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Um minuto com Chico Xavier

Ano 8 - N° 406 - 22 de Março de 2015

JOSÉ ANTÔNIO VIEIRA DE PAULA
depaulajoseantonio@gmail.com
Cambé, Paraná (Brasil)
 

 
 
Frederico Figner, em 1933, tendo em conta a instalação da Constituinte que nos deu a Carta Magna de 1934, insistiu com o médium Chico Xavier para que ele se interessasse no recebimento de uma mensagem de Ruy Barbosa sobre o momento político.

Ruy Barbosa atendeu ao apelo e a mensagem veio através da psicografia de Chico Xavier.

Fred Figner fez imprimir a mensagem que a Folha Espírita reproduziu na íntegra:

“Não fosse solicitado a falar sobre a situação política do Brasil, e me consideraria infenso a quaisquer opiniões de ordem pessoal sobre a atualidade brasileira, não só reconhecendo os imprescritíveis direitos do arbítrio individual e coletivo, como pela transcendência das circunstâncias em que o meu pensamento seria conhecido.

A morte, dilatando o prisma da nossa visão, traz-nos um certo desinteresse pelo plano terreno, fragmentário, minúsculo, em confronto com a universidade de todas as coisas, homogênea em si, causa máter de toda a vida, fonte original de tudo que, manifestando-se através da maleabilidade da matéria e guardando, embora a luz ignota das origens, apresenta o caráter de uma heterogeneidade fictícia e perfunctória. A grandiosidade inconcebível do panorama cósmico nos conduz à admiração das parcelas do todo e, como as partes são regidas pelas mesmas leis imutáveis que presidem ao conjunto, somos levados a uma relativa despersonalização, em benefício da inevitável concepção universalista, que substitui em nossa individualidade as ideias de egoísmo prejudicial, que se não justifica.

É inegável que o Brasil atravessa um dos períodos mais críticos da sua vida como nacionalidade.

País novo, não se achava indene de contagiar-se do sopro das reformas em seus paroxismos, que agita as coletividades do Velho Mundo, assoberbadas pelas dificuldades intestinas, que lhes tem dizimado as energias revigoradas.

O erro da política brasileira, porém, está em não reconhecer a profunda diversidade dos métodos psicológicos a serem aplicados ao nosso povo e aos do mundo europeu. Ali, a crise destruidora deve seus efeitos a causas múltiplas e indeclináveis; o estado semianárquico da vida do Brasil é oriundo da escassez de valores morais.

É inútil hodiernamente qualquer mudança nos processos governamentais e, em vésperas da nova Constituinte, torna-se oportuno recordar, aos que se propõem outorgar outra Carta à nação, que o menor atentado às liberdades públicas, sancionadas dentro das normas do mais estrito direito na Constituição de 91, seria um erro perpetrado na mais irrefragável ilegalidade, perante as correntes evolucionistas mantenedoras da ordem e do progresso. Excetuando-se algumas inovações de caráter sucessivo, toda supressão das conquistas jurídicas, efetuadas no mais sadio dos liberalismos, como expressão singular de civismo, estabelecendo as diretrizes superiores da nacionalidade, implica um retrocesso injustificável.

A adaptação aqui dos processos políticos praticados largamente na Europa moderna seria de eficácia irrisória. No Brasil, os problemas são outros.

Embora prematuro todo julgamento que se faça das últimas sublevações brasileiras, podem descobrir se os seus fatores primaciais na política compressiva, despótica e subornadora, posta em prática nestes últimos anos, foram uma consequência lógica dos abusos da maquina eleitoral, a constituírem os maiores escândalos da República, vexatórios às suas doutrinas de liberdade e igualdade.

Quando me refiro à liberdade, é óbvio que a subordino à lei soberana da relatividade; todavia a visão retrospectiva dos acontecimentos nos demonstrou que, se o ideal republicano de 89 inflamava a alma brasileira depois da vitoriosa campanha abolicionista, compelia o povo à justa compreensão dos seus direitos e deveres, eliminando os preconceitos factícios da autocracia abominável do regime monárquico, os continuadores das ideias libertárias e progressistas não se mantiveram no nível dos seus compromissos e responsabilidades. Refratários à corrente purificadora dos pensamentos republicanos criaram o falso conceito da facção política e com um partidarismo ominoso fomentaram a oligarquia devastadora.

A Constituição de 1891 não falhou no Brasil; está de pé, como síntese admirável das vibrações do entusiasmo de um povo pelo direito incorrupto, imprescritível. Os seus homens públicos é que faltaram lamentavelmente aos seus magnos deveres de condutores, sobrepondo aos altos interesses da pátria o egoísmo da personalidade, incentivando abusos, acirrando ódios partidários, olvidando a justiça, coadjuvados por uma imprensa quase sempre mercenária e oportunista, levando o país ao caminho franco da falência moral, sem que se justifiquem tamanhos descalabros. Enquanto a política pessoal tem feito medrar no Brasil a oligarquia, alguns Estados hão disputado egoisticamente a hegemonia da nacionalidade, a par de outros submersos na miséria e no analfabetismo; entretanto, os brasileiros não desconhecem seus deveres de coesão em torno da unificação nacional.

A bancarrota dos indivíduos teria de conduzir fatalmente a nação aos últimos acontecimentos. A fase atual é de transição e reclama insistentemente o valor intrínseco de cada uma. O momento não é de parenética nociva, de verbosidade estéril, mas de atos concluintes, sinceros.

Cogita-se de movimentos visceralmente renovadores. É necessário, contudo, uma profunda acuidade analítica na concepção dessas reformas que se fazem precisas, a fim de que não redundem em fórmulas desastrosas. Medidas têm sido tomadas e elaboradas que requerem indispensáveis restrições na sua aplicação, refreando-lhes a expansão abusiva e claudicante. Nesse ambiente, porém, atordoador, caótico, o perigo iminente é a intromissão da corrente clerical na política situacionista, tentando lesar o patrimônio da pátria no que ela tem de mais respeitável, a liberdade das consciências, lídima aquisição do direito inviolável. A Igreja livre dentro do Estado livre, fórmula outorgada ao país pelos republicanos de 1891, conciliadora, compatível com a evolução da mentalidade moderna, não pode ser desrespeitada sem graves resultados para a vida coletiva do núcleo brasileiro.

Depois de verificada a eliminação do jugo papista, como necessidade internacional cessadas as lutas fratricidas, filhas do fanatismo, cujo sangue ainda está quente na história dos países que oficializaram a religião, cerrar os olhos à sede megalômana da pretensa infantilidade romanista, é ação criminosa, condenável.

Infelizmente, houve no Brasil incompreensão dos seus orientadores de 89; não é lícito, entretanto, que se lhes torça o pensamento superior sem reações perturbadoras e deploráveis.

Destruir a laicidade do Estado nos mínimos departamentos que lhe são afetos é uma deliberação atentatória de todas as conquistas liberais do povo brasileiro que comina e revolta como efeito natural e incoercível. A submissão a máquina política de Roma, cujas manobras se revestem da mais refinada hipocrisia, é um escândalo inqualificável, indicador do retrocesso de toda uma nacionalidade, a buscar o passado obscuro, para o colocar no porvir, que pertence ao progresso por uma questão racional de justiça.

Que Deus inspire aos novos constituintes as noções dos seus austeros deveres, a fim de que não sufoquem arbitrariamente as prerrogativas naturais do direito, que jamais se postergam, impunemente, outorgando à pátria um código perfeito, de acordo com as suas necessidades internas e com as exigências da civilização em seu justo sentido.

Calando-me aqui, por falta de imanência comprobatória das minhas palavras, desejo ao Brasil um período próspero de tranquilidade, anelando a paz coletiva para todos os seus filhos. Ruy”.

(Do livro: “Lições de Sabedoria”, de Marlene Rossi Severino Nobre, editado pela Folha Espírita.)



 


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