No auxílio a todos
“Pelos reis e por todos
os que estão em
eminência, para que
tenhamos uma vida justa
e sossegada em toda a
piedade e honestidade.”
–
Paulo¹
Se observarmos nossas
conversas e nossas
preces, poderemos notar
que, na maioria das
vezes, nos lembramos das
dificuldades e das
aflições dos menos
felizes no mundo. Quase
sempre nossos
pensamentos e palavras
se voltam para os
enfermos, para os
desesperados, afundados
na miséria ou vitimados
por flagelos naturais ou
públicos. Para essas
criaturas somos capazes
de relacionar suas
necessidades e tentar
ajudá-las, na medida das
nossas possibilidades. |
Todavia, Paulo, nessa
carta ao seu amigo e
companheiro de luta,
Timóteo, lembra-nos que
não são apenas os menos
afortunados que precisam
das nossas preces ou dos
nossos pensamentos
amorosos mas, e
sobretudo, aqueles que
de posse dos cargos de
mando ou de riquezas
imensas são muito mais
tentados aos erros que
os primeiros.
A oração, marco
renovador de nossas
forças, propicia-nos,
sobremaneira, a
oportunidade de nos
voltarmos para essas
criaturas que, sob o
peso da autoridade,
comandam, dirigem,
orientam, esclarecem e
instruem. Esquecemo-nos,
quase sempre, dos
tormentos que vivem
esses corações quando
precisam decidir o
destino de tantos,
arcando, perante as leis
dos homens e as Leis de
Deus, com a carga de
responsabilidade sobre
suas escolhas.
Longe deveríamos estar
da cobiça que esse poder
confere, pois não
ignoramos que, a cada um
sendo dado segundo as
suas obras, nos levará a
tentações e provas
ocultas de toda espécie
das quais, dificilmente,
como coletividade,
tomamos conhecimento.
Quantas dúvidas, quanto
desespero abrigam,
muitas vezes, esses
corações encaminhados a
essas tarefas. Quantas
vicissitudes
experimentam que muitas,
podemos ver, acabam por
se refletirem nas
decisões que tomam.
Se examinarmos nossa
vida diária e prestarmos
atenção às inúmeras
vezes que tivemos de
fazer escolhas, que não
envolviam apenas a nós,
nossa vida, mas a vida
das pessoas que nos
cercam; e se nos
lembrarmos das imensas
dificuldades que
experimentamos pelo medo
de errar, pela incerteza
de se estar fazendo ou
não o melhor, é fácil
entendermos a proporção
das dificuldades daquele
que é encaminhado à
eminência do poder, e
que deve fazer escolhas
que envolvem, muitas
vezes, uma nação. A
própria história da
humanidade nos mostra
esses homens, levando
seus rebanhos como
pastores enlouquecidos,
carregando aflições de
todos os tipos, que se
projetam sobre as
ovelhas que deveriam
conduzir nos caminhos do
equilíbrio e da
prosperidade.
De um lado, os
condutores
desequilibrados; de
outro, homens conduzidos
que recolhem para si
essas atitudes - como se
fossem corretas -, sem
se darem conta de que
estão sendo atirados às
calamidades físicas e
morais, a moléstias
coletivas de longo
curso, que atrasam a
evolução e atormentam a
vida. Homens que não
colocam, sob o crivo da
razão, a lógica de suas
escolhas, sejam elas de
comando ou,
simplesmente, de
aceitação.
O Apóstolo Paulo lembra,
em sua carta, que esses
homens também são nossos
irmãos, conduzidos à
excelência do poder e da
fortuna, da
administração ou da
liderança, carregando,
em todos os momentos,
tentações e provas de
todas as espécies e
levando consigo, através
de estados conscienciais
de luz ou sombra, as
consequências advindas
dessa condução.
Recorda-nos, também,
Emmanuel, das vezes em
que, examinando a
conduta desses
companheiros, nessa ou
naquela circunstância
difícil, condenamos suas
dificuldades morais,
esquecendo-nos dos dias
de cinza e de pranto em
que o Senhor nos susteve
a queda a poucos
milímetros da derrota.
Porém, mais grave do que
isso, é acreditarmos que
não mais teremos
problemas pela frente,
julgando com severidade
e impiedosamente, como
se fôssemos incapazes de
cometer os mesmos
enganos, se colocados na
posição do outro,
envolvidos nas mesmas
circunstâncias e
experimentando as mesmas
dúvidas.
Todo serviço que
deixarmos incompleto na
retaguarda
encontrar-nos-á no
caminho, para que o
terminemos. E “qualquer
que seja esse remate a
ser feito, em todas as
nossas lutas, o fecho do
amor, em nome de Jesus,
será o selo da paz a nos
nortear a jornada”. ² A
pedra que atirarmos em
telhado alheio voltará
com o tempo sobre nosso
próprio teto; assim como
o veneno que destilarmos
sobre a esperança de
quem quer que seja
retornará sobre nossa
esperança, nos testando
a resistência. E quantos
de nós já não
experimentam, hoje, do
próprio veneno?
Emmanuel diz: “Não nos
esqueçamos, pois, da
oração pelos que
dirigem, auxiliando-os
com a bênção da simpatia
e da compaixão, não só
para que se desincumbam
zelosamente dos
compromissos que lhes
selam a rota, mas também
para que vivamos, com o
sadio exemplo deles, na
verdadeira caridade uns
para com os outros, sob
a inspiração da
honestidade, que é a
base de segurança em
nosso caminho”. ³ E se a
nação é conjunto de
cidades, se a cidade é
um agrupamento de lares
e se o lar é um ninho de
corações, não nos
iludamos, pois, ao
pretender imaginar que
apenas aqueles que estão
na posse do poder
temporário têm
obrigações com a
sociedade. Cada um de
nós, no nosso lar, é o
responsável pela
harmonia e pelo
progresso de todos os
outros que compõem esse
grupo.
A harmonia começará,
sempre, no íntimo do
nosso ser: “Não faço
nada para não ter
trabalho depois” – e
isto é inércia e não
harmonia –, quando
deveria ser: “Porque
procuro modificar minha
forma de ver o outro
para, procurando ser uma
pessoa melhor,
compreender suas
dificuldades, seus
limites e, através do
meu exemplo, ajudá-lo a
evoluir junto comigo”.
Lembra-nos, ainda, mais
uma vez, o Instrutor
Emmanuel que mesmo
havendo razões de
queixa, que sejamos a
cooperação para que o
equilíbrio seja
restaurado e a
consolação que refaz
esperanças, ainda que
espinhos nasçam e se
espalhem. É
imprescindível
reafirmarmos, a cada
dia, o compromisso do
serviço junto a Jesus,
silenciando sempre onde
não possamos agir em
socorro do próximo.
Só podemos cobrar dos
outros aquilo que já faz
parte da nossa forma de
viver e de entender o
mundo e as pessoas.
Vamos assim, antes de
criticar, examinar como
procedemos em nosso
círculo de existência.
Por sermos todos
Espíritos endividados
com as leis Divinas, não
nos esqueçamos de que
ninguém fugirá ao
julgamento da Lei
Eterna. Desta maneira,
quando nos recolhermos
em preces ou quando em
reuniões esclarecedoras,
lembremo-nos de pedir,
de suplicar a Deus,
inspirados na prece do
Espírito Cerinto, na
psicografia de Francisco
Cândido Xavier, em
novembro de 1955:
-
“... não pelos que
choram, mas pelos que
fazem as lágrimas.
-
não pelos que padecem,
mas supliquemos bênçãos
para todos aqueles que
provocam o sofrimento.
-
não lembremos a Deus os
fracos da Terra, mas
recordemos quantos se
julgam poderosos e
vencedores.
-
Não intercedamos pelos
que soluçam de fome, mas
roguemos amor para os
que furtam o pão.
Elevemos nossos
pensamentos ao Senhor
Todo Bondoso...
-
e não entreguemos a Ele
os que sangram de
angústia, mas sim os que
golpeiam e ferem.
-
não peçamos pelos que
sofrem injustiças, mas
roguemos por aqueles que
são empreiteiros do
crime.
-
não apresentemos a Ele
os desprotegidos da
sorte, mas roguemos Seu
amparo aos que estendem
a aflição e a miséria.
-
não imploremos o favor
de Deus para as almas
traídas, mas supliquemos
o socorro para os que
tecem os fios
envenenados da
ingratidão.
Ergamos nossas súplicas
ao Pai compassivo para
que Ele estenda suas
mãos sobre os que
vagueiam nas trevas...
E roguemos a Ele que
anule o pensamento
insensato; que cerre os
lábios que induzem à
tentação; que paralise
os braços que apedrejam
e que detenha os passos
de quem distribui a
morte.
Rogamos, em verdade,
Senhor, por todos nós,
os filhos do erro,
porque somente assim,
Pai de Misericórdia,
poderemos construir o
paraíso do Bem com todos
aqueles que já O
compreendem e obedecem a
Suas leis eternas,
porque justas e
verdadeiras, a fim de
que se extinga o inferno
daqueles que, como nós,
se atiram desprevenidos
aos loucos redemoinhos
do mal”.
Que o Mestre Jesus nos
guarde nas decisões
acertadas e nos inspire
para que continuemos
lutando na melhoria de
nós próprios.
Bibliografia:
1 – PAULO, I Timóteo,
2:2.
2 – EMMANUEL (Espírito)
– Palavras de Vida
Eterna.
[psicografado por] F. C.
Xavier, 20ª ed., Edições
CEC, UBERABA/MG - Lição
39.
3 –Idem – Lição 40
Para reflexão:
KARDEC, Allan - O
Evangelho segundo o
Espiritismo –
capítulo XVI.