A missão da
inteligência
Pagando uma
dívida de mais
de década comigo
mesmo, nessas
férias de fim de
ano consegui
finalmente
assistir ao
clássico “Gênio
Indomável”, de
1997, dirigido
por
Gus Van Sant
e com
interpretações
magníficas de
Matt Damon, Robin
Williams
e Ben
Affleck,
o que lhe rendeu
várias
premiações.
Um filme sobre a
inteligência,
materializada em
níveis
extremos e que
apresenta a
realidade de um
jovem
superdotado, e o
quanto ele se vê
divergente em
relação ao
mundo. A
película mostra
a inteligência
como uma bênção
que pode se
tornar um fardo,
e ainda, que o
saber é um rio
que deve fluir
no mundo real,
com um sentido
produtivo.
A inteligência
hoje é entendida
como uma
potencialidade
de múltiplas
dimensões e o
filme mostra bem
isso, em
especial no
trecho em que o
personagem
revela que
coisas simples
ele faz com
dificuldade,
apesar de sua
intelectualidade.
Dimensões que
são valorizadas
em determinados
contextos
sociais.
Após os estudos
do psicólogo
americano Howard
Gardner na
década de 80,
quando falamos
de inteligência,
perguntamos
sempre: “-
Qual
inteligência?”.
A busca pelo
homem para medir
e quantificar a
inteligência é
antiga. Alfred
Binet em 1900
criou um teste
para avaliar se
as crianças
teriam sucesso
na sua vida
escolar, o que
virou uma grande
febre na Paris
da Belle
Époque. Pela
primeira vez o
homem atribuiu
um número à
inteligência e
passou a unir em
um teste que
avaliava
resultados
verbais e
matemáticos o
Quociente de
Inteligência de
uma pessoa, bem
próximo das
avaliações de
caneta e papel
que realizamos
nas escolas para
verificar os que
pretensamente
terão sucesso na
vida.
Howard Gardner,
na sua discussão
das múltiplas
inteligências,
se contrapõe a
essa ideia
monolítica de
inteligência. Ao
estudar os
deficientes
mentais,
observou esse
pesquisador que
o homem possui
capacidades
diferenciadas,
tão fundamentais
e complexas
quanto as
outras.
Para ele
inteligência é a
“capacidade
de resolver
problemas ou de
elaborar
produtos que
sejam
valorizados em
um ou mais
ambientes
culturais
comunitários”,
um valor que
depende do grupo
social e do
momento
histórico e tem
seu enfoque na
capacidade de
resolver
determinados
problemas,
segundo esta
visão.
Fruto de
processos
históricos,
colocamos hoje
as inteligências
linguísticas e
lógico-matemáticas
em uma posição
de destaque,
base desses
testes de
avaliação de
inteligência e
da maioria das
avaliações a que
nos submetemos.
Entretanto,
Gardner
apresenta a
inteligência em
um aspecto
multidimensional.
Howard Gardner
classificou as
inteligências em
sete, a saber:
Linguística:
Capacidade de
atuar no campo
da linguagem
verbal e
escrita;
Lógico-Matemática:
A capacidade de
solucionar
problemas de
cunho científico
e de origem
lógica ou
numérica;
Espacial: A
capacidade de
formar um modelo
mental de um
mundo espacial e
de ser capaz de
manobrar e
operar
utilizando esse
modelo;
Corporal-Cinestésica:
A capacidade de
controle dos
movimentos
corporais;
Musical: A
capacidade de
criar e executar
elementos
associados à
musicalidade;
Interpessoal: A
capacidade de
entender outras
pessoas, o que
as motivam, como
elas trabalham e
como trabalhar
com elas; e
Intrapessoal: A
capacidade de
formar um modelo
acurado e
verídico de si
mesmo e poder
utilizar esse
modelo para
operar
efetivamente na
vida.
Essa não é uma
lista definitiva
ou rígida,
obviamente. O
ponto principal
é o enfoque da
pluralidade do
intelecto,
mostrando que
formas “puras”
destas
inteligências
não existem,
coexistindo
todas em maior
ou menor grau em
cada indivíduo e
passíveis de
desenvolvimento.
Na resolução das
questões da
vida,
mobilizamos
essas
inteligências, à
feição do
regente de uma
orquestra.
Temos então uma
miríade de
potencialidades,
dons divinos que
desenvolvemos
pelos processos
educativos das
nossas
reencarnações,
entre a teoria e
a prática, entre
o pensado e o
concreto, no
longo caminho da
perfeição.
Nessa temática
da inteligência,
a Doutrina
Espírita não se
furta, colocando
a inteligência
como um atributo
do Espírito,
como
exemplificado no
Trecho d’O Livro
dos Espíritos
que diz: “Os
Espíritos
pertencem a
diferentes
classes e não
são iguais em
poder,
inteligência,
saber e nem em
moralidade”.
E ainda,
apontando a este
atributo um
caráter divino,
dado que a
pergunta
primeira da
mesma obra
afirma: “–
Deus é a
inteligência
suprema, causa
primária de
todas as coisas”.
Mas, no contexto
que nos
interessa no
presente artigo,
uma outra obra
traz uma
dimensão da
inteligência.
Falamos do texto
“Missão
do Homem
Inteligente
na Terra”,
presente no
Capitulo VII de
“O Evangelho
segundo o
Espiritismo”,
texto esse que
apresenta a
inteligência
como uma dádiva
ligada a uma
missão, no
contexto social.
Resgatando o
filme, o
personagem
somente se
“ajusta” quando
dá um sentido
produtivo a sua
potencialidade
intelectual. E
conforme Gardner,
já citado, essa
chamada
inteligência se
manifesta de
diversas formas,
vinculadas a um
contexto social,
e podemos
utilizá-la,
combinada, para
diversos fins.
Entretanto, o
Evangelho, na
mensagem do
Espírito
Ferdinando, nos
diz mais..., nos
diz do caráter
instrumental da
inteligência no
processo da
evolução, e que
a recebemos com
um propósito de
contribuir com o
bem geral. A
mensagem é
inequívoca, como
nos trechos:
“Se Deus, em
seus desígnios,
vos fez nascer
num meio onde
pudestes
desenvolver a
vossa
inteligência, é
que quer que a
utilizeis para o
bem de todos; é
uma missão que
vos dá,
pondo-vos nas
mãos o
instrumento com
que podeis
desenvolver, por
vossa vez, as
inteligências
retardatárias e
conduzi-las a
Ele. (...) A
inteligência é
rica de méritos
para o futuro,
mas sob a
condição de ser
bem empregada.
Se todos os
homens que a
possuem dela se
servissem de
conformidade com
a vontade de
Deus, fácil
seria, para os
Espíritos, a
tarefa de fazer
que a Humanidade
avance”.
Fica a
reflexão... Em
uma era de
valorização do
conhecimento, da
intelectualidade,
carreada pelos
avanços da
tecnologia em
nossa vida,
lembremos que a
mão que faz o
açude também faz
a bomba e que,
para além de
espetáculos de
exibicionismo em
tertúlias
intelectuais ou
para amealhar o
vil metal, a
nossa
inteligência
necessita ser
aplicada em um
fim produtivo,
em um
direcionamento
que contribua
para o progresso
de todos e,
consequentemente,
para o nosso
bem.
Somente assim,
fazendo fluir
esse rio para o
bem de todos,
enriquecido pela
troca com outros
afluentes e
pelas chuvas da
espiritualidade,
cumpriremos
nossa missão em
relação à
inteligência.
Faremos um mundo
mais rápido e
confortável pela
inteligência.
Mas necessitamos
também de um
mundo mais
fraterno, e
nisso a
inteligência tem
muito a
colaborar.