MARCEL BATAGLIA
marcelbataglia@gmail.com
Balneário Camboriú, SC
(Brasil)
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Resignação: uma virtude
valiosa
Há virtudes difíceis de
serem adquiridas ao
longo da vida, e cujo
exercício é pouco
compreendido entre os
homens; a resignação é
uma delas. As criaturas
levianas nem a veem como
algo apreciável. Presas
em suas ilusões,
consideram a resignação
apenas falta de força ou
de coragem. Entendem que
o homem sempre deve
reagir violentamente
contra qualquer
circunstância que
contrarie seus desejos.
A resignação geralmente
se refere a experimentar
uma situação sem a
intenção de mudá-la. Já
a aceitação não exige
que a mudança seja
possível ou mesmo
concebível, nem
necessita que a situação
seja desejada ou
aprovada por aqueles que
a aceitam. De fato, a
resignação é
frequentemente
aconselhada quando uma
situação é tanto ruim
quanto imutável, ou
quando a mudança só é
possível a um grande
preço ou risco. Em O
Evangelho segundo o
Espiritismo lemos
que “quando sofremos uma
aflição, se procurarmos
a sua causa,
encontraremos sempre a
nossa própria
imprudência, a nossa
imprevidência, ou alguma
ação anterior”. Nesses
casos, como se vê, temos
de atribuí-la a nós
mesmos, pois se a causa
de uma infelicidade não
depende absolutamente de
nenhuma das nossas
ações, trata-se de uma
prova para a existência
atual, ou de uma
expiação de falta
cometida em existência
anterior.
Vemos em geral apenas o
mal presente, e não as
consequências vindouras
e favoráveis que ele
possa ter. O bem é
frequentemente a
consequência de um mal
passageiro, como a cura
de um doente resulta dos
meios dolorosos que se
empregam para obtê-la.
Independentemente dos
casos, devemos
submeter-nos à vontade
de Deus, suportar
corajosamente as
atribuições da vida, se
quisermos que elas nos
sejam creditadas em
nossa jornada
espiritual. Muitas
vezes, nossos sonhos
mais pretendidos não se
concretizam, ou, então,
nossa tranquilidade, tão
duramente conquistada, é
atingida por um
infortúnio. Há
dificuldades ou
contrariedades que
podemos vencer, mas
algumas vezes a vida
responde a nossos apelos
com sombra e dor e
nessas circunstâncias
alguns encontram em seu
íntimo forças para se
resignarem.
Jesus, em sua curta
passagem pela Terra,
alimentou ainda mais as
esperanças dos homens ao
dizer: “Bem-aventurados
os aflitos, porque eles
serão consolados”,
indicando aí o prelúdio
da cura aos que sofrem
com resignação. Essas
palavras, segundo o
Evangelho, devem ser
entendidas de uma forma
simples, em que nós,
homens, devemos
considerar-nos felizes
por sofrer, porque
nossas dores neste mundo
decorrem de dívidas de
nossas faltas passadas,
e essas dores,
suportadas pacientemente
na Terra, nos poupam
séculos de sofrimento na
vida futura. Devemos,
portanto, estar felizes
por Deus reduzir nossa
dívida, permitindo-nos
quitá-la no presente,
assegurando-nos a
tranquilidade para o
futuro.
Em face de situações
constrangedoras e
dolorosas, a resignação
é uma atitude que apenas
os bravos conseguem
adotar. O resignado não
é um covarde, mas alguém
que compreende a
finalidade da existência
terrena. O homem nasce
na Terra para evoluir,
para vencer a si mesmo e
acumular virtudes, pois
a vida é uma escola, na
qual passamos da
ignorância e da barbárie
à angelitude, e
justamente por isso as
dificuldades se
apresentam em seu
caminho.
O progresso, diz Santo
Agostinho, é lei da
natureza, em que todos
os seres da Criação,
animados e inanimados,
foram submetidos pela
bondade de Deus, que
quer que tudo se
engrandeça e prospere. A
própria destruição, que
aos homens parece o
termo final de todas as
coisas, é apenas um meio
de se chegar, pela
transformação, a um
estado mais perfeito,
visto que tudo morre
para renascer e nada
sofre o aniquilamento.
Já nascemos inúmeras
vezes e renascemos
outras tantas. Somente
na vida futura podem
efetivar-se as
compensações que Jesus
promete aos aflitos da
Terra. Se a vida nos
reclama serenidade em
face da dor,
concordemos. A rebeldia
de nada nos adiantará,
pois a criatura rebelde
perante as Leis Divinas
apenas torna seu
aprendizado mais lento e
doloroso. Resignar-se
não significa desistir
da luta, porém implica
reconhecer que a luta
interiorizou-se. A
resignação é uma
conquista do Espírito
que vence suas paixões e
atinge a maturidade,
mantendo a alegria e o
otimismo, mesmo em
condições adversas.
Joanna de Ângelis, no
livro “Convites da
Vida”, diz que “se
estiveres sob o jugo de
dores e padecimentos,
ingratidões e
perseguições injustos,
serão injustos somente
na aparência, pois que
procedem do teu ontem,
em regime de cobrança,
para melhor estabilidade
do teu amanhã.
Submete-te, portanto,
paciente,
resignadamente, às
situações atuais e,
insistindo nos bons
propósitos, construirás
o porvir de bênçãos que
agora ainda não podes
fruir”.
Devemos, pois, ser
conscientes de nosso
papel de aprendizes e
dedicar-nos a fazer a
lição do momento.
Vivemos em um mundo de
provas e expiações. Nele
a dor reina soberana, em
virtude de o mal ainda
sobrepujar o bem. Embora
conscientes dessa
inegável condição, é
nosso dever lutar contra
a adversidade, pois
sofrer sem reagir aos
males da vida seria uma
covardia. Léon Denis
diz, no livro “Depois da
Morte”, que a
adversidade é uma grande
escola, um campo fértil
em transformações. A
ignorância das leis
universais é que nos faz
ter aversão aos nossos
males. Se
compreendêssemos quanto
esses males são
necessários ao nosso
adiantamento, eles não
mais nos pareceriam um
fardo.
Em nossa cegueira,
estamos quase sempre
prontos a amaldiçoar as
nossas vidas. Mas,
quando formos capazes de
discernir o verdadeiro
motivo de nossas
existências,
compreenderemos que
todas elas são
preciosas. A dor é capaz
de abrandar o nosso
coração, avivando os
fogos da nossa alma. É o
cinzel que lhe dá
proporções harmônicas,
que lhe apura os
contornos e a faz
resplandecer em sua
perfeita beleza. Quem se
resigna enobrece
lentamente seu íntimo,
ao desenvolver novos
propósitos de vida.