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Crônicas e Artigos

Ano 9 - N° 414 - 17 de Maio de 2015

MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, DF (Brasil)

 


Considerações sobre o suicídio


As leis de Deus são justas e imutáveis. Temo-las indeléveis em nossa consciência.

Quando infringimos estas leis, temos de arcar com as consequências. É o que ocorre com aqueles que decidem pôr fim à vida. Decepcionam-se e/ou espantam-se ao constatarem que a vida existe em planos por vezes ignorados...

A morte não existe! Isto é fato inconteste!

A problemática do suicídio já é bastante antiga. Cleópatra, Judas, Santos Dummont, Getúlio Vargas...

E do outro lado da vida, esses irmãos incautos e mergulhados na ilusão sofrem muito mais do que quando aqui estavam. É o que nos narra Camilo, o poeta português, em “Memórias de um Suicida”, através da excelsa mediunidade de Yvonne, vejamos um breve trecho:  

“Como se fantásticos espelhos perseguissem obsessoramente nossas faculdades, lá se reproduzia a visão macabra: ¾ o corpo a se decompor sob o ataque dos vibriões esfaimados; a faina detestável da podridão a seguir o curso natural da destruição orgânica, levando em roldão nossas carnes, nossas vísceras, nosso sangue pervertido pelo fétido, nosso corpo, enfim, que se sumia para sempre no banquete asqueroso de milhões de vermes vorazes, que era carcomido lentamente, sob nossas vistas estupefatas!... que morria, era bem verdade, enquanto nós, seus donos, nosso Ego sensível, pensante, inteligente, que dele se utilizara apenas como de um vestuário transitório, continuava vivo, sensível, pensante, inteligente, desapontado e pávido, desafiando a possibilidade de também morrer! E - ó tétrica magia que ultrapassava todo o poder que tivéssemos de refletir e compreender! - ó castigo irremovível, punindo o renegado que ousou insultar a Natureza destruindo prematuramente o que só ela era competente para decidir e realizar: ¾ Vivos, nós, em espírito, diante do corpo putrefato, sentíamos a corrupção atingir-nos!...”. (1955, p. 24)

Mais à frente o mesmo autor nos narra um trecho tétrico de um amigo que havia sido socorrido e que passava pelo choque necessário da matéria, em um Centro Espírita, como terapêutica indispensável para o seu reequilíbrio. Vejamos o que se passou:

“Enlouquecido, vendo sobre a mesa os fragmentos em que se convertera seu desgraçado corpo de carne, por ele próprio atirado sob as rodas de um trem de ferro, pois seu inacreditável estado mental fazia-o ver, por toda parte, o mal que existia em si mesmo, chaga que lhe violentava a consciência – arrebatou a jovem médium em agitações penosas e, debruçando-se sobre a mesa, pôs-se a reunir aqueles mesmos fragmentos, tentando reorganizar o corpo, que via, cheio de horror, eternamente disperso sobre os trilhos, presa dramática de uma das mais abomináveis alucinações que o Além-túmulo costuma registrar! (...) ia, nervosamente, arrebanhando papéis, livros e lápis que se achavam dispostos sobre a mesa, à disposição dos psicógrafos, e, neles julgando reconhecer as próprias vísceras esfaceladas, ossos triturados, carnes sangrentas – o coração, o cérebro – reduzidos a montículos repugnantes –, mostrava-os, chorando convulsivamente, ao presidente da reunião...” . (Idem, p. 161)

Isto é apenas uma pálida ideia do que de fato ocorre com um suicida no mundo espiritual. Os sofrimentos são indescritíveis!  

O poeta, romancista e teatrólogo, Johann Wolfgang Von Goethe, legou para a humanidade “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, no qual exara a loucura de um jovem que planejou o próprio suicídio por não ter o amor de uma jovem (Carlota). Diz-se que uma onda de suicídio se alastrou por toda Europa à época. E diversos jovens se identificaram com Werther, embriagaram-se no “mal do século”, cometeram o ato tresloucado. 

Para combater essa herança do pessimismo, surgiu na França, no memorável 18 de abril de 1857, o notável “O Livro dos Espíritos” com uma proposta otimista, demonstrando ser o suicídio um ato de desatino da criatura e que traz sofrimentos inenarráveis para aqueles que contrariam as leis divinas. Explica-nos, outrossim, o nosso sentido existencial, de onde viemos, para onde vamos. É uma revolução espiritual contra o monstro do suicídio, contra o materialismo que ganhava terreno (e ainda hoje é vigorante em nossa sociedade).

Há, porém, outra modalidade de suicídio que é tácita, sorrateira e que se propaga rapidamente na sociedade contemporânea. Referimo-nos ao suicídio inconsciente.

Publius Ovidius Naso, o grande poeta latino, narra-nos deslumbrado a história do jovem Narciso, na obra Metamorfoses.

Ao nascer, os pais do jovem o levaram para que o grande adivinho Tirésias vaticinasse sobre o seu futuro. E este lhes disse que Narciso “viveria até a velhice, se não olhasse para si mesmo”.

O jovem cresceu portador de uma beleza fulgurante, o que despertou o amor de muitas jovens. Entretanto, ele não almejava a nenhuma delas, ignorava o amor. Certa feita, Eco apaixonou-se pelo mancebo, mas não logrou êxito e definhou-se, restando de si somente uma voz gemente!

As outras ninfas revoltaram-se e pediram aos deuses que castigassem o jovem soberbo. Foram atendidas.

E certo dia, ao retornar de uma caçada, o jovem, sedento, debruçou-se sobre um lago e, ao “olhar para si mesmo”, encantou-se e lá ficou até a sua morte. Diz-nos a lenda que no local brotou uma bonita flor, o narciso.

Quanta sabedoria nesta singela história.

Transportando-nos para os dias atuais notamos que há muitos jovens belíssimos que ao olharem para si mesmos entregam-se ao autoextermínio, pois muitas vezes enveredam-se pelos caminhos tortuosos do culto ao corpo físico.  

Mergulhados numa sociedade pusilânime, consumista, hedonista e até certo ponto frívola, esses jovens, na busca de um sentido existencial e “desnutridos” do Evangelho de Jesus, adentram-se pelos sofridos caminhos da anorexia, da bulimia, da vigorexia e de outros transtornos psicofísicos. Olham para si mesmos e definham-se no lago da ilusão. 

A problemática da morte prematura inconsciente é tão grave que o médico de “Nosso Lar” espantou-se ao descobrir que o seu ingresso no além-túmulo tinha sido pelo suicídio. Milhares de pessoas no mundo inteiro desencarnam nas condições de suicidas sem o saberem.

Quanta imprudência!

Espanta-nos, assim, a entrada no mundo dos imortais milhares de almas por meio do alcoolismo, do tabagismo, do desregramento sexual, da imprudência no trânsito...

André Luiz na sua obra “Missionários da Luz” fica estupefato ao ver um senhor que almejava o desenvolvimento mediúnico e não obtinha sucesso devido ao não policiamento das tendências negativas e, em especial, pelo vício do álcool.

Alexandre, o ínclito instrutor de André, narra-nos alguns pontos interessantes que aqui transcrevemos:  

“Este companheiro permanece completamente desviado em seus centros de equilíbrio vital. (...) Larvas destruidoras exterminam as células hepáticas. Profundas alterações modificam-lhe as disposições do sistema nervoso vegetativo e, não fossem as glândulas sudoríparas, tornar-se-lhe-ia talvez impossível a continuação da vida física”. (1997, p. 29) 

Daí, o caro leitor poderá ter uma pálida ideia da gravidade da ingestão alcoólica e de quanto esse senhor prejudicava a si mesmo, pois se não fosse o trabalho árduo das “glândulas sudoríparas” já estaria morto.

Outro agente não menos importante de ser aqui ressaltado é o cigarro. Milhões de pessoas no mundo inteiro têm esse vício, a despeito das inúmeras substâncias cancerígenas. Essas pessoas deformam, lamentavelmente, o corpo físico e perispiritual que Deus lhes concedeu. E, na morada nova, geralmente, sofrem muito por não conseguirem o vício de tantos anos ou passam a vampirizar os encarnados também ludibriados com esses prazeres mundanos.

A imprudência sexual é um assunto tão complexo e que deixa sequelas graves no Espírito que não nos referiremos aqui devido ao vasto assunto. Sugerimos a leitura da obra “Sexo e Obsessão”, de Divaldo Franco, na qual Manoel Philomeno de Miranda narra-nos a condição do pervertido Marquês de Sade; faz-se também um estudo sobre as consequências dos desvios sexuais. (Vale a pena conferir a obra.)

O sexo é uma força que se usada moderadamente é sublime, pois propicia a vinda ao vaso carnal de Espíritos que almejam uma nova oportunidade de reencarne. Além de manifestação de afeto entre os seres que se amam. Mas, se usada de forma incorreta, é como uma represa incontida. Ninguém sabe as terríveis consequências que podem surgir.

"De todos os desvios da vida humana o suicídio é, talvez, o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da lei do amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca se fez sentir, junto dos homens, sem a luz da misericórdia.” (Emmanuel, 1997, p. 97.)

“Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo.” (VOMERO, 2003, p. 37.)

Como lenitivo temos a doutrina espírita que nos propõe “a calma e a resignação” (Kardec, 2002, p. 108) como os melhores preservativos para esse ato insano.

A genética é outra questão discutida pelo meio científico como tentativa de explicação do fenômeno suicida. Os primeiros estudos datam de 1920. “Um estudo feito na Dinamarca mostrou que os parentes biológicos de pessoas que foram adotadas quando recém-nascidas e que se suicidaram posteriormente tinham taxas de suicídios significativamente maiores que as observadas entre os parentes adotivos. Entre gêmeos idênticos, de acordo com uma pesquisa americana, a possibilidade de um irmão se matar caso o outro já tenha se suicidado gira em torno de 15%. Para os irmãos não idênticos, a taxa cai para 2% ou 3%.” (Idem, 2003, p. 38)

A doutrina espírita nos explica que as nossas idiossincrasias e os nossos elos familiares transcendem a matéria, por isso mesmo, não podemos aceitar somente a explicação genética. Óbvio que há uma grande carga, mas certamente que o Espírito imortal traz na sua psique espiritual suas tendências positivas ou negativas que se repercutem na matéria, culminando ou não no suicídio.

Não podemos ignorar esse grave problema. Em alguns países são casos de saúde pública. No mundo, “a cada 40 segundos alguém se suicida” . (Ibidem, 2003, p. 36)

Não almejamos esgotar o assunto e nem tínhamos tamanha pretensão. Apenas gostaríamos de alertar o(a) amigo(a) leitor(a) da problemática do suicídio que é tão comum (infelizmente) e que merece nossa atenção. Devemos “orar e vigiar” sempre, para não cairmos neste infortúnio. E, também, emitir preces ricas em AMOR para aqueles que tiraram a vida de uma forma tão violenta.

A literatura espírita é caudalosa sobre a temática. Compete-nos estudar e nos resguardamos ao máximo contra este ato, visto que qualquer um de nós está suscetível a erros.


Referências:
 

KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2002. 

PEREIRA. Yvonne / Camilo. A. Memórias de um Suicida. 11. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1955.  

VOMERO, Maria Fernanda. Por que uma pessoa se mata? In: Revista Super Interessante. Editora Abril, Edição 184, Janeiro, 2003. 

XAVIER, Francisco Cândido / Emmanuel. O Consolador. 18. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997. 

___________. / André Luiz. Missionários da Luz. 28. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1997.



 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita