VINICIUS LIMA
LOUSADA
vlousada@hotmail.com
Bento Gonçalves,
RS (Brasil)
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Não violência, perdão e
comunicação compassiva
[Jesus] “Condena, por
conseguinte, a
violência, a cólera e
até toda expressão
descortês de que alguém
possa usar para com seus
semelhantes.” – Allan
Kardec
JESUS ENSINAVA A NÃO
VIOLÊNCIA
Considero Jesus um
pacificador por
excelência, talvez ainda
incompreendido por
muitos cristãos no mundo
em que vivemos. Sua
postura de acolhimento
dos excluídos e
estigmatizados, de
radical crítica à
hipocrisia e à
exploração religiosa era
uma afronta pacífica à
visão de mundo
exclusivista e sectária
presente no seio da
sociedade onde escolhera
reencarnar.
Em seus ensinos
condenara qualquer forma
de violência ao próximo,
da verbal à física, e
estabelecera como
fundamentos de sua
doutrina o amor ao Pai
Celeste e ao próximo.
Para ele o comportamento
reto deveria se orientar
na justa medida
e o caminho de elevação
espiritual deveria ser
trilhado pelo
interessado, mediante o
trabalho de aquisição do
conhecimento a respeito
das coisas do Reino,
objetivo maior da
existência.
No conjunto de propostas
de Jesus de Nazaré
estava o revolucionário
perdão.
Revolucionário porque a
justiça dos homens de
sua época ainda se
estruturava no “olho por
olho, dente por dente”
levando-se o ofensor ou
agressor a sofrer pelas
mãos dos homens aquilo
que imputara às suas
vítimas. Isso era legal
e moral no tempo de
Jesus, vejamos o nosso
atraso espiritual
naqueles tempos.
O PERDÃO COMO PRÁTICA
RESTAURATIVA
O perdão viria como
alternativa a ser
aplicada no cotidiano,
nas questões mais
simples, até os
conflitos entre os
grupamentos humanos, os
mais distintos. Surgia,
então, uma proposta de
ruptura com o vicioso
ciclo da violência, para
a construção de um
circuito virtuoso de
justiça e restauração
das relações sociais em
termos pacíficos.
Sabedor do princípio da
pluralidade das
existências, o Mestre de
Nazaré vinha propor a
interrupção dos
resultados funestos da
violência que se
estenderiam nas vidas
sucessivas de Espíritos
até então beligerantes,
por isso postulava a
reconciliação com o
adversário como
compromisso superior à
adoração a Deus,
enquanto transitássemos
pelos caminhos terrenos
com aquele.
A reconciliação só é
possível com o perdão. O
perdão liberta o ofensor
da dívida contraída e o
ofendido do desejo de
vingança ou justiça com
base em seus parâmetros
pessoais, estabelecendo
para ambos um novo rumo,
pautado na ética da
compreensão que, por sua
vez, conduz ao exercício
da indulgência com os
limites alheios e à
reparação da falta
perpetrada pela prática
do bem.
Claramente, o perdão
consiste numa atitude
não violenta porque
preconiza o desapego da
ânsia por uma resposta
ao ofensor na mesma
medida e provoca a
liberação do hábito
infeliz de julgar o
próximo, que consiste,
conforme os estudos de
Comunicação Não Violenta
(CNV) do psicólogo
Marshall Rosenberg,
numa forma de violência
e de atitude sem empatia
e compaixão, fechada ao
encontro com o próximo.
Nem sempre é possível
concretizar uma
reconciliação efetiva,
transformando os
vínculos que enfermaram
em algo saudável, mas,
superar o impulso
agressivo, o desejo de
vingança ou de
manutenção de uma
querela interminável,
que só nos atrasa
espiritualmente, já é um
bom sinal de progresso
moral em nosso roteiro.
Destaquemos que perdoar,
na perspectiva
kardequiana, é responder
o mal que nos fizeram
com o bem, esquecendo a
falta, quer dizer,
desconsiderando-a.
Treinar o perdão exige
atenção quanto às nossas
atitudes e uma escuta
compassiva, na vida de
relação, para que
compreendamos as
necessidades do outro.
Para o criador da CNV,
toda a atitude violenta
revela uma necessidade
não atendida, diríamos
nós, um sofrimento
camuflado que aturde o
ofensor enredado na
ausência de lucidez ante
a sua dor.
Aliás, muito do nosso
modo de nos comunicarmos
é alienante, sem empatia
ou compaixão pelo
sofrimento alheio.
Culturalmente e através
da má-educação
aprendemos a desenvolver
um jeito de falar e
manifestar nossos
anseios de forma
entrecortada por
arroubos de cólera,
expressões grosseiras ou
impaciência, que
evidenciam o nosso
estágio de Espíritos
inferiores.
Recordemos que no
contexto do diálogo com
os Espíritos, Kardec
dissera que a linguagem
revela o lugar dos
mesmos na escala
espírita. Trazido para a
questão do nosso modo de
nos comunicarmos, no
mínimo, é um belo alerta
para ser considerado,
especialmente, nesses
dias de transição
planetária em que somos
chamados a contribuir em
prol de nossa própria
ventura, levando em
conta a afirmação de
Jesus: “Bem-aventurados
os pacíficos, porque
serão chamados filhos de
Deus”.
UM PASSO PARA A PAZ
Um passo importante para
a edificação da paz em
nosso cotidiano, lugar
onde ainda cultivamos a
violência, está na
possibilidade de
superarmos a forma de
comunicação alienante
que aprendemos pelo
exercício da CNV, ou de
algum método que nos
ensine um modo mais
amoroso de nos
expressarmos. A
comunicação alienante é
aquela destituída de
empatia, quero dizer,
sem a “compreensão
respeitosa sobre o que
os outros estão
passando”.
Mas, quando falamos sem
compaixão? Numa síntese
do que ensina
Marshall,
podemos dizer:
exatamente quando nossas
conversas se traduzem em
julgamentos a respeito
dos outros; analisamos a
vida alheia sob o nosso
prisma pessoal, a partir
de nossas necessidades e
valores; no instante em
que classificamos os
sujeitos e estabelecemos
comparações; se negamos
a nossa parcela de
responsabilidade quanto
ao que fazemos e seu
efeito para o próximo;
ou, ainda, quando a
nossa fala apresenta
exigências para com as
pessoas com que nos
relacionamos.
A superação de uma fala
nada compassiva está em
nos apropriarmos de
outra perspectiva, de
uma fala generosa e não
violenta que possa
traduzir com serenidade
nossos sentimentos ou
necessidades. Pode
parecer uma leitura
romântica dos conflitos
humanos, mas se
aprendermos a nos
comunicar em paz – a CNV
é uma bela ferramenta
nesse sentido – seremos
capazes de multiplicar
um modo de ser e estar
no mundo que rompa
paulatinamente com o
paradigma incrustado em
nosso psiquismo de
dominação, competição e
negação da diferença,
por isso, fomentador da
violência em suas
diversas faces.
Na Filosofia Espírita,
aprendemos com os
Imortais que o
conhecimento de si mesmo
é a chave do progresso
moral do Espírito.
Conheçamo-nos e
verifiquemos quanto de
energia de violência
carregamos em nós e se
estamos, de fato,
desejosos de fazer que a
Terra seja um dia uma
morada de paz.
O autor é educador,
escreve no blog “Saberes
do Espírito” e reside em
Bento Gonçalves (RS).