Solange Volpato, em carta
publicada nesta mesma
edição, pergunta-nos qual é
o entendimento espírita
sobre cremação de cadáveres
humanos. |
Embora a cremação seja uma
prática antiga em nosso
mundo, Allan Kardec não
tratou desse tema, o que
equivale a dizer que a
Doutrina Espírita não tem
uma posição firmada sobre o
assunto. O que existe são
opiniões pessoais, umas
favoráveis, outras
contrárias à referida
prática.
Léon Denis, um dos mais
importantes autores
espíritas, era claramente
favorável à inumação – ou
seja, o sepultamento –, uma
vez que a cremação provoca
desprendimento mais rápido,
mais brusco e violento da
entidade desencarnante,
podendo ser mesmo dolorosa
para a alma apegada à Terra.
Determinados Espíritos, como
sabemos, permanecem por
algum tempo imantados ao
corpo material após o transe
da morte, como acontece
principalmente com os
suicidas. O desatamento do
cordão fluídico nem sempre
se consuma num curto espaço
de tempo. Nessas condições,
o desencarnado é como se
fosse um morto-vivo cuja
percepção sensória, para sua
desventura, continuaria
presente e atuante. A
cremação viria causar-lhe um
angustiante trauma, o que
implicaria "aumentar a
aflição ao aflito".
No mesmo sentido
manifestou-se sobre o tema o
conhecido escritor e
estudioso espírita Richard
Simonetti, que entende que,
embora o cadáver não
transmita sensações ao
Espírito, este experimentará
obviamente "impressões
extremamente desagradáveis"
se no ato crematório estiver
ainda ligado ao corpo.
Paul Bodier, o renomado
autor de “A Granja do
Silêncio”, dizia que "a
incineração, tal como se
pratica entre nós, é, com
efeito, prematura demais".
Talvez, por isso a inumação
devesse ser o processo
normal, só se cremando os
cadáveres com sinais
evidentes de putrefação.
Das manifestações oriundas
do plano espiritual a
respeito de cremação, duas
merecem citação.
No programa Pinga-Fogo na TV
Tupi, levado ao ar no ano de
1971, em resposta a uma
pergunta dirigida a Chico
Xavier, o saudoso médium
declarou que, segundo
Emmanuel, "a cremação é
legítima para todos aqueles
que a desejam, desde que
haja um período de, pelo
menos, 72 horas de
expectação para a ocorrência
em qualquer forno
crematório".
Merece destacar a
recomendação do benfeitor
espiritual acerca do tempo
de espera necessário para
que o processo de cremação
não seja lesivo ao Espírito
desencarnante: 72 horas,
antes que a cremação seja
efetuada. Certamente, o
tempo de espera por ele
sugerido levou em
consideração os aspectos
negativos levantados por
Léon Denis e Richard
Simonetti.
Resta-nos, no entanto, uma
dúvida: estará realmente o
Espírito desencarnante
inteiramente desligado do
corpo, findo o tempo
mencionado?
Muitos anos depois, Irmão X
– pseudônimo utilizado pelo
Espírito de Humberto de
Campos – examinou o tema na
mensagem intitulada “O
problema da cremação”,
psicografada por Chico
Xavier e publicada no livro
Escultores de Almas,
lançado em 1987.
Eis um trecho dessa obra:
“Se a lei divina fornece um
prazo de noves meses para
que a alma possa renascer no
mundo com a dignidade
necessária, e se a
legislação humana já
favorece os empregados com o
benefícios do aviso prévio,
por que razão o morto deve
ser reduzido à cinza com a
carne ainda quente?
Sabemos que há cadáveres dos
quais, enquanto na Terra,
estimaríamos a urgente
separação, entretanto, que
mal poderá trazer aos vivos
o defunto inofensivo, sem
qualquer personalidade nos
cartórios?
Não seria justo conferir
pelo menos três dias de
preparação e refazimento ao
peregrino das sombras para a
desistência voluntária dos
enigmas que o afligem na
retaguarda?
Acreditamos que ainda existe
bastante solo no Brasil e
admitimos, por isso, que não
necessitamos copiar
apressadamente costumes em
pleno desacordo com a nossa
feição espiritual.
Meditando na pungente
situação dos
recém-desencarnados, observo
quão longe vai o tempo em
que os mortos eram embalados
com a doce frase latina: -
Requiescat in pace.
Não basta agora o enterro
pacífico! É imprescindível a
apressada desintegração dos
despojos! E se a lei não for
suavizada, com as setenta e
duas horas de repouso e
compaixão para os
desencarnados, na laje fria
de algum necrotério
acolhedor, resta aos mortos
a esperança de que os
saltitantes conselheiros da
cremação de hoje sejam
amanhã igualmente torrados.
“ (Do livro Escultores de
Almas, obra psicografada
pelo médium Francisco
Cândido Xavier.)
Nesta revista o tema
cremação foi tratado em
inúmeras ocasiões, como nos
textos abaixo, cuja leitura
recomendamos à leitora e a
todos que se interessam pelo
assunto:
http://www.oconsolador.com.br/ano3/129/leonardo_marmo.html
http://www.oconsolador.com.br/ano4/173/oespiritismoresponde.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/253/editorial.html
http://www.oconsolador.com.br/ano6/293/correiomediunico.html
http://www.oconsolador.com.br/ano7/332/oespiritismoresponde.html
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