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Crônicas e Artigos

Ano 8 - N° 401 - 15 de Fevereiro de 2015

RICARDO ORESTES FORNI
iost@terra.com.br
Tupã, SP (Brasil)

 
 
 

Lá vem coisa!


O título desse artigo se explica pela notícia estampada na página 35 da revista VEJA, em sua edição de número 2410 de 28 de janeiro de 2015. Vamos a ela: “O médium – com uma tiragem de 40.000 exemplares, e escrita pela jornalista Ana Landi, será lançada em fevereiro a biografia do sucessor de Chico Xavier, o médium Divaldo Franco, um baiano de 87 anos que diz se comunicar com os Espíritos desde os 4 anos, já psicografou 300 livros, e adotou 700 crianças e jovens”.

Analisando os dizeres da notícia como está na citada revista, a autora desse livro O médium não deve ser espírita. Primeiro, porque cada Espírito missionário traz sua tarefa. Cada Espírito que vem nos socorrer executa o seu trabalho. Não há substituição de um pelo outro, mas sim tarefas que vão se complementando para ensinar aos homens sobre a verdadeira realidade do que seja a Vida. Prova disso é que Chico e Divaldo coexistiram. Se um fosse sucessor do outro, o sucessor teria que vir após, e não ao mesmo tempo. Quem será que substituiu Francisco de Assis? Quem teria sido a substituta de Teresa de Ávila? De Vicente de Paulo? Quem foi o sucessor de Antonio de Pádua? Quem foi a sucessora de Clara de Assis, a fundadora da ordem das Clarissas à época de Francisco, o de Assis? Quem sucedeu a Mahatma Ghandi? Ou a Albert Schweitzer, homem que se dedicou a cuidar de leprosos na localidade de Lambarené, no continente africano? Quem foi o sucessor de Martin Luther King? São figuras humanas que estão acima da evolução dos homens comuns. Vêm ao mundo, deixam suas mensagens de vida e não são sucedidos por alguém. O que acontece é que surgem outras pessoas que têm amor suficiente para continuarem a trabalhar no campo do amor ao próximo sem a pretensão ou a preocupação de suceder seja a quem for. Esses Espíritos superiores se alternam no campo do bem ao semelhante, cada um realizando a sua tarefa.

O segundo motivo pelo qual acredito que essa escritora não seja espírita é a sua afirmação contida na revista mencionada de que Divaldo diz se comunicar com Espíritos. Se ela fosse espírita, não teria colocado essa realidade na condicional. Ela teria a certeza absoluta. Divaldo tem o mérito de interagir com os Espíritos pelos seus valores morais duramente conquistados nas lutas, nas provas e expiações ao longo de sua existência como Espírito imortal. Aí vem a dúvida: se não é espírita, como irá abordar o assunto? Terá conhecimento de causa suficiente para não escrever, como já aconteceu em reportagens de pessoas que não eram espíritas, colocações que não representam o pensamento realmente da Doutrina Espírita? Outro problema: agora não se trata de uma reportagem, mas de um livro com tiragem inicial de 40.000 exemplares (!) que terá, diga-se de passagem, grande vendagem, principalmente entre os simpatizantes da doutrina, creio eu. Por isso, esperemos que o livro faça justiça a esse grande trabalhador e divulgador do Espiritismo, mas que é sempre bom ficar com um pé atrás, em minha opinião. É pelo que já tenho lido na imprensa leiga sobre espíritas e Espiritismo.

O terceiro motivo pelo qual julgo que a escritora não seja espírita é o número apontado de crianças e jovens que Divaldo teria adotado: 700. O que será que ela quis dizer com o termo adoção? Se significar amparar, o número é imensamente maior. Estão vendo como as coisas vão se colocando de maneira enviesada, diríamos assim.

O quarto motivo que me faz pensar que a escritora não seja espírita é a redução de um Espírito que vivencia o amor em toda a sua amplitude, ao referir-se a ele como se fosse simplesmente um médium! Se a mediunidade transformasse alguém em um Divaldo ou em um Chico, como o mundo estaria melhor! Nós, espíritas, sabemos que a mediunidade não é propriedade e nem identificação de quem sabe amar incondicionalmente. Vivenciar o amor ultrapassa muito longe o ato de ser intermediário dos Espíritos. Jesus possuía uma mediunidade enciclopédica, mas amava com um Amor Universal. A primeira, a mediunidade, era um componente do todo, o Amor. Guardadas as devidas proporções, assim também enxergamos o Espírito de Chico e de Divaldo. Vamos torcer para que o livro ultrapasse o médium e revele a todos aqueles de boa vontade e que não andem de mãos dadas com o preconceito, a quantidade e a intensidade que esse Espírito de Divaldo já é capaz de amar. No meio espírita existem aqueles que, com todo o direito, pensam que é sempre bom a imprensa leiga falar sobre o espírita ou sobre o Espiritismo, que seria dessa forma divulgado. Se é bom, melhor ainda é quando se fala ou se escreve corretamente sobre o assunto que custou a Allan Kardec uma soma enorme de lutas e sacrifícios ainda não bem compreendidos em toda a sua totalidade pelos próprios espíritas, que se dirá, então, daqueles que não o são?

Lá vêm coisas! Torcemos muito para que sejam boas, verdadeiras e justas!


PS: A quem terá Emmanuel, já reencarnado, de substituir?
 



 


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