O dia em que
desencarnou
Kardec
Sempre que
iniciamos o mês
de abril, nós,
espíritas, somos
lembrados de
alguns eventos
de suma
importância
ocorridos nesse
período, como o
lançamento de “O
Livro dos
Espíritos”, no
dia dezoito; o
nascimento de
Chico Xavier no
dia dois etc.
Hoje citaremos
um fato muito
marcante: o dia
do velório e
enterro do corpo
de Allan Kardec.
No dia 31 de
março de 1984,
quando se
comemorava mais
um aniversário
da desencarnação
do insigne
codificador do
Espiritismo,
Allan Kardec,
nosso querido
Chico, em seu
semanal encontro
sob um
abacateiro, na
periferia de
Uberaba, narrou
uma história
sobre o momento,
que lhe foi
contada pelo
inesquecível Dr.
Canuto Abreu.
Diz Chico:
Em 1869, no
princípio do
ano, ele (Allan
Kardec), com os
espíritas,
imaginou fazer a
primeira
livraria
espírita do
mundo, que seria
a livraria de
Paris (hoje,
pelas
circunstâncias
da vida
francesa, ela
não existe
mais). A
livraria se
propunha a
divulgar as
obras espíritas.
Ele e aquela
turma já
trabalhavam por
três meses. Nos
últimos dez dias
de março, ele
sentiu as
chamadas dores
pré-cordiais,
que hoje são
tratadas a
tempo, mas no
ano de 1869...
Começou a sentir
aquelas dores no
peito, que
precedem a
determinados
problemas
difíceis na
circulação, como
sendo a
fibrilação do
músculo
cardíaco...
A senhora dele,
D. Gaby,
faltando uns
quatro dias para
a morte do
Codificador,
ouviu-o dizer:
–
Gaby, eu me
sinto
indisposto, com
muita dor no
peito, mas a
inauguração da
livraria
espírita está
prevista para o
dia 1º de abril;
faltam cinco
dias para
arranjar tudo
para uma
inauguração tão
distinta quanto
possível... Eu
não me sinto
bem, mas no dia
1º de abril eu
tenho que
inaugurar a
livraria.
Ela, então,
disse:
–
Mas se você
estiver com essa
dor muito
aumentada,
podemos deixar
para outra
semana, daqui a
uns quinze
dias...
Nove anos mais
velha do que
ele, ela tinha
por Kardec um
desvelo também
maternal...
Naquela época,
as viagens não
eram tão fáceis.
Os amigos que
vinham ajudar,
na inauguração,
já estavam
viajando para
Paris, ou com
todos os
preparativos
feitos... A
viagem era feita
a cavalo, e
eles, em
determinadas
estações, tinham
que ser mudados.
E os dois
começaram a
dialogar:
–
Nós temos aí
talvez mais de
cinquenta
companheiros, da
França, da
Bélgica... Eu
não posso
deixar, com dor
ou sem dor,
tenho que ir.
–
Mas eu, como sua
esposa, não acho
que isto esteja
certo.
–
Mas eu não posso
desconsiderar o
dinheiro que os
irmãos gastaram
para vir até
aqui.
–
Apesar disso
tudo, eu
aconselharia
você a adiar...
–
Você me
aconselha a
adiar, mas, se
eu estiver muito
mal, no dia
primeiro, ou que
tenha até
desencarnado, já
que estamos numa
Doutrina de
caridade, o que
é que você faria
por mim, se eu
estiver
incapacitado
para ir até o
local da
livraria, já que
a inauguração
está prevista
para as dez
horas... Não
podemos fazer os
outros
esperarem, isto
também é
caridade.
–
Já que a sua
decisão é tão
firme, no caso
desse ato
inauguratório,
no caso de você
piorar...
–
E no caso de eu
desencarnar?
–
Mesmo assim, se
você piorar ou
desencarnar, eu
irei no seu
lugar.
E, no dia 31 de
março, ele
desencarnou,
tudo indica por
um aneurisma;
foi repentino.
Os amigos
começaram a
visitar a casa,
já bem à
noitinha...
Então alguém
aventou a
hipótese de
adiar a
inauguração. Mas
D. Gaby
respondeu:
–
Não, eu e meu
marido
conversamos
sobre isto; ele
está na urna;
amanhã é o
primeiro dia do
velório, mas, às
10 horas eu irei
cumprir o que a
ele prometi; em
nome da Doutrina
de caridade, eu
vou
substituí-lo.
E, de manhã
cedo, no dia 1º
de abril, às 8
horas, D. Gaby
despediu-se do
corpo do esposo
e falou com ele
que ia cumprir a
sua tarefa...
Pediu-lhe
desculpas por se
ausentar de casa
e foi para o
local... Demorou
umas duas horas,
deu entrevistas,
fez conferências
e depois voltou
para junto do
corpo do
marido... Os
jornais da época
comentaram muito
sua coragem.
Como percebemos,
estamos numa
Doutrina que nem
a morte nos pode
privar do dever
a cumprir.
(Este caso
está
registrado
no livro
“Chico
Xavier, à
sombra do
abacateiro”,
de Carlos A.
Bacelli,
editora
IDEAL.)