A. Como se explica a transfiguração de Jesus e que outro fato inusitado ocorreu naquele mesmo momento?
B. Qual o significado da figura da tentação de Jesus por Satanás?
C. Como foi possível a Jesus, após a morte de seu corpo, aparecer tantas vezes a seus discípulos?
Texto para leitura
1034. Aqueles cuja passagem pela Terra se assinalou por obras de real valor são mais apreciados depois de mortos do que quando vivos. São julgados com mais imparcialidade porque, já tendo desaparecido os invejosos e os ciosos, cessaram os antagonismos pessoais. A posteridade é juiz desinteressado no apreciar a obra do espírito; aceita-a sem entusiasmo cego, se é boa, e a rejeita sem rancor, se é má, abstraindo da individualidade que a produziu.
1035. Tanto menos podia Jesus escapar às consequências deste princípio, inerente à natureza humana, quanto pouco esclarecido era o meio em que ele vivia, meio esse constituído de criaturas votadas inteiramente à vida material. Nele, seus compatriotas apenas viam o filho do carpinteiro, o irmão de homens tão ignorantes quanto ele e, assim sendo, não percebiam o que lhe dava superioridade e o investia do direito de os censurar.
1036. Verificando então que a sua palavra tinha menos autoridade sobre os seus, que o desprezavam, do que sobre os estranhos, preferiu ir pregar para os que o escutavam e aos quais inspirava simpatia. Pode-se fazer ideia dos sentimentos que para com ele nutriam os que lhe eram aparentados, pelo fato de que seus próprios irmãos, acompanhados de sua mãe, foram a uma reunião onde ele se encontrava, para dele se apoderarem, dizendo que perdera o juízo. (Marcos, cap. III, vv. 20, 21 e 31 a 35.)
1037. Se, de um lado, os sacerdotes e os fariseus o acusavam de obrar pelo demônio; de outro, era tachado de louco pelos seus parentes mais próximos. Não é o que se dá em nossos dias com relação aos espíritas? E deverão estes queixar-se de que os seus concidadãos não os tratem melhor do que os de Jesus o tratavam?
1038. Morte e paixão de Jesus – (Após a cura do lunático) Todos ficaram admirados do grande poder de Deus. E, estando todos cheios de admiração pelo que Jesus fazia, disse ele a seus discípulos: Guardai bem nos vossos corações o que vos vou dizer. O Filho do homem tem que ser entregue às mãos dos homens. Eles, porém, não entendiam essa linguagem; ela lhes era de tal modo oculta que nada compreendiam daquilo e temiam mesmo interrogá-lo a respeito. (Lucas, cap. IX, vv. 44 e 45.)
1039. A partir de então, começou Jesus a revelar a seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém; que aí tinha de sofrer muito da parte dos senadores, dos escribas e dos príncipes dos sacerdotes; que tinha de ser morto e de ressuscitar ao terceiro dia. (Mateus, cap. XVI, v. 21.)
1040. Estando na Galileia, disse-lhes Jesus: O Filho do homem tem que ser entregue às mãos dos homens; estes lhe darão morte e ele ressuscitará ao terceiro dia, o que os afligiu extremamente. Ora, indo Jesus a Jerusalém, chamou à parte seus doze discípulos e lhes disse: Vamos para Jerusalém e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que o condenarão à morte e o entregarão aos gentios, a fim de que o tratem com zombarias, o açoitem e crucifiquem; e ele ressuscitará ao terceiro dia. (Mateus, cap. XX, vv. 17, 18 e 19.)
1041. Tendo concluído todos esses discursos, Jesus disse a seus discípulos: Sabeis que a Páscoa se fará daqui a dois dias e que o Filho do homem será entregue para ser crucificado. Ao mesmo tempo, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram na corte do sumo sacerdote chamado Caifás, e entraram a consultar-se mutuamente, à procura de um meio de se apoderarem habilmente de Jesus e de fazê-lo morrer. Diziam: É absolutamente necessário que não seja durante a festa, para que não se levante qualquer tumulto no seio do povo. (Mateus, cap. XXVI, 1 a 5.)
1042. No mesmo dia, alguns fariseus vieram dizer-lhe: Vai-te, sai deste lugar, pois Herodes quer dar-te à morte. Ele respondeu: Ide dizer a essa raposa: Ainda tenho que expulsar os demônios e restituir a saúde aos doentes, hoje e amanhã; no terceiro dia, serei consumado. (Lucas, capítulo XIII, vv. 31 e 32.)
1043. Perseguição aos apóstolos – Jesus assim advertiu: Guardai-vos dos homens, porquanto eles vos farão comparecer nas suas assembleias, e vos farão açoitar nas suas sinagogas; e sereis apresentados, por minha causa, aos governadores e aos reis, para lhes servir de testemunhas, bem como às nações. (Mateus, cap. X, vv. 17 e 18.)
1044. Eles vos expulsarão das sinagogas e vem o tempo em que aquele que vos fizer morrer julgará fazer coisa agradável a Deus. Tratar-vos-ão desse modo porque não conhecem nem a meu Pai, nem a mim. Ora, digo-vos estas coisas, a fim de que, quando houver chegado o tempo, vos lembreis de que eu vo-las disse. (João, cap. XVI, vv. 1 a 4.)
1045. Sereis traídos e entregues aos magistrados por vossos pais e vossas mães, por vossos irmãos, por vossos parentes, por vossos amigos e darão morte a muitos de vós. Sereis odiados de toda gente, por causa de meu nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo de vossa cabeça. Pela vossa paciência é que possuireis vossas almas. (Lucas, cap. XXI, vv. 16 a 19.)
1046. (Martírio de S. Pedro) Em verdade, em verdade vos digo que, quando éreis mais moços, vos cingíeis a vós mesmos e íeis onde queríeis; mas, quando fordes velhos, estendereis as mãos e outro vos cingirá e conduzirá onde não querereis ir. Ora, ele dizia isso para assinalar de que morte Pedro havia de glorificar a Deus. (João, capítulo XXI, vv. 18 e 19.)
1047. Cidades impenitentes – Começou então a reprochar as cidades onde fizera muitos milagres, por não terem feito penitência. Ai de ti, Corazim, ai de ti Betsaida, porque, se os milagres que foram feitos dentro de vós tivessem sido feitos em Tiro e em Sídon, há muito tempo teriam elas feito penitência com saco e cinzas. Declaro-vos por isso que, no dia do juízo, Tiro e Sídon serão tratadas menos rigorosamente do que vós. E tu, Cafarnaum, elevar-te-ás sempre até ao céu? Serás abaixada até ao fundo do inferno, porque, se os milagres que foram feitos dentro de ti houvessem sido feitos em Sodoma, esta ainda talvez subsistisse hoje. Declaro-te por isso que, no dia do julgamento, o país de Sodoma será tratado menos rigorosamente do que tu. (Mateus, cap. XI, vv. 20 a 24.)
1048. Ruína do templo e de Jerusalém – Quando Jesus saiu do templo para se ir embora, seus discípulos se acercaram dele para lhe fazerem notar a estrutura e a grandeza daquele edifício. Ele, porém, lhes disse: Vedes todas estas construções? Digo-vos, em verdade, que serão de tal maneira destruídas, que não ficará pedra sobre pedra. (Mateus, cap. XXIV, vv. 1 e 2.)
1049. Em seguida, tendo chegado perto de Jerusalém, contemplando a cidade, ele chorou por ela, dizendo: Ah! se, ao menos neste dia que ainda te é concedido, reconhecesses aquele que te pode proporcionar paz! Mas, agora, tudo isto se acha oculto aos teus olhos. Tempo virá, pois, para ti, em que teus inimigos te cercarão de trincheiras, te encerrarão e apertarão de todos os lados; em que te deitarão por terra, a ti e aos teus filhos que estão dentro de ti, e não te deixarão pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que Deus te visitou. (Lucas, cap. XIX, vv. 41 a 44.)
1050. Em seguida, disse: Entretanto, é preciso que eu continue a andar hoje e amanhã e o dia seguinte, porquanto necessário é que nenhum profeta sofra morte noutra parte, que não em Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes hei querido reunir teus filhos, como uma galinha reúne sob as asas seus pintainhos, e não o quiseste! Aproxima-se o tempo em que vossa casa ficará deserta. Ora, eu, em verdade, vos digo que doravante não me tornareis a ver, até que digais: Bendito seja o que vem em nome do Senhor. (Lucas, capítulo XIII, vv. 33 a 35.)
1051. Quando virdes um exército cercando Jerusalém, sabei que está próxima a sua destruição. Fujam para as montanhas os que estiverem na Judeia, retirem-se os que estiverem dentro dela e nela não entrem os que estiverem na região circunvizinha. Porquanto, esses dias serão os da vingança, a fim de que se cumpra tudo o que está na Escritura. Ai das que estiverem grávidas nesses dias, visto que este país será acabrunhado de males e a cólera do céu cairá sobre este povo. Serão passados a fio de espada; serão levados em cativeiro para todas as nações e Jerusalém será calcada aos pés pelos gentios, até que se haja preenchido o tempo das nações. (Lucas, cap. XXI, vv. 20 a 24.)
1052. (Jesus avançando para o suplício) Ora, acompanhava-o grande multidão de povo e de mulheres a bater nos peitos e a chorar. Jesus, então, voltando-se, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos, porquanto virá tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis, as entranhas que não geraram filhos e os seios que não amamentaram. Todos se porão a dizer às montanhas: Caí sobre nós! e às colinas: Cobri-nos! Pois, se tratam deste modo o lenho verde, como será tratado o lenho seco? (Lucas, cap. XXIII, vv. 27 a 31.)
1053. A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um dos atributos da alma e se explica pela teoria da presciência. Jesus a possuía, como todos os outros, em grau eminente. Pôde, portanto, prever os acontecimentos que se seguiriam à sua morte, sem que nesse fato algo haja de sobrenatural, pois que o vemos reproduzir-se aos nossos olhos, nas mais vulgares condições. Não é raro que indivíduos anunciem com precisão o instante em que morrerão; é que a alma deles, no estado de desprendimento, está como o homem da montanha: abarca a estrada a ser percorrida e lhe vê o termo.
1054. Tanto mais assim havia de dar-se com Jesus, quanto, tendo consciência da missão que viera desempenhar, sabia que a morte no suplício forçosamente lhe seria a consequência. A visão espiritual, permanente nele, assim como a penetração do pensamento, haviam de mostrar-lhe as circunstâncias e a época fatal. Pela mesma razão podia prever a ruína do templo, a de Jerusalém, as desgraças que se iam abater sobre seus habitantes e a dispersão dos judeus.
Respostas às questões propostas
A. Como se explica a transfiguração de Jesus e que outro fato inusitado ocorreu naquele mesmo momento?
Como sabemos, Jesus chamou Pedro, Tiago e João, levou-os consigo a um alto monte e se transfigurou diante deles. Enquanto orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram brilhantemente luminosas e brancas qual a neve, como não há igual na Terra. E eles viram aparecer Elias e Moisés, que passaram a entreter palestra com Jesus. Além desse fato inusitado, apareceu também uma nuvem que os cobriu e, dessa nuvem, uma voz falou: Este é meu Filho bem-amado; escutai-o.
Logo, olhando para todos os lados, a ninguém mais viram, senão a Jesus, que ficara a sós com eles.
É nas propriedades do fluido perispirítico que se encontra a explicação da transfiguração de Jesus. A irradiação fluídica pode modificar a aparência de um indivíduo, mas, no caso acima referido, a pureza do perispírito de Jesus permitiu ainda que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor. (A Gênese, cap. XV, itens 43 e 44.)
B. Qual o significado da figura da tentação de Jesus por Satanás?
Jesus não foi, efetivamente, arrebatado por ninguém.
O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico.
Quanto ao ato moral, será possível crer que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e seu poder: Adora-me, que te darei todos os reinos da Terra? Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável.
Além disso, como pretender que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, às sugestões do demônio e que, como refere o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade?
A tentação de Jesus é, pois, somente uma figura e seria preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Com essa parábola ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. (A Gênese, cap. XV, itens 52 e 53.)
C. Como foi possível a Jesus, após a morte de seu corpo, aparecer tantas vezes a seus discípulos?
As aparições de Jesus, após sua morte, se explicam perfeitamente pelas leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam em face dos fenômenos do mesmo gênero, de que a História, antiga e contemporânea, oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade. Se notarmos as circunstâncias em que se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões, todos os caracteres de um ser fluídico.
Ele aparece inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o veem, outros não, sob aparências que não o tornam reconhecível nem sequer aos seus discípulos; mostra-se em recintos fechados, onde um corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece da vivacidade da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos que se manifestam daquela maneira; todas as suas atitudes, numa palavra, denotam alguma coisa que não é do mundo terreno.
Sua presença causa simultaneamente surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade de antes; sentem que já não é um homem.
Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo perispirítico, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam atenção. Desde que viam o Senhor e o tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado. (A Gênese, cap. XV, itens 58 a 61.)