Era em Belo Horizonte,
talvez 1945 ou 1946. O tempo
corre como o rio, ligeiro
por sobre as pedras. No
entanto, as paisagens que
estão à margem nele se
refletem misteriosamente.
As crianças não estavam
muito bem e Arus enfermo.
Chico chegara e passara o
dia conosco na casa da Rua
Itacolomi, aquela rua que se
despencava morro abaixo, de
pedras irregulares,
calçamento antigo, como se
tivesse sido feita antes do
mundo...
Arlete, aflita, com a
criança nos braços, lhe
falava:
- Chico, não sei o que há
comigo! Tenho medo de tudo:
tenho medo de viver, e tenho
medo de morrer! Tenho medo
da doença das crianças e
tenho medo da fome! Tenho
medo da incerteza da vida e
tenho medo do mundo! E você,
Chico, você também tem medo?
Chico olhou-a com seus olhos
bondosos, amigos e com muito
amor:
- Arlete, eu não tenho medo
de nada, eu só tenho medo de
um monstro que habita dentro
de mim e que se chama Chico
Xavier!...
Nós o olhamos com surpresa,
mas entendemos a sua
palavra, estranha palavra,
mas verdadeira! Todos nós
temos um monstro que somos
nós mesmos, com as nossas
imperfeições e nossas
possibilidades de errar, com
a ferocidade que ainda vem
de outras vidas e com as
sombras que permanecem ainda
agora no interior de nós
mesmos..
Nós somos o grande perigo
que nos ameaça.
(Texto extraído do livro: “O
Prisioneiro de Cristo”, de
R. A. Ranieri.)
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