ALMIR DEL PRETTE
e
EUGÊNIA PICKINA
adprette@ufscar.br
-
eugeniapickina@gmail.com
São Carlos, SP e
Indaiatuba, SP (Brasil)
|
|
O céu e o
inferno:
um relato
de pesquisa e
visão
da vida vitoriosa
Maltratar as
oportunidades é tão só
um claro indício de
imaturidade.
Pensemos juntos: o
Espiritismo tem um
caráter educativo. Não
apenas porque seu
fundador, Hippolyte Léon
Denizard Rivail
(1804–1869), depois
Allan Kardec, tenha sido
um respeitável educador
francês, seguidor de
Pestalozzi, mas porque o
núcleo da filosofia
espírita diz respeito a
uma proposta de educação
do Espírito.
Por esclarecer a ilógica
do drama da queda e do
pecado, o Espiritismo,
respaldado no uso da
razão, discorda da
jornada humana como uma
história de salvação,
pois na realidade tudo
corre conforme previsto
pelo Criador, à medida
que a humanidade
continua a vivenciar
(neste planeta) um
processo educativo
destinado à perfeição.
Neste sentido, o Criador
não poderia ter cometido
um erro de planejamento
grosseiro, não prevendo
que as primeiras
criaturas iriam, por uma
curiosidade natural,
desobedecê-Lo. O erro
inicial da proibição
absurda levaria ao erro
final da salvação de
poucos, especialmente
pela prática da
adulação?
Ademais, se lemos o
Espiritismo com olhos
reflexivos, nele
reconhecemos com
transparência o
parâmetro da
liberdade, pois
fomos lançados livres no
universo e Deus,
entendido como Pai, por
isso nos permite até
mesmo vivenciar estações
existenciais sombrias
para aprendermos, por
conta própria, o valor
do bem e das virtudes.
Ou seja, em palavras
simples, o erro
participa naturalmente
do existir humano.
O principal ganho desta
“autoeducação”, e
continuada através de
existências sucessivas,
está implicado com o
experimentar no campo
íntimo que o pequeno
“eu” por esforço próprio
está a vencer o egoísmo,
impregnando seu existir
com o altruísmo, a
principal qualidade a
guiar sua prática futura
aqui e em outras
dimensões da Vida.
Se a caminhada é
solidária, a
transformação pessoal é
uma experiência
solitária,
vivenciada no âmago de
si mesmo. Um olhar para
dentro de si, que começa
nas sombras dos
equívocos das distorções
daquele que teme o
encontro consigo mesmo
até a descoberta que
esse é o caminho para o
autoconhecimento, a
verdade e a libertação.
Ora. É um engodo,
portanto, e mesmo para
pretender apaziguar
temas religiosos
discordantes, querer
conciliar um Deus de
Amor – que zela pela
liberdade de seus filhos
e filhas – com dogmas
que entendam a
existência humana presa
à tragicidade do pecado,
submetendo em
consequência o indivíduo
ao ambiente das penas do
inferno ou de um local
aonde ele vá, depois da
morte, purgar suas
culpas e maldades. Não
seria este um Deus do
horror e do pavor?
Este ano o livro O
Céu e o Inferno
comemora 150 anos. Nesta
obra Kardec aborda,
entre inúmeros temas,
céu, purgatório e
inferno, afastando, com
o uso da razão, a
existência das penas
eternas ou de um local
“fixo” para o ser
humano, após a morte,
purgar as suas culpas,
não aludindo, portanto,
ao cenário dantesco.
Não. Kardec,
esclarecido, tanto
assegura a inexistência
das penas eternas, como,
apoiado na falange do
Espírito de Verdade,
substitui os conceitos
pagãos e católicos,
equivocados, pela ideia
de evolução contínua
pela reencarnação.
Graças, então, à prática
realizada através das
existências sucessivas,
é sabido que o ser
humano adentra de novo a
“estação corpórea”, para
pôr em prática seu
processo autoeducativo
e, ao mesmo tempo, se
for necessário, purgar
seus erros infelizes do
passado.
Contudo, todo ser
humano, sem exceção,
sempre é genuinamente
assistido pela
Misericórdia, inspirado
pelas boas presenças que
assistem à sua passagem
na Terra, local no qual
lhe é dada a
oportunidade de bem
viver e desenvolver-se
rumo à beleza e ao bem
que estruturam os
grandes Espíritos, tal
como Jesus, o autêntico
modelo de quem se
percebe espírita e
cristão.
O livro O Céu e o
Inferno abre, sem
ressalvas e por isso sem
receio, as janelas do
misterioso “transe da
morte”. E longe de
encontrar uma nova caixa
de pandora o homem se
depara com uma realidade
muito mais simples e
suportável do que aquela
da visão condicionada
pelas religiões
necrófilas. A vida
prossegue vitoriosa após
a passagem.
É certo que o “morrer”
como o “nascer” têm
normas da vida comuns a
todos os Espíritos,
entretanto, a passagem
de um lado para o outro
pode ser mais ou menos
“sofrida” na dependência
da condição espiritual
daquele que vem
ou vai para
a erraticidade. Quando o
processo atingiu seu
limite, ao contrário do
que pensam alguns, o não
nascer e o não morrer é
que seriam traumáticos.
Portanto, morrer,
segundo pode ser
inferido da leitura de
Allan Kardec, tem uma
semelhança com o
nascer. Trata-se de um
processo de passagem de
um lado para o outro
para experiências
evolutivas que em alguns
aspectos se aproximam e,
em outros, se
distanciam.
O livro O Céu e o
Inferno é, também,
um relato de pesquisa,
que na atualidade
receberia a denominação
de “analítica
descritiva”. Trata-se,
sem dúvida, de um
material muito rico que
merece, por parte dos
estudiosos, seguidas
leituras.