Ante o remorso
Antero de Quental
Quando desci chorando,
desatento,
À garganta cruel da
sepultura,
Cria abraçar, na morte,
a noite escura
Que me desse consolo e
esquecimento.
Ai de mim! Relegado ao
desalento,
Preso à triste ilusão
que não perdura!...
Desvairado encontrei,
nessa aventura,
O remorso medonho e
famulento...
Aterrado, gritei: -
“Monstro, recua!”
E o monstro, em
gargalhada horrenda e
nua,
Bradou: - “Eu sou agora
o irmão que levas...”
E, misto de morcego,
gralha e aborto.
Atirou-me a sinistro
desconforto,
Mergulhando comigo em
densas trevas.
Do livro Relicário de
luz, obra mediúnica
psicografada pelo médium
Francisco Cândido
Xavier.
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