece-se o
verdadeiro
espírita pelo
seu esforço, e
aí reside toda a
nossa força.