O leitor Jorge da Silva
Lima, de Portugal, em carta
publicada anteriormente
nesta revista, escreveu-nos
o seguinte:
Caros Amigos, saudações
espíritas. Por favor,
esclareçam-me. Pela pergunta
601 do L.E. ficamos com a
ideia de que os animais,
dentro das suas limitações e
necessidades, evoluem
paralelamente ao homem até
aos mundos superiores. Mas
depois, Kardec, na
explicação a propósito da
Metempsicose, diz o
seguinte: Os dos mundos mais
adiantados que o nosso
constituem igualmente raças
distintas apropriadas às
necessidades desses mundos,
dos quais são auxiliares,
MAS QUE, DE MODO ALGUM,
PROCEDEM DOS DA TERRA,
ESPIRITUALMENTE FALANDO. Por
esta explicação, fico com a
ideia que cada mundo tem os
seus animais próprios de
acordo com o grau evolutivo
desse mundo. Não há aqui uma
contradição entre a pergunta
601 e esta explicação de
Kardec?
O leitor tem razão em suas
dúvidas, mas, em verdade, a
contradição mencionada é
apenas aparente.
Vejamos, primeiramente, o
que diz a questão 601 d´O
Livro dos Espíritos:
601. Os animais estão
sujeitos, como o homem, a
uma lei progressiva?
“Sim; e daí vem que nos
mundos superiores, onde os
homens são mais adiantados,
os animais também o são,
dispondo de meios mais
amplos de comunicação. São
sempre, porém, inferiores ao
homem e se lhe acham
submetidos, tendo neles o
homem servidores
inteligentes.”
Da resposta dada pelos
Espíritos superiores
colhemos três importantes
informações:
I - os animais estão
sujeitos também a uma lei
progressiva;
II - nos mundos superiores,
os animais são mais
adiantados do que os nossos;
III - lá, como em nosso
orbe, são eles inferiores ao
homem.
Vejamos agora os comentários
feitos por Kardec, em nota
aposta em seguida à questão
613, que, aliás, trata de
outro tema, a metempsicose:
"O ponto inicial do Espírito
é uma dessas questões que se
prendem à origem das coisas
e de que Deus guarda o
segredo. Dado não é ao homem
conhecê-las de modo
absoluto, nada mais lhe
sendo possível a tal
respeito do que fazer
suposições, criar sistemas
mais ou menos prováveis. Os
próprios Espíritos longe
estão de tudo saberem e,
acerca do que não sabem,
também podem ter opiniões
pessoais mais ou menos
sensatas.
É assim, por exemplo, que
nem todos pensam da mesma
forma quanto às relações
existentes entre o homem e
os animais.
Segundo uns, o Espírito não
chega ao período humano
senão depois de se haver
elaborado e individualizado
nos diversos graus dos seres
inferiores da Criação.
Segundo outros, o Espírito
do homem teria pertencido
sempre à raça humana, sem
passar pela fieira animal.
O primeiro desses sistemas
apresenta a vantagem de
assinar um alvo ao futuro
dos animais, que formariam
então os primeiros elos da
cadeia dos seres pensantes.
O segundo é mais conforme à
dignidade do homem e pode
resumir-se da maneira
seguinte:
As diferentes espécies de
animais não procedem
intelectualmente umas das
outras, mediante progressão.
Assim, o espírito da ostra
não se torna sucessivamente
o do peixe, do pássaro, do
quadrúpede e do quadrúmano.
Cada espécie constitui,
física e moralmente, um tipo
absoluto, cada um de cujos
indivíduos haure na fonte
universal a quantidade do
princípio inteligente que
lhe seja necessário, de
acordo com a perfeição de
seus órgãos e com o trabalho
que tenha de executar nos
fenômenos da Natureza,
quantidade que ele, por sua
morte, restitui ao
reservatório donde a tirou.
Os dos mundos mais
adiantados que o nosso (ver
nº 188) constituem
igualmente raças distintas,
apropriadas às necessidades
desses mundos e ao grau de
adiantamento dos homens,
cujos auxiliares eles são,
mas de modo nenhum procedem
das da Terra,
espiritualmente falando.
Outro tanto não se dá com o
homem. Do ponto de vista
físico, este forma
evidentemente um elo da
cadeia dos seres vivos;
porém, do ponto de vista
moral, há, entre o animal e
o homem, solução de
continuidade. O homem
possui, como propriedade
sua, a alma ou Espírito,
centelha divina que lhe
confere o senso moral e um
alcance intelectual de que
carecem os animais e que é
nele o ser principal, que
preexiste e sobrevive ao
corpo, conservando sua
individualidade."
Do texto acima, de autoria
pessoal de Kardec, não dos
Espíritos, colhemos estas
informações:
I - o ponto inicial do
Espírito é uma dessas
questões que o homem não
pode ainda conhecer;
II - nem todos pensam da
mesma forma quanto às
relações existentes entre o
homem e os animais;
III - segundo uns, o
Espírito não chega ao
período humano senão depois
de se haver elaborado e
individualizado nos diversos
graus dos seres inferiores
da Criação;
IV - segundo outros, o
Espírito do homem teria
pertencido sempre à raça
humana, sem passar pela
fieira animal.
Dos quatro tópicos acima, os
três primeiros em nada
contradizem as informações
constantes da questão 601.
O que contraria a resposta
dada à questão 601 é a ideia
contida no tópico IV,
segundo a qual não haveria
relação alguma, no processo
evolutivo, entre o Espírito
do homem e os animais. Mas
esse não era, já então, o
pensamento de Kardec e dos
Espíritos superiores que
participaram da obra da
codificação do Espiritismo.
Kardec
apenas o mencionou, mas não
o autenticou, visto que,
como veremos, o codificador
da doutrina espírita
entendia que a evolução
anímica envolve
necessariamente os seres
inferiores da Criação, ou
seja, o Espírito humano não
chega a esse estado sem
haver passado pelas
experiências que o princípio
espiritual colheu em sua
passagem pelos diferentes
reinos da Criação.
Esse entendimento, firmado
inicialmente na questão
607-a d´O Livro dos
Espíritos, está posto
com toda a clareza nos
textos adiante reproduzidos:
607-a – Assim, poder-se-ia
considerar a alma como tendo
sido o princípio inteligente
dos seres inferiores da
Criação?
“Já não dissemos que tudo se
encadeia na Natureza e tende
para a unidade? É nesses
seres, que estais longe de
conhecer inteiramente, que o
princípio inteligente se
elabora, se individualiza
pouco a pouco e se ensaia
para vida. É, de certo modo,
um trabalho preparatório,
como o da germinação, por
efeito do qual o princípio
inteligente sofre uma
transformação e se torna
Espírito."
(O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, questão
607-a.)
“O Espírito não chega a
receber a iluminação divina,
que lhe dá, simultaneamente
com o livre-arbítrio e a
consciência, a noção de seus
altos destinos, sem haver
passado pela série
divinamente fatal dos seres
inferiores, entre os quais
se elabora lentamente a obra
da sua individualização.
Unicamente a datar do dia em
que o Senhor lhe imprime na
fronte o seu tipo augusto, o
Espírito toma lugar no seio
das humanidades."
(A Gênese, de Allan
Kardec, capítulo VI, item
19.)
“Na planta a inteligência
dormita; no animal, sonha;
só no homem acorda,
conhece-se, possui-se e
torna-se consciente;
a partir daí, o progresso,
de alguma sorte fatal nas
formas inferiores da
Natureza, só se pode
realizar pelo acordo da
vontade humana com as leis
Eternas.”
(O Problema do Ser, do
Destino e da Dor, de
Léon Denis, 1ª Parte, cap.
IX – Evolução e finalidade
da alma.)
“Se tivermos bem de vista os
fatos retrocitados, a
respeito dos selvagens,
compreenderemos melhor a
marcha ascendente do
princípio pensante, a partir
das mais rudimentares formas
da animalidade, até atingir
o máximo do seu
desenvolvimento no homem. Os
povos primitivos são
vestígios que demonstram as
fases do processo
transformista, mas tais
seres que nos parecem tão
degradados são, ainda assim,
superiores ao nosso
ancestral da época
quaternária, o que nos
permite compreender que não
existe diferença essencial
entre a alma animal e a
nossa. Os diversos graus
observados nas manifestações
inteligentes, à medida que
remontamos à série dos seres
animados, são correlativos
ao desenvolvimento orgânico
das formas.”
(A Evolução Anímica,
de Gabriel Delanne, págs. 70
e 71.)
"Estamos diante do órgão
espiritual do ser humano,
adeso à duplicata física
(...) Todo o campo nervoso
da criatura constitui a
representação das potências
perispiríticas, vagamente
conquistadas pelo ser,
através de milênios e
milênios. (...) Através
dele, sentimos os fenômenos
exteriores segundo a nossa
capacidade receptiva, que é
determinada pela
experiência; por isto, varia
ele de criatura a criatura,
em virtude da multiplicidade
das posições na escala
evolutiva. Nem os símios ou
os antropoides, a caminho da
ligação com o gênero humano,
apresentam cérebros
absolutamente iguais entre
si. Cada individualidade
revela-o consoante o
progresso efetivo realizado.
O selvagem apresenta um
cérebro perispiritual com
vibrações muito diversas das
do órgão do pensamento no
homem civilizado."
(No Mundo Maior, de
André Luiz, capítulo
4 – Estudando o Cérebro,
páginas 57 e 58.)
“Com a Supervisão Celeste, o
princípio inteligente
gastou, desde os vírus e as
bactérias das primeiras
horas do protoplasma na
Terra, mais ou menos quinze
milhões de séculos, a fim de
que pudesse, como ser
pensante, embora em fase
embrionária da razão, lançar
as suas primeiras emissões
de pensamento contínuo para
os Espaços Cósmicos.”
(Evolução
em Dois Mundos,
de André Luiz, capítulo
III.)
Concluindo estas
considerações, não há por
que duvidar da informação
dada por Kardec de que os
animais que habitam os
mundos superiores não
procedem, espiritualmente
falando, dos animais
existentes em nosso planeta.
Conquanto não existam meios
de provar tal assertiva, ela
nos parece lógica e em nada
fere o contido nas questões
acima examinadas.
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