Considerações sobre o
suicídio
As leis de Deus são
justas e imutáveis.
Temo-las indeléveis em
nossa consciência.
Quando infringimos estas
leis, temos de arcar com
as consequências. É o
que ocorre com aqueles
que decidem pôr fim à
vida. Decepcionam-se
e/ou espantam-se ao
constatarem que a vida
existe em planos por
vezes ignorados...
A morte não existe! Isto
é fato inconteste!
A problemática do
suicídio já é bastante
antiga. Cleópatra,
Judas, Santos Dummont,
Getúlio Vargas...
E do outro lado da vida,
esses irmãos incautos e
mergulhados na ilusão
sofrem muito mais do que
quando aqui estavam. É o
que nos narra Camilo, o
poeta português, em
“Memórias de um Suicida”,
através da excelsa
mediunidade de Yvonne,
vejamos um breve trecho:
“Como se fantásticos
espelhos perseguissem
obsessoramente nossas
faculdades, lá se
reproduzia a visão
macabra:
¾
o corpo a se decompor
sob o ataque dos
vibriões esfaimados; a
faina detestável da
podridão a seguir o
curso natural da
destruição orgânica,
levando em roldão nossas
carnes, nossas vísceras,
nosso sangue pervertido
pelo fétido, nosso
corpo, enfim, que se
sumia para sempre no
banquete asqueroso de
milhões de vermes
vorazes, que era
carcomido lentamente,
sob nossas vistas
estupefatas!... que
morria, era bem verdade,
enquanto nós, seus
donos, nosso Ego
sensível, pensante,
inteligente, que dele se
utilizara apenas como de
um vestuário
transitório, continuava
vivo, sensível,
pensante, inteligente,
desapontado e pávido,
desafiando a
possibilidade de também
morrer! E
-
ó tétrica magia que
ultrapassava todo o
poder que tivéssemos de
refletir e compreender!
-
ó castigo irremovível,
punindo o renegado que
ousou insultar a
Natureza destruindo
prematuramente o que só
ela era competente para
decidir e realizar:
¾
Vivos, nós, em espírito,
diante do corpo
putrefato, sentíamos a
corrupção
atingir-nos!...”.
(1955, p. 24)
Mais à frente o mesmo
autor nos narra um
trecho tétrico de um
amigo que havia sido
socorrido e que passava
pelo choque necessário
da matéria, em um Centro
Espírita, como
terapêutica
indispensável para o seu
reequilíbrio. Vejamos o
que se passou:
“Enlouquecido, vendo
sobre a mesa os
fragmentos em que se
convertera seu
desgraçado corpo de
carne, por ele próprio
atirado sob as rodas de
um trem de ferro, pois
seu inacreditável estado
mental fazia-o ver, por
toda parte, o mal que
existia em si mesmo,
chaga que lhe violentava
a consciência –
arrebatou a jovem médium
em agitações penosas e,
debruçando-se sobre a
mesa, pôs-se a reunir
aqueles mesmos
fragmentos, tentando
reorganizar o corpo, que
via, cheio de horror,
eternamente disperso
sobre os trilhos, presa
dramática de uma das
mais abomináveis
alucinações que o
Além-túmulo costuma
registrar! (...) ia,
nervosamente,
arrebanhando papéis,
livros e lápis que se
achavam dispostos sobre
a mesa, à disposição dos
psicógrafos, e, neles
julgando reconhecer as
próprias vísceras
esfaceladas, ossos
triturados, carnes
sangrentas – o coração,
o cérebro – reduzidos a
montículos repugnantes
–, mostrava-os, chorando
convulsivamente, ao
presidente da
reunião...”
. (Idem, p. 161)
Isto é apenas uma pálida
ideia do que de fato
ocorre com um suicida no
mundo espiritual. Os
sofrimentos são
indescritíveis!
O poeta, romancista e
teatrólogo, Johann
Wolfgang Von Goethe,
legou para a humanidade
“Os Sofrimentos do
Jovem Werther”, no
qual exara a loucura de
um jovem que planejou o
próprio suicídio por não
ter o amor de uma jovem
(Carlota). Diz-se que
uma onda de suicídio se
alastrou por toda Europa
à época. E diversos
jovens se identificaram
com Werther,
embriagaram-se no “mal
do século”, cometeram o
ato tresloucado.
Para combater essa
herança do pessimismo,
surgiu na França, no
memorável 18 de abril de
1857, o notável “O
Livro dos Espíritos”
com uma proposta
otimista, demonstrando
ser o suicídio um ato de
desatino da criatura e
que traz sofrimentos
inenarráveis para
aqueles que contrariam
as leis divinas.
Explica-nos, outrossim,
o nosso sentido
existencial, de onde
viemos, para onde vamos.
É uma revolução
espiritual contra o
monstro do suicídio,
contra o materialismo
que ganhava terreno (e
ainda hoje é vigorante
em nossa sociedade).
Há, porém, outra
modalidade de suicídio
que é tácita, sorrateira
e que se propaga
rapidamente na sociedade
contemporânea.
Referimo-nos ao
suicídio inconsciente.
Publius Ovidius Naso,
o grande poeta latino,
narra-nos deslumbrado a
história do jovem
Narciso, na obra
Metamorfoses.
Ao nascer, os pais do
jovem o levaram para que
o grande adivinho
Tirésias vaticinasse
sobre o seu futuro. E
este lhes disse que
Narciso “viveria até
a velhice, se não
olhasse para si mesmo”.
O jovem cresceu portador
de uma beleza
fulgurante, o que
despertou o amor de
muitas jovens.
Entretanto, ele não
almejava a nenhuma
delas, ignorava o amor.
Certa feita, Eco
apaixonou-se pelo
mancebo, mas não logrou
êxito e definhou-se,
restando de si somente
uma voz gemente!
As outras ninfas
revoltaram-se e pediram
aos deuses que
castigassem o jovem
soberbo. Foram
atendidas.
E certo dia, ao retornar
de uma caçada, o jovem,
sedento, debruçou-se
sobre um lago e, ao
“olhar para si mesmo”,
encantou-se e lá ficou
até a sua morte. Diz-nos
a lenda que no local
brotou uma bonita flor,
o narciso.
Quanta sabedoria nesta
singela história.
Transportando-nos para
os dias atuais notamos
que há muitos jovens
belíssimos que ao
olharem para si mesmos
entregam-se ao
autoextermínio, pois
muitas vezes
enveredam-se pelos
caminhos tortuosos do
culto ao corpo físico.
Mergulhados numa
sociedade pusilânime,
consumista, hedonista e
até certo ponto frívola,
esses jovens, na busca
de um sentido
existencial e
“desnutridos” do
Evangelho de Jesus,
adentram-se pelos
sofridos caminhos da
anorexia, da bulimia, da
vigorexia e de outros
transtornos
psicofísicos. Olham para
si mesmos e definham-se
no lago da ilusão.
A problemática da morte
prematura inconsciente é
tão grave que o médico
de “Nosso Lar”
espantou-se ao descobrir
que o seu ingresso no
além-túmulo tinha sido
pelo suicídio. Milhares
de pessoas no mundo
inteiro desencarnam nas
condições de suicidas
sem o saberem.
Quanta imprudência!
Espanta-nos, assim, a
entrada no mundo dos
imortais milhares de
almas por meio do
alcoolismo, do
tabagismo, do
desregramento sexual, da
imprudência no
trânsito...
André Luiz na sua obra
“Missionários da Luz”
fica estupefato ao ver
um senhor que almejava o
desenvolvimento
mediúnico e não obtinha
sucesso devido ao não
policiamento das
tendências negativas e,
em especial, pelo vício
do álcool.
Alexandre, o ínclito
instrutor de André,
narra-nos alguns pontos
interessantes que aqui
transcrevemos:
“Este companheiro
permanece completamente
desviado em seus centros
de equilíbrio vital.
(...) Larvas
destruidoras exterminam
as células hepáticas.
Profundas alterações
modificam-lhe as
disposições do sistema
nervoso vegetativo e,
não fossem as glândulas
sudoríparas,
tornar-se-lhe-ia
talvez impossível a
continuação da vida
física”.
(1997, p. 29)
Daí, o caro leitor
poderá ter uma pálida
ideia da gravidade da
ingestão alcoólica e de
quanto esse senhor
prejudicava a si mesmo,
pois se não fosse o
trabalho árduo das
“glândulas sudoríparas”
já estaria morto.
Outro agente não menos
importante de ser aqui
ressaltado é o cigarro.
Milhões de pessoas no
mundo inteiro têm esse
vício, a despeito das
inúmeras substâncias
cancerígenas. Essas
pessoas deformam,
lamentavelmente, o corpo
físico e perispiritual
que Deus lhes concedeu.
E, na morada nova,
geralmente, sofrem muito
por não conseguirem o
vício de tantos anos ou
passam a vampirizar os
encarnados também
ludibriados com esses
prazeres mundanos.
A imprudência sexual é
um assunto tão complexo
e que deixa sequelas
graves no Espírito que
não nos referiremos aqui
devido ao vasto assunto.
Sugerimos a leitura da
obra “Sexo e Obsessão”,
de Divaldo Franco, na
qual Manoel Philomeno de
Miranda narra-nos a
condição do pervertido
Marquês de Sade; faz-se
também um estudo sobre
as consequências dos
desvios sexuais. (Vale a
pena conferir a obra.)
O sexo é uma força que
se usada moderadamente é
sublime, pois propicia a
vinda ao vaso carnal de
Espíritos que almejam
uma nova oportunidade de
reencarne. Além de
manifestação de afeto
entre os seres que se
amam. Mas, se usada de
forma incorreta, é como
uma represa incontida.
Ninguém sabe as
terríveis consequências
que podem surgir.
"De todos os desvios da
vida humana o suicídio
é, talvez, o maior deles
pela sua característica
de falso heroísmo, de
negação absoluta da lei
do amor e de suprema
rebeldia à vontade de
Deus, cuja justiça nunca
se fez sentir, junto dos
homens, sem a luz da
misericórdia.”
(Emmanuel, 1997, p. 97.)
“Por trás do
comportamento suicida há
uma combinação de
fatores biológicos,
emocionais,
socioculturais,
filosóficos e até
religiosos que,
embaralhados, culminam
numa manifestação
exacerbada contra si
mesmo.” (VOMERO,
2003, p. 37.)
Como lenitivo temos a
doutrina espírita que
nos propõe “a calma e
a resignação”
(Kardec, 2002, p. 108)
como os melhores
preservativos para esse
ato insano.
A genética é outra
questão discutida pelo
meio científico como
tentativa de explicação
do fenômeno suicida. Os
primeiros estudos datam
de 1920. “Um estudo
feito na Dinamarca
mostrou que os parentes
biológicos de pessoas
que foram adotadas
quando recém-nascidas e
que se suicidaram
posteriormente tinham
taxas de suicídios
significativamente
maiores que as
observadas entre os
parentes adotivos. Entre
gêmeos idênticos, de
acordo com uma pesquisa
americana, a
possibilidade de um
irmão se matar caso o
outro já tenha se
suicidado gira em torno
de 15%. Para os irmãos
não idênticos, a taxa
cai para 2% ou 3%.”
(Idem, 2003, p. 38)
A doutrina espírita nos
explica que as nossas
idiossincrasias e os
nossos elos familiares
transcendem a matéria,
por isso mesmo, não
podemos aceitar somente
a explicação genética.
Óbvio que há uma grande
carga, mas certamente
que o Espírito imortal
traz na sua psique
espiritual suas
tendências positivas ou
negativas que se
repercutem na matéria,
culminando ou não no
suicídio.
Não podemos ignorar esse
grave problema. Em
alguns países são casos
de saúde pública. No
mundo, “a cada 40
segundos alguém se
suicida” . (Ibidem,
2003, p. 36)
Não almejamos esgotar o
assunto e nem tínhamos
tamanha pretensão.
Apenas gostaríamos de
alertar o(a) amigo(a)
leitor(a) da
problemática do suicídio
que é tão comum
(infelizmente) e que
merece nossa atenção.
Devemos “orar e vigiar”
sempre, para não
cairmos neste
infortúnio. E, também,
emitir preces ricas em
AMOR para aqueles que
tiraram a vida de uma
forma tão violenta.
A literatura espírita é
caudalosa sobre a
temática. Compete-nos
estudar e nos
resguardamos ao máximo
contra este ato, visto
que qualquer um de nós
está suscetível a erros.
Referências:
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o
Espiritismo. Rio de
Janeiro: Federação
Espírita Brasileira,
2002.
PEREIRA. Yvonne /
Camilo. A. Memórias
de um Suicida. 11.
ed. Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 1955.
VOMERO, Maria Fernanda.
Por que uma pessoa se
mata? In:
Revista Super
Interessante. Editora
Abril, Edição 184,
Janeiro, 2003.
XAVIER, Francisco
Cândido / Emmanuel. O
Consolador. 18. ed.
Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 1997.
___________. / André
Luiz. Missionários da
Luz. 28. ed. Rio de
Janeiro: Federação
Espírita Brasileira,
1997.